O caminho

José Antonio Torres: Poema ‘O caminho’

José Antonio Torres
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A estrada é longa e demanda esforços.
Subidas íngremes e escorregadias.
O equilíbrio se faz necessário.
Encontramos desertos de sentimentos,
mas também jardins de graciosa beleza,
assim como acolhimento.

Os talos espinhosos de algumas flores nos ferem.
Outras nos ajudam a embelezar o caminho e a perfumá-lo.
As tempestades são inevitáveis,
mas logo após, vem o sol,
radiante e terno a nos alegrar.

A sede de justiça nos queima as entranhas,
mas a saciamos em fontes cristalinas de amor.
Algumas vezes nos deparamos com areia movediça que ameaça nos tragar.
Buscamos algo em que nos agarrar.
O desespero toma conta de nós.
Muitos afundam.
Outros, mais determinados, sobrevivem.

Precisamos focar na chegada, mas não podemos descuidar do caminho.
O objetivo ainda está longe.
A cada passo dado, mais próximos estaremos.
De tempos em tempos, precisamos algumas vezes repensar o trajeto.
Refeitas as forças, novos planos elaborados, seguimos confiantes!

Não cometeremos os mesmos erros.
Evitaremos os desvios que escondem perigos.
Em muitos trechos do caminho, seguiremos sozinhos.
Em outros, companheiros de caminhada se juntarão a nós.
Estejamos atentos para não nos desviarmos do caminho.
Sigamos com a bússola da luz e do amor.

José Antonio Torres

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O ciclo

José Antonio Torres: Crônica ‘O ciclo’

José Antonio Torres
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Nasceu!

Todos estão felizes. Uma nova vida se fez. Cuidados extremos, surpresas… o desconhecido sempre assusta. Um ser frágil e dependente. Olhar curioso. Sua conversa é pelo olhar.

Vai crescendo, fazendo descobertas. Seus pais se descobrindo também.

O tempo passa, aquele ser crescendo, se desenvolvendo, tornando-se independente.

Vai ganhando energia rapidamente.

Seus pais sentindo o peso do tempo.

Ele é adulto. Os pais, idosos. Os papéis se inverteram. Agora são eles que necessitam de cuidados. A vida deu voltas. A paciência e a compreensão do filho nem sempre estão presentes. Esquece que já dependeu.

A energia dos pais minguando… findou.

A chama da vida se apaga.

Por algum tempo ainda serão lembranças. Depois, nem isso.

Novo ciclo começa.

Será que o circuito será o mesmo?

José Antonio Torres

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O voyeur

José Antonio Torres: ‘O voyeur’

José Antonio Torres
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Embora muitos casos tenham acontecido naquela casa de cômodos, a que já me referi em crônicas anteriores, finalizo essa sequência com este caso. Ressaltando que todos os casos são verídicos.

Naquela casa de cômodos moravam cerca de vinte inquilinos. Alguns quartos possuíam duas camas, outros três e havia um bem espaçoso, que possuía quatro camas. Era um tempo em que a violência não era como a de hoje em dia. Não havia roubo de pertences de um morador por outro.

A casa era antiga e na parte externa ao corpo principal da casa, na parte dos fundos do quintal, havia um banheiro com uma parede que dividia as partes do vaso sanitário e a do chuveiro. Havia portas individuais com fecho por dentro e por fora de cada ambiente. Eles eram independentes. Além disso, havia um grande tanque feito de pedra, ao lado dos banheiros. Nunca houve qualquer problema ou confusão. O fato de os inquilinos serem apenas homens certamente contribuía para isso.

Ocorre que certa vez deu um problema no chuveiro interno da casa, que era utilizado apenas pela dona da casa de cômodos e seu filho, que estava ainda iniciando a adolescência. Devido ao problema no chuveiro interno, a senhora foi tomar banho no chuveiro comunitário citado anteriormente. Aproveitou o meio da tarde pois a maioria dos inquilinos estaria trabalhando.

