Na vida do ser humano, praticamente, tudo se adquire, tudo se perde ao longo de toda uma existência física. As sucessivas aquisições iniciam-se bem cedo na vida de cada pessoa: andar, falar, integrar-se, desenvolver-se física, espiritual e intelectualmente. Também a partir de uma determinada fase da existência da pessoa humana, na velhice, se vai perdendo, tudo o que se obteve, incluindo a própria vida.
A capacidade aquisitiva do intelecto, bem cedo começa a encontrar dificuldades, concretamente ao nível da memorização, ainda que, relativamente compensado pela faculdade da compreensão, com o resultado da experiência.
A fórmula é das mais simples: tudo o que nasce morre. Apesar de disso, há algumas aquisições que, de facto, só a doença e a morte (absoluta ou relativa) retiram ao homem.
Pode-se perder o emprego, os bens, os amigos, a família, a liberdade, qualquer que esta seja, mas o poder do conhecimento, esse, efetivamente, só algumas doenças e a morte é que o destrói.
Conhecer, em abstrato, com subjetividade, e em concreto, objetivamente, uma determinada área, domínio ou parcela da realidade é uma forma de “Poder”, para o bem e para o mal: “Conhecer é Poder”.
O homem nasce, aparentemente, ignorante e manter-se-ia nessa situação se todo um processo socializante não atuasse nele, com muitos dos seus agentes intervenientes e influentes: família, Igreja, escola, empresa, comunidade, comunicação social, entre outros.
A influência de cada agente socializador é diferente, sendo difícil avaliar qual o mais decisivo: qualitativa e quantitativamente, reconhecendo-se, porém, a Escola, através do sistema educativo, como fundamental para o exercício do poder intelectual e de realização concreta de projetos de vida real.
O conhecimento teórico aliado à prática, e/ou vice-versa, são os carris por onde circulará o comboio da vida, ainda que parcial, para o sucesso e para o bem-comum da humanidade.
Teoria e prática, bem utilizadas, sem preconceitos de uma ou de outra, devem coexistir no homem de poder, de contrário, não haverá poder, ou, então, este não é reconhecido pelos outros.
É, também, no poder cognitivo da pessoa humana que reside a sua supremacia.
Venade/Caminha – Portugal, 2024 Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
A superior e inultrapassável diferença entre gerir e liderar pessoas, e administrar outros recursos, como máquinas, capitais, objetos, coisas, mercados e situações técnico-científicas, localiza-se, imediatamente, na comunicação e relacionamento interpessoais: pura e simplesmente, a relação pessoa-objeto situa-se a um nível inferior e instrumental ao da relação pessoa-pessoa, ou pelo menos, assim deveria ser.
Acredita-se que será impossível gerir e liderar pessoas sem a comunicação com elas, e entre elas, suportada num genuíno processo de relações humanas, seja no campo estritamente profissional, seja num quadro mais abrangente, nos contextos da família, da escola, da Igreja, da comunidade, inclusivamente no âmbito da ocupação dos tempos livres e de lazer.
Comunicação e relacionamento humanos, são faculdades que toda a pessoa deverá cultivar, como se de uma competente atividade profissional se tratasse, porque o indivíduo humano é portador de capacidades inatas, mas também tem de aprender, no seio do grupo, e da comunidade de que faz parte, todo um vasto conjunto de procedimentos, que o tornam único num mundo onde muitos outros seres se movimentam.
O paradigma técnico-científico instalado, dificulta muito, pelo menos em certos círculos, uma maior valorização e compreensão da importância de valores não comprovados cientificamente, sendo certo que é tempo de as várias disciplinas trabalharem em conjunto, para um mundo melhor.
O gestor e/ou líder de um grupo, quaisquer que sejam as características, atividades e objetivos do grupo deve, portanto, estar preparado para compreender a complexidade humana, enquadrá-la num determinado contexto específico, conduzir a equipa por forma a serem alcançados os resultados institucionais, coletivos e/ou do grupo bem como a satisfação de cada elemento, individualmente considerado, não como objeto, máquina ou qualquer outro instrumento, mas como pessoa humana, dotada de valores, detentora de direitos e responsável pelo cumprimento de deveres.
Estabelecer o equilíbrio, por vezes precário, entre os diferentes e até contrários pontos de vista e conciliar os interesses, legítimos e legais, das partes envolvidas num dado projeto, constitui uma tarefa que exige bom senso, prudência, arte e criatividade.
