A morte e a sorte

Clayton Alexandre Zocarato: ‘A morte e a sorte’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem gerada por IA do Bing – 18 de novembro de 2024
às 5:38 PM

Morrer é continuar

A querer

Algum tipo

De merecer

Na tentativa de ter

Alguma sorte

Que faça um zelote

Não ficar parado

Em um fúnebre sentimento

Sendo um guardião

De uma aflição

Que em breve cairá

Na escuridão do esquecimento

Gerando pouco lamento

E muito divertimento

Nas cavernas de orgias sorrateiras

De mundos imundos

Que  pensam serem

O centro de sortes

Que almejam mortes

Entre cortes

E recortes

Repletos de vertes assassinos

Clayton Alexandre Zocarato

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Amenizando

Clayton Alexandre Zocarato: Poema ‘Amenizando’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
"Anoiteceu: hora de voltar a me entorpecer com seu relutante querer, vagando em torno do meu querer te esquecer"
“Anoiteceu/ hora de voltar/ a me entorpecer/…”
Imagem gerada por IA do Bing – 12 de novembro de 2024
às 12:37 AM

Ao dormir

Vou sentir

O elixir do seu partir

Ao acordar

Vou amenizar

Um sonhar

Que só me fez chorar

A cada novo alvoroçar

As horas esvoaçam

Anoiteceu

Hora de voltar

A me entorpecer

Com seu relutante querer

Vagando em torno

Do meu querer te esquecer

Clayton Alexandre Zocarato

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Falante

Clayton Alexandre Zocarato: Poema ‘Falante’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem gerada por IA do Bing -  6 de novembro de 2024
 às 10:41 PM
Imagem gerada por IA do Bing –  6 de novembro de 2024
às 10:41 PM

É escaldante

Falar demasiadamente

Iradamente doente

Evidenciando o risco

Que quebra o silêncio

Extenuante

Fazendo o execro

Diante a depreciação

Da razão

Exultando os lamentos

Do coração

Falador

E

Sofredor

Clayton Alexandre Zocarato

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A escuridão e o medo ao luar

Clayton Alexandre Zocarato: ‘A escuridão e o medo ao luar’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Criador de Imagens no Bing – Da plataforma DALL·E 3

O garoto nasceu cercado de todos os mimos possíveis e impossíveis, pois era muito frágil em sua saúde.

Era herdeiro de um vasto império latifundiário e industrial, e, provavelmente, quando chegasse à fase adulta não se lembraria de que muitas pessoas trabalharam por debaixo dos panos, para manter toda a sua pompa e vida mansa, ao longo de décadas

Nasceu em uma noite de grande luminosidade da Lua, quando ela estava mais próxima da Terra, porém seus pais místicos como poucos ofereceram à rainha da noite celestial seu filho, como uma forma de um estranho culto para que assim viesse a proteger das armadilhas do destino, e também sua integridade física e mental.

A escuridão de um mundo de ambição  que o cercava por todos os lados, e seus pais como bons idólatras do dinheiro, culminaram astutamente o juramento e dar sua proteção aos raios lunares,  mas  quando o primogênito atingiu certa idade, praticamente deixaram a Lua de lado, o que fez com que o grande astro gerasse uma fúria enorme em castigá-los por tamanha afronta e audácia, em invocar seus poderes e depois jogá-la praticamente de lado, isso iria custar muito caro para aquela família.

Com o passar dos anos, a criança foi se tornando um belo e esbelto jovem que, assim como seus progenitores, não tinha a menor tangência em sublinhar uma ética que viesse a se compadecer de empatia pelos mais necessitados, sempre os tratando  com zombaria e altivez, e o que importava era somente usufruir de todo o potencial de capital que viria a herdar de seus pais abastados.

“Passava por seus empregados e servos, sem conter a mínima dignidade de respeito por  cada um deles não tendo a  menor formalidade de afeto possível, sempre se reerguendo em um pedestal de arrogância e indiferença o orquestrava a zelar individualmente como uma melodia de orgulho pujante,  que o universo estava sempre contendo uma pré-disposição a saciar todos os seus desejos mais banais.

Mal sabia ele que sua guardiã astronômica estava se olho em todos os seus atos.