Após terminar o seu banho, um inquilino que estava em casa pediu para falar com ela. Contou-lhe que se dirigia ao banheiro, quando percebeu um outro inquilino agachado, tentando olhar por baixo da porta do banheiro onde ela estava tomando banho. O outro assustou-se e saiu, dirigindo-se ao seu quarto. O inquilino que presenciou aquela cena disse-lhe que ficou ali no tanque fazendo a barba e esperando para ver quem sairia do banho e comentar o que havia presenciado. Quando viu que era a senhora que havia tomado banho, se revoltou ainda mais com a atitude do tarado. O que chama a atenção é que o voyeur não tinha como saber quem estava tomando banho. Ela perguntou qual foi o inquilino que fez aquilo, e ele falou. Ela esperou um outro inquilino, que era o mais antigo do lugar, chegar do trabalho. Contou-lhe o ocorrido e pediu ajuda para dar uma lição no voyeur.

Ela possuía um tipo de cassetete que era constituído de um cabo telefônico grosso e emborrachado, com uma das extremidades dobradas para que se encaixasse no pulso. Ela estava espumando de raiva pelo acontecido e, com o outro morador, dirigiu-se ao quarto do voyeur e bateu à porta. Quando ele abriu, ela e o outro inquilino entraram. O outro imobilizou o voyeur, e a senhora, com os olhos faiscando de raiva, ia dando-lhe vigorosas lambadas e perguntando se ele gostava de ver mulher tomando banho. Mesmo não dando para ver nada, a intenção dele o incriminava. Ela bateu com vontade.

Após cansar de ‘descer-lhe a ripa’, determinou que ele fosse embora da casa.

Quando, ao final da tarde, o filho dela chegou do colégio, ficaram sentados no degrau da porta da sala que dava para o quintal, como sempre faziam, tomando o fresquinho do final de tarde. Nisso, passa o voyeur vindo do chuveiro com uma toalha aberta sobre as costas. Quando ele passou, o menino viu, mesmo com a toalha, lanhos vermelhos que se estendiam para onde a toalha não cobria. Ele mancava também.

Espantado, o menino perguntou à mãe se ela tinha visto. Ela então contou-lhe o que havia acontecido e que havia sido ela quem dera aquelas lambadas nele. Disse, também, que ordenou que ele fosse imediatamente embora da casa.

José Antonio Torres

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A fuga no ônibus

José Antonio Torres: Crônica ‘A fuga no ônibus’

José Antonio Torres
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Seguindo com a saga de a Casa de Cômodos – como os casos reais já contados aqui: ‘O velhinho do terno’ e ‘O bêbado caloteiro’ – vez por outra aparecia um caloteiro. Uns criavam caso, outros apenas fugiam na calada da noite para não pagar o aluguel do quarto em que moravam. No caso que passo a relatar, esse fugiu no início da tarde.

A dona da casa de cômodos tinha o costume de tirar um cochilo depois do almoço. Isso a revitalizava. Poderia estar extremamente cansada, mas após o seu cochilo, acordava revigorada e bem-disposta.
Era uma rotina de muitos anos. Quando ela não conseguia tirar esse cochilo após o almoço, o dia ficava pesado, arrastado e cansativo.

Certo dia, final de mês, um dos inquilinos – que estava com o aluguel do quarto atrasado – resolveu sair sem pagar. Fez isso exatamente no início da tarde. Para seu azar, nesse dia a dona da casa de cômodos não estava dormindo, pois verificava as contas que precisava pagar, separando o dinheiro e verificando se já possuía o necessário.

De repente, ela percebeu, pela janela do quarto que dava para o quintal, a movimentação de alguém passando e viu que era o inquilino que estava com o aluguel atrasado. Ela achou estranho que, naquele horário, ele estivesse em casa e não trabalhando. Intrigada, ela levantou de onde estava, foi olhar e constatou que ele estava saindo com a mala na mão em direção ao portão. Com uma agilidade quase felina, foi atrás dele para tentar evitar o calote que se mostrava iminente.

Ele foi caminhando pela rua e ela, ao lado dele, dizendo em tom ríspido:

⁃ Ou você paga o que me deve ou eu vou te seguir até onde você for e vou te fazer passar vergonha.

Ele chegou a um ponto de ônibus. 0 ônibus chegou e ele entrou. Ela entrou também, atrás dele. Ele passou pela roleta após pagar a passagem – naquela época, os ônibus tinham, além do motorista, um trocador que recebia o valor da passagem, dava o troco e controlava a roleta para o passageiro passar – e o trocador travou a roleta para que ela pagasse a passagem. Ela alterou a voz e disse:

⁃ Quem vai pagar a minha passagem é esse safado que está fugindo sem pagar o aluguel do quarto em que morava na minha casa!

