Último Tango em Paris

CINEMA EM TELA

Marcus Hemerly: ‘Último Tango em Paris:
Uma jornada de escapismo’

Cinema em Tela - Último Tango em Paris: Uma jornada de escapismo
Cinema em Tela – Último Tango em Paris: Uma jornada de escapismo

Quando Marlon brando faleceu em 2004, muitos cineastas, críticos e profissionais de cinema manifestaram suas lembranças associadas à obra daquele que ainda é considerado o maior ator de todos os tempos. Filmes marcantes como ‘O pecado de todos nós’ e ‘O poderoso chefão’ foram citados, rememorando atuações icônicas e roteiros envolventes. E dentre eles, Arnaldo Jabor de maneira pertinente, lembrou-se da cena de ‘Último tango em Paris (1972), na qual o personagem de Brando traça um diálogo, em verdade, verte uma despedida catártica tom monologal com a esposa morta. A expressão aparentemente insensível, petrificada, tal como o cadáver disposto entre flores e preparado em necromaquiagem.

No entanto, as nuances emotivas pontuadas por extremos são uma sinfonia orquestrada na face de um mestre; sofrendo e odiando-a por ter fenecido. Por certo, o filme não é lembrado apenas por esta passagem, ou pelas cenas de sexo que levaram a boicotes, indiciamentos criminais e censura, ao mesmo tempo em que despontou como sucesso de público e crítica.

Na trama, em uma típica tarde nublada parisiense, os contornos gris unem os caminhos de Paul e Jeanne. Interessados em alugar um apartamento, ele; tentando fugir de sua realidade, ou, de seu despedaçar; ela, de certa forma insegura diante do seu casamento iminente, entrega-se à proposta de paul: encontrarem-se naquele apartamento, que será, a partir de então, seu mundo. Sem nomes, sem acontecimentos de fora, apenas compartilhando momentos ou um silêncio cúmplice.

Naquela cápsula de tijolos, mesmo sem trocar informações sobre o seu passado, se despem emotiva e fisicamente um ao outro. Desde incursões sexuais, até violências psíquicas e físicas, o inesperado casal agregado de forma clandestina pelo destino aos poucos embarca numa viagem sem rumo ou previsão de chegada, de mãos dadas e olhos cerrados pela nau dos insensatos (ou corajosos). 

O filme é notório por várias polêmicas, desde a maneira peculiar de filmar de Bertolucci, consagrado por títulos como ‘1900’ e ‘Cinema Paradiso’, até a famosa cena da manteiga, que por muitos anos supostamente teria sido verdadeira, na qual a personagem de Marlon Brando simula sodomia com Maria Schneider.

De fato, ainda que não tenha havido intercurso efetivo, soube-se que a cena e suas implicações não haviam sido previamente acertadas, de modo que a reação, surpresa e violação quase literal de Schneider, lamentosamente, são reais. Agressividade humana, covardia, impetuosidade e sentimentos conflitantes são explorados de modo intenso a fim de indicar o grau de egoísmo como mecanismo de defesa, normalmente quando contraposto a uma situação de trauma. 

De um lado, o viúvo rude e de sentimentos intransponíveis não entende a razão do suicídio de sua esposa, mola propulsora a seu rompante de autopunição e revolta dirigida a seu derredor, fetichizada em sua nova companhia, Jeanne. De outro giro, a jovem que tenta se agarrar a um resquício de inocência, vê na figura quase paternal, ao menos aparentemente, uma possibilidade de experimentação. Aos poucos, os jogos conscientes e inconscientes causam sentimentos de afago e sevicia quase concomitantes. 

Em 1972, data da première da produção, é possível entender o burburinho causado pelas cenas picantes entre Brando e Schneider. À época, os controversos ‘Calígula’ e ‘Império dos Sentidos’, primeiros filmes não designados ao circuito pornográfico a exibirem cenas explícitas ainda não haviam sido produzidos, e mesmo posteriormente inseridos no circuito de cinema de arte e composição de elenco consagrado, despertariam grande interesse de público.

 O mundo ainda flutuava entre o cinema exploitation de extremos gráficos pontuais e o florescer de comédias, bem como policiais com temática erótica estadunidense, a partir da relativa liberalidade da era pós Código Heys, que regulamentava o conteúdo das atrações americanas. Ainda que a sexualidade na sétima arte remonte, quase que de forma paralela à invenção do cinetoscópio, lembremos as seletas stag parties do início do século 20, a questão ainda era um tabu nos anos 70. E, quem sabe, ainda o é nos dias de hoje.

A famosa crítica de cinema novaiorquina Pauline Kael, chegou a classificar O último tango… como o mais poderoso filme erótico já feito, dentre outros encômios em sua introdução à edição comentada do roteiro, posteriormente novelizado pelo autor Robert Alley. Trata-se de um romance bem escrito e relativamente fiel ao material original, alterando apenas algumas análises quanto às motivações dos personagens e estendendo ou omitindo pequenas sequências. 

