A cidade das máscaras partidas

Clayton alexandre Zocarato

Conto ‘A cidade das máscaras partidas’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA do Grok

A cidade sempre foi uma cerimônia silenciosa. As pessoas caminhavam com passos iguais, ritmos iguais, rostos iguais. Não por natureza — mas por medo.

Eudoro, desde cedo, percebeu que a cidade só acolhia os que ofereciam um brilho sem fendas, uma docilidade sem hesitações, uma identidade sem rachaduras. E por isso, um dia, quando a exigência tornou-se insuportável, ele aceitou a máscara. 

Não uma máscara comum, mas um espelho vivo: um rosto oferecido à multidão, moldado pela fome invisível de ser aceito. Ele acreditava que a máscara era um instrumento. Não sabia que ela era um pacto.

Durante algum tempo, foi glorificado. A cidade o vestiu de aplausos, como quem veste um cordeiro de ouro para ocultar o medo da própria miséria. Filóstrato, o sacerdote da aparência, o guiava como guia um ator: 

“Mostra o que eles querem ver, Eudoro. A autenticidade é uma ousadia indecente. A máscara é o que protege.”

Eudoro acreditou.

No início, acreditou com a inocência dos que querem apenas pertencer. Mas a máscara, nutrida pelos desejos alheios, cresceu. Falava mais do que ele. Respirava antes dele. E um dia, no silêncio da noite, seu próprio eco já não obedecia ao seu passo.

Foi então que Lisandra surgiu — filósofa indesejada, amiga do que é nu, amante do que é verdadeiro. Ela não trouxe soluções. Trouxe apenas perguntas. E estas, quando chegam ao coração dos mascarados, doem mais que golpes.

“Quem és tu, Eudoro?”, ela lhe perguntou.

Ele, porém, não soube responder. A máscara respondeu por ele — e mentiu.

O banquete da cidade, certo dia, transformou-se em arena. Todos os olhares repousavam sobre o rosto impecável de Eudoro, e, mesmo assim, algo em seu peito implodiu. A máscara pulsou como um animal ferido, tentando dominar o que restava dele. E Eudoro fugiu, tropeçando entre colunas antigas, até encontrar a estátua esquecida de Aletheia, a deusa da verdade.

Ali, seu eco — aquela sombra da alma que o acompanhava desde a infância — finalmente falou. E não pediu. Acusou. Acusou-o de ter traído a criança que foi. Acusou-o de ter preferido aplausos a autenticidade. Acusou-o de ter deixado que o medo escolhesse por ele.

Eudoro caiu de joelhos. A máscara advertiu: “Sem mim, tu não sobrevives.”

Filóstrato ordenou: “Sem a máscara, tu és ameaça.”

A multidão sussurrou: “Sem ela, não confiamos.”

Lisandra, porém, sussurrou outra coisa: “A verdade dói, Eudoro. Mas a mentira te consome.”

E foi nessa fissura — entre o medo e o possível — que ele pela primeira vez tentou arrancá-la.

A máscara, agarrada à pele, gritou como fera que enfrenta a morte. Mas cedeu. E rachou.

A cidade viu. E a cidade, ao ver, temeu. pois nada assusta mais o coletivo do que um indivíduo que deixa de representar.

Na manhã seguinte, a ágora inteira estava tomada. Cidadãos erguiam dedos acusadores, como se o rosto de Eudoro — humano, imperfeito, vulnerável — fosse uma heresia. Filóstrato discursou como quem protege a ordem: “Se ele pode tirar a máscara, todos podem. E se todos podem, quem poderemos ser nós?”

O pavor se espalhou como peste — não o pavor de Eudoro, mas o pavor de reconhecerem-se como igualmente mascarados.

Então Eudoro falou.

Pela primeira vez, falaram seus pulmões, e não a máscara.

“Vocês temem que eu mude… porque não suportam mudar também.”

A multidão recuou.

Mas o decreto veio: exílio.

A cidade não suporta quem abandona o teatro social.

Lisandra quis segui-lo.

Ele recusou — não por desamor, mas por gratidão.

“Tu ficas, Lisandra. Ensina-os a pensar. Eu vou, porque preciso aprender a existir.”

E no centro da praça, sob a noite que parecia uma ferida aberta, Eudoro largou no chão as duas metades de sua máscara. Filóstrato gritou, como quem vê um templo ruir. A multidão silenciou, como testemunha de um crime sagrado. Mas Eudoro sorriu — um sorriso sem espetáculo, sem plateia, sem aprovação.

“Ser eu mesmo custou tudo”, murmurou. “Mas tudo que perdi… eu já não era.”

E caminhou rumo ao escuro.

Sem rosto artificial.

Sem testemunhas.

Sem aplausos.

E, pela primeira vez, sem medo.