Todos no ônibus olharam para o caloteiro. Ele se voltou e pagou a passagem dela.

O ônibus seguiu pela Avenida Brasil – quem mora no Rio de Janeiro sabe da extensão dessa via, que liga vários bairros – e ela continuou falando bem alto:

– Aonde você for, eu vou, até você tomar vergonha na cara e pagar o que me deve.

0 ônibus continuou em seu trajeto. Ele, já demonstrando profundo desconforto com a situação, sentindo os olhares dos passageiros cravados nele e o burburinho das conversas criticando-o, meteu a mão no bolso, contou o dinheiro, virou-se para ela e pagou a dívida. Ela tocou a campainha para saltar e o motorista disse que só no próximo ponto, mas que ainda estava distante.

Finalmente, ela saltou do ônibus. Não tinha a menor noção de onde estava. Perguntou como fazer para retornar ao bairro em que morava. Alguém a orientou que precisaria atravessar as pistas para o outro lado e pegar o mesmo ônibus em que veio até ali, só que no sentido contrário, ou então, alguns outros que indicou. Assim ela fez e retornou para a sua residência.

Após passada a situação e ainda nervosa com a atitude impensada que tomou, caiu em si e percebeu que poderiam ter acontecido coisas muito perigosas com ela. Prometeu a si mesma que jamais repetiria o feito.

José Antonio Torres

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O bêbado caloteiro

José Antonio Torres: ‘O bêbado caloteiro’

José Antonio Torres
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Na mesma casa de cômodos onde ocorreu o caso do Velhinho do Terno – já publicado aqui no ROL – muitos casos aconteceram. Este é apenas mais um. Quando aconteceu este caso, lá pelos idos da década de 1960, a dona da casa de cômodos, uma portuguesa viúva, com o filho ainda criança, administrava tudo com muita competência e determinação. Ela não permitia que os inquilinos levassem mulheres para os quartos. Todos os inquilinos eram homens.

Certa vez, um dos inquilinos, que possuía aproximadamente 1,90 m – tão forte que mais parecia um fisiculturista – e que trabalhava em uma transportadora próxima, deixou de pagar o aluguel do quarto. Criou caso, discutiu, mas a dona não se intimidou. Ela foi até a transportadora e pediu para falar com o responsável. Foi conduzida até a presença do dono da empresa e contou o que estava acontecendo. Disse que o funcionário não pagou o aluguel e estava criando confusão. O dono da empresa disse-lhe que pagaria o aluguel e descontaria no salário do funcionário. Disse mais, que se ele não pagasse regularmente o aluguel, que voltasse à empresa e falasse com ele. Ela não teria prejuízo.

Mais tranquila, voltou para casa e continuou com seus afazeres. Eram outros tempos. Hoje em dia, ela não teria recebido essa atenção. Seria completamente ignorada. No início do mês seguinte, quando o aluguel deveria ser pago, ela foi ao inquilino criador de caso para cobrar. Encontrou-o muito bêbado e alterado, dizendo que não pagaria o aluguel e que, se ela fosse à empresa reclamar, iria dar-lhe uma surra. A dona, então, chamou a Polícia Militar.

Uma viatura com dois policiais dirigiu-se à casa de cômodos. Ao chegarem, a dona explicou-lhes tudo que estava ocorrendo. O filhinho da dona, assustado com a agressividade do inquilino bêbado e encrenqueiro, disse aos policiais que ele queria bater na mãe dele. Os policiais dirigiram-se até o quarto do inquilino caloteiro e ordenaram que ele pagasse o que devia. Ele, muito bêbado, olhos tão avermelhados que parecia que tinha pingado groselha em lugar de colírio, se exaltou e os policiais disseram-lhe que iriam levá-lo para a Delegacia. Ele, então, pegou o dinheiro do aluguel no bolso e atirou as notas ao chão.