É desejável que o gestor, e/ou líder, seja um autêntico camaleão, no sentido positivo do termo, isto é, capacitado para se adaptar, eficazmente, às diversas situações que lhe vão surgindo.
Como em muitos outros domínios da atividade humana, é essencial uma boa preparação em relações humanas, assente numa comunicação, tanto quanto possível, assertiva, e o exercício permanente de boas-práticas de convivência com os seus semelhantes, enquanto pessoas com dignidade idêntica.
Nenhum gestor, líder ou colega, tem o direito de humilhar, desrespeitar, desvalorizar e/ou desconsiderar a pessoa com quem tem de se relacionar, enquanto integrados no mesmo grupo de trabalho, bem como em quaisquer outras circunstâncias.
Gerir, e/ou liderar, recursos humanos envolve grande empenhamento, por parte do responsável a quem cabe esta função, no sentido de se esforçar permanentemente para, até por antecipação, detetar e resolver situações próprias da condição humana que, de alguma forma, afetam o trabalho e o relacionamento das pessoas sob as ordens do líder.
Cada pessoa é, por si só, um mundo interior de múltiplas dimensões, que ela própria, algumas vezes, terá dificuldade em compatibilizar e, quando não o consegue, cria situações que se exteriorizam, em comportamentos, mais ou menos favoráveis, ou não se manifestando de forma evidente, tornam o relacionamento interpessoal mais difícil.
Cabe ao líder proporcionar as condições para que as pessoas que lidera se sintam à-vontade, comuniquem quaisquer dificuldades que surjam e possam prejudicar, no todo ou em parte, o desempenho profissional.
Acontece que, enquanto o gestor aborda as situações de uma forma analítica e sistemática, o líder desenvolve a sua apreciação numa perspectiva de síntese, produz orientações para as mudanças que são necessárias implementar.
Infere-se do exposto, que é fundamental uma boa capacidade de comunicação, entre todos os membros do grupo, conjugada com um bom relacionamento humano, porque comunicar entre pessoas, que se relacionam sem dificuldades, nem preconceitos, constitui uma boa plataforma para os possíveis e desejáveis bons entendimentos e, correlativamente, para a busca e aplicação de soluções para os problemas e situações surgidos.
Como estratégia possível, o exemplo de comunicação fluida deve partir de quem detém a liderança, para que todas as demais pessoas, pertencentes a um determinado grupo, fiquem desinibidas, comecem a confiar e exponham, abertamente, os seus problemas, sem reservas nem receios de serem criticadas negativamente.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
O cidadão do mundo contemporâneo, inserido em determinada cultura, tem imensa dificuldade em escrever, assumir posições, defender princípios, ideias e valores, sobre matérias da natureza humana, sempre tão profunda, insondável e mística. Este homem, dito contemporâneo, por vezes, até se envergonha dos seus sentimentos e, muito pior, de chorar para não os demonstrar.
É difícil compreender esta época atual, terceira década do século XXI, porque o homem, cada vez mais, se distancia do seu ponto referencial, do seu arquétipo, do mistério divino, enfim, irremediavelmente se vem afastando do ponto “Ómega”, deixando, por vezes, de ser homem, para ser máquina, instrumento, veículo de projetos individuais e egocêntricos.
Este homem contemporâneo torna-se, entretanto, um objeto, utilizado indiscriminadamente, mesmo que essa utilização signifique a sua própria eliminação física, quantas vezes, ainda, na sua fase embrionária, para satisfação de: alegadas normas sociais de pseudo-bem-estar; seleção dos ditos mais perfeitos; alívio material dos seus próprios progenitores. Que mais se poderá saber? Homem que, eventualmente, é menos pessoa, e mais objeto!
Apesar de tudo, este mundo contemporâneo, não será assim tão mau! Não haverá tantas desgraças ou, pelo menos, não haverá só desgraças. O espaço ideal para se alterar o que deve ser alterado, o tempo oportuno para mudar o que deve ser mudado, ainda será uma esperança para os menos pessimistas.
É possível implementar uma nova postura mental de estar na vida. A pessoa humana tem uma palavra a dizer, pode orientar a sua existencialidade a partir princípios, de valores e sentimentos fundamentais que marcam e diferenciam a sua condição privilegiada, neste espaço ecuménico.