A cidade, atrás dele, respirava fundo — não em alívio, mas em ameaça, pois agora sabiam: a liberdade era possível. E nada é mais perigoso que um homem que provou a si mesmo.

O Coro acompanhou sua partida com um canto grave: *“O homem que retira a própria máscara não desafia o mundo — desafia a si mesmo. E, ao derrotar sua mentira,

enfrenta o único destino humano: aquele que não cabe no rosto que lhe deram, mas no rosto que descobriu que tem.”*

Então as tochas se apagaram. Eudoro desapareceu entre sombras.

Mas sua ausência ressoou. Sua coragem tornoA cidade sempre foi uma cerimônia silenciosa.
As pessoas caminhavam com passos iguais, ritmos iguais, rostos iguais.
Não por natureza — mas por medo.

Eudoro, desde cedo, percebeu que a cidade só acolhia os que ofereciam um brilho sem fendas, uma docilidade sem hesitações, uma identidade sem rachaduras. E por isso, um dia, quando a exigência tornou-se insuportável, ele aceitou a máscara.
Não uma máscara comum, mas um espelho vivo: um rosto oferecido à multidão, moldado pela fome invisível de ser aceito.

Ele acreditava que a máscara era um instrumento.
Não sabia que ela era um pacto.

Durante algum tempo, foi glorificado. A cidade o vestiu de aplausos, como quem veste um cordeiro de ouro para ocultar o medo da própria miséria. Filóstrato, o sacerdote da aparência, o guiava como guia um ator:
Mostra o que eles querem ver, Eudoro. A autenticidade é uma ousadia indecente. A máscara é o que protege.”

Eudoro acreditou.
No início, acreditou com a inocência dos que querem apenas pertencer.
Mas a máscara, nutrida pelos desejos alheios, cresceu. Falava mais do que ele. Respirava antes dele. E um dia, no silêncio da noite, seu próprio eco já não obedecia ao seu passo.

Foi então que Lisandra surgiu — filósofa indesejada, amiga do que é nu, amante do que é verdadeiro. Ela não trouxe soluções. Trouxe apenas perguntas. E estas, quando chegam ao coração dos mascarados, doem mais que golpes.

“Quem és tu, Eudoro?”, ela lhe perguntou.
Ele, porém, não soube responder.
A máscara respondeu por ele — e mentiu.

O banquete da cidade, certo dia, transformou-se em arena. Todos os olhares repousavam sobre o rosto impecável de Eudoro, e, mesmo assim, algo em seu peito implodiu. A máscara pulsou como um animal ferido, tentando dominar o que restava dele. E Eudoro fugiu, tropeçando entre colunas antigas, até encontrar a estátua esquecida de Aletheia, a deusa da verdade.

Ali, seu eco — aquela sombra da alma que o acompanhava desde a infância — finalmente falou.
E não pediu. Acusou. Acusou-o de ter traído a criança que foi. Acusou-o de ter preferido aplausos a autenticidade. Acusou-o de ter deixado que o medo escolhesse por ele.

Eudoro caiu de joelhos.
A máscara advertiu: “Sem mim, tu não sobrevives.”
Filóstrato ordenou: “Sem a máscara, tu és ameaça.”
A multidão sussurrou: “Sem ela, não confiamos.”

Lisandra, porém, sussurrou outra coisa:
“A verdade dói, Eudoro. Mas a mentira te consome.”

E foi nessa fissura — entre o medo e o possível — que ele pela primeira vez tentou arrancá-la.
A máscara, agarrada à pele, gritou como fera que enfrenta a morte. Mas cedeu. E rachou.

A cidade viu. E a cidade, ao ver, temeu., porquanto nada assusta mais o coletivo do que um indivíduo que deixa de representar.

Na manhã seguinte, a ágora inteira estava tomada. Cidadãos erguiam dedos acusadores, como se o rosto de Eudoro — humano, imperfeito, vulnerável — fosse uma heresia. Filóstrato discursou como quem protege a ordem: “Se ele pode tirar a máscara, todos podem. E se todos podem, quem poderemos ser nós?”

O pavor se espalhou como peste — não o pavor de Eudoro, mas o pavor de reconhecerem-se como igualmente mascarados.

Então Eudoro falou. Pela primeira vez, falaram seus pulmões, e não a máscara: “Vocês temem que eu mude… porque não suportam mudar também.”

A multidão recuou. Mas o decreto veio: exílio. A cidade não suporta quem abandona o teatro social.

Lisandra quis segui-lo. Ele recusou — não por desamor, mas por gratidão. “Tu ficas, Lisandra. Ensina-os a pensar. Eu vou, porque preciso aprender a existir.”

