Incendiar o instante

Pietro Costa: Poema ‘Incendiar o instante’

Pietro Costa
Pietro Costa
Imagem criada por IA do Grok

Incendiar o instante, a premissa
para uma existência insubmissa:
que resgate o rumor das pedras!

Colher o silêncio cultivado pelo pó,
nestas rotas sinuosas de criatividade;
varrer ruínas com ventos de liberdade
e desatar a infância contida em cada nó.

Pietro Costa

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 O silêncio é uma forma de amor

Ella Dominici: ‘O silêncio é uma forma de amor’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA do Grok

Em ressonância com Léopold Sédar Senghor

Silêncio.
É nele que o amor se reconhece.
Não no grito, nem no toque,
mas naquilo que pulsa quando o mundo cala.
O silêncio é um corpo que respira entre dois corações —
um sopro antigo, herdado da terra.

Sou mulher feita de luz e sombra,
como a árvore que recorda o chão e ainda assim deseja o céu.
A minha pele carrega memórias de séculos,
areias de mulheres que dançaram sobre a mesma dor e esperança.
Em mim, há o sangue das que não se ajoelharam
e a ternura das que ensinaram o perdão com o olhar.

Tu me olhas, e em teus olhos reconheço a ancestralidade da noite.
Há um continente inteiro entre nós —
mas o amor atravessa oceanos invisíveis.
Teu silêncio me fala em língua de tambores,
onde cada batida é um nome,
cada pausa, uma oração.

Amo-te não como quem possui,
mas como quem devolve ao universo o que era dele.
Teu corpo é território e templo,
é tambor e travessia.
Quando te toco, não busco a carne:
procuro a lembrança da vida.

O amor é uma forma de resistência.
Ser mulher negra é guardar dentro do peito
a geografia inteira do tempo —
é ser pátria e poema,
vento e raiz, voz e eco.

E se o destino me reduzir em cinzas,
como temeu Senghor,
que minhas cinzas fertilizem o solo da ternura.
Que minhas palavras cresçam como flores negras sobre o medo,
e que cada pétala diga: “Eu amei, e por isso vivi”.

Ella Dominici

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Jardins de esperança

Pietro Costa: Poema ‘Jardins de esperança’

Pietro Costa
Pietro Costa
Imagem criaada por IA do Grok

O corpo é jardim, cada célula uma flor,
cultivar o cuidado para semear o amor.

O toque é linguagem que salva em silêncio,
ouvir a pele, eis um ato de pertencimento.

Nessa aurora rosa, a esperança floresce,
prevenir traduz um gesto que fortalece.

O peito é morada do sopro vital,
cuidar-se é plantar futuro no quintal.

A vida requer ternura no gesto mais simples,
um exame em tempo é ponte que nos redime.

Outubro ventila candente luz em cada janela,
a consciência é chama, uma oficiosa sentinela.

Pietro Costa

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Paradoxos

SAÚDE INTEGRAL

Joelson Mora

‘Paradoxos: o encontro entre opostos que nos cura’

Joelson Mora
Joelson Mora
Imagem criada por IA do Bing em27 de outubro de 2025, às 7:30 PM
Imagem criada por IA do Bing em27 de outubro de 2025, às 7:30 PM

Vivemos cercados de paradoxos, e neles, muitas vezes, está o segredo do equilíbrio.

Queremos paz, mas resistimos ao silêncio. Buscamos força, mas fugimos da vulnerabilidade. Desejamos amor, mas tememos nos despir das armaduras. A vida, em sua essência, é uma dança entre contradições que se completam.

Na saúde integral, compreender o paradoxo é fundamental.

Não há corpo forte sem pausa, nem mente tranquila sem desafio. É no contraste entre o esforço e o descanso, o fazer e o ser, que o bem-estar floresce.

Assim como o coração precisa contrair e relaxar para manter a vida pulsando, nós também precisamos aprender a alternar entre o movimento e a entrega.