Deixe-se à imaginação, ao livre arbítrio de cada um, as soluções que em seu entender julgue melhores, para a plena realização do homem enquanto pessoa; oiçam-se todos os que pensam possuir uma alegada “verdade”; sigam-se aqueles que, não tendo soluções, não sendo detentores da verdade, continuam, porém, caminhando, convencidos que um dia encontrarão o ponto máximo referencial e justificativo das suas próprias existências.
Nesta reflexão procurar-se-á situar, enumerar e interpretar os aspetos que parecem relevar da leitura da obra de NIETZSCHE, “O Anticristo” e que poderão estar, ou não, na linha axiológico-religiosa que, num setor muito alargado se defende, ainda que, na atualidade, seja difícil, por vezes incómodo, e até “perigoso”, assumir a apologia de uma conduta, de uma ideia, de um valor ou de um sentimento, contrários à “oportunidade estabelecida”.
Apesar de tudo, há que correr riscos, aceitar serena e humildemente as críticas, respeitar os princípios dos outros, para que eles acreditem nos nossos, e possam vir a observá-los, na medida do possível. Defender-se-á, portanto, uma postura dialógica do “EU-TU”, sem complexos, com firmeza e tolerância, guiados pelos valores da justiça e da paz universais.
Venade/Caminha – Portugal, 2024 Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
Gerir a comunicação, competentemente, é uma tarefa de todos, nas suas relações interpessoais e intergrupais e, mais exigentemente, naqueles que exercem atividades de alguma ascendência sobre todos os outros, sejam subordinados e/ou dependentes. Aqueles que têm a obrigação de comunicar correta e educadamente.
De uma gestão competente da comunicação, podem resultar situações favoráveis para as pessoas abrangidas pela comunicação, desenvolvida no seio de uma organização, qualquer que seja a sua natureza: política, religiosa, social, empresarial, pública ou privada, nacional ou internacional.
Gerir a comunicação é uma condição para o sucesso individual e coletivo, na perspectiva da obtenção de resultados que, na circunstância, equivale, também, a resolver problemas que afetam as pessoas, individualmente consideradas, e as próprias comunidades onde elas se inserem.
Cada pessoa é gestora de si própria, de tudo quanto idealiza, planifica executa, valida pelos objetivos fixados e atingidos e, correlativamente, responsável pelos sucessos e pelos fracassos. Quanto melhor preparada a pessoa estiver, tanto mais e excelentes serão as probabilidades de êxito. Quanto melhor souber aplicar os seus conhecimentos, experiências e emoções, tanto melhor conseguirá integrar-se num determinado contexto sociocultural, político-institucional e técnico-profissional.
Os princípios gerais que se aplicam à gestão empresarial, em geral, podem adaptar-se à gestão da comunicação, em particular. Saber gerir a comunicação, no tempo, no espaço e numa dada situação concreta é, de facto, uma ciência, muito importante nos dias conturbados que as sociedades atravessam, e as pessoas sofrem, sem culpa, quantas vezes, sem saberem porquê.
Gerir a comunicação significa: utilizar bem os recursos linguísticos em ambientes de transparência recíproca, isto é: emissores e recetores da comunicação, devem utilizar os mesmos códigos, canais iguais, semânticas idênticas, em contextos reais de relacionamento interpessoal assertivo no ato comunicacional, para se chegar a resultados satisfatórios para os interlocutores.
Num tempo, e num espaço, que se desejam de profunda harmonia, compreensão, tolerância, solidariedade e paz, desenvolver estratégias que visem resultados do tipo “ganha/perde”, em que uma das partes ganha tudo e a outra perde tudo, poderá não ser a melhor gestão da comunicação, porque o adágio, segundo o qual: “Vencido mas não convencido”, a médio prazo, pode trazer retornos de consequências imprevisíveis.
Vencer o interlocutor com base em argumentos: falaciosos, porque falsificados; agressivos, porque intimidatórios; manipuladores, porque hipócritas; passivos, porque, comodamente, indiferentes e, aparentemente, inofensivos, vão criar novas situações, mais complexas, porque suscita a dúvida, a incerteza, a desconfiança e o sentimento de desforra.
Parte relevante da conflitualidade, hoje existente um pouco por todo o mundo, deve-se ao uso, e abuso, de uma comunicação agressiva, demagógica e descontextualizada. Entre outras situações, possíveis de serem identificadas, quer ao nível particular, quer no domínio público, verifica-se, em certas atividades, objetivamente na política, que a comunicação pretende e, em muitos casos, consegue, influenciar os cidadãos para a tomada de posições num determinado sentido, favorável ao grupo e/ou candidato que usa a comunicação ambígua e desfasada das realidades: sociocultural, económica e profissional, em que é transmitida.