E no centro da praça, sob a noite que parecia uma ferida aberta, Eudoro largou no chão as duas metades de sua máscara. Filóstrato gritou, como quem vê um templo ruir. A multidão silenciou, como testemunha de um crime sagrado. Mas Eudoro sorriu — um sorriso sem espetáculo, sem plateia, sem aprovação.

“Ser eu mesmo custou tudo”, murmurou. “Mas tudo que perdi… eu já não era.” E caminhou rumo ao escuro. Sem rosto artificial. Sem testemunhas. Sem aplausos. E, pela primeira vez, sem medo.

A cidade, atrás dele, respirava fundo — não em alívio, mas em ameaça, pois agora sabia: a liberdade era possível. E nada é mais perigoso que um homem que provou a si mesmo.

O Coro acompanhou sua partida com um canto grave: *“O homem que retira a própria máscara não desafia o mundo — desafia a si mesmo. E, ao derrotar sua mentira, enfrenta o único destino humano: aquele que não cabe no rosto que lhe deram, mas no rosto que descobriu que tem.”*

Então as tochas se apagaram. Eudoro desapareceu entre sombras. Mas sua ausência ressoou. Sua coragem tornou-se ferida e profecia. E a cidade, pela primeira vez, sentiu-se nua, porque, diante de um homem inteiro, todos os mascarados tremem.u-se ferida e profecia.

E a cidade, pela primeira vez, sentiu-se nua, porque, diante de um homem inteiro, todos os mascarados tremem.

Clayton Alexandre Zocarato

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Claroescuro

Clayton Alexandre Zocarato: Poema ‘Claroescuro’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA do Grok
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Ardente

é a língua secreta da sombra

que lambe o avesso das horas,

um estalo vermelho no silêncio,

um grito que se esconde atrás das paredes do peito

como um desejo com medo do próprio nome.

Ardente é a memória que ainda transpira,

aquele ponto cego entre o inconsciente e o quase

onde Eros afia as unhas

e fica esperando,

numa espécie de coxia da alma,

por um lapso,

por uma brecha,

por um tropeço emocional

onde possa nascer.

Ardente é o eco do que nunca se tocou,

mas insiste em pulsar

como se o corpo fosse um sonho

e o sonho fosse um corpo

— ambos pedindo tradução.

Freud chamaria isso de retorno do recalcado;

eu chamo de incêndio suave.

Uma combustão lenta,

quase elegante,

um fogo que não devora,

mas murmura.

Um fogo que olha para você

pelos corredores internos

e diz, sem dizer:

eu ainda estou aqui.”

Ardente é a culpa com perfume de absolvição,

a fantasia que se veste de metáfora,

o desejo que se analisa no divã do espelho

enquanto troca piscadelas com o Id

e acenos discretos com o Superego.

O Ego, coitado,

só observa, suando.

Porque o ardente não é moral —

é estrutural.

É um sussurro pré-conceito.

Um querer que não pediu licença.

É o fogo que nasce onde a palavra falha,

onde a boca esquece,

onde o corpo inventa um novo idioma

feito de cutucões simbólicos,

de vibrações silenciosas,

de códigos que só quem já ardeu entende.

Ardente

é o labirinto sem Minotauro,

onde o monstro é você mesmo,

mas com máscara de neblina

e perfume de quase-amor.

É um corredor psíquico

onde os sonhos caminham nus

e as lembranças vestem roupões de fumaça.

Ardente é o desejo adulto

que ainda dança com fantasmas antigos,

como quem tece no escuro

um bordado de sombras

para cobrir cicatrizes que não doem mais,

mas insistem em brilhar.

É o toque que não acontece,

mas acontece dentro.

Uma fricção metafórica,

um roçar de ideias,

um erotismo conceitual,

um convite hermético

que faz o coração arregalar a pupila.

Na psicanálise, isso seria pulsão deslocada;

no meu vocabulário, é labareda discreta.

Ardente é a chama que filosofa.

Que pergunta:

“E se o desejo for só um mapa do que falta?”

Que responde:

“Então eu sou geografia inacabada.”

E que conclui:

“Ótimo!

Só o que é inacabado pode continuar crescendo.”

No fundo, ardente é uma palavra esfomeada,

querendo devorar significados

como quem beija com sede,

mas sem encostar os lábios.

É um simbolismo que arrepia.

Um afeto que se esconde atrás do sofá da psique

e pula em você quando você menos espera.

Ardente é o sonho acordado

que se debate na sua garganta

pedindo para virar poema,

mas sempre escapa,

sempre escapa,

— até o dia em que você se cansa

e o escreve assim mesmo,

críptico,

surreal,

pulsional,

quase indecente,

mas absolutamente verdadeiro.

Porque ardente é isso:

essa fronteira vermelha

entre a metáfora e o corpo,

entre o que se sente e o que se admite,

entre o que se deseja e o que se confessa.