O paradoxo do cuidar

Para cuidar do outro, primeiro é preciso cuidar de si.

Muitos profissionais, pais e líderes se doam até o esgotamento, acreditando que amor é sinônimo de renúncia. Mas o autocuidado não é egoísmo, é base.

Quem se respeita, se alimenta bem, respira, dorme, movimenta o corpo e silencia a mente, cria um ambiente interno fértil, capaz de irradiar saúde para o meio familiar e o ambiente de trabalho.

O paradoxo do controle

Controlar tudo é perder o controle.

Na busca por segurança, muitas vezes nos tornamos rígidos, fechados ao imprevisto, e a vida é feita justamente de incertezas.

Na saúde integral, aprender a fluir é tão importante quanto ter disciplina. Há dias em que o treino é pesado, e há dias em que o corpo pede leveza.

Saber ouvir esses sinais é sabedoria em movimento.

O paradoxo da presença

Estar presente exige desacelerar.

Vivemos conectados ao que virá ou ao que já foi, e esquecemos que o agora é o único tempo real onde a vida acontece.

Um simples café, um abraço, um pôr do sol, são terapias silenciosas quando vividas com atenção plena.

Desacelerar não é parar: é respirar para continuar com consciência.

Faça pausas conscientes no trabalho: um minuto de respiração muda o ritmo mental.

Escolha uma refeição do dia para ser vivida com calma, sem celular.

Caminhe observando o entorno, e não apenas o destino.

Exercite o corpo com gratidão, não como punição.

Antes de dormir, agradeça pelo que foi possível, e aceite o que não foi.

Essas práticas simples revelam o poder dos paradoxos:

descansar para produzir melhor, soltar para ganhar força, calar para escutar, e cuidar de si para cuidar do mundo.

A saúde integral é o caminho do meio, o ponto onde os opostos deixam de lutar e começam a cooperar.

No equilíbrio entre corpo, mente e espírito, descobrimos que o verdadeiro bem-estar não é ausência de conflito, mas harmonia entre contradições.

“A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.”

(2 Coríntios 12:9)

E é nesse aparente paradoxo divino que aprendemos: a força da vida se manifesta justamente quando aceitamos nossa humanidade.

Joelson Mora

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O silêncio do café e o último cortejo

Clayton Alexandre Zocarato

‘O silêncio do café e o último cortejo’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA do Gencraft
Imagem criada por IA do Gencraft

Naquela manhã, o cheiro de terra molhada se misturava ao perfume doce das flores do cafezal.

O sol ainda nem havia rompido por inteiro o nevoeiro quando o sino da igrejinha tocou três vezes, pausado, grave, anunciando o que todos já sabiam desde a madrugada: o nonno se fora.

Na casa grande, de paredes caiadas e janelas azuis, o silêncio se estendia como uma colcha pesada. 

As mulheres da família — todas de luto antecipado — sussurravam em dialeto italiano, entre orações e prantos contidos. 

A morte, naquele tempo, não era espetáculo; era trabalho. 

E como todo trabalho no interior, pedia mãos firmes, gestos práticos e respeito profundo.

O corpo do velho Giuseppe foi lavado no tanque do quintal, com água tirada do poço, ainda fria. 

Duas mulheres da comunidade, acostumadas a lidar com o “passamento”, vinham sempre ajudar nessas horas.

Uma delas preparava a bacia com folhas de manjericão e alecrim, “pra afastar os maus espíritos, dizia. 

A outra penteava o cabelo branco, alisando-o com um pano úmido, como se quisesse devolver ao rosto enrugado um pouco da dignidade dos tempos de lavoura.

Não havia velório em salão, nem caixão comprado às pressas na cidade. O filho mais velho, o tio Ângelo, cortara a madeira do próprio pai há anos, quando a saúde dele começara a fraquejar.