Resultados idênticos acontecem quando a comunicação e o relacionamento interpessoal, deles resultantes, assumem aspetos conflituosos, no sentido mais negativo do termo conflito, dando origem a desentendimentos, a maior confusão e ao sentimento de vingança.
O conflito civilizado é necessário quando ajuda a esclarecer, quando encontra soluções favoráveis ao todo, no respeito pelas diversas partes. A comunicação conflituosa, desde que assertiva, constitui um caminho possível, quando ela resulta, apenas, de pontos de vista divergentes que urge aproximar de uma nova posição consensual, entre as partes em desacordo, o que se consegue democrática, tolerante e compreensivamente.
O princípio da comunicação esclarecedora, formativa, pedagógica e inclusiva dos pontos de vistas consensuais, dos diversos interlocutores, constitui um bom método para a resolução de conflitos, para solucionar problemas que, inicialmente, se apresentavam insolúveis, bem como para obtenção de resultados que favorecem a compreensão e o respeito entre os cidadãos, os quais têm que ser competentes, no relacionamento interpessoal, através da comunicação verbal e não-verbal, para que o resultado final “ganha/ganha” seja alcançado.
Também aqui se exige competência no Saber-ser e no Saber-estar, simultaneamente com este Saber-fazer a comunicação, justamente, no respeito pelas regras que estabelecem o uso da língua, que orientam para os valores essenciais da sociedade democrática, solidária e culta, entendendo-se aqui a cultura no seu sentido antropológico, no respeito pela diversidade das demais culturas.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
O paradigma comunicacional pressupõe competência, porque se trata de um processo permanentemente vivenciado pelas pessoas, na medida em que estas ocupam parte significativa do seu tempo a comunicar, seja qual for o tipo de linguagem utilizado: verbal e/ou não-verbal, o que contribui para a ocorrência de situações problemáticas, ou solucionadoras de questões diversas, quantas vezes resultantes da comunicação incompetente: porque ambígua; porque agressiva; porque manipuladora; porque passiva.
Ser competente na comunicação impõe, desde logo, aos vários interlocutores, uma atitude comunicacional assertiva, isto é, pela positiva, pelo respeito, pela verdade, pela tolerância, pelo diálogo, que conduzem a um resultado do tipo ganha/ganha, ou seja, nenhum dos intervenientes perde tudo, mas também nenhum deles ganha tudo, porque todos cedem a favor de todos.
Analisada a comunicação por esta perspectiva, reconhecendo-se, embora, não ser a única possível, o conceito de competência comunicacional envolve o princípio do diálogo, com as características referidas e o resultado previsível, segundo a fórmula do “ganha/ganha”. Uma comunicação, onde existe diálogo, que atinja aquele resultado, pode considerar-se competente.
Naturalmente que para haver competência na comunicação, para além do recurso ao diálogo assertivo, que incluirá uma escuta ativa e um retorno inequívoco da compreensão dos temas, abordagens, informações, ordens e conclusões, trazidas ao processo, é indispensável que se desenvolvam outras competências, envolventes ao ato comunicacional, supondo que este utiliza os dois tipos de linguagem: verbal e não-verbal. Assim, por exemplo, é importante, na competência comunicacional, o domínio de competências técnicas, intelectuais, cognitivas, relacionais, sociopolíticas, didático-pedagógicas, metodológicas, entre outras.
A comunicação é, apenas, uma das muitas dimensões humanas, logo, a sua eficácia, seguramente, vai depender da competência com que são exercidas as múltiplas dimensões da pessoa, todavia, mesmo na dimensão espiritual, portanto, inefável, imaterial e subjetiva, é possível ser-se competente, se forem atingidos resultados que proporcionem bem-estar individual e coletivo, independentemente de serem ou não quantificáveis.
Avaliar, através de um determinado equipamento e/ou instrumento, com uma unidade de medida universalmente reconhecida e validada, resultados que envolvem dimensões subjetivas do homem, é uma tarefa discutível: como medir a felicidade, o amor, a tristeza, a alegria?O resultado da dimensão religiosa do indivíduo, como deverá ser expresso: quantidade de orações, de penitências, de atos de caridade, participação em cerimónias litúrgicas, em rituais?