E se no fim das contas,

a palavra arde porque quer ser pele,

e a pele arde porque quer ser palavra,

então eu digo sem culpa:

Ardente sou eu.

Ardente é você.

Ardente é tudo o que a gente não ousou viver —

mas viveu por dentro.

Clayton Alexandre Zocarato

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O julgamento do tempo

Clayton Alexandre Zocarato

‘O julgamento do tempo: razão e desrazão em diálogo’

Clayton Alexandre Zocarato
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(Cenário: Um espaço indefinido, entre ruínas e telas luminosas. No fundo, notícias piscam, protestos ecoam, o som de redes sociais se mistura a ruídos de bombas e aplausos. No centro, duas figuras humanas — Razão e Desrazão — sentam-se frente a frente, uma com um livro antigo nas mãos, outra com um smartphone brilhando no escuro.)

Razão: O mundo tornou-se um espetáculo. O que era reflexão virou manchete, o que era busca virou trend. Já não se lê para compreender — lê-se para vencer.

Desrazão: E por que não? A vitória é o novo critério da verdade. Antigamente, vocês, filósofos, diziam que a verdade libertaria o homem. Hoje, a liberdade é o álibi da mentira.

Razão: Não chame isso de liberdade. É fuga. Desde Sócrates, eu caminho ao lado do homem tentando ensinar que pensar é um ato de coragem. Mas vocês, os filhos da pressa, transformaram o pensamento em meme.

Desrazão: E você, mãe dos códigos, ainda acredita que o pensamento muda o mundo? Marx acreditava. Gramsci acreditava. Mas o capital aprendeu a falar em hashtags. A revolução agora é patrocinada por empresas de tecnologia, e os algoritmos são os novos deuses do destino.

Razão: Os algoritmos são espelhos — refletem a alma de quem os programou. E o homem, ao entregar seu julgamento às máquinas, apenas confessa sua preguiça moral.

Desrazão: Ah, moral… essa palavra enferrujada. Quem ainda acredita em virtude num tempo em que os heróis são processados e os corruptos dão palestras sobre ética? Olhe ao redor: o planeta está quente, a humanidade fria.

Razão: Ainda assim, existe esperança. Veja as ruas: jovens protestando, vozes que não se calam diante da injustiça. Da Revolução Francesa à Primavera Árabe, a chama da resistência não se apagou.

Desrazão: Chama? Eu vejo fagulhas. E logo depois, selfies. A revolta foi domesticada, virou produto. Até a dor tem marketing. As guerras agora são streams ao vivo, e cada cadáver é um ‘conteúdo sensível’.

Razão: A tecnologia não é a vilã — é a escolha que define o uso. Quando Gutenberg imprimiu a Bíblia, muitos disseram que a escrita destruiria o espírito. E, no entanto, foi ela que preservou a memória humana.

Desrazão: Memória? (ri) Nós vivemos no império do esquecimento. O passado é inconveniente, e o presente precisa de filtros. Negamos a escravidão, reescrevemos ditaduras, chamamos censura de opinião. Eu sou o novo senso comum, e você, velha amiga, é apenas uma página esquecida de Kant.

Razão: Mesmo esquecida, eu resisto. Quando a humanidade erra, é a mim que procura para se justificar. Após Auschwitz, Hiroshima e tantas covas rasas, é a Razão que os sobreviventes invocam para tentar entender o absurdo.

Desrazão: E, no entanto, o absurdo volta. Vestido de progresso, de fé, de segurança nacional. Os séculos mudam, mas o vício é o mesmo: o homem ama o poder mais do que a verdade.

Razão: O poder sem razão é tirania. Veja a história — Roma caiu pela arrogância, Napoleão pela ambição, Hitler pelo delírio.

Desrazão: E todos eles tinham filósofos para explicar suas glórias. A filosofia, minha cara, sempre chega atrasada — aparece depois do sangue, com um discurso pronto sobre o sentido da tragédia.

Razão: Talvez, mas sem ela, o sangue seria apenas lama. É a reflexão que transforma a dor em consciência.

Desrazão: Consciência? O mundo anestesiou-se. Freud chamou o inconsciente de rei oculto, mas hoje ele virou refém do consumo. A terapia é uma assinatura mensal, e a culpa, um emoji triste.

Razão: (fecha o livro lentamente) Mesmo assim, há beleza. Ainda há poetas, cientistas, professores, mães que ensinam os filhos a pensar.

Desrazão: Professores? Esses são os novos inimigos. O conhecimento foi colocado em julgamento. A ignorância é mais rentável — forma massas dóceis, fáceis de conduzir. Lembra-se de Galileu? Pois é, agora a fogueira é virtual.

Razão: Então, você admite que a história se repete. A diferença é que agora as chamas são invisíveis, mas queimam mais.