“Um homem deve estar preparado até pra sua partida, dizia o nonno, rindo com os dentes manchados de fumo. O caixão fora guardado no paiol, coberto com um lençol e cheiro de milho.

Agora, era trazido para dentro, posto sobre duas cadeiras, enquanto se ajeitava o corpo com o mesmo cuidado que se tem ao preparar o pão antes do forno.

O velório durou a noite toda. 

As lamparinas tremeluziam, e o café era passado sem descanso. 

Ninguém chorava alto; havia um pudor na dor, um respeito que impedia o desespero. 

As pessoas falavam baixo, lembrando histórias de colheitas fartas, de domingos de missa e das longas conversas na varanda. 

De tempos em tempos, alguém fazia o sinal da cruz e murmurava: Que Deus o receba na terra boa”.

As crianças, que não compreendiam bem a morte, espiavam curiosas o corpo imóvel e os gestos das mulheres. 

A mãe, com voz firme, dizia: Não se tem medo, se tem respeito. E essa frase, dita tantas vezes naqueles dias, se gravava como lição de vida — e de morte.

O cortejo, no dia seguinte, saiu logo após o toque das seis. 

O caixão foi colocado sobre a carroça, coberto por um pano branco e enfeitado com ramos de café e flores do quintal. 

Não havia banda, nem padre acompanhando. 

O padre ficaria à espera no cemitério, onde a terra já estava aberta. 

Os homens tiravam o chapéu ao passar e as mulheres juntavam as mãos. 

O som das rodas no chão de terra batida parecia um rosário, repetido no compasso das passadas lentas.

O caminho até o cemitério atravessava os cafezais, e o cheiro das folhas, misturado ao orvalho, dava àquela despedida um ar de colheita tardia.

Era como se a terra, que tanto recebera o suor do nonno, agora se preparasse para recebê-lo inteiro, como paga justa de uma vida de trabalho.

No cemitério, as cruzes de madeira se inclinavam ao vento. O padre, de batina gasta, disse as palavras breves, e cada familiar jogou um punhado de terra. 

O som surdo dos torrões batendo no caixão parecia o fecho de um ciclo, o último eco de uma vida simples.

Depois, todos voltaram à casa. O café fumegava no fogão a lenha, e o cheiro de pão fresco preenchia o vazio. 

Alguém comentou que o céu estava bonito, cor de café com leite”. 

E assim, entre um gole e outro, a vida foi retomando seu curso lento, como o rio que contorna as margens, sem nunca deixar de correr.

Nos dias seguintes, o canto dos galos voltou, os bois foram levados à lavoura, e a rotina retomou seu ritmo.

Mas, ao entardecer, quando o sol se escondia por trás dos cafezais, alguém sempre olhava para o horizonte e dizia baixinho: Lá vai o nonno, cuidando das plantações do outro lado.”

A morte, ali, não era um fim brusco, mas uma continuidade muda — uma semente enterrada que renascia em memória, em cheiro de café torrado, em reza sussurrada. 

E talvez fosse esse o segredo dos tempos antigos: entender que, na simplicidade do rito, havia mais do que despedida.

Havia o reconhecimento de que toda vida, como o café, precisa ser colhida no tempo certo — e devolvida à terra com gratidão.

Clayton Alexandre Zocarato

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     Liberdade mente-me

Ella Dominici: ‘Liberdade mente-me’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA do Bing – 31 de julho de 2025,
às 17:23 PM

Liberdade mente-me.

Essa frase contém o abismo e a ironia de quem, ao desejar ser livre, percebe que a promessa da liberdade pode ser uma ilusão sedutora, uma quimera que queima as asas de quem voa em sua direção.    

      A liberdade, nesse paradoxo, torna-se uma entidade que mente ao nos prometer plenitude — e quando finalmente se apresenta, somos nós que não mais sabemos habitá-la.

