Vamos nos amar

Osvaldo Manuel Alberto: ‘Vamos nos amar’

Osvaldo Manuel Alberto
Osvaldo Manuel Alberto
Imagem criada por IA do Grok
Imagem criada por IA do Grok

Vamos nos amar.
Vamos nos amar para que a vergonha tenha vergonha de nos envergonhar

Vamos nos amar para que as lutas sejam colectivas e tornem-se mais fáceis de vencer.

Vamos nos amar para que a soberba diminua e a petulância se esvazie, para compreender que tudo é vaidade.

Vamos nos amar para que não precisemos de justificar nada, para que a empatia e a solidariedade não sejam objectos das redes sociais motivados por likes, que sejam naturais e refrescantes como a brisa do mar no entardecer.

Vamos nos amar. Vamos nos amar para que a ciência se torne comum ao senso de todos os meros mortais, para que a pedra não pese sobre nós em forma de julgamento.

Vamos nos amar para que na presença ou na ausência os corações continuem verdejantes como a floricultura bem tratada.

Vamos nos amar para sentir menos dor, para ter paz, diluir qualquer peso que possa abalar a estrutura de uma consciência.

Vamos nos amar para que nem a dor, nem a doença e nem a morte possa importunar a criação dos nossos filhos. Mesmo quando o cerne é o corpo, em nada adianta proteger a carne quando o coração está em pedaços.

Vamos nos amar. Vamos nos amar para juntos ultrapassarmos as intempéries calamitosas deste sistema, para juntos combatermos as armadilhas do passarinheiro. Para que a amizade perdure no tempo nessa caminhada efémera.

Vamos nos amar para evitar o empobrecimento da alma e o embrutecer do coração.

Vamos nos amar. Vamos nos amar para não nos procurarmos quando já não é possível nos preocuparmos. Para evitar que morramos em vida. Para que a morte não signifique o fim, mas, tão somente, a etapa necessária que todos os seres viventes passarão.

Vamos nos amar. Vamos nos amar para que ainda que um de nós parta, parta seguro de que ficará a saudade, as lembranças positivas e que nenhum peso abale a estrutura de uma consciência costurada pelo amor.

Vamos nos amar para demostrar segurança, não porque é desejo dos outros, mas porque o comando interno assim está programado.

Vamos nos amar para dar de beber quem tem sede, para criar uma barreira intransponível e ouvir os gritos do silêncio!

Osvaldo Manuel Alberto

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Minguar de víveres: A luta de uma mulher

Osvaldo Manuel Alberto:

‘Minguar de víveres: A luta de uma mulher’

Osvaldo Manuel Alberto
Osvaldo Manuel Alberto
Imagem gerada por IA do Bing - 18 de novembro de 2024 
às 3:05 PM
Imagem gerada por IA do Bing – 18 de novembro de 2024
às 3:05 PM

De tanta fome confundimos o prato com o parto. Até o mais velho que sempre diz: parto os cornos, fica sem forças para demonstrar a sua arte.

Não se trata apenas da alteração de algumas letras, é o mais profundo que um ser humano pode sentir.

Tenho tanta fome que a esta hora preferiria dar tantos partos simultâneos, a faltar ou ver flutuar um prato.

Nem que fosse um prato de arroz com cheiro de nada.
Está difícil ter um prato à mesa.

Dê-me um pão, por favor!
Ainda que não queiras colocar no prato, ponha-o no chão.

Na ausência de pão, permitam-me partilhar o osso com o vosso cão.

Já vi partir para eternidade filhos meus, pela ausência de comida.
Já não me interessa o valor nutricional, pouco me importo se me alimento, desde que consiga comer.

Não tenho culpa de ser tão fértil.
Aos meus filhos apelidam de cassua, quando na verdade é má nutrição.

Em nossa cubata não há conta que bata certo.
Os meus filhos não usam bata, nem comem batata. Não é por desgosto, mas pela ausência.

Não posso rir, prefiro parir a ver meu filho partir. A dor de perder alguém por fome é maior do que parir 10 vezes no mesmo dia.

Aos prantos eu te peço:
Permita-me lavar todos os pratos de sua casa, até aqueles que servem de esconderijos dos ratos.

Os ratos, há muito que fugiram do meu casebre, pois não há pão para repartir.
É desta forma que vejo os meus sonhos partirem para lugar incerto, tal como os ratos que nos abandonam mesmo sem insecticida.

O brilho das panelas incomodam, parece bate chapa em bairros novos.

Ouvi falar em branqueamento e repatriamento de capitais, podem aldrabar-nos mais,
Mas não falte o pão, porque o nzala yeya.

Não sou mulher do Mingo, mas a cada dia que passa eu mínguo de víveres.

Osvaldo Manuel Alberto
18.11.2024

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Os bichos que destruíram o reino

Osvaldo Manuel Alberto:

‘Os bichos que destruíram o reino’

Osvaldo Manuel Alberto
Osvaldo Manuel Alberto
Imagens gerada por IA do Bing - 17 de outubro de 2024 às 11:07 AM
Imagem gerada por IA do Bing – 17 de outubro de 2024 às 11:07 AM

Havia um reino onde todos eram poderosos e a sobrevivência de um estava implicitamente ligada ao infortúnio de outro. As acções ou omissões dos bichos contribuíram grandemente para o desequilíbrio do ecossistema.

O mosquito, o lagarto, o papagaio, o cabrito, o camaleão, o marimbondo, o cágado e a mosca destruíram o reino sob o silêncio tumular do bicho grande, mas no final o salalé, sem sal, tomou conta deles.

O mosquito, parecendo inofensivo, fazia perecer muita gente. Ele era o responsável pela mortandade gritante, enquanto GPP (Grande Produtor de Paludismo). As quantidades enormíssimas desta produção eram exportadas em forma de malária, zica e xikungunya, também conhecida por katolotolo, e em grande escala consumida internamente. Este consumo contribuiu para a piora das condições de vida daquela população, pois muitos nem aos cinco anos chegavam.

O lagarto, que andava de parede em parede, de meio em meio metro acenava positivamente com a cabeça a tudo quanto lhe chegava aos ouvidos, mesmo àquilo que não lhe chegava. Era o yes man.

O papagaio só reproduzia teorias, mesmo aquelas cujo domínio era inferior a medíocre. Ele estava pouco se borrifando pela compreensão do que falava, para além de nunca dizer nada. Os seus discursos eram eloquentes, cozinhados à luz dos mais modernos dicionários que dariam inveja ao Camões. Este, se estivesse vivo, duvidaria das suas capacidades.

Por distracção do pastor, que sempre pensou que “o cabrito come onde está amarrado”, o cabrito comeu todo o pasto dele e dos outros, pois a corda era tão grande. Daí, o cabrito passou a comer em função do tamanho da sua corda.

O camaleão se tornava leão sempre que visse uma cama.

O marimbondo fez das suas e aliou-se ao cágado que só fazia cagada. As cagadas eram enormes, porque o cágado estava mais preocupado com quem o colocou no topo da árvore do que com a árvore em si.

A mosca perdeu toda a honra e dignidade, porque pousava, publicamente, no excreto, fingindo ser agradável.

Os mais curiosos aperceberam-se que todos passarão pelo salalé. O salalé trabalha no silêncio e fora dos holofotes!

Osvaldo Manuel Alberto

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