Desrazão: Sim, e o cheiro é de dados, não de carne. O homem ofereceu a alma ao mercado. E o mercado devolveu-lhe um aplicativo.

Razão: Há séculos, Lutero denunciava a venda do perdão. Hoje, vendem-se curtidas, desejos, ideologias. Tudo se compra, inclusive a verdade.

Desrazão: Exato. E eu sou a gerente desse negócio. (ri alto) As redes sociais são o meu império. Eu governo pelo impulso — raiva, medo, vaidade. Ninguém mais lê Rousseau, todos querem ser influenciadores.

Razão: Mas a influência sem reflexão é tirania estética. O belo sem o bom é o veneno da civilização.

Desrazão: E quem quer o bom quando o belo rende mais visualizações? Veja, Razão, você é nobre, mas ingênua. O mundo não quer pensar — quer sentir.

Razão: Sentir sem pensar é o caminho da barbárie.

Desrazão: E pensar sem sentir é o caminho da indiferença. Eis o dilema eterno entre nós.

(Um silêncio. Ao fundo, projeções de guerras, protestos, incêndios florestais e discursos políticos. A luz pisca como se o tempo oscilasse entre séculos.)

Razão: Você se alimenta da crise. Eu, do diálogo. Enquanto houver palavra, há chance de equilíbrio.

Desrazão: Palavra? A língua foi sequestrada. Cada termo virou campo de batalha. ‘Democracia’, ‘liberdade’, ‘povo’ — todos usados até perder o sentido.

Razão: O sentido se reconstrói. Ele nunca morre. Assim como o homem sempre tenta reerguer-se depois da queda.

Desrazão: O homem tenta, mas tropeça. A pandemia mostrou o quanto somos frágeis: negamos a ciência, adoramos conspirações. Você viu? Até a morte virou estatística.

Razão: E mesmo assim, houve solidariedade. Médicos que trabalharam até cair, cientistas que dividiram conhecimento, vizinhos que se ajudaram. A tragédia revela tanto o pior quanto o melhor de nós.

Desrazão: Sim, mas eu fui mais rápida. Entrei nas redes, espalhei medo, cansaço e divisão. O mundo acredita mais nas minhas sombras do que na tua luz.

Razão: Talvez, mas lembre-se: toda noite é sucedida pelo amanhecer.

Desrazão: Bela metáfora. Pena que os homens andam sem janelas. Vivem trancados nas suas bolhas, gritando sozinhos.

Razão: Por isso mesmo eu insisto: é hora de reaprender a escutar. A democracia não é um grito, é uma escuta coletiva.

Desrazão: Democracia… (ri) Essa palavra está cansada. Uns a usam para censurar, outros para se perpetuar. Ela virou moeda de troca.

Razão: Mas ainda é o melhor dos caminhos imperfeitos. Churchill sabia. E mesmo ele, envolto em guerras, acreditava que o diálogo era a única forma de civilizar o conflito.

Desrazão: Ah, o conflito… o meu palco favorito! Sem mim, vocês não evoluem. Admitam: toda invenção, toda mudança, nasce de mim — do caos, da dúvida, do erro.

Razão: Verdade. Mas eu sou a costura. Você rasga, eu reconstruo. O mundo precisa de ambos — mas com equilíbrio.

Desrazão: Equilíbrio… a palavra mais entediante que existe. O ser humano não nasceu para o equilíbrio. Nasceu para o abismo.

Razão: Talvez. Mas é no abismo que ele aprende a voar.

(Luz baixa. A projeção no fundo mostra uma ampulheta virando lentamente. Som de batimentos cardíacos. Razão e Desrazão se encaram em silêncio por alguns segundos.)

Desrazão: Diga-me, Razão… depois de tantos séculos, de tanto sangue e tanta promessa, ainda acredita no homem?

Razão: Não. Acredito na humanidade. É diferente. O homem cai, mas a humanidade se levanta.

Desrazão: E se um dia ela não se levantar?

Razão: Então, ao menos terá tentado. E essa tentativa será a prova de que existiu.

Desrazão: (sorri) Talvez eu devesse poupá-la, então. Afinal, sem ti, eu também desapareço.

Razão: Vê? Até você compreende que somos interdependentes. A história é o nosso espelho — onde tua loucura e minha lógica dançam lado a lado.

Desrazão: Uma dança eterna.

Razão: Até o último acorde da consciência.

(As luzes diminuem. No fundo, a imagem de um planeta em rotação. Vozes indistintas ecoam — discursos, poemas, risadas, orações. O som de uma página sendo virada encerra a cena.)