Passadas cinco décadas de sua estreia na noite de encerramento do New York Film Festival, em 14 de outubro de 1972, o filme permanece forte, ainda que não tanto pelas polêmicas, que ainda reverberam, mas pela qualidade interpretativa e coragem do roteiro assinado por Bertolucci e Franco Arcalli. Num misto de desvelar voluntário de fantasias, infligir de dor – a si, ou a outrem – como forma de escapada da realidade, as nuances psíquicas cotejam uma moldura sofistica à história. Se o poder de chocar é facilmente levado a efeito, o fascínio decorrente certamente demanda maiores atrativos, e isso é o que vemos a cada revisão da obra.

Marcus Hemerly

Voltar

Facebook




“Meu sonho nem sempre foi escrever.”

Entrevista com a escritora espanhola María Beatriz Muñoz Ruiz

Logo da seção Entreists
Logo da seção Entrevistas ROLianas

Caros amigos e leitores:

É sempre um prazer poder me comunicar com vocês por meio desta plataforma. Que maravilha saber que estamos conectados, independentemente da distância! Hoje tenho o grande privilégio de apresentar a vocês uma mulher brilhante, uma escritora e poetisa que cativa com sua criatividade; uma amiga, mas acima de tudo, uma mulher com uma alma humanista que admiro muito. Tenho a honra de me comunicar com ela há muitos anos, à distância.

María Beatriz Muñoz Ruiz , também conhecida como Dama Oscura , originária de Granada, Espanha. É autora de mais de 25 livros, entre novelas e poemas. É coautora de CANTO PLANETARIO: HERMANDAD EN LA TIERRA HC Editores, Costa Rica 2023.
Foto: 10 de agosto de 2025. Cortesia.

Ela é María Beatriz Muñoz Ruiz, também conhecida como a Dama Negra, originária da bela cidade de Granada, Espanha. Esta entrevista se concentra mais nas mulheres; embora abordemos o mundo literário, a conversa é breve, mas muito enriquecedora. María Beatriz nos fala sobre sua vida pessoal, suas reflexões sobre amizade e nos conta sobre seu avô, uma pessoa muito querida para ela, que sempre admirou sua escrita. Claro, ela também fala sobre o marido, o primo, a quem considera um irmão, e seus hobbies favoritos. Ela confessa que escrever não foi sua primeira opção de carreira, pois queria estudar algo relacionado à medicina legal ou à saúde.

María Beatriz sempre me surpreende. Tudo o que posso dizer é que a admiro enormemente, pois ela sabe organizar seu tempo para se dedicar à leitura, à família, ao trabalho e até ao TikTok, enquanto cultiva sua paixão pela escrita. Ela escreve poesias, artigos de opinião, crônicas e entrevistas com escritores, poetas e artistas.

Beatriz também é diretora da revista literária e cultural, anteriormente chamada One Stop, que este ano passou por uma mudança significativa, tanto em sua plataforma web quanto em seu nome: agora é One Stop New. Esta revista promove escritores, poetas e artistas de toda a América Latina e além. Ela é responsável pela edição dos artigos e conteúdos recebidos para publicação no site. Convido você a visitar esta revista e mergulhar no fascinante mundo da cultura e da literatura contemporâneas.

María Beatriz também nos conta o que significou para ela fazer parte da antologia de poesia Canto Planetário: Hermandad en la Tierra (Canção Planetária: Irmandade na Terra), HC Editores, Costa Rica, 2023. Ela é autora de mais de 25 livros, entre romances e coletâneas de poesia. Aliás, recomendo a compra de sua coletânea de poesia mais recente, Mariposa de Alas Azules (Borboleta de Asas Azuis), disponível na Amazon em formato impresso e digital (Kindle).

Espero que vocês gostes desta conversa:

Como você se sentiu ao publicar seu primeiro romance?

Meu primeiro romance foi Quando o Destino nos Uniu, e a verdade é que tenho um carinho especial por esse romance porque foi o meu primeiro, porque ousei dar esse passo e porque ele guarda memórias preciosas do processo criativo. Lembro-me de repassar cada capítulo que terminava para meus colegas e da felicidade que sentia no dia seguinte quando os ouvia dizer que precisavam de mais.

Qual a origem do seu pseudônimo Dark Lady?

Quase todos os meus romances são românticos, e digo quase todos porque, quando quero romper com os padrões estabelecidos, me refugio na Dark Lady, meu pseudônimo para ser um tipo diferente de escritora. Todos sabemos que escritores também são rotulados e que mudanças podem não ser agradáveis, e é por isso que criei essa linha de luz e escuridão. Ao longo da minha vida, sempre tive muita consciência dessa moeda de dois lados, a luz e a escuridão que todos carregamos, e é por isso que ela sempre se refletiu em meus romances, poemas e artigos de opinião.

O que você buscou transmitir ou criar por meio de seus romances?

Em relação aos meus romances, eu queria criar um mundo mágico onde o amor sempre triunfa. Espero que, quando o leitor voltar para casa após um dia difícil, leia meu romance e seja transportado para um mundo cheio de aventura, paixão, erotismo e amor.

O que você pode nos contar sobre seu romance ‘Glam Girls Wanted’?