Certa  noite, começou a sofrer com pesadelos terríveis, como sendo que alguma coisa ou criatura vinha a sufocá-lo, tirando toda sua energia, fazendo, assim, com que acordasse com uma cara de poucos amigos, devido à insônia de várias noites seguidas.

Isso foi se transformando em uma grande fobia, o que o levava ao desespero toda vez que a noite caia.

Nenhum calmante ou receita poderia vir acalmá-lo, mesmo com toda a fragrância entorpecente que se seguia dos mais potentes remédios tarjas pretas, e que assim viessem até a causar uma grande alucinação, fazendo com que não mais conseguisse distinguir do que era realidade ou fruto de suas neuroses, causada pela falta de sono e em não conseguir dormir.

Passou por alguns renomados terapeutas, e em todos sempre relatava que via uma imagem redonda branca perante a escuridão, com um ar  amedrontador, de que em algum momento aquele estranho corpo sustentado no ar de uma raiva estridente  iria devorá-lo sem nenhum tipo de piedade ou clemência.

Uma imagem redonda branca e gigantesca que causava temor, perante as trevas da noite, que para ele parecia nunca ter fim.

Seu medo crescia sucessivamente, fazendo-o cair em um isolamento sombrio, praticamente vivendo no seu mundo particular, dentro do seu quarto repleto de toda pompa, mas que não tinha nenhum agrado que o fizesse assim tentar ser igual aos outros garotos de sua idade.

A sua razão estava sendo entorpecida pelo medo, o que fazia que seus pais entrassem em um profundo desespero, pois não sabiam mais que tipo de atitude tomar com o filho.

Estaria de fato enlouquecendo? Sofrendo de algum tipo de esquizofrenia? Algum tipo de feitiço teria sido feito contra ele, como uma forma de se vingar da sua família que vivia em uma  prepotente vontade de poder alucinante, não importando em ceder as piores atrocidades possíveis para se manter no seu pedestal de glória.

As coisas estavam piorando bastante para o jovem, que praticamente era herdeiro de um vasto império.

E sempre falava de um ser enorme e branco que habitava seu quarto, como que iluminando seus piores pesadelos, deixando um rastro de destruição da sua racionalidade e não havendo brechas para que se, pudesse entender, quais eram seus temores, pois diante de tanto a medo, a afasia começou a ser sua companheira diária.

As terapias e visitas médicas foram muitas, mas diante de polivalentes medicinais formas de tentar trazer sua mente para realidade, o que chamou a atenção de muitos psiquiatras foi a descrição dessa estranha imagem redonda, que sempre se tornava mais reluzente nas noites de lua cheia, e era descrita sempre pelo demente jovem.

Isso bastou para que o casal percebesse o terrível erro que havia cometido, diante as suas práticas ocultas e pagãs de batismo.

Tinham oferecido o batismo da criança para irmã Lua, e diante a grande alegria da chegada do filho tão desejado, o haviam deixado ela de lado, e agora ela estava enfurecida e procurando vingança.

Sim! A Lua queria literalmente devorar e levar seu menino, e também como sendo uma forma par lembrar para tosco casal, que eles não representam nada diante o poder dos astros e da natureza.

Os pais do garoto demoraram a perceberem tal falha,  e que estavam diante de uma força muito maior, do que poderiam imaginar, e para assim conseguir o seu perdão, somente com algum ato bem grandioso alcançariam estarem em um sublime sentimento de redenção a  conseguirem  terem alguma paz, diante as formas sombrias com que seu guru celestial o estavam tratando.

O garoto sentia-se cada vez mais medo, de ficar sozinho quando as trevas davam suas caras, e assim a luz da lua iluminava todo o seu aposento, se apresentando como um leão pronto para dar bote em sua caça, e nada poderia fazê-la  ficar longe, com o pavor daquela luz branca, que a cada instante estava cada vez mais próxima e não pouparia nenhum tipo de esforço para tê-lo para sempre junto as suas nuanças espaciais.

E assim, seu medo foi se transformando em crises de ansiedades, que já estavam caminhando para um ritmo frenético de psicose, e o desejo de acabar, como todo aquele sofrimento de não conseguir dormir, estava o deixando mais e  mais agotado* fisicamente..

Até mesmo durante o dia a escuridão e o medo, estavam o acompanhando a cada momento, e a cada instante, não importando o quanto pudesse fingir  negar tal situação, ou para qual local desejasse ir, a tentativa de esquecimento feito para a Lua, teria um sabor de vingança cruel e sórdido e nada a deteria.

Os pais estavam desesperados, recorreram a todo tipo de reza, oração, padre, pastor, pai de santo, médium, mas nada parecia diminuir a fúria do grande astro.

O garoto ficou em um desespero atônito, a escuridão da luz demoníaca da lua, além de causar pavor, agora tanto seu corpo, como sua alma, seria uma forma a lembrar de que toda promessa deve ser cumprida, e que se deve pensar antes de prometer qualquer coisa seja quem for, ao qual ser, for.

E assim se deu.

O menino em certa madrugada não amanheceu para ver o brilho do Sol, mas estava bem saliente com uma elevada concentração de neurolépticos e  psicofármacos do lado da sua cama, que o deixaram finalmente em  um sono profundo, que ninguém  mais poderia tirá-lo do seu além-túmulo.

Nem a Lua, e nem os pais conseguiram segurar aquela bela criatura para si, toda via o grande astro da noite  nasce todo dia, em todas as partes do mundo.

Já os pais mergulharam na escuridão, de não poderem mais ter a luz da criação e geração de algum  infante, pois ambos eram inférteis é só conseguiram terem um filho através de uma  barriga de aluguel muito bem paga.

A Lua continuou com sua luz na escuridão, já os pais mergulharam no sombrio silêncio de conter somente o medo e o temor de sempre recordar do filho, que se perdeu em meio ao iluminar das suas  falsas promessas de felicidade e candura, sendo sugado por um terror constante e incessante, pelo  selene* de fel cruel e sem nenhum pudor, causando muita dor, com muito  pouco amor.

*Selene – Lua, em Grego antigo

*Agotado – Em espanhol, esgotado

Clayton Alexandre Zocarato

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O silêncio de um amor juvenil

Clayton Alexandre Zocarato: ‘O silêncio de um amor juvenil’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem gerada com IA do Bing – 23 de outubro de 2024
às 12:11 PM

Ficava praticamente todos os intervalos a admirá-la em seu silêncio.

Afinal, os grandalhões do time de futebol tentaram de tudo para conquistá-la e falharam, miseravelmente.

Sabia que ela adorava ouvir músicas românticas de grupos pops que marcaram sua época  da década 1980, como Roxette, Genesis, Duran Duran, Cultura Club…

Mas não tinha coragem para sequer tentar dizer  um “oi!”, e assim iniciar um bate-papo juvenil acerca de seus afazeres do cotidiano.

Ficava  admirando-a sempre de longe.

Ela, com os  seus cabelos longos cor de ouro, jovem, com uma mistura de  pureza e sedução  o deixava cada vez mais encantado.

Quando acabava as aulas, ficava olhando suas fotos pelas redes sociais por horas, tentando deduzir o que estaria fazendo naqueles momentos em que estava longe um do outro, até amanhã seguinte.

Chorava como uma criança desesperada de saudade, em silêncio, e muitas vezes a única companhia para seus sonhos de amor cheios  desilusões e insônia,  causados por sua timidez, era testemunhado  em seu quarto pintado em um  banco tosco, com alguns postes de bandas de rock envelhecidos, que o faziam viajar psicodelicamente, em como seria fabuloso ficar  dançando com ela a boate de sábado inteira, sem se importar com o que os  outros iriam dizer.

Mas todo dia acordava e já tinha plena noção do que o aguardava até o final do ano letivo: ficar de longe admirando-a, sem ter coragem de tentar dizer algum “oi!” para iniciar algum tipo de conversação que propiciasse um doce xaveco, que viesse assim a preencher  o vazio de um coração apaixonado,  que sonhava com seus olhos cor de esmeralda e sua pele lisa como o mais sedosos sabonetes, e seu cheiro eletrizante como os mais requintados perfumes.

Já havia pensado em tudo, mas sua timidez era maior do que sua vontade de estar perto dela.

– Meu Deus, ela é um formosura, de relva de paixão que poucos podem entender,  como ou  que  queria poderia fazer para   apreciá-la perto de mim?  Em emprestar meus ouvidos para seus mais variados problemas e assim poder realmente ser seu amante, e não um projeto petulante de malandro que viesse apenas a querer seu corpo.

E assim aquele ano letivo foi se  passando, e  ele continuava voltado para dentro de sua imaginação sem projetar uma ação concreta que pudesse, assim, mudar aquela situação de dor.

Secretamente tentava ensaiar alguns passos de dança, para quem sabe tentar tirá-la para dançar e, dessa forma, poder declarar o quanto ela tinha se tornado importante para seus mais duros vácuos em não conter uma namorada, assim como os outros garotos da sua idade já tinham sua garota, pois ele era o único solteirão, e já vinha sofrendo com  zueras desnecessárias perante o poder de uma libido impregnada em muitos corpos, que não perdoaria um romantismo puro guardado no coração de qualquer jovem inocente.

Comer e depois procurar outra refeição do sexo frágil, era norma de boa parcela dos garotos”.

Ficava muito triste com toda aquela situação, mas não era só tesão que tinha, desejava poder pegar em sua mão, levá-la ao cinema, tomar o mais refrescante sorvete, na mais  pomposa sorveteria da cidade.

Mesmo sendo um tremendo  cdf”, com as melhores notas da turma, pouca bola ela dava para ele, para dizer que sua existência era praticamente irrisória aos seus olhos.

Mudou seu visual, desde o ‘mauricinho mais engomadinho, ao projeto de bad boy desleixado, mas de nada adiantava.

Sua mágoa e tristeza foram aumentando vertiginosamente.

Passava noites em claro, e sua ansiedade estava tomando proporções de perder o controle de dentro de si, levando a um estado de loucura, que necessitaria de muitas doses de tarjas pretas para assim poder acalmá-lo.

Tentou academia para ficar bombado, mas seu fenótipo franzino não contribuía para adquirir uma massa muscular consistente, e tentou até tomar algumas “bombas, mas a única coisa que conseguiu  foi uma infecção no fígado que o fez tomar medicamentos pesados para assim desinchar o órgão.

Já não sabia mais o que organizar  para tentar chamar a atenção de sua musa, que ficava totalmente encarcerada em sua imaginação.

A melancolia era seu consolo e sua companhia cotidiana, e de forma silenciosa como um câncer devastador, o consumia por dentro.

Andava  pelas ruas, de um lado para o  outro, para assim quem sabe a encontrar”, mesmo que fosse somente para admirá-la por alguns segundos.

Sabia também que era uma menina difícil, mas o que nutria um pouco sua esperança é que, mesmo diante de tantos rapazes com uma condição corporal melhor do que a sua,  não deixava se impressionar facilmente por isso.

Ficava às vezes imaginando, ela seria um tipo de Queen of Rain, que viria para abençoar os pingos de tempestade que faziam sua imaginação ficar cada vez mais pensativa em arranjar, alguma maneira de ao menos tentar chegar perto de sua musa inspiradora, que assim passaria a  sua fase juvenil a sempre sonhar com ela.

Pensava em muitas alternativas para tentar ganhar um oi ao menos, um alento, um olhar dócil que assim fizesse seu dia valer a pena, e por fim ter algum tipo de consolo e alegria.

Mas seu silêncio era algo assustador, seu maxilar travava só pode pensar em abrir a boca e pronunciar algumas poucas palavras que a fizesse prestar atenção em sua pessoa.

Certa vez passeando pelo jardim perto do liceu em que ambos estudavam,  estudavam, a viu lendo um livro de poesias, o titulo pouco importava, mas uma brisa leve tocava o rosto de ambos, massageando suas bochechas, como um toque divino, anunciando que Cupido estava espionando-os.

Suas pernas tremiam freneticamente.

Ela estava sozinha, como se aproximar dela sem parecer um perfeito otário? O que dizer? Como abordá-la sua timidez era maior de que todas as suas vontades.

Ficou atrás de uma jabuticabeira enorme, observando-a, mas de tanto encanto que estava com a sua beleza, acabou por pisar em um graveto seco, e com um pequeno estalo chamou a atenção de sua musa.

Ela o olhou docemente, ele quase teve um colapso por completo de todas as suas funções vitais.

Ela sorriu alegremente, ele ficou vermelho como um caqui.

Um suave silêncio se fez naquela tarde de verão, enquanto ambos os jovens se entreolhavam.

Ela foi o primeiro a quebrar o silêncio.

– Olá meu jovem admirador, me chamo Maya e você?

Ele suando frio como uma pedra de gelo.

– Ooooo…. laaaaaá! Me, me, me, me chamo Átila!

Ela ficou lisonjeada com a dose de timidez e pureza dentro do coração daquele jovem.

– Átila! Nome de um carrasco da Idade Média, mas que entre suas franjas de cabelo liso preto, e de olhos negros, refletiam  a leveza de uma pessoa  bem-aventurada, que tem medo de chegar perto de mim! Acho você muito fofo, sabia!…

Átila estava nas nuvens, em poucos minutos havia trocado algumas palavras com sua ninfa inspiradora, e agora até seu nome  sabia.

– Eu queria sentar perto de você,  permite?

– Sim, claro seu bobo, venha aqui para perto de mim?

Passaram aquela tarde ensolarada, conversando de tudo um pouco, e criando laços de afinidades, que  foram se fortalecendo com seus encontros diários na escola, e assim quebrando o silêncio juvenil de ambos.

Rumo à maturidade incerta, bem como uma conectividade de paixão, desértica de razão, mas contendo muita atração, e estrema emoção…

A juventude é um eterno quinhão de excitação e aflição, sem muita razão.

Clayton Alexandre Zocarato

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O gato e o velho

Clayton Alexandre Zocarato: ‘O gato e o velho’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem gerada por IA do Bing – 16 de outubro de 2024 às 1:30 AM

Como de costume aquele velho rabugento, desdentado, carcomido e solitário chegou até o boteco da  sua  preferência.

Com a barba a fazer, e portando um andador surrado com tempo, enferrujado e cheio de bactérias, que um pequeno corte bastaria para pegar um tétano lascado, caminhou até o balcão já com o seu mau humor costumeiro.

– Hei! Seu balconista lerdo, me vê a mesma porcaria de pinga de sempre, por gentileza.

E lá vai o balconista cumprir as ordens daquele cliente que, ainda mesmo na casa dos oitenta e tantos anos,  não deixava  o costume de julgar, a mandar em todos, auscultando que estava no tempo da “Ditadura” ainda, já que era um grande simpatizante dos membros da “Caserna”.

E assim o velho se sentou isolado, e não gostava de ser importunado por ninguém.

Diante de suas artrites severas, e seus problemas pulmonares em virtude do tabaco, tinha noção que já  estava,  “fazendo peso na terra”.

E tampouco alguém se importaria com sua morte, então era aproveitar o pouco da diversão da vida de solteirão lhe proporcionava, que era se embriagar diante das poucas “migalhas financeiras” que tinha de sua aposentadoria de antigo funcionário da falida Companhia de Trens Intermunicipais.

Mesmo diante do marasmo de uma existência fajuta, tinha a consciência de que a morte seria somente um complemento para continuar respirando e resmungando em outro plano existencial, sendo uma forma de transmutação que viesse trazer algum relaxamento para suas limitações físicas, mas que, pelo contrário, desenvolveu uma mente perspicaz e assídua para falar mal da vida alheia, fazendo da fofoca uma das poucas coisas de valor que ainda poderia  esperar de seus dias.

No meio daquele bando de consumidores assíduos de álcool, de vez em quando aparecia algum vira-lata magricela, procurando silenciosamente alguma posta de salgado ou carne vencida, pelo qual teria companhia de larvas e mosquitos que  aí faziam sua “degustação diária de doenças e  incômodos zumbizante”, quando não tinham seu “alimento” vendido pela metade do preço para os clientes menos desavisados, ou que já estavam encharcados de tanta birita, e que não percebiam tal falta de higiene.

Ele  era um que comia dessas “fartas pachorras de guloseimas baratas”, e também não tinha a menor paciência com os “doguinhos” que ficavam ao seu redor, lhe causando importunos por causa que  sua medíocre solidão tinha sido interrompida.

Mas no meio daqueles cachorros, nesse dia surgiu um gato gordo, portentoso, forte, maravilhoso, que fez vários daqueles barrigudos  bebedores de cerveja prestarem atenção em sua virtuosidade e beleza.

E ele passa para lá e para cá, com seus olhos azuis cintilantes e fortes, prontos para dar um bote em quem ousasse se aproximar.

O velho, mesmo com sua catarata, avistou o felino, e voltando em suas memórias, tinha plena convicção que um dia tinha sido tão ágil, belo e sadio como a criatura que estava passeando em sua frente.