     O céu não desce, nem sobe. Apenas paira — imóvel como um olhar que sabe demais. A manhã acorda com os ombros tensos, e ninguém ousa nomear o absurdo.  

     O silêncio mastiga a dúvida, e o homem, ao tentar mover-se, tropeça na própria lucidez. Tudo nele é consciência, e essa consciência pesa mais que a morte. Ele vive, sim. Mas cada passo é um protesto contra o chão.

     Ela caminhava como se arrastasse uma infância às costas. Os lençóis ainda tinham o cheiro das promessas não cumpridas. Ao lado, a pele do outro — morna, disponível — era uma ilha que ela não sabia habitar.

      A liberdade entrou pela janela e ficou parada no meio do quarto. Era tarde demais. Ela já havia aprendido a respirar sem ela.

     O sol invadia o quarto sem pedir licença. Ela não fechava as cortinas. Queria que a dor aprendesse a conviver com a luz. Mas a luz era cega e mostrava tudo: as rachaduras, os restos, as bonecas viradas para a parede. Ser livre era uma tarefa que exigia forças que ela havia doado a poemas. E os poemas? Amavam-na, mas não a salvavam.

     Ela tocava nas palavras como quem toca numa pedra quente: não para colher, mas para reconhecer o calor. Tudo em volta pulsava sem sentido, como se o mundo tivesse desaprendido a nascer. Ela queria mais que voar — queria dissolver-se no ar. Mas ao tentar, percebeu que o ar também sangra. E então, nomeou o indizível com o silêncio.

     As cartas, os cadernos, a máquina de escrever — hoje teclado — tudo a olhava como se exigisse confissão. Ela mentia com precisão.

     A liberdade era o disfarce da desistência. E ela, embora tão jovem, já sabia dançar com as perdas. Sabia que o tempo não cura: apenas reorganiza os escombros para parecer paisagem.

     Na escada, ninguém espera. A porta não se abre nem se fecha, apenas observa. Cada degrau range uma acusação sem língua. O homem carrega um nome que não lhe pertence.

     E a liberdade? É uma senha esquecida. Um papel dobrado no bolso que nunca se ousou virar. Ele anda, não por vontade, mas porque parar é admitir que foi engolido.

     A mente é um palco onde as cortinas nunca fecham. Sonhos desfilam nus, e medos gritam entre os bastidores. Ele fala consigo mesmo, mas escuta o mundo inteiro.

     A liberdade mora num crânio vazio, ecoando ideias que nunca se realizam. Há mais dor em pensar do que em sofrer. E mais prisão na dúvida do que na cela.

     Liberdade mente-me — com sua voz de vento e vestes de luz. Mas a luz também fere, e o vento não escolhe rota. Talvez sejamos apenas corpos tentando lembrar como se vive, depois da promessa não cumprida.

     Talvez liberdade seja esse espelho onde a alma não se reconhece mais.

Ella Dominici

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Eterna Chegada

Clayton Alexandre Zocarato: Poema ‘Eterna chegada’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA do Bing – 11 de junho de 2025,
às 11:40 PM

Você chegou… e o tempo se curvou,
Na curva da rua onde o Sol já pousou.
Mas não ficou — e ainda assim ficou
Num canto da alma que nunca cessou.

A casa vazia sussurra seu nome,
A estrada repete o som que consome.
O menino que sonha em corpo de homem
Ainda chora onde o silêncio some.

Você chegou — mas o medo ficou,
Meu orgulho pueril, o amor sufocou.
E agora nas noites, a dor me levou
A lembrar do sorriso que o tempo apagou.

Seus olhos castanhos, minha perdição,
Neles naveguei sem direção.
Amar em silêncio foi minha prisão,
Um grito calado, um gesto em vão.

Mas ainda te vejo nos sonhos que vêm,
Na sombra da tarde, no passo de alguém.
Você é a chegada que não tem porém,
A eterna namorada do meu além.

Clayton Alexandre Zocarato

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