Vamos nos amar
Osvaldo Manuel Alberto: ‘Vamos nos amar’


Vamos nos amar.
Vamos nos amar para que a vergonha tenha vergonha de nos envergonhar
Vamos nos amar para que as lutas sejam colectivas e tornem-se mais fáceis de vencer.
Vamos nos amar para que a soberba diminua e a petulância se esvazie, para compreender que tudo é vaidade.
Vamos nos amar para que não precisemos de justificar nada, para que a empatia e a solidariedade não sejam objectos das redes sociais motivados por likes, que sejam naturais e refrescantes como a brisa do mar no entardecer.
Vamos nos amar. Vamos nos amar para que a ciência se torne comum ao senso de todos os meros mortais, para que a pedra não pese sobre nós em forma de julgamento.
Vamos nos amar para que na presença ou na ausência os corações continuem verdejantes como a floricultura bem tratada.
Vamos nos amar para sentir menos dor, para ter paz, diluir qualquer peso que possa abalar a estrutura de uma consciência.
Vamos nos amar para que nem a dor, nem a doença e nem a morte possa importunar a criação dos nossos filhos. Mesmo quando o cerne é o corpo, em nada adianta proteger a carne quando o coração está em pedaços.
Vamos nos amar. Vamos nos amar para juntos ultrapassarmos as intempéries calamitosas deste sistema, para juntos combatermos as armadilhas do passarinheiro. Para que a amizade perdure no tempo nessa caminhada efémera.
Vamos nos amar para evitar o empobrecimento da alma e o embrutecer do coração.
Vamos nos amar. Vamos nos amar para não nos procurarmos quando já não é possível nos preocuparmos. Para evitar que morramos em vida. Para que a morte não signifique o fim, mas, tão somente, a etapa necessária que todos os seres viventes passarão.
Vamos nos amar. Vamos nos amar para que ainda que um de nós parta, parta seguro de que ficará a saudade, as lembranças positivas e que nenhum peso abale a estrutura de uma consciência costurada pelo amor.
Vamos nos amar para demostrar segurança, não porque é desejo dos outros, mas porque o comando interno assim está programado.
Vamos nos amar para dar de beber quem tem sede, para criar uma barreira intransponível e ouvir os gritos do silêncio!