FIM

 Observação para encenação ou leitura crítica:

Este texto propõe uma reflexão filosófico-jurídica e social sobre o mundo contemporâneo, explorando temas como pós-verdade, democracia, tecnologia, desigualdade, história e memória, sem divisão formal de atos ou cenas. A linguagem é provocativa, mas equilibrada entre o poético e o político.

Clayton Alexandre Zocarato

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Entre o céu e o fuzil

Clayton Alexandre Zocarato: ‘Entre o céu e o fuzil’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA do Grok
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O sol nasce cedo demais no alto do morro. A luz bate nas lajes como quem cutuca um ferido que ainda dorme.

Lá embaixo, a cidade desperta com café passado e trânsito engarrafado; aqui em cima, o dia começa com o eco metálico do primeiro tiro da manhã. 

Ninguém se espanta. A vizinhança aprendeu a distinguir o calibre pelo som.

Na viela da Dona Juraci, o portão ainda guarda as marcas de bala da semana passada. Ela varre o chão como quem reza.

Diz que limpar o sangue do menino Caíque foi o pior trabalho da vida — e olha que ela já trabalhou em casa de madame, limpando sujeira de festa e de culpa. 

Agora, o pó é outro: não o do tapete, mas o que corre pelas veias dos meninos do beco, embalado em sacolés de cinquenta.

O cheiro de café se mistura ao da pólvora. 

Na birosca do Zeca, a televisão fala de política e de corrupção — palavras grandes demais pra quem vive espremido entre o morro e o esquecimento.

O problema do Brasil é a violência, diz o âncora, engomado e seguro atrás do vidro. Aqui, a frase soa como piada. 

A violência não é o problema — é o ar que se respira. O problema é não poder parar de respirar.

As crianças jogam bola no campinho de terra. 

A trave é de cano velho, a bola, remendada com fita isolante. Lá em cima, dois homens observam. Estão armados, mas parecem entediados.

Um deles, de apelido Muringa, mastiga um chiclete e diz que queria ter sido jogador também. 

O outro ri, dizendo que no morro, quem chuta bola demais acaba chutado pela vida. 

Eles guardam o território, o ‘movimento’, a fronteira invisível que separa o asfalto do abismo.

E é curioso: aqui, as fronteiras são feitas de medo, não de muros. Todo mundo sabe até onde pode ir. A linha entre o ‘deles’ e o nosso é mais sagrada que mandamento.

Cruzar o beco errado é cometer pecado mortal. Mas, diferentemente da Bíblia, aqui o perdão não vem depois da confissão — vem com chumbo.

No domingo, o bar do Valdir enche.

O samba come solto, o churrasco fumaça o ar e, por um instante, o morro esquece que está sitiado. 

Dona Lúcia dança, o pequeno Jonatas brinca de vender cerveja, e o riso corre solto. Até que o rádio chiado de um dos rapazes estala.

Uma mensagem curta, sussurrada no chiado das ondas: “Avisaram que o caveirão tá subindo”. O samba morre no mesmo acorde.

O silêncio que segue é pesado como caixão. 

Cada um corre pra sua toca, cada olhar procura refúgio. 

Os traficantes recolhem os fuzis e as garrafas, num balé ensaiado. O morro se transforma em trincheira. E o menino Jonatas, aquele da cerveja, fica ali, perdido, sem saber pra onde correr.

Quando o primeiro estampido vem, ele se joga no chão, instintivamente. E aprende — cedo demais — que no morro a vida se mede em segundos de reação.

Depois do tiroteio, o cheiro de gás lacrimogêneo desce como névoa. Os helicópteros ainda rondam, cuspindo luz sobre telhados.

O locutor do rádio, no asfalto, diz que a operação foi um sucesso. Aqui, o sucesso tem outro nome: sobreviver.

Na segunda-feira, o comércio reabre. Zeca limpa a vitrine, ajeita os engradados, finge normalidade. 

A normalidade é uma armadura — quem tira, morre.

As crianças voltam à escola, mas o professor falta. Dizem que ficou preso na Linha Amarela, por causa da operação.

A aula vira recreio improvisado. Uma menina desenha o céu, mas o pinta de cinza.

– Por quê, Clara – pergunta Zeca, curioso.

– Porque azul não existe mais – responde ela, sem levantar os olhos.

O azul virou lenda. O morro vive em tons de concreto, ferrugem e medo. 

O céu, quando não está coberto de fumaça, parece longe demais, quase uma ofensa.

E é nesse cenário que o cotidiano insiste em florescer. Dona Juraci continua vendendo quentinha — arroz, feijão, carne moída e esperança. 

O gás acabou, mas ela dá um jeito. Muringa passa na porta, armado, e compra uma. Diz bom dia com um sorriso tímido, como se pedisse desculpa por existir. 

E talvez peça mesmo. Aqui, todo mundo deve alguma coisa a alguém — e ninguém sabe exatamente o quê.

