No entardecer da nossa história Quando o Sol já não ilumina mais, Os nossos belos dias de resplendor Dissolvem-se em sombras, sem paz.
Foi um lindo amor juvenil Cheio de promessas a florir, Mas o tempo, como o vento, leva Os sonhos como poeira a esvair.
O calor dos abraços já esfriou, E o riso, que antes nos fazia gargalhar, Hoje é um vestígio da alegria que se foi Uma dor na carne rasgando, a queimar.
Os olhares que antes brilhavam Tornaram-se nuvens a vagar, E os laços que nos uniram um dia Desfazem-se como borbulhas no ar.
Não é culpa, nem falha de ninguém, O tempo tem suas formas de ensinar: Que mesmo o mais belo dos amores Pode um dia, de repente, findar.
Guardaremos as memórias com ternura, Como quem guarda tesouros escondidos, Seguindo nossos caminhos separados, Pelas incompatibilidades, vencidos.
Entre as etapas do meu drama Você habitou muito tempo meu coração, Parecia tecido forte nossa trama, Mas era pintura colorida De ilusão.
Em que mundo você vive? Diga: onde é que você mora? Andando sempre nesse declive, Do lado de dentro do labirinto, Ou fora?
Achei que tudo deu certo nessa ilha Enganada com lembranças de outrora, Afundou-se a cada passo, nossa trilha. Lamentavelmente, é chegada a hora De ir embora.
Amora, doce menina que encanta como o brotar de uma flor Teu sorriso ilumina, sejam dias de chuva ou verão. Tens nos olhos a terna meiguice e na face de anjo, o dulçor És amor que floresce no jardim do nosso coração.
Tua risada é melodia, uma canção a nos envolver, Teu abraço, tão quentinho, afetuoso a nos afagar És pequenina, porém imensurável universo a crescer, Cada instante contigo, é o aprendizado do que é amar.
Tua essência é doçura, tuas mãozinhas, aconchego. Amora, que a todos cativa, és infinita primavera. Que a vida te guarde em caminhos de luz, paz e sossego Menina amada, protagonista desta linda quimera.
Que nosso Deus sopre bênçãos em tua direção, És o presente do criador, nosso tesouro, nossa Amora. Pequena estrela que ao céu empresta o brilho em profusão, E as mais lindas e vibrantes cores, ao nascer da aurora.
Paulo, amado amigo e tão querido, Neste dia, meu coração declama, Este poema, pois celebra contigo Mais um ano da tua bela trama.
Nossa amizade em nós se fez alento, Fez-se laço forte, doce e verdadeiro, Nosso afeto é mais que um simples vento, É semente; flores nas mãos do jardineiro.
Neste teu dia, te desejo alegria, alegria… Que o amor te envolva em cada instante, E a felicidade seja sempre tua guia.
Feliz aniversário, amigo constante, Que a vida te sorria em harmonia, E a luz do teu ser sempre nos encante.
A fila da padaria estava devagar, e minha paciência por um fio. Diante de mim, uma mulher falava ao celular, e era impossível não ouvir a conversa. Em um misto de curiosidade e cansaço, comecei a ouvi-la atentamente.
– “Não, eu não sou como a Sônia, ” dizia ela, com uma voz carregada de indignação. – “Você sabe, ela é uma dessas que adora se mostrar. Vive postando foto em rede social, sempre querendo chamar atenção. Uma egocêntrica de primeira, nunca vi igual! ”
Olhei de relance para a cesta de compras dela: uma variedade de produtos cuidadosamente escolhidos, queijo, presunto, brioches, ovos, vinho e pão. A mulher, muito bem vestida e ostentando um relógio brilhante, continuava sua crítica severa e mordaz sobre a tal Sônia.
– “E a pior parte é que ela nunca admite que erra, ” – continuou a mulher, alheia à fila que começava a se impacientar atrás de nós. -“Eu, tenho certeza, sou humilde o suficiente para reconhecer meus defeitos. Mas ela, não! Nunca assume responsabilidade por nada. ”
À medida que ela falava, mais claro se tornava que a tal Sônia talvez fosse um reflexo distorcido da própria mulher no celular. Seus gestos altissonantes e a forma como olhava ao redor, certificando-se de que todos prestavam atenção, revelavam mais do que ela pretendia.
-“O que mais me irrita é essa necessidade de aprovação que ela tem, ” prosseguiu, enquanto ajeitava o cabelo olhando o reflexo na porta do refrigerador próximo. – “Eu nunca precisei disso. Sou autossuficiente. ”
Naquele momento, não pude deixar de esboçar um sorriso. A narcisista que não se reconhece como tal é uma figura quase trágica, se não fosse cômica, perdida em sua própria contradição. Ela acusava a amiga Sônia de comportamentos que, visivelmente, eram seus. E, ao acusá-la, revelava mais sobre si do que qualquer confissão direta.
Enfim, chegou sua vez no caixa. Ela finalizou a ligação com um ar de superioridade e um – “eu ligo depois, isso aqui está uma bagunça. ” Enquanto a moça do caixa registrava suas compras, a mulher ainda fez questão de comentar: – “Essas filas são um absurdo, não é? Parece que ninguém aqui sabe organizar as coisas. ”
Eu, logo atrás dela, não pude deixar de refletir sobre a ironia daquela cena. Muitas vezes, as palavras que usamos para descrever os outros são espelhos que revelam, de fato, nossa verdadeira imagem. Naquela padaria, a narcisista estava, sem perceber, despida de suas máscaras, subestimando a todos, enquanto deixava transparecer suas próprias fraquezas falando dos defeitos alheios.
Fui para casa pensando na complexidade humana, e em como somos cegos para nossas próprias falhas, enquanto as vemos com a maior clareza nos outros. E, em meio a essa reflexão, pensei comigo mesma em tentar, ao menos, de alguma maneira, ser diferente. Afinal, reconhecer-se é um passo para entender o mundo ao nosso redor, e, provavelmente, julgarmos menos as pessoas.