Muito difícil, polémica e inconclusiva, seria a discussão sobre uma análise objetiva, expressa em resultados concretos, medíveis e universais, em domínios que envolvem grande subjetividade. Apesar de todas as dificuldades, cada pessoa poderá entender determinadas situações, acontecimentos e factos como um resultado, obtido através das suas intervenções competentes.
Neste enquadramento conceptual é possível ser-se competente, ou incompetente, também na comunicação interpessoal. Conclui-se, então, sobre as vantagens da comunicação competente, qualquer que seja a atividade, objetivos e intervenientes.
O resultado a que se chega, através do diálogo, numa negociação, será, pelo menos em parte, consequência da competência comunicacional e argumentativa, de cada interveniente. Obviamente que nem toda a capacidade persuasiva, nem os argumentos, aparentemente, mais poderosos, podem fazer vencimento, perante um interlocutor que, de igual forma, tem as suas razões que considera verdadeiras, adequadas e as melhores, para a resolução do conflito em apreço.
Encontrar o ponto de equilíbrio pode revelar-se um caminho difícil que, uma vez mais, um diálogo assertivo, em todos os seus sentidos, incluindo aqui a atitude conciliadora, tolerante e democrática, conjugada com a capacidade de cada uma das partes interessadas se colocar no papel da outra.
A perspectiva poderá ser a competência de se implementar a estratégia do “ganha/ganha”. Ser competente significará, então, aceitar a distribuição equitativa e justa dos recursos disponíveis, e/ou dos valores em discussão.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
Construir o magnífico e transcendente edifício denominado Cidadão do Mundo, não é a mesma coisa que fabricar bombas atómicas, elaborar teorias que poucos entendem, muitos ignoram e a ninguém beneficia.
A formação que se impõe para o futuro, deve surgir como um projeto estruturante de uma cultura profissional, assente na atitude metodológica reflexiva, tendo por objetivos: o rigor e o sentido dos valores humanistas.
Formar o cidadão do mundo, para a mudança que se vem operando, exige: professores, formadores e educadores, exclusivamente, ao serviço dos objetivos educacionais, em ordem à construção de um mundo mais civilizado, em todos os setores das diversas atividades das pessoas humanas.
A educação/formação, por meio dos seus currículos e procedimentos da vida escolar, tem um papel de grande importância e responsabilidade, no desenvolvimento das competências cívicas, profissionais e sociais dos indivíduos, o que é decisivo para o Estado de Direito Democrático.
O formador tem de se metamorfosear num orientador, num conselheiro, num organizador de aprendizagens, num colaborador, num colega e programador de saberes, em contextos de formação, também eles facilitadores de transformação.
A luta contra os valores irracionais, que imperam um pouco por todo o mundo, deve ser reforçada, não pela força das armas, sim pela: coerência, verdade e justeza dos argumentos, através do diálogo, assertivo, franco e frontal, pela harmonia das posições moderadas, pela compreensão das opiniões diferentes, quando razoáveis, lógicas e sensatas, pela tolerância com que devem ser interpretadas atitudes menos corretas e, finalmente, pela cooperação entre os povos.
No processo de formação ao longo da vida, que a todos diz respeito, o professor/formador não é um aprendiz qualquer, na medida em que lhe cabe liderar, responsavelmente, os processos de aprendizagem e projetos concebidos por outros seres humanos, seus semelhantes. O estatuto ético-profissional justifica a disponibilidade e determinação para percorrer um caminho de formação, quantas vezes solitário e pessoal.
Discute-se, atualmente, um pouco por todo o mundo, o sistema educativo ideal ou, pelo menos, o mais perfeito possível. Alteram-se processos de avaliação, introduzem-se novos conteúdos programáticos, exigem-se professores/formadores competentes, dedicados, em regime de exclusividade na escola onde estão colocados, e determina-se que executem tarefas que seriam melhor realizadas por outros profissionais, desde logo nos domínios burocrático-administrativos e financeiros.
A educação/formação, através da Escola, deve reforçar algumas qualidades, sem as quais não sobreviverá no mundo contemporâneo. Valorizar a autonomia pessoal, a busca do verdadeiro conhecimento (até onde for possível chegar à verdade), a generosidade e a coragem.
