Em uma época preferencialmente denominada Reencontro do saber literário angolano para alguns críticos, muitas são as ações para se ter a bainha bem costurada e as alças das mangas a exibirem literatura em vez de lixeratura.
É assim que Associações literárias, Grupos organizados inbuidos do espírito literário e pessoas individuais enganam o tempo para vê-lo passar sem ser notado e deixar uma marca registada sobre a mão, a massa e o saber.
Mateus Pinto
Por ocasião do II Simpósio Nacional de Crítica Literária, a ser realizada na União dos Escritores Angolanos no dia 31 de Agosto de 2024
– O que estás para aí a dizer? – vociferou o Editor-Chefe, interrompendo-me a palavra. Foram duas as vezes que perguntou ao telefone com quem lidavam. Andava às voltas com uma das mãos ao rosto, enquanto adiava o meu discurso com questões.
Dava para perceber que, de paciência, o homem não chegava nem aos pés do próprio escritor.
Os retratos afixados na vitrine do gabinete, entre elas fotos de José Paciência, Victor Evaristo, Haires Fernando e outros nomes da nova geração, possíveis pistas espalhadas sobre a mesa e um ar irritado era um pouco de tudo que se exibia, enquanto aguardava até mesmo o silêncio calar ao sinal do cigarro murcho entre os dedos.
O certeiro seria o caso estar nas mãos do Círculo de Estudos Literários encabeçado pelo atual Presidente Hélder Simbad ou órgão similar, cogitava, mas por ser uma situação sensível, decidiu-se tratar à portas fechadas. Ninguém, além do Editor-Chefe sabia sobre o ocorrido até por um pequeno deslize meu, ter sido achado no dia da venda do livro de José Paciência, porém sem o que lhes mordia o ser: possíveis provas de que em (Des)contos Em Poesias há uma provocação a uma possível parte dois de Os da minha Rua de Ondjaki.
Como aos leitores esse era um assunto que não monologava, e-mails após e-mails eram enfilados no correio do escritor que há muito não se apresentava aos sedentos, nem mesmo para saudar.
Por consequência do ocorrido, decidiu revisar tal obra ao som dos que tinham voz também, para ver de perto o que lhe tinha escapado na memória quando as sentenciou, mas nada achava, pelo contrário um punhado de riso ao reler O voo do Jika e outros mais. Sendo assim, remeteu uma mensagem ao Editor-Chefe sem omitir um detalhe sequer, e esse, por sua vez, com medo de que tivesse sido o sujeito dessa acção, começou a caçada sem mesmo perceber o que realmente lhe escreveu Ondjaki.
E como resultado da falta de paciência do homem, aí estava eu, Hánji Kiami, nas tentativas falhadas, a justificar a razão de levar os leitores a pedirem uma segunda edição de Os da minha Rua ou qualquer coisa de Ondjaki para, ao menos, no seio dos leitores ter paz de espírito literário.