Como já disse, tenho um carinho especial pelo meu primeiro romance, mas, entre todos os meus romances, também tenho um romance de estreia em um gênero que nunca usei antes: comédia. Refiro-me a ‘Wanted: Glam Girls’. Este romance é muito especial para mim porque é inspirado nas minhas colegas de trabalho, aquelas que sempre me fazem sorrir e com quem eu iria a qualquer lugar do mundo.

Na minha opinião, não existem trabalhos fáceis ou difíceis; existem colegas fáceis ou difíceis que fazem você amar seu trabalho ou odiá-lo, e graças às minhas Glam Girls, vou trabalhar todos os dias com um sorriso. Obrigada, Lore, Isa, Encarni, Vane, Vero, Leo, Debo e Nadia, porque escrever este romance foi uma aventura inesquecível da qual vocês participaram sendo vocês mesmas, únicas e incomparáveis.

Que emoções ou sensações você experimenta ao escrever poesia?

Quanto aos meus poemas… devo confessar que são bastante profundos e, na maioria das vezes, carregados de tristeza e melancolia. A razão para isso é que, quando sinto a tristeza apertando meu peito e formando um nó que me sufoca, preciso extravasar essa dor. Logicamente, isso poderia ser considerado uma espécie de terapia, mas sinto como uma tábua de salvação que me permite renascer repetidamente, permitindo-me continuar mantendo minha essência sem me afogar naquele poço profundo e escuro que às vezes me consome. Luz e sombra, sempre mantenho essa luta incessante entre meus dois eus. Minha nova coletânea de poemas, ‘Borboleta de Asas Azuis’, é um exemplo da minha luz e sombra, uma coletânea que dedico a pessoas que têm dias azuis, mas silenciosamente batem as asas e voam alto apesar de tudo.

Como você descreveria seus poemas e artigos de opinião?

Assim como em meus romances, poemas e artigos de opinião, revelo cada um dos meus estados de espírito em um dado momento. Em meus artigos, sou crítico, filosófico e, às vezes, bastante direto. Ao longo dos anos, meus artigos evoluíram e mudaram comigo, porque as pessoas mudam, e o que você pensa sobre um assunto hoje pode ser diferente do que você pensa amanhã. Nunca me contradigo; evoluo, certo ou errado, mas evoluo porque as rugas da alma fazem você aprender e mudar.

Você desprezaria alguma religião? Por quê?

Estudei em uma escola católica e, embora com o passar dos anos e devido a certas circunstâncias da vida, tenha deixado de ser católico, jamais desprezarei uma religião fundada no conceito fundamental do amor. Em um dos meus artigos, eu disse que não mudaria nada no meu passado, já que cada etapa me fez quem eu sou, e não quero ser outra pessoa, então não apagaria nada do meu passado, já que cada caminho me ensinou algo.

Jamais entenderei pessoas que acreditam possuir a verdade e a sabedoria infinita por pertencerem a uma determinada religião. A base de qualquer religião é o respeito, e para quem tem dúvidas, tolerância não é o mesmo que aceitação e respeito. Por que não pode haver um mundo onde todas as crenças sejam respeitadas e possamos viver juntos em paz? Bem, que absurdo eu acabei de dizer depois de ver um mundo em guerra onde a vida humana é tão pouco importante.

Você pode compartilhar alguma anedota ou lembrança especial sobre seu avô?

Meu avô foi uma das pessoas mais importantes da minha vida. Ele compartilhava meu amor pela literatura. Ainda me lembro dele chegando em casa com o último romance de uma nova coleção que estava saindo, que ele sabia que eu devoraria em dois dias. Ele era a alegria em pessoa, uma paciência infinita e a pessoa que sempre estava lá para mim. Meu pai me lembra muito meu avô; paciente, silencioso, mas sempre presente quando preciso dele.

Sempre que penso no meu avô, nos bons momentos e no seu sorriso cativante, uma lembrança dolorosa me vem à mente: nunca consegui me despedir dele porque os médicos me avisaram que, na minha condição, era perigoso ir ao hospital e que eu poderia entrar em trabalho de parto prematuro e perder meus bebês. Por eles, eu dei e daria tudo. Meus gêmeos Guillermo e Paula ainda são e sempre serão minha prioridade, mas aquele pequeno detalhe marcou minha vida. Senti falta de dizer a ele o quanto o amava e de lhe dar um abraço apertado.

Você se considera mais uma pessoa solitária ou voltada para a família?

Não sei se já expressei isso em meus escritos, mas, apesar de ter uma alma solitária, sou extremamente voltada para a família. Eles sempre foram o pilar sobre o qual me sustentei e que me apoiaram, não importa o que eu faça. Às vezes, penso que minha alma está presa neste mundo e nesta vida por causa de todas aquelas pessoas que dizem ‘eu te amo’.

A palavra ‘eu te amo’ é a palavra mais poderosa do mundo e a que mais nos prende à terra.
Quando dei à luz meus gêmeos, sofri de depressão pós-parto grave. Eu não queria continuar vivendo e, naquele momento, meus filhos foram os que me salvaram. É por eles que continuei vivendo e é por eles que me levanto repetidamente e continuo caminhando, apesar das minhas feridas.

Quando sinto que o mundo não me entende, ou que sou eu quem não entende o mundo, eu amo a solidão. Eu gostaria de me trancar na torre mais alta e que ninguém me incomodasse. Eu gostaria de desaparecer, de ser invisível e que o mundo me esquecesse. Então, para responder à sua pergunta: eu sou as duas pessoas: a solitária e a voltada para a família. Sou sempre dois lados da mesma moeda, mas sempre mostro um lado para não preocupar os outros nem dar explicações. Eu sempre escalo a montanha com minha mochila cheia de pedras e, em algum momento do caminho, consigo deixar algumas cair e recuperar o fôlego para continuar.

Como seu marido influenciou sua vida?

Meu marido também teve uma grande influência na minha vida. Ele sempre foi quem me deu aquele empurrãozinho de que eu precisava quando minha insegurança me impedia. Nós nos conhecemos em 15 de agosto em um casamento. Eu estava sentada, meio forçada, em uma mesa onde estava o público mais jovem. Eu odeio quando as pessoas fazem coisas assim, mas graças a isso, conheci a pessoa com quem compartilho minha vida hoje. De um canto da mesa, ele me observou soprar o gaspacho frio que eu pensava ser consomê. Olhei ao redor e pensei que ninguém tinha me visto. Respirei aliviada, mas houve alguém que não deixou de notar aquele gesto. Meu marido se apaixonou por mim naquele momento constrangedor, como se fosse eu, e estamos juntos desde então. Quem nos conhece sabe que somos opostos, mas isso nos complementa e nos mantém caminhando juntos neste caminho, que às vezes foi repleto de dificuldades que superamos.

Como você se descreveria e quão seletiva você é com seus amigos?

Sempre fui uma garota alegre e extrovertida, mas, acima de tudo, sempre fui seletiva. Se não gosto de alguém, me afasto. Nesse aspecto, continuo a mesma: não gosto de confrontos e, com o tempo, percebi que preciso me manter longe de qualquer coisa que afete minha paz de espírito. Por isso, atualmente me cerco de pessoas que realmente contribuem para mim. Não gosto de grupos grandes de amigos; Prefiro um grupo pequeno com quem eu possa ter uma conversa interessante.

Em dado momento, você menciona um primo que foi como um irmão para você. Qual foi o momento mais especial que você e seu primo compartilharam durante a infância?

Sou filho único, mas, como mencionei antes, pertenço a uma família muito unida, então, para mim, meu primo Jesús, filho da minha tia materna, foi como um irmão. Passávamos o dia juntos e, mesmo em certas ocasiões, quando nossos pais nos deixavam com os avós, morávamos juntos. Meu primo e eu discutimos como irmãos, compartilhamos risadas, segredos e uma vida inteira juntos. Para os filhos dele, sou tia María, e para os meus, ele é tio Fandi.

Não sei se se pode dizer que foi o momento mais especial, mas é o que me lembro com carinho. Então, se eu tivesse que escolher um momento, seria o dia do meu casamento. Ele estava sempre ao meu lado e fazia parte da cerimônia, carregando as alianças. Mas me lembro especialmente de quando saímos da igreja e ele me abraçou. Aquele abraço marcou um antes e um depois. Foi como dizer adeus à vida que tínhamos conhecido até então. E embora minha vida permanecesse quase a mesma, tudo mudou. Foi um adeus àquela infância compartilhada.

Por que você se chama María para sua família e Bea para todos os outros?

Sim, eu me referia a mim mesma como María, mas, na realidade, apenas minha família me chama de María. Para todos os outros, eu sou Bea. E tudo isso graças à ideia da minha mãe de colocar M. Beatriz no meu babador da escola. Imagine a cara da minha mãe quando lhe disseram que, se a filha dela fosse surda, ela não responderia pelo nome quando a chamassem. Então, desde pequena, descobri que para minha família eu sempre seria María, e para todos os outros, Beatriz.

Apesar do seu grande interesse pela mente humana e pela área da saúde, o que a levou a descobrir que medicina não era a carreira certa para você?

Escrever nem sempre foi meu sonho. Quando eu estava decidindo sobre um curso universitário, eu queria cursar medicina forense. Graças a Deus não consegui a nota necessária, porque acho que não teria gostado. A verdade é que sempre amei Medicina, então queria superar esse problema me formando em Auxiliar de Enfermagem e Auxiliar Psiquiátrico. Devo dizer que sou apaixonada pela mente humana. Parece um mundo incrível e imprevisível para mim. Mas recentemente descobri que não seria capaz, pois tenho muita empatia pelas pessoas e tenho dificuldade em ver alguém sofrer. Então, depois de estudar várias coisas na área da saúde, descobri que simplesmente adoro aprender, mas não tenho vocação para isso.

No meu trabalho atual, certa manhã, uma idosa caiu na escada rolante, acho que devido a um derrame. Corri do outro lado, e uma cliente, que era enfermeira, e tentei mantê-la viva até a ambulância chegar. Talvez minhas palavras de conforto tenham sido as últimas que ela ouviu, pois soube que ela havia morrido no hospital. Não é que eu seja inapta para o trabalho; É que, no fim das contas, a tristeza dos doentes não me deixava ser feliz. Não suporto perder pessoas e sei que também não conseguiria fugir daquele momento. Eu seria do tipo que seguraria a mão delas e não soltaria, mas isso acabaria comigo.
Também adquiri bastante formação em educação infantil e psicologia infantil, mas não sei se algum dia terei coragem de descobrir se teria paciência para fazer esse trabalho.

Quais aspectos do trabalho como Técnico de Consumo você achou mais gratificantes e quais desafios encontrou ao trabalhar como Gerente de Comunidade em gerenciamento de mídias sociais?

O que eu gostava de estudar e praticar era Técnico de Consumo. Adoro lidar com pessoas, sou bom em atendimento ao cliente e gostei desde o início, mas infelizmente não há muito trabalho nessa área.
Fiz meu curso de Gerente de Comunidade em uma instituição particular e, apesar de gostar e ter formação em marketing digital, reconheço que as mídias sociais são extremamente desgastantes e podem ser um trabalho complicado nesse sentido. Eu adoro marketing digital; é um pouco como psicologia, uma forma de dar visibilidade ao seu conteúdo e fazê-lo aparecer nos mecanismos de busca do Google. É um desafio constante e uma vitória se alcançado.

Atualmente, estou cursando aperfeiçoamento em marketing digital pela Universidade de Vitoria-Gasteiz e aplicando meu conhecimento à minha revista cultural, One Stop New, anteriormente chamada One Stop.
O One Stop foi o início de um projeto lindo que cresceu, como tudo na minha vida, daquela frase que costumo dizer: “Se os outros podem, eu também posso”. Foi um projeto que comecei com o apoio das minhas amigas Carmen Mari e Carol, e ao longo do caminho conheci uma das pessoas que mais me ajudaram na minha jornada literária. É você, querido Carlos Javier, que se tornou um ícone cultural e me guiou nesta jornada incansável.

José Luis Ortiz também faz parte desse grupo de amigos que aparecem e oferecem apoio incondicional. Paloma Albarracín também estava lá no início do One Stop, e sempre serei grata por seu apoio.
Sempre serei grata a todos que me incentivaram no começo e acreditaram em mim. Sinto-me afortunada por sempre ter estado cercada de pessoas boas.

Quais aspectos do trabalho como Técnico de Consumo você achou mais gratificantes e quais desafios encontrou ao trabalhar como Gerente de Comunidade em gerenciamento de mídias sociais?

O que eu gostava de estudar e praticar era Técnico de Consumo. Adoro lidar com pessoas, sou boa em atendimento ao cliente e gostei desde o início, mas infelizmente não há muito trabalho nessa área.

Eu me formei em Gerente de Comunidade em uma instituição particular e, apesar de gostar e ter formação em marketing digital, reconheço que as mídias sociais são extremamente desgastantes e podem ser um trabalho complicado nesse sentido.

Eu adoro marketing digital. É um pouco como psicologia: uma forma de dar visibilidade ao seu conteúdo e fazê-lo aparecer nos mecanismos de busca do Google. É um desafio constante e uma vitória se conquistada.

Atualmente, estou cursando especialização em marketing digital na Universidade de Vitoria-Gasteiz e aplicando meu conhecimento à minha revista cultural, One Stop New, anteriormente chamada One Stop.

One Stop foi o início de um projeto lindo que cresceu, como tudo na minha vida, daquela frase que costumo dizer: “Se os outros podem, eu também posso”. Foi um projeto que comecei com o apoio das minhas amigas Carmen Mari e Carol, e ao longo do caminho encontrei uma das pessoas que mais me ajudaram na minha jornada literária. É você, querido Carlos Javier, que se tornou um ícone cultural e me guiou nesta jornada incansável.

José Luis Ortiz também faz parte desse grupo de amigos que aparecem e oferecem seu apoio incondicional. Paloma Albarracín também estava presente no início de One Stop, e sempre serei grato por seu apoio.

Sempre serei grato a todos que me incentivaram no início e acreditaram em mim. Sinto-me afortunado por sempre ter estado cercado de pessoas boas.

O que você acha da amizade?

Sempre acreditei que as pessoas aparecem na sua vida no momento certo e desaparecem para reaparecer na vida de outras que podem precisar mais delas. É por isso que me lembro com carinho daqueles amigos que, por obra do destino, seguiram outros caminhos. Tive muitos bons amigos na vida, e ainda os tenho hoje, mas sempre houve uma amiga que esteve sempre ao meu lado quando precisei. Essa é a Soraya. Uma daquelas amizades que, não importa quanto tempo passe, quando nos encontramos, parece que nos vimos no dia anterior. Somos Sininho e Periwinkle, amigas de bebidas, lágrimas, risos e segredos.

Conte-nos sobre seus hobbies favoritos.