Como formar este professor/Formador? Trata-se de uma tarefa que se impõe aos Governos e também aos próprios, e que passa por um novo conceito: formação ao longo da vida, com a vida e para a vida; afinal, formação contínua.
Considera-se essencial, para a sociedade, aprofundar o mais possível toda uma estratégia e metodologias adequadas, em ordem à valorização da Educação/Formação para: o conhecimento, para a cidadania, direitos humanos, enfim, axiologia em todas as suas dimensões, tendo como objetivo a preparação da criança, do jovem e do adulto, para a participação responsável dos cidadãos na vida pública do país, através de processos de representação política e do empenhamento das Instituições da sociedade civil, tendo como base os princípios e valores fundamentais da democracia.
Também a formação científica e técnico-profissional, como: projeto de vida ativa, de inserção no mundo do trabalho, da constituição da família, da prevenção da saúde, da segurança e da velhice. O saber-fazer é, indiscutivelmente, essencial para a dignificação da pessoa humana, no sentido da exigência da melhor qualidade de vida a que tem, constitucional e legitimamente, direito.
Como é óbvio, esta participação implica um conjunto de conhecimentos, competências, capacidades e atitudes, voltadas para a intervenção ativa e que também cabe à escola transmitir aos cidadãos. No limite da construção deste novo cidadão, para o atual século XXI, os professores/formadores têm a inevitável responsabilidade de cada um em sua área, transmitirem e darem o exemplo dos saberes: ser, estar, fazer e conviver em sociedade.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
Um projeto de cooperação, independentemente da qualidade em que as partes intervêm, implica uma total disponibilização para colaborar, responsável e eficazmente, nas áreas previamente acordadas, e rigorosamente apoiadas pelas instituições e/ou pelos indivíduos, particularmente considerados.
Nesse sentido, a implementação de uma instrução para uma cultura da responsabilidade técnica, social, ética e moral, a partir das gerações mais novas, e ao nível dos ensinos médio e superior, parece ser uma medida oportuna e exequível, para o que se requerem pessoas entusiasmadas, apoiadas e disponíveis para se empenharem, se possível, a tempo inteiro, em projetos de cooperação internacional, seja no quadro oficial dos Governos, das Empresas, das Associações, das Organizações Não-Governamentais e/ou dos particulares.
São necessárias pessoas que estejam dispostas para a cooperação, numa atitude de trabalho permanente, sem preocupações de idade, nem de estatutos, sabendo desfrutar da existência, um dia de cada vez na vida, que é gratuitamente oferecida: «Trabalhar como se a vida fosse eterna, viver como se fossemos morrer amanhã, eis um lema dos mais nobres e generosos, mas igualmente um lema realista, porque a realidade é esta, nós somos uma doação, como obra e vida, e só podemos ser fiéis a nós mesmos se continuarmos a ser a doação que somos pelas nossas origens.» (MENDONÇA, 1996:156).
Igualmente a partir da família e da escola, uma cultura da responsabilidade é uma tarefa para a qual os encarregados de educação, educadores, professores e formadores devem estar bem preparados, não só em conhecimentos específicos, como também nas boas-práticas diárias.
Comprometimento implica liberdade, na medida em que cada pessoa só pode ser responsabilizada pelos atos que livremente pratica, nem de outro modo se compreenderia.
Por isso, educar para uma cultura da responsabilidade, aciona um processo de cooperação, de parceria, de liberdade, entre as partes, logo, a cooperação, no seu sentido mais amplo, no quadro institucional, entre nações, instituições, associações e particulares, deve realizar-se com pessoas responsavelmente livres e livremente responsáveis.
Com efeito: «Responsabilidade é reconhecimento da autoria e aceitação das consequências de seus atos. São manifestações de responsabilidade assumir intensa, plena e voluntariamente suas decisões, responder leal e corajosamente pelos seus cometimentos, prestar contas dos encargos ou obrigações, sofrer críticas, defender direitos inerentes ao merecimento. A educação do senso de responsabilidade é tarefa heróica, pois exige autoridade e maturidade dos educadores.» (SCHMIDT, 1967:14).
BIBLIOGRAFIA
MENDONÇA, Eduardo Prado de, (1996). O Mundo Precisa de Filosofia, 11ª edição, Rio de Janeiro RJ: Agir Editora,
SCHMIDT, Maria Junqueira, (1967). Educar para a Responsabilidade, 4ª edição, Rio de Janeiro RJ: Livraria Agir Editora.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal