Texto orientado pelo professor Clayton Alexandre Zocarato com a discente Maria José Soares, do Primeiro Termo A do Ensino E.J.A (Educação de Jovens e Adultos), como parte integrante de incentivo à leitura e escrita poética, ao longo do ano letivo de 2025, junto à Sala de Leitura Maria Gilda Florence de Biasi, na E. E. de Ensino Regular Professor Mario Florence – Novo Horizonte (SP).
Nilton da RochaImagem criada por IA no Bing. 31 de março de 2025, às 16:51 PM
Foi navegando em alto-mar, a caminho de Salvador (BA), que esta reflexão me alcançou. O cruzeiro deslizava pelo Atlântico como um gigante tranquilo, cercado por uma imensidão azul que parecia não ter fim. Ali, em meio ao silêncio cortado apenas pelas ondas e pelo vento, tive a clara sensação de que somos pequenos diante da natureza — e, paradoxalmente, capazes de causar estragos imensos.
Vivemos como se fôssemos os donos do mundo. Esquecemos que estamos inseridos em uma teia viva, complexa, onde tudo está conectado. Cada árvore derrubada, cada tonelada de carbono lançada ao ar, cada rio poluído, cada ser extinto… tudo isso é como uma gota caindo em um lago calmo. O impacto se espalha, cresce, afeta o equilíbrio de todo o sistema.
Chamam esta era de Antropoceno — um tempo em que o ser humano passou a ser a principal força de transformação (e destruição) da Terra. E não é por acaso. Na busca desenfreada por crescimento e lucro, ignoramos os limites do planeta. Alteramos o clima, a biodiversidade, a oferta de recursos naturais e, inevitavelmente, a nossa própria qualidade de vida. E o mais impressionante é que, mesmo sendo os únicos seres capazes de perceber e compreender isso, seguimos como se nada estivesse acontecendo.
Mas talvez ainda dê tempo. Talvez, como aquela gota no lago, possamos iniciar uma nova onda — não de destruição, mas de renovação. Precisamos repensar nossos hábitos, nossos modelos de produção e consumo, nossa relação com o planeta e com os outros seres que o habitam.
Não se trata de um sonho distante. É uma necessidade urgente. A natureza não negocia. Ela apenas reage. E a conta que ela cobra não é apenas ambiental — é social, econômica e, sobretudo, humana. Se somos a causa, podemos — e devemos — ser parte da solução.
Sergio DinizImagem criada por IA no Bing – 26 de março de 2026, às 20:45 PM
Meio século me separa de minha infância. E das primeiras lembranças da ‘Terra das Monções’, berço do velho ‘Juquita’, como a vida inteira foi conhecido meu pai, José Diniz da Costa, nascido na Rua Cândido Mota, no centro de Porto Feliz.
Em sua juventude, foi músico da banda da cidade e, das lembranças desse tempo, legou-nos um flautim. E trabalhou como químico prático da então próspera Usina de Açúcar.
Como consequência natural dessas atividades, dele recebi, geneticamente, o gosto pelas artes em geral, e doze anos trabalhando como técnico-químico.
Mas recebi, também, algo maior: uma segunda terra natal, um segundo lar.
Apesar de ter feito de Sorocaba sua nova terra até o final de seus dias, continuou umbilicalmente ligado a Porto Feliz e, duas ou três vezes ao ano, a família toda visitava os parentes e amigos.
Naquela época, a magia das visitas começava pela estrada, então de terra, o que nos deixava empoeirados até a alma e fazia com que a viagem, de ônibus, e cheia de paradas, parecesse uma eternidade. Uma maravilhosa eternidade, cercada por paisagens inesquecíveis, quase sem nenhuma construção. Apenas um oceano verde, mesclado com marrom e azul, onde, ocasionalmente, rebanhos de bovinos pareciam, ao longe, em estado meditativo.
Um pouco antes de entrar na cidade, plantações de cana-de-açúcar e uma enorme vontade (nunca realizada) de parar ali e chupar cana até sair pelo nariz.
Após as plantações, finalmente se divisava a entrada da cidade, que se dava simplesmente atravessando a estrada que liga Itu, Boituva, e outras cidades da região.
E, já entrando na cidade, o ônibus nos deixava na Praça da Matriz, muito próximo da Casa das Tias de Porto Feliz, como a ela nos referíamos.
