Vazia

Loide Afonso: Poema ‘Vazia’

Loid Portugal
Loid Portugal
Imagem criada por IA da Meta
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A dor era tudo que
Eu sentia
Mesmo tentando fugir dela
Ela doía

Eu não quero ser o tipo de ser humano
Que chora
Sem uma pedra nas mãos

Não quero estar vazia
Não
Quero que as pedras se multipliquem
Minhas mãos se encham

Mais sem peso
Sem sentir raiva
Ou vontade de chorar
Só de mãos cheias

Não quero correr com
As mãos cheias
Quero caminhar tranquilamente

Como se nada tivesse nas minhas mãos
Quero voar também
Sentir o vento batendo forte

Não quero correr vazia
Nem sentindo peso
Quero estar em paz!

Loid Portugal

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Vazio!

Clayton Alexandre Zocarato: Conto ‘Vazio!’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA do Bing - 19 de junho de 2025, às 20:52 PM
Imagem criada por IA do Bing – 19 de junho de 2025,
às 20:52 PM

O rádio chiava baixinho na prateleira, perdido entre livros embolorados e porta-retratos com rostos que já não existiam. 

Oswaldo, sentado em sua poltrona de couro puído, olhava pela janela como quem tenta decifrar o tempo — não o clima, mas o tempo em sua essência: o que já passou, o que virá, e, mais cruelmente, o que nunca veio. Lá fora, o mundo parecia indiferente. Um mundo que seguia, apesar da sua ausência voluntária.

 Passavam carros, crianças com mochilas, cachorros levados por donos apressados. Havia vida, sim. Mas não a sua. A sua ficara presa em algum ponto distante da linha do tempo, talvez numa praça de cidade pequena, numa conversa esquecida, num beijo roubado numa tarde de verão.

Oswaldo levantou-se com esforço. O corpo já não obedecia com a agilidade de outrora, mas ainda seguia — teimoso, como ele.

 Foi até a estante e pegou um caderno surrado. Ali, escrevia reflexões que ninguém lia. Não para serem lidas, mas para existirem. Era um hábito que tomara quando se dera conta de que já não conversava com ninguém. O silêncio externo o havia empurrado para o barulho interno — e esse, por vezes, era ensurdecedor. “Existir é suportar o vazio com dignidade.” — rabiscou na folha. 

Depois olhou a frase como quem contempla uma sentença de morte escrita à mão. Era um homem que se desfez das coisas aos poucos: da juventude, dos amigos, da mulher, do filho que se mudara para outro país e agora lhe escrevia apenas em datas especiais, por obrigação mais que por afeto.

 Oswaldo não culpava ninguém. No fundo, aceitava que “tudo o que era sólido se desmanchava” — como dissera um velho filósofo em algum livro que agora jazia esquecido na estante. Lembrava-se de quando era jovem e se sentia imortal. A juventude tinha esse dom: mascarar a angústia com projetos, com urgências falsas, com promessas de sentido. Mas o tempo revela: não há sentido que resista à dúvida. E era disso que ele se alimentava agora — da dúvida. Não de forma amarga, mas contemplativa, como quem observa uma fogueira se apagar sem pressa.

Sentou-se de novo.  A poltrona parecia moldada ao seu corpo, como se ele e o móvel fossem uma mesma entidade. E ali, olhando o mundo pela moldura da janela, sentiu saudade de si. Não dos outros, mas de si — daquele que poderia ter sido, do Oswaldo que ficou pelo caminho. Era esse o maior isolamento: não o do mundo, mas o de si para consigo. Sentia-se estrangeiro dentro da própria pele.

O rádio chiou mais uma vez. Tocava uma música antiga, daquelas que rasgam a alma sem pedir permissão. E Oswaldo sorriu — não com alegria, mas com a melancolia de quem reconhece a beleza trágica da vida. Porque, afinal, talvez o segredo fosse esse: aceitar o absurdo da existência, abraçá-lo como um velho conhecido, e continuar — mesmo que apenas para assistir ao mundo passar da janela, com um caderno no colo e o coração em silêncio.

Clayton Alexandre Zocarato

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Apagar-se é o preço de existir

Ella Dominici: ‘Apagar-se é o preço de existir’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA no Bing - 20 de março de 2025, às 07;30 PM
Imagem criada por IA no Bing – 20 de março de 2025,
às 07;30 PM

O vazio chegou primeiro.
Antes do nome, antes da pele, antes do rosto
que me ensinaram a chamar de meu.
Fui menos que um nada,
um quase-ser esperando a sorte do verbo.

Apaguei-me para caber no mundo.
Deixei pegadas que não segui,
vendi silêncios para comprar presença.
E ainda assim, o resto de mim ficou
insistindo em existir no que me faltava.

Houve um tempo em que fui todos,
um eco na multidão dos que não sabem que são.
E então, o traço. O risco. A marca.
Era eu.
Não um nome, não um número,
mas um corte no papel do tempo.

Deixei o coro dos rostos repetidos.
O coletivo me olhou como se eu traísse
o pacto dos que preferem ser sombra.
Mas a sombra não tem peso,
não tem voz,
não tem gravidade para sustentar-se.

E eu queria ser corpo,
queria ser coisa que não se apaga.
Queria ser o avesso da ausência,
o nome que me veste sem caber em mais ninguém.

APAGAR-SE É O PREÇO DE EXISTIR

Ella Dominici

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A dor

Ismaél Wandalika: Poema ‘A dor’

Soldado Wandalika
Soldado Wandalika
Imagem gerada por IA do Bing - 5 de dezembro de 2024
 às 7:06 PM
Imagem gerada por IA do Bing – 5 de dezembro de 2024
às 7:06 PM

A dor escava os sentimentos
Fura alma divide os pensamentos
Abate corpos e desperta cérebros

Há dor no sorriso
Que oculta as lágrimas do peito
Os olhos traduzem as palavras de cada momento

Na dor o vazio é patente
O coração rasga e sente
Caminhamos descontentes

Alma abraçada ao nada
Vive os últimos episódios na tela
A gente inventa alegria
Corrida renhida no âmago da vida

E lá se vão os dias
Aqui passam os anos
O amor nasce nos instantes
Não há como fugir da dor

A dor alcança todos
Leva todos e deixa todos

A dor de perder um grande amor
A dor das perdas dos ente queridos
A dor dos sorrisos tristonhos
A dor de ver um familiar se perdendo
A dor das eternas lembranças
A dor de acreditar nas esperanças!

A Dor

Soldado Wandalika

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Você

José Antonio Torres: Poema ‘Você’

José Antonio Torres
José Antonio Torres
"Apreciava a paisagem e as belezas naturais com admiração..."
Imagem gerada com IA do Bing - 28 de outubro de 2024, 
às 4:17 PM
“Apreciava a paisagem e as belezas naturais com admiração…”
Imagem gerada com IA do Bing – 28 de outubro de 2024,
às 4:17 PM

Sempre fui um otimista…
Nos momentos críticos, mantive a calma;
Afinal, o desespero só atrapalha o raciocínio e as decisões a tomar;
Apreciava a paisagem e as belezas naturais com admiração,
Mas… faltava algo…
Sentia um certo vazio…
Havia uma indefinição na minha existência…
Não estava completo;
Não me preocupava com isso,
Mas essa sensação estava presente.
O tempo passa…
Você aparece como uma luz que a tudo ilumina…
Preenche o meu vazio interior…
Dá cor a cada detalhe da minha vida…
A tua ternura afaga cada parte do meu ser de modo calmo e sereno…
Agora sim, te amando, tudo faz sentido…
Estou pleno.

José Antonio Torres

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Infinity

Clayton Alexandre Zocarato: Poema ‘Infinity

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
"...Olhos de pedras gigantescos Se chocam com as ondas..."
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 23 de setembro de 2024 às 7:24 PM
“…Olhos de pedras gigantescos Se chocam com as ondas…”
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 23 de setembro de 2024 às 7:24 PM

Respondo para runas desertificantes

Necessito de dunas de caridades

Inseridas na brevidade

De minhas carnes pecaminosas

Procurando alguma consistência de paixões

Em torno de corações.

Cegos por corpos  arcadianos

Buscando o sol da humildade

Qual o quê?

Danço no bolero do seu vazio

A existência deseja  consciência

Olhos de pedras gigantescos

Se chocam com as ondas

Que pelo sal do infinito

Produz um éter de solidão

Designando lutas comportamentais

Por um astral abissal

Que se lance em uma doce

Promiscuidade intelectual

Que em momentos espirituais

Fazem os “sapiens” desiguais

Perdidos em suas paixões

Celestiais e Corporais

Clayton Alexandre Zocarato

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Foi-se

Virgínia Assunção: Poema ‘Foi-se’

Virgínia Assunção
Virgínia Assunção
“Foi-se o amor, cortado em sua raiz; levou no corte o desejo de amar”
Imagem gerada pela IA do Bing – 08 de setembro às 19:02

Foi-se o amor, cortado em sua raiz,
Como a foice que ceifa sem alertar,
Num gesto frio, preciso, infeliz,
Levou no corte o desejo de amar.

Não restou nada, além do vazio,
Nessa terra árida onde nada mais floresce
A flor que um dia para a vida se abriu,
Agora murcha, sua cor já desvanece.

A foice afiada não conhece dor,
Muito menos a falta do que separou.
Assim cortou, de nós, o grande amor,
E o que era inteiro, se despedaçou.

Foi-se o amor, na lâmina cruel,
Deixou-nos somente sombras e tormento.
Como o campo varrido pelo corte fiel,
Ficou o silêncio, um triste abatimento.

Virgínia Assunção

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