Travessia ludibriante
Pietro Costa: Poema ‘Travessia ludibriante’


às 15:25 PM
Escrever, reescrever, fatal curso,
Corações soltos do sótão, a saltar,
Tinta etérea, poemas ressaltar,
Ponteiros são flagelos no percurso.
Diante do espelho, vital recurso
Às metáforas: medos assaltar,
Estilhaços ajuntar, no decurso,
Recompor-se, sem se sobressaltar.
Nessa travessia ludibriante,
A ampulheta soa paralisar,
Sopra no ar uma essência inebriante.
Singular e simples: catalisar,
Quintanessência de Mário, iriante,
Arestas do tempo, soube alisar.
Pietro Costa
Sol no horizonte
Pietro Costa: Poema ‘Sol no horizonte’


Os sonhos sertanejos marcam a ida,
Laudas de suor, a biografia,
O Sol no horizonte alumia a lida,
Há resiliência em sua grafia.
Em cada estrofe, um pedaço de vida,
Agruras do sertão – cartografia,
Mosaico lírico, uma alma aguerrida,
Seu verso, registro e fotografia.
Patativa, a própria simplicidade,
Arte que ganhou o mundo com justeza,
O apelo dos míseros na cidade.
Não fez ouvidos moucos à torpeza,
O coração é a sua verdade,
No anseio de justiça, fortaleza.
Pietro Costa
Ressonância surda
Pietro Costa: Poema ‘Ressonância surda’


às 14:12 PM
E no medo esbraseante, olhar cala,
O incêndio do tempo a nos derruir,
Rimas sepultas, a agonia fala,
A memória jaz, vazios fruir.
A casa mental, medo na antessala,
Largos desvãos, vãos, a nos obstruir,
A alma exaurida segue para a vala,
Em passos ágeis, vida a precluir.
Sinos dobram – reverência à sorte,
No som do silêncio, uma força eclode:
Ressonância surda que abafa a morte.
Palavras não ditas, insurgente ode
À pulsão de propagar a voz forte
Da poesia, refúgio que acode!!
Pietro Costa
Pétalas multicores
Pietro Costa: Poema ‘Pétalas multicores’


às 10:59 PM
Campos de flores, jardins decantados,
Esboços, primor para a natureza,
Pinceladas e traços requintados,
Despem de modo sutil a beleza.
Monet, Renoir, cultores encantados,
Os canteiros são ornados na inteireza,
E aromas naturais, representados
Nas experiências de sutileza.
Rosas, lírios, girassóis fabulosos,
Cores e formas, um balé vibrante,
Orquestrado por versos anelosos.
E bem no botão da flor deslumbrante,
Avistam-se feitos miraculosos:
Cocriações de sonho exuberante.
Pietro Costa
Sobre saltos
Pietro Costa: Poema ‘Sobre saltos’


às 11:13 AM
A vertigem do vazio o acomete,
Emaranhados sufocam o grito,
Kierkegaard é quem nos remete,
Paragens à vista, escolha-conflito.
No cerne do ser, o fogo o submete,
Mistério crepitante, movimento,
Flagelo inclemente no pensamento,
E vai inflamando o fervor que o arremete.
Ser e Nada, jornada, mente vaga?
Palavras, sabedoria escrutina,
E no calvário humano se propaga.
Saltar e se soltar, a vital sina,
Porque a paralisia é autófaga,
A angústia nos liberta e descortina.
Pietro Costa
Marota mente
Pietro Costa: Poema ‘Marota mente’


https://commons.wikimedia.org/wiki/File:AdoniranBarbosa001.jpg
Os anjos trocaram a harpa pelo pandeiro,
Ano de 1982, no fatídico 23 de novembro,
Salve Adoniran, importante músico brasileiro.
No samba foi desenvolto, de fino trato,
Exultante ao narrar histórias de amor,
Sem basófias, da singeleza um retrato,
Na arte, um vivaz estandarte de humor.
Pelas ruas de São Paulo, cidade querida,
A sua marota mente, andante e aguerrida,
Trazendo à tona as malocas e os cortiços,
Repercutindo sons e vozes, criou rebuliços.
Astuto cronista da metrópole a se levantar,
Das memórias demolidas pelo progresso,
De negros, retirantes, lutas para enfrentar,
Do coração do povo, jamais foi egresso.
Pietro Costa