A chegada a Porto, invariavelmente, era aos sábados, ainda de manhã, e se estendia até o final da tarde de domingo. E, nos dois dias, após o almoço, um passeio deliciosamente obrigatório: na Gruta!
Por ser perto, íamos a pé. E, já na entrada, nas escadarias, um sentimento transcendente se apossava de mim e, certamente, de meus irmãos, também. No ar, percebia-se um cheiro, que, mais do que de mata, era um aroma de aventuras, que lembrava algo como “As Caçadas de Pedrinho”, que, com a coleção infantil completa de Monteiro Lobato, povoou de magia minha infância.
Descíamos as escadarias com o coração palpitando e a mente fervilhando. A impressão que tínhamos era que nós também éramos personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo, e nos uniríamos a Pedrinho, Narizinho, Emília, o Visconde de Sabugosa e outros personagens do Sítio.
Conforme descíamos, as imagens do Monumento aos Bandeirantes, do batelão, dos paredões salitrosos e da bica ─ cuja água gelada, de gosto adocicado, se bebida, segundo uma lenda, sempre trazia o visitante de volta à gruta ─, e, finalmente, a imagem de Nossa Senhora de Lourdes, levava-nos a um passado longínquo, com a chegada dos primeiros bandeirantes.
Essa magia, renovada de época em época, durou por toda a minha infância e até certo momento da adolescência. O tempo, porém, aos poucos, levou para as terras espirituais os parentes e amigos de outrora. E, também aos poucos, foi depositando no Baú da Memória aquele lugar de sonhos e de aventuras.
Hoje, volto mensalmente a Porto Feliz, para buscar exemplares da Revista Bemporto (da qual sou um dos colunistas). E recentemente, visitei a gruta. Mas alguma coisa estava diferente nela, além da mudança de local do batelão. Senti um vazio profundo, um silêncio doído.
Tentei ouvir os ecos do passado longínquo quando, naquele local, surgiu a Vila de Araritaguaba. Em vão. Tentei, então, ouvir os ecos de um passado mais recente, da gruta da minha infância, cheia de visitantes e mesmo dos moradores da cidade. Mas só ouvi uma criança dentro de mim que dizia, como um Drummond: No meio da cidade tinha uma gruta/ Tinha uma gruta no meio da cidade/ Nunca me esquecerei desse acontecimento/ Na vida de minhas retinas tão fatigadas/ Nunca me esquecerei que no meio da cidade tinha uma gruta… Uma gruta onde um menino se perdeu, levado por um batelão, talvez para a Terra do Nunca.
Crônica publicada originariamente na Revista Bemporto, edição de setembro de 2015.
Pesquisadores do Observatório da Região Metropolitana de Sorocaba se reúnem na Uniso no dia 23 de abril de 2025, às 14 horas
Foto por Carlos Carvalho Cavalheiro
A Universidade de Sorocaba (Uniso) sediará, no dia 23 de abril de 2025, às 14 horas, o Encontro de Pesquisadores do Observatório de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Sorocaba (EPO). Aberto para a comunidade interna da Universidade, o evento pretende reunir pesquisadores, professores, mestrandos e doutorandos dos Programas de Pós-Graduação da Uniso que desenvolvem projetos no Observatório, com o propósito de discutir os resultados das pesquisas em andamento.
“O EPO será um espaço de diálogo e troca de conhecimentos, promovendo a integração entre os participantes e fortalecendo as pesquisas voltadas ao desenvolvimento da região metropolitana de Sorocaba”, informa a organização do evento.
O EPO é uma iniciativa anual que reforça o compromisso da Uniso com a produção científica e o desenvolvimento regional. Um dos aspectos estudados pelos pesquisadores é o Rio Sorocaba. Ingressantes do programa de pós-graduação (Mestrado e Doutorado) em Educação e, também, em Comunicação e Cultura estão desenvolvendo pesquisas que envolvem múltiplos olhares sobre o principal rio da cidade de Sorocaba.
Este ano o evento conta com o Corpo Editorial formado por Camila Caldini Coutinho, Carlos Carvalho Cavalheiro, Daniel Bertoli Gonçalves, Gabriela dos Santos Luchetti Vieira, Maria Ogécia Drigo e Valquíria Miwa Hanai Yoshida. Na equipe de apoio técnico estão Vilma Franzoni (Normalização), Silmara Pereira da Silva Martins (Produção Editorial), Assecom (Arte e Capa), Wesley dos Santos Rodrigues (produção de site)
O Observatório é um espaço de pesquisa e articulação acadêmica que visa promover estudos e ações voltados ao desenvolvimento sustentável e integrado da região metropolitana de Sorocaba, contribuindo para a elaboração de políticas públicas e o fortalecimento da comunidade local. Desde o ano passado, as pesquisas do Observatório têm se voltado para os múltiplos aspectos do rio Sorocaba.
A Universidade de Sorocaba – Cidade Universitária “Professor Aldo Vannucchi” está localizada na Rodovia Raposo Tavares, km 92,5 – Vila Artura – Sorocaba (SP).
O EPO ocorrerá no Anfiteatro da Biblioteca da UNISO.
Segundo a Psicologia Analítica, o arquétipo do herói, em termos simplificados, ésinônimo de coragem, superação e vitória sobre as adversidades
Edélcio Ipanema. Foto da página do ilustrador no Facebook
Segundo a Psicologia Analítica, o arquétipo do herói, em termos simplificados, ésinônimo de coragem, superação e vitória sobre as adversidades. Por extensão, aplicando o tema ao universo dos super-heróis dos quadrinhos, a defesa do bem, da paz e o combate sem tréguas ao crime, colocando em risco a própria vida.
Defensor dos mesmos princípios, o menino sorocabano Edélcio Ipanema mergulhava nas páginas das histórias em quadrinhos da Marvel e da DC, e dentro dele, o gérmen do desenho começava a brotar. Aos poucos, o desejo de ser um grande ilustrador o levava a horas diárias de treino, visando aperfeiçoar seu traço.
Edélcio Ipanema – Foto da página do ilustrador no Facebook
Disciplinado, a dedicação ao dom natural o levou a receber bolsas de estudo em escolas renomadas de arte e a expor os desenhos em Sorocaba (Palacete Scarpa, Biblioteca Municipal, Câmara de Vereadores, Uniso e, recentemente, no Pátio Cianê Shopping, com a exposição Super Comics, em homenagem ao Dia Nacional do Quadrinho.
Alcançando outras fronteiras, participou da FATCON, evento GEEK em São Roque (SP), promovido pela FACENS, foi um dos desenhistas especialmente convidados para a exposição no Memorial da América Latina (São Paulo, capital), realizada para homenagear o herói nipônico Jiraya, bem como marcou presença no HQ Fest.
Como freelancer, colabora com FanArt, faz pin-ups para colecionadores e ilustra livros.
Como não poderia deixar de ser, o talento coroou-o com o reconhecimento: Embaixador Del Arte de America; honrarias outorgadas pela Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências, Letras e Artes – FEBACLA: Doutor Honoris Causa em Belas Artes, Comenda Rafael Sanzio, Comenda Pincel de Ouro 2024, Ativista Cultural, Honra ao Mérito Gonçalves Dias, Honra ao Mérito Nelson Mandela e Guardião da Paz e Justiça. E membro da Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB, da qual recebeu o título Destaque 2023.
Mostra reúne peças vestíveis feitas com materiais reciclados e haverá evento de encerramento inspirado em ficção científica. Entrada gratuita
Obra Harpia. Foto por Cintia Rizoli
Visando promover a arte eco consciente e estimular o debate sobre sustentabilidade na moda, a exposição “Láquesis – Tecendo Futuros Possíveis” proporciona uma experiência inovadora que reúne moda, fotografia e atuação, e segue até o dia 15 de março, quando haverá uma ballroom para marcar o encerramento da mostra, no salão de vidro do Parque dos Espanhóis, em Sorocaba, entrada gratuita.
Idealizado e produzido pelo costureiro, artesão e artista multidisciplinar Paul Parra, o projeto propõe uma reflexão sobre o tempo e a sustentabilidade por meio de esculturas vestíveis e apresentações da cultura ballroom.
Segundo o produtor, a inspiração para o nome “Láquesis” vem da mitologia grega, na figura de uma das Moiras (três irmãs que tinham o poder de fiar, medir e cortar o fio da existência humana), especificamente da que mede o fio da vida. Isso porque as obras foram produzidas com técnicas artesanais e materiais recicláveis e sustentáveis, como papel, vidro, madeira, resíduos têxteis, plástico, resíduos eletrônicos e entre outros.
Obra Cobra. Foto por Cíntia Rizoli
“A ideia é estimular o debate acerca da moda consciente, com um olhar crítico sobre o nosso consumo desenfreado e a passagem do tempo. É uma exposição para apreciadores de arte no geral, sobretudo para a comunidade LGBTQIAP+, e interessados em viver uma experiência cultural autêntica e inovadora”, destaca Paul.
