Clayton A. ZocaratoImagem criada por IA do Bing – 19 de junho de 2025, às 20:52 PM
O rádio chiava baixinho na prateleira, perdido entre livros embolorados e porta-retratos com rostos que já não existiam.
Oswaldo, sentado em sua poltrona de couro puído, olhava pela janela como quem tenta decifrar o tempo — não o clima, mas o tempo em sua essência: o que já passou, o que virá, e, mais cruelmente, o que nunca veio. Lá fora, o mundo parecia indiferente. Um mundo que seguia, apesar da sua ausência voluntária.
Passavam carros, crianças com mochilas, cachorros levados por donos apressados. Havia vida, sim. Mas não a sua. A sua ficara presa em algum ponto distante da linha do tempo, talvez numa praça de cidade pequena, numa conversa esquecida, num beijo roubado numa tarde de verão.
Oswaldo levantou-se com esforço. O corpo já não obedecia com a agilidade de outrora, mas ainda seguia — teimoso, como ele.
Foi até a estante e pegou um caderno surrado. Ali, escrevia reflexões que ninguém lia. Não para serem lidas, mas para existirem. Era um hábito que tomara quando se dera conta de que já não conversava com ninguém. O silêncio externo o havia empurrado para o barulho interno — e esse, por vezes, era ensurdecedor. “Existir é suportar o vazio com dignidade.” — rabiscou na folha.
Depois olhou a frase como quem contempla uma sentença de morte escrita à mão. Era um homem que se desfez das coisas aos poucos: da juventude, dos amigos, da mulher, do filho que se mudara para outro país e agora lhe escrevia apenas em datas especiais, por obrigação mais que por afeto.
Oswaldo não culpava ninguém. No fundo, aceitava que “tudo o que era sólido se desmanchava” — como dissera um velho filósofo em algum livro que agora jazia esquecido na estante. Lembrava-se de quando era jovem e se sentia imortal. A juventude tinha esse dom: mascarar a angústia com projetos, com urgências falsas, com promessas de sentido. Mas o tempo revela: não há sentido que resista à dúvida. E era disso que ele se alimentava agora — da dúvida. Não de forma amarga, mas contemplativa, como quem observa uma fogueira se apagar sem pressa.
Sentou-se de novo. A poltrona parecia moldada ao seu corpo, como se ele e o móvel fossem uma mesma entidade. E ali, olhando o mundo pela moldura da janela, sentiu saudade de si. Não dos outros, mas de si — daquele que poderia ter sido, do Oswaldo que ficou pelo caminho. Era esse o maior isolamento: não o do mundo, mas o de si para consigo. Sentia-se estrangeiro dentro da própria pele.
O rádio chiou mais uma vez. Tocava uma música antiga, daquelas que rasgam a alma sem pedir permissão. E Oswaldo sorriu — não com alegria, mas com a melancolia de quem reconhece a beleza trágica da vida. Porque, afinal, talvez o segredo fosse esse: aceitar o absurdo da existência, abraçá-lo como um velho conhecido, e continuar — mesmo que apenas para assistir ao mundo passar da janela, com um caderno no colo e o coração em silêncio.
Ella DominiciImagem criada por IA no Bing – 20 de março de 2025, às 07;30 PM
O vazio chegou primeiro. Antes do nome, antes da pele, antes do rosto que me ensinaram a chamar de meu. Fui menos que um nada, um quase-ser esperando a sorte do verbo.
Apaguei-me para caber no mundo. Deixei pegadas que não segui, vendi silêncios para comprar presença. E ainda assim, o resto de mim ficou insistindo em existir no que me faltava.
Houve um tempo em que fui todos, um eco na multidão dos que não sabem que são. E então, o traço. O risco. A marca. Era eu. Não um nome, não um número, mas um corte no papel do tempo.
Deixei o coro dos rostos repetidos. O coletivo me olhou como se eu traísse o pacto dos que preferem ser sombra. Mas a sombra não tem peso, não tem voz, não tem gravidade para sustentar-se.
E eu queria ser corpo, queria ser coisa que não se apaga. Queria ser o avesso da ausência, o nome que me veste sem caber em mais ninguém.
Soldado Wandalika Imagem gerada por IA do Bing – 5 de dezembro de 2024 às 7:06 PM
A dor escava os sentimentos Fura alma divide os pensamentos Abate corpos e desperta cérebros
Há dor no sorriso Que oculta as lágrimas do peito Os olhos traduzem as palavras de cada momento
Na dor o vazio é patente O coração rasga e sente Caminhamos descontentes
Alma abraçada ao nada Vive os últimos episódios na tela A gente inventa alegria Corrida renhida no âmago da vida
E lá se vão os dias Aqui passam os anos O amor nasce nos instantes Não há como fugir da dor
A dor alcança todos Leva todos e deixa todos
A dor de perder um grande amor A dor das perdas dos ente queridos A dor dos sorrisos tristonhos A dor de ver um familiar se perdendo A dor das eternas lembranças A dor de acreditar nas esperanças!
José Antonio Torres“Apreciava a paisagem e as belezas naturais com admiração…” Imagem gerada com IA do Bing – 28 de outubro de 2024, às 4:17 PM
Sempre fui um otimista… Nos momentos críticos, mantive a calma; Afinal, o desespero só atrapalha o raciocínio e as decisões a tomar; Apreciava a paisagem e as belezas naturais com admiração, Mas… faltava algo… Sentia um certo vazio… Havia uma indefinição na minha existência… Não estava completo; Não me preocupava com isso, Mas essa sensação estava presente. O tempo passa… Você aparece como uma luz que a tudo ilumina… Preenche o meu vazio interior… Dá cor a cada detalhe da minha vida… A tua ternura afaga cada parte do meu ser de modo calmo e sereno… Agora sim, te amando, tudo faz sentido… Estou pleno.