De vez em quando, um corpo desce o morro, enrolado em lençol. 

A TV não mostra, o jornal não imprime. Só quem carrega o peso é o povo, que segue o cortejo em silêncio, enquanto o funk de algum barraco explode alto — não por desrespeito, mas por sobrevivência. 

O som alto é o escudo contra o choro.

À noite, o morro se ilumina com luzes trêmulas: lâmpadas penduradas em fios roubados, velas acesas em altares improvisados, cigarros brilhando nas sombras.

Lá de cima, a cidade brilha como um outro planeta, inacessível. 

O contraste é cruel: o luxo iluminado pela miséria. 

E, ainda assim, há vida — pulsando, teimosa, quente.

Dona Juraci reza. Pede paz, mas já nem sabe o que isso quer dizer. Muringa observa o horizonte e pensa se um dia vai poder andar na praia sem medo de ser preso. O menino Jonatas dorme abraçado num carrinho de brinquedo — o único que sobrou inteiro. E o som dos tiros, mesmo quando cessam, continuam ecoando dentro de cada um.

No dia seguinte, o noticiário fala de mais uma operação bem-sucedida. A cidade aplaude, aplaude de longe, de longe onde o sangue não salpica.

Bandido bom é bandido morto, dizem. Mas esquecem que, aqui no morro, bandido e vítima moram na mesma casa, dividem o mesmo prato, o mesmo sobrenome.

Porque o que chamam de ‘violência’ é, muitas vezes, o nome que dão à pobreza quando ela resolve gritar.

E o morro grita, sim. Grita com funk, com tiro, com prece, com festa. 

Grita pra não ser apagado. Grita porque o silêncio seria o fim.

No fim da tarde, o sol se põe devagar sobre o Rio, tingindo o céu de vermelho. O mesmo vermelho que mancha o chão do beco, o mesmo que tinge a bandeira da esperança.

A cidade é linda — dizem os cartões-postais. Mas ninguém tira foto do lado de cá.

E se tirasse, talvez não coubesse em moldura: uma cidade partida, onde o fuzil é rei, o medo é súdito e a vida, mera sobrevivência.

Mas há algo que resiste — teimoso, desobediente — entre os becos e as balas.

É o amor, aquele mesmo, clandestino e corajoso. 

Aquele que faz nascer criança em meio à guerra, que faz mãe lutar, que faz o morro inteiro dançar mesmo quando o ‘caveirão’ ronda.

Talvez seja isso que o asfalto nunca entenda: que o morro, apesar de tudo, não é só tragédia. 

É também vida, barulho, cor, improviso e fé. 

É o território onde o impossível se acostumou a existir.

No fim da noite, quando o silêncio finalmente pousa, o vento traz o som distante de um tamborim. E alguém canta, baixinho, lá no alto:

Enquanto houver sol, haverá esperança.

A música sobe e desce pelas vielas, como um recado.

E o morro, cansado, mas vivo, responde com um sopro: “A gente ainda tá aqui.”

Clayton Alexandre Zocarato

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O silêncio do café e o último cortejo

Clayton Alexandre Zocarato

‘O silêncio do café e o último cortejo’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA do Gencraft
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Naquela manhã, o cheiro de terra molhada se misturava ao perfume doce das flores do cafezal.

O sol ainda nem havia rompido por inteiro o nevoeiro quando o sino da igrejinha tocou três vezes, pausado, grave, anunciando o que todos já sabiam desde a madrugada: o nonno se fora.

Na casa grande, de paredes caiadas e janelas azuis, o silêncio se estendia como uma colcha pesada. 

As mulheres da família — todas de luto antecipado — sussurravam em dialeto italiano, entre orações e prantos contidos. 

A morte, naquele tempo, não era espetáculo; era trabalho. 

E como todo trabalho no interior, pedia mãos firmes, gestos práticos e respeito profundo.

O corpo do velho Giuseppe foi lavado no tanque do quintal, com água tirada do poço, ainda fria. 

Duas mulheres da comunidade, acostumadas a lidar com o “passamento”, vinham sempre ajudar nessas horas.

Uma delas preparava a bacia com folhas de manjericão e alecrim, “pra afastar os maus espíritos, dizia. 

A outra penteava o cabelo branco, alisando-o com um pano úmido, como se quisesse devolver ao rosto enrugado um pouco da dignidade dos tempos de lavoura.

Não havia velório em salão, nem caixão comprado às pressas na cidade. O filho mais velho, o tio Ângelo, cortara a madeira do próprio pai há anos, quando a saúde dele começara a fraquejar.

“Um homem deve estar preparado até pra sua partida, dizia o nonno, rindo com os dentes manchados de fumo. O caixão fora guardado no paiol, coberto com um lençol e cheiro de milho.