Quando me perguntam sobre meus hobbies, sempre tive dificuldade em responder brevemente. Sempre quis fazer tudo, mesmo que não fosse bom nisso, mas também me canso rapidamente e costumo experimentar outras coisas. Adoro andar de skate, mas desisti quando soube que nunca aprenderia, então lá estão meus patins inline no armário, lindos e brilhantes. Também tentei andar de skate, mas tive o mesmo problema, então troquei para um patinete com guidão, e eu era bom nisso, mas aí surgiram os elétricos, e não vou mais andar neles.

Consigo jogar tênis e sinto vontade de me espremer um pouco de vez em quando, mas não gosto de correr muito, então, se não for em duplas, me caso depois de vinte minutos. O padel me estressa, e não consigo bater na bola com aquela raquete pequena; prefiro uma raquete de tênis.
Claro, adoro dançar qualquer coisa e sou boa nisso, então, seja qual for o tipo de música dançante ou não, meu corpo se move e se adapta a qualquer ritmo.

Adoro desenhar. Aliás, não me matriculei em Belas Artes na universidade porque havia pouquíssimas oportunidades de emprego, mas sempre me arrependerei, pois poderia ter sido muito boa nisso. Até pintei alguns quadros no estilo mangá para meus amigos.

Adoro plantas e ler sobre suas propriedades curativas e mágicas. O curioso é que costumo gostar de plantas simples, aquelas sem flores chamativas, aquelas que passam despercebidas por serem simplesmente maravilhosas do jeito que são.

Meu maior hobby, como você pode imaginar, é ler. Desde pequena, devoro livros. Certa vez, perdi a noção do tempo na biblioteca da escola. Trancaram as portas e eu não consegui sair, então meus pais quase chamaram a polícia.

O que você acha da velocidade com que seu cérebro conecta milhões de ideias e como essa capacidade afeta sua percepção do mundo e sua concentração?

Não sei se isso pode ser considerado um defeito ou uma virtude, mas meu cérebro muitas vezes age de forma diferente dos outros. Em milissegundos, consigo conectar milhões de ideias rapidamente, apenas para, de repente, ser absorvido por algo, e o mundo deixa de existir para mim. Acho que é por isso que consigo me concentrar em meio ao caos e criar o caos dentro do silêncio.

O que você acha da velocidade com que seu cérebro conecta milhões de ideias e como essa capacidade afeta sua percepção do mundo e sua concentração?

Não sei se isso pode ser considerado uma falha ou uma virtude, mas meu cérebro frequentemente age de forma diferente dos outros. Em milissegundos, consigo conectar milhões de ideias rapidamente e, de repente, me absorvo em algo, e o mundo deixa de existir para mim. Acho que é por isso que consigo me concentrar em meio ao caos e criar o caos dentro do silêncio.

O que significou para você fazer parte da antologia CANTO PLANETARIO?

Obrigada, querido Carlos Jarquín, por me convidar para esta experiência incrível de fazer parte do Canto Planetario, que é uma maravilhosa coletânea literária com autores dos cinco continentes que se unem em um grito de socorro pelo nosso planeta. Foi maravilhoso fazer parte de algo tão grandioso e belo, um projeto que exigiu muito trabalho e resultou em uma referência literária. Dizem que o destino coloca pessoas no seu caminho que te acompanham e te ajudam ao longo do caminho. Uma dessas pessoas é ele, pois pude conhecer pessoas maravilhosas e crescer na minha carreira graças à sua ajuda.
Sobre o nosso planeta, devo dizer que amo os animais. Suas almas são melhores que as dos humanos. Eles não esgotariam os recursos do planeta como nós. Até os animais mais selvagens caçam para sobreviver. No entanto, os humanos são predadores, tanto de si mesmos quanto do planeta, simplesmente por ego.

No link a seguir, María Beatriz Muñoz apresenta seu livro mais recente, intitulado ‘Mariposa de alas azules‘ (Borboleta de asas azuis), disponível na Amazon:

Carlos Javier Jarquín

Voltar

Facebook




A poesia de Brenda Beauvoir

Marta Oliveri

A poesia de Brenda Beauvoir – Uma poética além da palavra

Logo da seção Entrevistas ROLianas
Logo da seção Entrevistas ROLianas
Brenda Beauvoir - Arquivo pessoal
Brenda Beauvoir – Arquivo pessoal

Como uma epopeia íntima e existencial, é a obra de Brenda Beauvoir notável estatura poética que surge em um universo desbordante, atravessando territórios de imensa beleza. A autora entelaça mitos e imagens oníricas em uma saga pessoal. Seu mundo percorre as metáforas de Prometeu, os grandes mitos de todos os tempos, os ausentes, as dores dos tempos presentes e os passos de fluir com a oscilação do rio de Heráclito. Utopias que afloram e se eclipsam, sonhos, sombras, fantasmas que nascem e se prefiguram como parte de uma história que trascende à poeta.

Brenda Beauvoir escreve em seu poema ‘Portas do labirinto’: “Não permitas que o esquecimento construa na humanidade uma nave de perenes ocasos e sombras nos infinitos crepúsculos sombrios, onde as horas morrem numa letargia.” Aqui a autora expressa a dor do esquecimento que assola a humanidade e determina de alguma maneira o estado de coisas que nos emergem no apocalipse que atravessamos nestes tempos escuros.