– Esse gato tem algo de especial… No meio de toda essa miséria e sujeira ele está aqui, passeando de um lado para o outro, como se estivesse pronto para pegar algum de nós, malditos infelizes e levar para o mundo dos mortos- pensou consigo mesmo.

Em um momento da sua vida tinha lido, que no Antigo Egito, o gato era considerado o guardião dos mortos, e dos submundos.

Lentamente o bichano, vai se aproximando, com suas cores branca e preta, mas de tanta bebedeira coletiva, quase ninguém nota sua presença.

Os cachorros famintos, quase nem tem forças para latirem para o intrépido invasor que aproxima daquele  local de  perdição e lamento.

E ele vai assim se constituindo imponente em sua jornada, demonstrando toda  a sua leveza e beleza, entre uma falta de elegância humana, mas aonde sobra ganância material, e pouca paz mental.

Ele empina o rabo, e diretamente vai até velho no fundo daquela espelunca e pula no seu colo, esfregando a cabeça no seu peito, como se estivesse  pedindo carinho, o que automaticamente recebe do ‘saco bípede  de reclamações ambulante’.

– Bem gatão, você é único que me deu atenção entre todos esses imbecis, e pelo jeito está sozinho assim como eu, nesse mundo hipócrita, já fui tão belo como você agora só aguardo o dia da minha morte.

Com muita dificuldade conseguiu um coleira, que era de um dos frequentadores do bar, e passou no pescoço do belíssimo animal.

Pegou seu andador e amarrou a corda que prendia o gato junto aos pés do seu fiel companheiro de  metal andante.

Como de costume deixou o dinheiro em cima do balcão e saiu seu cumprimentar ninguém, mas não sem chamar atenção, dos frequentadores do botequim.

– Esse gato vai perder toda a formosura e vai morrer de fome logo. Esse velho ao qual nem se quer sabemos o nome não vai tratar dele, de maneira alguma.

Comentou um dos clientes, que observavam “a partida do animal”, e do gato.

O velho não voltou mais ao bar, mas nem se quer notaram sua ausência.

Dias depois devido há um imenso mau cheiro que vinha de uma casa próxima do bar, e polícia foi chamada até o local para averiguar o odor de carne podre que vinha incomodando seus moradores, que vinha diretamente de suas residências. 

Arrombaram a porta da casa, e encontraram o velho coberto de moscas e em  estado de  decomposição.

Fazia dias que tinha morrido, e unicamente notaram sua ausência, através da difusão do cheiro insuportável do seu cadáver.

Enquanto o gato que tinha levado para casa ,dormia tranquilamente em sua cama de molas, se espreguiçando docemente, o que fez um policial levá-lo para casa, e assim ter um novo lar para fica

– Gatinho você tem um novo lar, mais tranquilo que esse muquifo em que enfiaram você! Disse o ingênuo policial.

Clayton Alexandre Zocarato

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Ficar em casa…

Clayton Alexandre Zocarato: Conto ‘Ficar em casa…’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
Imagem gerada com IA do Bing – 8 de outubro de 2024 às 9:22 PM

Ficar em Casa’  naqueles dias de morte não era algo fácil.

As notícias não paravam de chegar, do número de mortos e feridos que aumentava volumetricamente.

Pessoas entrando em crises de suprema ansiedade, aos quais faziam suas subjetividades ficassem atormentadas com o pavor de vir a morrer precocemente.

Um morrer agonizante, aterrorizante, alucinante.

Sufocado por um vírus, que fazia o ‘Ficar em Casa’ intercalar com uma vontade desesperada de poder criar e colocar para fora toda a prova psicológica de medo e incerteza  que o confinamento estava ocasionando.

Mas o que seria de fato esse tal coronavírus?

O prenúncio do Juízo Final?

A ascensão de um Nirvana Sanguinário?

O fato é que a humanidade ignorou sua própria percepção de limitação, defronte as artimanhas da natureza que, com uma forte forma minúscula  de vida, estava causando mais mortes que muitos exércitos e impérios fariam ao longo dos tempos.

