Nas manhãs em que o Sol nascia a brilhar, Hoje resta só pó e pranto a ocultar; O vento chora uma fria melodia, Cantando o fim de uma era de poesia.
As flores tornaram-se em tom de cinza, Os risos, ecos de uma lembrança que finda; O homem, na própria ruína erguida, Fez do mundo um teatro de partida.
Mães perderam os doces abraços, Crianças, o amanhã e todos os laços; E o céu, coberto de frios estilhaços, Ignora os dias claros e os antigos mares de rosas.
Que glória brota da devastação, Se o preço pago é sangue e nação? Nenhum hino cura a perdição Da paz que o medo levou do coração.
Mas entre ruínas renasce a vida, Semente lançada em terra ferida; Pois, mesmo após a dor consumida, O amor persiste razão retida.
Nilza MurakawaImagem criada por IA do Bing – 17 de fevereiro de 2023 às 09:03 PM
Vestidos pretos plissados, cobrindo joelhos ralados, em cabidezinhos ambulantes no pátio, davam um ar de elegância e disciplina à mansão que se erguia imponente na Rua Alfred, 666.
Nos jardins bem zelados, as árvores e flores se perfilavam como soldados em formação, podadas com precisão quase militar. Rente ao chão, a grama curta e sem falhas não acariciava pés. O portão, com a dureza do ferro, ainda que antigo, abria-se e fechava-se sem um som sequer. Um caminho de pedras de dolomitas brancas, nas laterais da calçada lisa, conduzia à porta principal de entrada.
No interior, o piso de cerâmica fria compunha figuras geométricas de apenas duas cores. Retratos de benfeitores hierárquicos, cujas expressões austeras eram suavizadas por quadros de paisagens intercalados, adornavam o alongado corredor térreo. A escada de madeira em caracol aberto, que alcançava o andar superior, também não emitia um único rangido, e seu corrimão entalhado não guardava digitais de pequenos dedos.
Três banheiros de cada lado, entre os dormitórios, não incentivavam vaidades. Frases em latim, gravadas também nas molduras dos espelhos, que mostravam apenas rostos, lembravam diariamente os valores e princípios que regiam o lugar: superbia vana est, ordo et disciplina, timor et reverentia, scientia et obedientia, patientia in silentio. As toalhas bege de felpa baixa, cuidadosamente dispostas nas prateleiras, eram rapidamente corrigidas a qualquer sinal de desordem. Dispensadores de sabonetes e shampoos, com gotas racionadas, não exalavam perfumes.
As camas enfileiradas, encostadas pelas cabeceiras ao longo das paredes cinzas, cheiravam a meia infância sob lençóis desamassados, colchas dobradas pela metade e travesseiros expostos sem contos de fadas. Nas janelas altas, com cortinas densas semiabertas, onde perninhas nas pontas dos pés não alcançavam, mal atravessava-lhes o sol maternal.
O ar era limpo, e madres vigilantes e madeira nobre muito polidas. As cadeiras, distanciadas a dois palmos bem medidos entre elas, preenchiam duas mesas compridas e nuas, mantendo a convivência ordenada. Em silêncio reverente, as refeições eram servidas pontualmente, respeitando as normas e exigindo mãozinhas limpas.
Raramente mencionada, uma porta trancada a sete chaves levava ao porão. Ali, nas profundezas da imponência da mansão, residiam os mais bem guardados segredos, certidões de nascimento e outros documentos tristes, e objetos proibidos de adoração e de luxúria, envoltos na proteção das sombras e da mudez conventual.
O tilintar das chaves na cintura, que anunciava com antecedência alguma presença rígida, o coral de vozes miúdas, que promovia autoestima e disciplina, o tradicional e elegante piano de cauda e o sino de cobre eram os únicos sons que quebravam o silêncio, sempre em horários religiosamente determinados.
Blem! Blem! Blem! Às 6 horas, amanheceu, era hora de acordar. Depois, o sino anunciava as quatro refeições, o início e fim das atividades diárias, os momentos de descanso e quando era hora de se recolher.
Pauline, de nove anos, jogada de um lugar para outro, com pais vivos, abastados e distantes, destacava-se entre as outras na mansão por seus grandes olhos azuis, cachos alourados angelicais, perspicácia e alegria constante, embora às vezes desconexa, que disfarçava para não ser aborrecida pelas superioras. Ainda assim, suas pequenas travessuras cotidianas e outras rebeldias eram sempre uma jornada solitária, pois ninguém ousava acompanhá-la por temor. Bolhas de shampoo e gritinhos felizes, desenhos esquisitos ou agourentos em espelhos e vidros embaçados, brotos de flores esmiuçados, pertences alheios escondidos, correspondências rasgadas, copos cuspidos, berros e batidas insistentes naquela porta proibida, chaves furtadas sem êxito ou entortadas rendiam-lhe constantes punições: privação de sobremesas e recreação, cem vezes uma frase em latim escrita em letras garrafais, acordar mais cedo para realizar tarefas extras, joelhos nas pedrinhas, olhos postos no canto da parede, quarto da vergonha e… porão! Vitória: finalmente adentrava o lugar sombrio que tanto a atraía.
Saboreando a atenção, a desordem e o jogo da perturbação e reações, ela fazia carinha inofensiva, dissimulava olhos melosos e inocentes, agarrava-se nas barras dos hábitos pretos, pois percebia que havia um despreparo para lidar com ela, e ganhava perdão.