Outra figura notavelmente significativa em sua poética é a de Prometeo. Aqui estão as citações neste texto particularmente paradigmático em sua obra: “Prometeu se aproxima sem ladainhas, e nesses silêncios de partir o coração não consigo ver o destino ou a luz sagrada que os antigos celtas proclamaram”. O mundo se acumula nos pés de uma humanidade de sangue. E vazio de sombras e um presságio que não se dissipa e que não deixa ver a luz, me envolve como uma serpente que destruiu o universo da humanidade das tempestades fulminantes em que o próprio ser humano destruiu alevosamente seus sonhos.

Em síntese, Brenda Beauvoir se manifesta com dolorosa beleza em um registro épico e melancólico. A expressão clara de seu compromisso com a realidade que o acecha e nós aceitamos a todos, uma realidade que travemos ao poeta de maneira profunda e dolorosa. Sua expressão é a clara determinação de uma rebeldia, sua potência de verbo que se eleva por cima de todas as contingências na eternidade da palavra.

Trajetória de Brenda Beauvoir

Brenda Beauvoir - Arquivo pessoal
Brenda Beauvoir – Arquivo pessoal

Brenda Beauvoir é uma escritora argentina reconhecida em Buenos Aires. Foi criada como professora de língua e literatura em ensino secundário. Publicou uma ampla variedade de obras literárias, entre as quais se destacam títulos como ‘Cecilia. O rosto das sombras’, ‘As cartas’, ‘Assassinatos na noite’, ‘Nahla’, ‘Voz da Ausência’ e ‘Exegese do Esquecimento’, prologado pela candidata argentina ao Prêmio Nobel de Literatura Martha Oliveri. Sua obra foi reconhecida com vários prêmios e distinções, como a Menção de Honra da Sociedade Argentina de Escritores e o Prêmio Atrezo, entre outros.

Conversa com Brenda Beauvoir

MO: Como você descobriu sua paixão pela poesia e por que você se dedicou a ela?

BB: Desde a menina descobriu que a poesia é parte de minha misma e como decía Jorge Luis Borges à medida que um va transitando o labirinto da vida em qualquer surgimento de dores, instantes felizes, alegrias e todas as misérias que vemos neste remetente que transitamos sem argila para moldar a obra literária.

MO: Qual foi o momento ou experiência que a inspirou a começar a escrever poesia?

BB: Talvez o próprio labirinto. Talvez a felicidade e as sombras…

MO: Como você descreve seu processo criativo e como trouxe as ideias e temas que tratam em seus poemas?

BB: Eu descreveria isso como uma evolução constante do ser, sempre apoiada por filósofos, como foi o caso da minha última coletânea de poemas, “Exegese do Esquecimento”, mas uma única palavra basta para que um poema surja.

MO: Que influências literárias ou pessoais tiveram um impacto significativo em sua obra poética?

BB: Ter estudado literatura como professora me conectou com muitos autores; a princípio, parecia apropriado brincar com metáforas e recursos estilísticos. No entanto, como filha de imigrantes, acredito que a dor e o deslocamento podem ser ferramentas tão valiosas quanto o conhecimento.

MO: Como você vê o papel da poesia na sociedade atual?

BB: A poesia é um reflexo da sociedade, um espelho que mostra a realidade e a complexidade da condição humana.

MO: Como você vê seu lugar no mundo da literatura e o que a motiva a continuar criando?

BB: Eu vejo como um lugar abstrato em todos os sons e melodias fluentes que se elevam até o infinito no qual a obscuridade se converte em luz e em todo o mágico que pode dar ao universo da poesia e da palavra.

MO: Que influências literárias ou pessoais tiveram um impacto significativo em sua obra poética?.

BB: Ter estudado como professora de Literatura me conectou com muitos autores. No início, certamente parecia brincar com metáforas e recursos estilísticos, porém, e sendo filha de imigrantes, acredito que através do desenraizamento podemos ser uma ferramenta valiosa como o conhecimento que nos elevará, sempre foi usado para nos reconstruir e dar uma mensagem de resiliência e esperança à humanidade que

M.O.: Qual o papel que você acha que a poesia desempenha na sociedade atual e como ela pode influenciar a consciência coletiva?

B.B.: Não acho que ela desempenhe um papel tão preponderante quanto no século passado, mas desempenha. E é nossa tarefa, como trabalhadores culturais, reacender a chama eterna da poesia neste mundo tão desumanizado e carente de valores espirituais.

MO: Algum projeto ou tema específico que você está trabalhando para compartilhar com seus leitores?.

BB: Claro. Me angustiei profundamente as guerras no mundo inteiro e revivei o horror do holocausto na Segunda Guerra Mundial… Meu trabalho como fazedor da cultura é sempre pedir pela paz e pela união dos povos e que ninguém seja humano na parte da terra, cause sofrimento a outro mar da razão que fuere.

Meu último trabalho é uma novela titulada PALESTINA. Ruínas de um espanto anunciado e espero que através de todos eles tomemos consciência porque a este passo o ser humano será destruído por completo.