Tudo se escondia pelo ar, ao qual cada respiração poderia parecer um sinal do último suspiro assistidos por akáshicos* de uma morte, que não estava livrando ninguém’, não importando sua nacionalidade, sexo, visão político–partidária, idade, religião, tampouco  em fazer uma acumulação sucinta de defuntos, que muitas vezes eram sepultados sem as exéquias primordiais e essenciais, para seu encaminhamento para uma outra dimensão.

Ficar em casa, diante a tela do computador, TV ou celular, acompanhando freneticamente por alguns, que pregavam  um negacionismo que levou ao sepultamento de atrevimentos filosóficos que assim viessem a dar um curso afetivo, para que as pessoas não sentissem que  estavam sozinhas, e que, sim, havia  uma forte humanização de que as emoções estavam à flor da pele, e que havia um materialismo latente em que as pessoas tinham medo de deixar este mundo de forma tão cruel.

Afinal, isso poderia ter sido o anúncio do Apocalipse Bíblico?

O aviso da fúria divina, diante dos nossos mais terríveis pecados, de um coração humano que trancou sua bondade e empatia em busca da sua autorrealização custe o que custar, não  estava carecendo em passar por cima de quem ousasse cruzar seu caminho, de punitivo, em relação à promiscuidade mental de boa parcela das pessoas.

O Corona Vírus  nos fez lembrar que, quando tiramos férias do bom senso, o trabalho da morte vai fazer muitos carecerem de boa sorte.

E milhões perderam a dádiva de viver, por um querer que ultrapassava o limite entre o que seria sensato, do que seria barato.

O barato em se divertir e entreter, com uma doença que no seu início parecia distante para a maioria das pessoas, mas que quando bateu na sua porta da sua casa, causou um tipo de sofrimento e temor, que fez até os mais  céticos chamarem pela misericórdia divina.

O sensato se apresentou que é necessário  os ‘homens e mulheres’  pensarem  mais, em faca a  saciarem  suas vontades e necessidades, do que se ajoelharem a sacrifícios que possam virem, assim trazerem o bem-estar para seus semelhantes, sem precisar agraciar alguma Ideologia em especial, e fazer assim todos lembrarem que viemos na mesma bolha de esperança e desesperança chamada Terra.

O desespero de perder uma vida, que em determinados momentos já não passava de um peso perante suas sociedades, em que ser escravo de si mesmo alimentava uma ferocidade de ignorância, que assim fazia brotar uma ânsia de inconveniências, em ver o corpo do outro como uma arma em potencial, sendo perigoso o toque, um simples apertar de mãos, que pudesse contaminar todos nossos entes queridos, e assim levar para uma psicose mais profunda, detida em um campo analítico, que quando Ficamos em Casa, temos e tínhamos  a tremenda inocência de que podemos estar protegidos contra todos os perigos, mas que  não  foi  bem assim que as coisas aconteceram.

A pandemia (covid-19) (ou as Pandemias ao longo da história), só vieram ornamentar um sentido de desejar se aproximar de uma eternidade que não possa causar dor, mas nosso rancor em pensar unicamente em determinados casos, somente no nosso bem-estar pessoal, fez o espiritual se afastar de um plano astral, que oferecesse algum tipo de redenção divina, para uma civilização que gosta mais da emoção do que a razão.

‘Ficar em Casa’, não era uma atitude lá muito bacana, o importante era desafiar esse ‘pequenino monstrinho’, e não se ajoelhar para prescrições científicas que tirassem a capacidade de ir e vir.

Imunidade de alguns caminhava de mãos dadas com o adoecimento dos mais vulneráveis, e pela lacuna de se colocar na virtuosidade de uma consciência lúcida, de que perder alguns momentos da sua sociabilidade, também seria uma forma de reflexão acerca de como podemos nos outorgarmos  na construção de uma cidadania mundialista, que não veja as regras como algo somente repressivo, mas sim como ativo para ‘uma desaceleração em somente existir’, mas sim insistir que a história necessita de aprendizados duros, para que seus protagonistas deixem um pouco seu egoísmo de lado, partindo para um labor de crescimento pessoal e intelectual, que alimente seu corporal em função do seu bem-estar, e que  também seja um cadência de vaporização das nossas mais profundas frustrações.

‘Ficar em Casa’, uma expressão que, em determinados momentos, eleva um questão de limitação de nossa liberdade, ou talvez solidão, que reflete o vazio do coração, ou requer uma análise mais profunda  da razão.