Nas suas raras tardes livres primaveris, ela costumava arrancar petúnias vermelhas ou rosinhas espinhentas cor-de-rosa pendentes e levava-as escondidas até o dormitório. À noitinha, enquanto o sino murmurava um lamento arrastado e quase morto — blem… blem…—, e todas as luzes e atividades eram encerradas, Pauline emaranhava as flores nas “bonecas” pálidas que repousavam, ajeitando-lhes delicadamente as mechas de cabelo solto para não acordá-las. Algumas, no entanto, ela sempre cobria de branco da cabeça aos pés, como castigo na certa. Vez ou outra, tirava seu laço de fita permitido do cabelo e amarrava-o nos pescoços dessas pobres, uma a cada dia, apertando-o com força até que as “bonequinhas”, com espinhas arrepiadas, arregalassem os olhos tristes ainda quentes. Abafava-lhes o grito com as mãos, uma sobre a outra, a sangue frio e visceral, até que os corpinhos frágeis ficassem roxos, apagando definitivamente os sorrisos amarelos de desdém que tantas vezes a incomodaram, enquanto sussurrava: “Dorme, dorme, dorme, anjinho…”
Nos jornais locais, principalmente durante a primavera, pequenas notas semanais preenchiam a seção de óbitos infantis por causas naturais. E no Orfanato Springfield, na Rua Alfred, 666, à espera de novos brinquedos ambulantes, Pauline balançava escondida um bercinho ainda vazio no porão… DOMINUS SUI — DOMINUS SUI — DOMINUS SUI — DOMINUS SUI — DOMINUS SUI — DOMINUS SUI FORTITUDO SOLITARIA — FORTITUDO SOLITARIA — FORTITUDO SOLITARIA — FORTITUDO SOLITARIA — FORTITUDO SOLIT…
Augusto DamasImagem gerada por Ia do Bing – 5 de dezembro de 2024 às 9:46 PM
Rosa por rosas Flores em jardins São vidas amorosas… São encantos No canto das emoções Dos que a cantam Em prosas e versos Dos que amam os espinhos que as protegem Mulheres virtuosas Lindas e charmosas Brisas e vendavais Num mundo de sonhos e emoções
Em um ponto de rua qualquer À espera de uma mulher Estava eu Noite chuvosa Angustiada fora a espera Ela não vem!
Ao amanhecer Como um beija-flor Que desperta nos primeiros raios de Sol … Por fim Ela apareceu Como uma rosa de inebriante perfume Uma proposta me faz Eu, como o beija-flor, Não resisti ao seu doce néctar Adocicado e embriagador
Verônica MoreiraCriador de Imagens no Bing – Da plataforma DALL·E 3
Tornou-se difícil escrever, descrever o que se passa aqui dentro de mim. Mas, se não escrevo, não me sinto como realmente sou.
Tudo sinto em mim, embora não consiga explicar. Apenas sinto, sinto muito, e não tem nada a ver com lembranças ou saudades. Não tem a ver com vazios e crenças negativas. Tem a ver com meus olhos internos, que veem o que ninguém pode ver.
Ontem, chorei de dor porque vi a mim mesma antes do naufrágio. Vi a mim antes da refeição. Vi a mim antes da ferida. E vi a mim agora, depois de tudo.
E só agora, depois de tudo o que vi, percebo quanto tempo perdi com tudo o que abracei, pensando que eram flores.
Dói… dói demais perceber que, o tempo todo, eu abraçava cactos. E sangrei… Não até a morte, mas até reviver outra vez.
José Antonio TorresImagem gerada pela IA do Bing – 5 de setembro de 2024 às 11:14 AM
Chegou a primavera! Com ela vêm as flores trazendo beleza à vida, Germinando promessas, expectativas e sonhos. O ar se torna mais puro, impregnado dos mais variados aromas e alegria incontida. Os jardins ganham vida e beleza, exaltando as dádivas da Natureza. Os corações em festa se procuram na expectativa do amor; Os pássaros emitem seus cantos com alegria e em louvor. A estação das flores, da sutileza das cores, traz à vida o encanto e a concretização dos amores. Nessa atmosfera mágica, tu és o meu encanto. Exalas o perfume da mais delicada flor. Com a alma extasiada, não reprimo o pranto. Envolto por essa aura idílica, não contenho o ardor. Te sinto ainda mais minha e me entrego a ti por inteiro. A ternura afaga os corações, e o amor, em uma simbiose perfeita, nos unifica sorrateiro. A paz habita em nós, trazendo ânimo e esperança de reencontrar, no coração e na vida, a felicidade e a pureza da criança. Que a raça humana possa plantar em seu espírito, as flores dos sentimentos mais nobres; Que o inverno da maldade, da ingratidão e do ódio, seja banido dos corações, afastando os sentimentos pobres; Que o sorriso exale bondade e do abraço emane a energia do mais doce amor; Que este planeta se transforme em uma eterna Primavera de harmonia e paz, nos trazendo luz e extinguindo a dor.
Virgínia AssunçãoO médico, acadêmico e querido amigo Paulo Amado Oliveira
Paulo, amado amigo e tão querido, Neste dia, meu coração declama, Este poema, pois celebra contigo Mais um ano da tua bela trama.
Nossa amizade em nós se fez alento, Fez-se laço forte, doce e verdadeiro, Nosso afeto é mais que um simples vento, É semente; flores nas mãos do jardineiro.
Neste teu dia, te desejo alegria, alegria… Que o amor te envolva em cada instante, E a felicidade seja sempre tua guia.
Feliz aniversário, amigo constante, Que a vida te sorria em harmonia, E a luz do teu ser sempre nos encante.