Agora, era trazido para dentro, posto sobre duas cadeiras, enquanto se ajeitava o corpo com o mesmo cuidado que se tem ao preparar o pão antes do forno.

O velório durou a noite toda. 

As lamparinas tremeluziam, e o café era passado sem descanso. 

Ninguém chorava alto; havia um pudor na dor, um respeito que impedia o desespero. 

As pessoas falavam baixo, lembrando histórias de colheitas fartas, de domingos de missa e das longas conversas na varanda. 

De tempos em tempos, alguém fazia o sinal da cruz e murmurava: Que Deus o receba na terra boa”.

As crianças, que não compreendiam bem a morte, espiavam curiosas o corpo imóvel e os gestos das mulheres. 

A mãe, com voz firme, dizia: Não se tem medo, se tem respeito. E essa frase, dita tantas vezes naqueles dias, se gravava como lição de vida — e de morte.

O cortejo, no dia seguinte, saiu logo após o toque das seis. 

O caixão foi colocado sobre a carroça, coberto por um pano branco e enfeitado com ramos de café e flores do quintal. 

Não havia banda, nem padre acompanhando. 

O padre ficaria à espera no cemitério, onde a terra já estava aberta. 

Os homens tiravam o chapéu ao passar e as mulheres juntavam as mãos. 

O som das rodas no chão de terra batida parecia um rosário, repetido no compasso das passadas lentas.

O caminho até o cemitério atravessava os cafezais, e o cheiro das folhas, misturado ao orvalho, dava àquela despedida um ar de colheita tardia.

Era como se a terra, que tanto recebera o suor do nonno, agora se preparasse para recebê-lo inteiro, como paga justa de uma vida de trabalho.

No cemitério, as cruzes de madeira se inclinavam ao vento. O padre, de batina gasta, disse as palavras breves, e cada familiar jogou um punhado de terra. 

O som surdo dos torrões batendo no caixão parecia o fecho de um ciclo, o último eco de uma vida simples.

Depois, todos voltaram à casa. O café fumegava no fogão a lenha, e o cheiro de pão fresco preenchia o vazio. 

Alguém comentou que o céu estava bonito, cor de café com leite”. 

E assim, entre um gole e outro, a vida foi retomando seu curso lento, como o rio que contorna as margens, sem nunca deixar de correr.

Nos dias seguintes, o canto dos galos voltou, os bois foram levados à lavoura, e a rotina retomou seu ritmo.

Mas, ao entardecer, quando o sol se escondia por trás dos cafezais, alguém sempre olhava para o horizonte e dizia baixinho: Lá vai o nonno, cuidando das plantações do outro lado.”

A morte, ali, não era um fim brusco, mas uma continuidade muda — uma semente enterrada que renascia em memória, em cheiro de café torrado, em reza sussurrada. 

E talvez fosse esse o segredo dos tempos antigos: entender que, na simplicidade do rito, havia mais do que despedida.

Havia o reconhecimento de que toda vida, como o café, precisa ser colhida no tempo certo — e devolvida à terra com gratidão.

Clayton Alexandre Zocarato

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Irritado

Clayton Alexandre Zocarato: Poema ‘Irritado’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA da Meta

tô irritado.
não com o mundo —
mas com o jeito que ele me olha,
como se minha cara
tivesse que sorrir o tempo todo.

tô irritado,
com essa paz fake de feed,
com frase feita de gente que nunca sentiu
a própria raiva rasgar por dentro.

tô irritado,
porque amar virou aplauso,
e pensar virou ameaça.
porque todo silêncio agora parece culpa
e toda dúvida, crime.

tô irritado.
mas não vou gritar.
prefiro cuspir poesia
que fede a verdade
e queima na língua de quem lê esperando flores.

tô irritado —
mas não triste.
meu incômodo é semente
que cresce no concreto
pra empurrar o chão de volta pro céu.

Clayton Alexandre Zocarato

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Esquizodance 2000

Clayton Alexandre Zocarato: ‘Esquizodance 2000’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem criada por IA do Grok
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Dançava com teus olhos sob neon lilás,
num looping de amor que o tempo não desfaz.
Teu riso era beattechno, trance, drum’n’bass
e meu coração, rave: perdido, mas em paz.

Nos lábios, promessas pop de eternidade,
feito hits esquecidos nas madrugadas.
Saltávamos o real, jovens de verdade
com glitchs na mente e almas remixadas.

Esperança? Era sample do impossível,
beatando em sintonia com teus devaneios.
Amor não tinha lógica — era invisível,
mas pulsava entre os delírios e os anseios.

E sob a estrobo de um céu todo distorcido,
amamos dançando… no caos mais colorido.
Na pista do ser, tudo era permitido.

Clayton Alexandre Zocarato

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