O vírus não tem compaixão, mas causa aflição, uma tenebrosa sensação de que vivemos fatos pelos quais  toda a  inteligência não consiga uma consciência do que seja óbvio, gerando um cunho da destruição do que seja a libertação, para se chegar a uma comoção de colocar todos os seres humanos em patamar ético de realmente se importar um com os outros.

‘Ficar em Casa’ soa como um aprisionamento de nossas vontades, diante os deleites de uma reconfiguração, de imiscuir a dialética que se possa  pleitear todos os corpos dentro de um ‘vivenciar’, de se fazer ser respeitado diante as ações e decisões individuais, que procurou dentro de suas faculdades mentais maneiras de enganar o tempo em busca de alguma  prevenção.

Uma prevenção que gerou massificação, assim como também uma intepretação equivocada, de que viveríamos um Estado de Guerra Coletivo, quanto a um Inimigo Comum, de tão Comum que era (e ainda é!), passou por uma  comutação de que o Empirismo não poderia de imediato obter todas as respostas possíveis para o temor de uma extinção do homo sapiens bem como o Criticismo, veio à tona, em que quando se retira o bem lúdico da capacidade de abstração do real, não é necessário armas para se declarar uma guerra generalizada entre as polivalentes formas étnicas.

A morfologia de um trancamento corporal como mental fez da covid-19, um lembrete que devemos lembrar-nos de uma valorização da simplicidade diante as nossas ambições mais profundas, e que se faz jus e necessário estar em torno, de uma  transmutação entre estar cuidando de si, como cuidar do outro, fazendo uma transgressão que a saúde, não é somente uma sinfonia de massagear egos exaltados, mas sim uma práxis de que o nosso lar seja nosso castelo em   guardar todas as nossas vontades e desejos mais profundos diante a loucura de vim a ser exterminado por um oponente microbiológico, que não estava poupando absolutamente ninguém de suas argúcias demoníacas.

‘Ficar em Casa’? Mas o que seria isso de fato? Já que uma boa parte da humanidade está perdida por entre ditames, de voltar enxergar somente o que seja conveniente para si mesmo, caminhando para a exigência de Direitos, mas que lucidamente se faz demente a objetar de seus Deveres.

Desejos, Deveres, Direitos, Dialéticas, Dúvidas.

Vivemos tudo isso, de forma a estarmos ‘juntos e misturados’, em uma sinfonia metafísica de buscar verdades, de que mesmo internamente aos nossos micros espaços proativos mais profundos, necessitamos urgentemente de estarmos em evidência, custe o que custar.

A humanidade ainda procura seu devido lar depois da pandemia da covid-19.

As pessoas, ainda se sentem aprisionadas, com o medo de que o Anjo da Morte, venha em um  voo demoníaco,  demonstrar o medo que bilhões de indivíduos têm de desapegarem desse mundo, e de como reinventar novos mundos psicossociais, gerou uma camada de ansiedade, que levou a um globalismo doente, e medonho em aceitar que  nossa  limitação dentro da cadeia biológica não se diferencia em quase nada  em relação a outros espécimes.

‘Mesmo Ficando em Casa’, caímos na parcimônia de uma realidade em sermos caçados por esse vírus, de que a  solidão é um intento ao qual tivemos que aprender a cada momento a lidar com o  extermínio e a perseguição da natureza, e não transformá-la em uma lide, que confronte nossos pensamentos e sentimentos mais profundos.

‘Ficar em Casa’, foi a fagulha de esperança para que assim pudéssemos conhecer um pouco de nossas famílias, e também em demonstrar como a saudade é um ferro quente penetrando em nossas carnes, que fez ferimentos profundos em nos realizarmos ou afirmamos como seres autossuficientes.

Se o suficiente para salvar vidas era o confinamento, então isso cadenciou a formação de novos lamentos, pois o desrespeito ganhou o lugar da bondade e da empatia, em nome manias de procurar estar sempre no meio da multidão, mesmo que isso levasse todos para o caixão.

‘Ficar em Casa’. Eis a graça, para tentar se barrar uma desgraça, que ainda se passa na vida alguns infames, que se tornam alvos fáceis,  da ‘coroa micra da morte’.

Nota do autor

Akáshicos: Em Sânscrito, significa todos os eventos que já ocorreram.

Clayton Alexandre Zocarato

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