Além das peças assinadas por Paul, a mostra também conta com fotografias de Cintia Rizoli, que retratam as esculturas vestíveis acopladas aos performers, em um ensaio artístico realizado nas ruínas da antiga Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, localizada na Floresta Nacional de Ipanema, Iperó.
E para celebrar o encerramento da exposição, haverá uma ball (movimento cultural e artístico da cena underground LGBTQIAP+, onde participantes competem em categorias de dança, moda e performance nos chamados “balls – bailes”) com temática futurista e de ficção científica “Sci-Fi Kiki Ball”.
O evento convida a comunidade a explorar futuros imaginados, estéticas cibernéticas e realidades alternativas por meio das categorias da noite. Com trilha sonora envolvente e uma atmosfera imersiva, a Sci-Fi Kiki Ball promete uma noite eletrizante de autoexpressão, talento e resistência.
“A ballroom é um espaço de expressão, resistência e celebração de identidade, e como a abertura da exposição Láquesis contou com performances de artistas da cultura ballroom, nada mais justo que finalizar com um grande baile”, conclui Paul.
O evento está marcado para começar às 17h30, no dia 15 de março (sábado) e a entrada é gratuita. O Parque dos Espanhóis fica na Rua Dr. Campos Sales, s/n (altura do n.º 1000), Vila Assis, Sorocaba (SP). Classificação etária livre.
A exposição “Láquesis – Tecendo Futuros Possíveis” segue até o dia 15 de março, no salão de vidro do Parque dos Espanhóis, com horário de visitação das 9h às 19h, de segunda a sábado. Mais informações podem ser conferidas no site paulparra.art/laquesis e pelo Instagram do artista @paulparra.arte.
O projeto é realizado por meio do incentivo da Lei Paulo Gustavo no Município de Sorocaba, com apoio da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Sorocaba, Floresta Nacional de Ipanema – ICMBIO e Parque dos Espanhóis.
FICHA TÉCNICA:
Texto, arte, concepção e produção geral: Paul Parra
Fotografia: Cintia Rizoli
Assistência de criação e visagismo: Irá Rogenski
Design: Tiago Rodrigues
Direção cênica e audiodescrição: Helena Agalenéa
Registro documental: Heitor Pereira
Modeles e performers: Alien Lima, Ayanna Xavier, Gabriel Franco, Luanda Marcondes e Wesley Sampaio
Produção administrativa: Sérgio Frazatto
Trilha sonora: DJ Kaim
Iluminação e sonorização: Gabriel Tarragó
Interpretação de Libras: Gisele Gabriel Ferreira e Jéssica Almeida
Ivete Rosa de SouzaImagem criada por IA no Bing – 11 de março de 2025, às 19:07 PM
São todos estranhos, esses que caminham como eu. No subúrbio, na madrugada, a caminho do trabalho. Vão em silêncio olhando para o vazio, alguns cochilam, quando encontram no coletivo um lugar para se sentar. Tem os que ficam espremidos, uns contra os outros, parecendo cansados, antes mesmo de iniciar a rotina do dia.
São homens e mulheres, esses que vão para as fábricas, construções, lutar pelo pão, o sustento dos familiares, dos filhos. A luta para continuar a viver. E vejo em seus olhos, tristeza. O corpo magro, mostra a falta do alimento de qualidade. As vestes demonstram estar desbotadas, entregando o uso diário. No frio vi por várias vezes os que passavam por mim, encolhidos, com as mãos enfiadas nos bolsos, procurando calor.
São os desfavorecidos, de empregos que lhes paguem o que merecem. São os assalariados, que recebem um salário tão pequeno quanto a sua crença de uma vida melhor.
São esses que passam na rua por mim, com a cabeça baixa, parecendo ter cometido tantos pecados, que os olhos só encontram o chão. Não se interessam pelos outros estranhos que cruzam por eles, caminham em seus destinos preocupados com as dívidas, a fome e sua própria sobrevivência.
São esses estranhos que engradecem a indústria, a lavoura, e fomentam a economia, o crescimento do País. Esses que, em sua ignorância, enfrentam os empregos mais hostis e insalubres. Desprovidos de educação, cultura, semianalfabetos, são os que constroem o mundo em que vivemos.
Os pobres que cheiram a suor, que emanam tristeza, que pedem com seus olhos tristes dias melhores.