Os policiais subiram o tom e ordenaram que ele catasse nota por nota e entregasse o dinheiro nas mãos da senhora. Ele assim o fez. A dona, temerosa do que ele pudesse fazer posteriormente, já que a ameaçara de agressão, disse aos policiais que não se sentia segura e que não o queria mais morando ali. Os policiais, nesse momento, ordenaram que ele arrumasse os seus pertences e deixasse a casa. Ele, resmungando e tropeçando nas próprias pernas, obedeceu e foi embora.

Mais um sufoco passado pela dona da casa de cômodos.

José Antonio Torres

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Indomável

José Antonio Torres: ‘Indomável’

José Antonio Torres
José Antonio Torres
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O amor é um sentimento curioso e Inigualável.

Apesar de ser aquele que engloba os sentimentos mais nobres, nos causa uma certa estranheza em determinados momentos.

Ele provoca alegria intensa, mas também inquietude e dor.

Transmuta tudo em beleza, mas pode transformar momentos em algo sem cor.

Transborda de felicidade ao gerar uma luz intensa de paz, mas arde dolorido nos momentos de decepção.

Ao mesmo tempo em que é harmonia, pode-se tornar um mar revolto de emoções conflitantes.

Proporciona total entrega, mas não permite ser dominado.

Ele enxerga, mas, ao mesmo tempo, não vê.

Nos cega completamente, colocando uma venda sobre os olhos da alma e nos fazendo perder o rumo.

Ignora os dissabores que podem extingui-lo aos poucos e se refaz, na esperança de ser infinito.

Ele nos conduz por caminhos desconhecidos, onde não temos controle sobre nós mesmos e nem da direção a seguir.

Qual barco sobre as ondas impetuosas sob a força dos ventos, ele nos faz navegar ao sabor das marés.

Quem tiver a pretensão de contê-lo, se verá perdido e impotente diante de sua força.

Ele é Indomável!

O amor não aceita diretrizes, pois governa a si mesmo.

José Antonio Torres

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A jornada da vida

José Antonio Torres: ‘A jornada da vida’

José Antonio Torres
José Antonio Torres
Imagem criada por IA da Meta – 09 de setembro de 2025, às 07:49 PM

É interessante quando refletimos e traçamos um paralelo de como a vida se assemelha a um oceano, e cada um de nós, a um barco.

A vida é cheia de diversidades, adversidades e possibilidades. Algumas vezes ela está agitada e, como um barco em um oceano revolto, somos jogados de um lado para o outro. Subimos e descemos nas ondas dos acontecimentos.

Temos a possibilidade da fartura, mas, nem sempre, o ‘oceano’ está favorável ou nos encontramos no melhor lugar. Às vezes nos falta o controle do leme. Ele não responde ao nosso desejo, à nossa vontade.
As noites sem lua e o céu encoberto nos desorientam. Não temos as estrelas para nos guiar. Ansiamos pelo dia.

Algumas vezes as noites nos parecem longas demais e nos sentimos desesperançados. Mas as noites não são eternas. Em dado momento, percebemos o raiar do dia e com ele a esperança retorna, o sol torna a brilhar, o mar se acalma e retomamos o nosso rumo.

Temos uma longa viagem atravessando esse oceano que é a vida. Enfrentamos dias e noites de tormentas, mas, também, períodos de calmaria. Durante esses momentos de calmaria, nos refazemos e devemos procurar nos fortalecer para as possíveis futuras intempéries. Acondicionar provisões para os momentos mais complexos da viagem. Confiar nos parceiros que seguem conosco e com eles partilhar conhecimentos e experiências.

Alguns irão desembarcar em portos ao longo da nossa viagem. Cada um deles cumpriu a sua própria jornada, assim como cumpriremos a nossa. Vamos ganhando confiança e cada vez mais determinação, em busca do nosso porto final. Sim, chegaremos a ele. O nosso porto derradeiro…

O nosso corpo, assim como o barco no oceano, vai se distanciando do porto de origem e, cada vez mais, se aproximando do nosso destino final. Assim como o barco navegando no oceano, conforme vamos navegando na vida, seguimos, lentamente, desaparecendo da vista dos que ficaram.

Ao chegarmos ao nosso destino, nele descansaremos, reavaliaremos a nossa última jornada, revigoraremos as nossas forças e a nossa determinação, e traçaremos novos rumos para outras viagens.
Continuaremos navegando por outros mares, que nada mais são, do que outras vidas.

José Antonio Torres

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