Epílogo

As palavras estão aqui

Queda da sombra de uma pergunta… É possível que a poética possa resgatar a obscuridade destes tempos, a esperança de uma nova humanidade? Se fizer à noite um raio de luz irradiar sua metáfora através da janela

A aurora é agora uma ideia que a alma do poeta abriga na luz do verbo Próximo.

Marta Oliveri

Voltar

Facebook




Unindo pontes: a música como idioma universal

“Entrar no ateliê do meu avô e, antes mesmo de vê-lo trabalhando em uma de suas pinturas, me sentir envolvido pela música sinfônica que o acompanhava e o ‘inspirava’, junto com o aroma das tintas a óleo que tornavam o ambiente mágico.”

.

Logo da seção Entrevistas ROLianas
Logo da seção Entrevistas ROLianas

Naqueles tempos em que a noite caía e o mundo era uma fantasmagoria de máscaras vagando pelas ruas, e o abraço, uma utopia emergia magicamente do espaço virtual de uma tela. Um conjunto de vozes angelicais, vozes curativas, poesia e música em uma harmonia que definia os estados de espírito de uma época ou tempo que parecia interminável e condenado ao abismo. Aqueles coros virtuais, regidos pelo maestro Esteban Tozzi, nos ancoravam mais uma vez à esperança. A música dava à sensibilidade humana o que ela tanto precisava: o calor que não podíamos dar uns aos outros, o abraço que não podíamos dar a nós mesmos. E através das vozes, laços invisíveis eram criados, laços de luz que aqueciam os lares, às vezes solitários, daqueles que viviam em inevitável reclusão.

Biografia de Esteban Tozzi

Esteban Tozzi
Esteban Tozzi

Esteban Tozzi nasceu em Avellaneda, Buenos Aires, Argentina, em 1962. Estudou no Conservatório Manuel de Falla e na Escola de Música Popular de Avellaneda. Estudou violão com Ernesto Videla e Roberto Lara, piano e canto com Alicia Várady, arranjo e orquestração com Juan C. Cirigliano e contraponto e estilo com Leandro López Várady. Estudou também com Werner Pfaff, da Alemanha.

Carreira Musical
É escritor e compositor de canções, música para teatro, marionetes e outros gêneros, em diversos gêneros. Suas notáveis ​​obras, ‘Serenata al Sur del Riachuelo’ e ‘La Sal de mi Tierra’, juntamente com o poeta Horacio Ramos, foram declaradas de interesse municipal pelo Honorável Conselho Deliberativo da cidade de Avellaneda e pela Honorável Câmara de Deputados da Província de Buenos Aires. Essas obras foram lançadas em CD e em livro correspondente.

Esteban Tozzi
Esteban Tozzi

Regência Coral
É autor e compositor de inúmeras obras e arranjos para coro misto, incluindo canções populares e clássicos tradicionais, tango, folclore, obras sacras, canções infantis e espirituais negras, que são interpretadas por grupos em todo o mundo. Fundou e regeu diversos corais, incluindo o Coro de Câmara Allegro de Lomas de Zamora e, desde 1999, o Ensaio Coral de Avellaneda, grupo que dirige atualmente e que leva o nome da cidade que representa, com alta qualidade musical em todo o país.

ECAVAL
Durante a quarentena da pandemia de 2020, fundou o coral internacional ECAVAL — o Encontro Coral Virtual Aberto da América Latina — com mais de 40 cantores da Argentina, Chile, Cuba, Colômbia, Venezuela, México, República Dominicana e Espanha, com quem publicou 20 obras.

Conversando com Esteban Tozzi:

MO: Como a música surgiu como expressão em sua vida no início?

E T: Eu nunca soube. Suponho que foi minha mãe que ouviu todos os tipos de música na minha sala desde criança: folk, clássica, popular, Beatles… Entrar no ateliê do meu avô e, antes mesmo de vê-lo trabalhando em uma de suas pinturas, me sentir envolvido pela música sinfônica que o acompanhava e o ‘inspirava’, junto com o aroma das tintas a óleo que tornavam o ambiente mágico. Desde muito jovem, senti que a vida sem arte seria muito difícil de suportar.

MO: Você acha que houve uma evolução ao longo do tempo e quais foram os fatores determinantes na sua carreira?

ET: Com certeza! Comecei estudando violão e compondo algumas canções de amor impossíveis durante meu despertar emocional. Na adolescência, lembro-me das minhas visitas às então famosas lojas de discos de música clássica no centro de Buenos Aires, escolhendo e descobrindo aquela ‘música apaixonante e inatingível’ enquanto, por outro lado, formava minhas primeiras bandas nacionais de rock e, depois, de música folclórica popular.

MO: Quais aspectos você considera decisivos na sua carreira?

ET: Mais tarde, percebi que tinha algo a dizer e que o que eu buscava era escrever, compor música, mais do que executá-la. Decidi, então, estudar piano, esse instrumento maravilhoso onde a orquestra parece residir, e onde você pode ver e tocar todas as notas possíveis. Sempre fui fascinado por harmônicos, mais do que por ritmos, e pela voz humana como a ‘síntese fatal’ da expressão musical. Então, um dia, ouvindo um coral a cappella muito bom ao vivo, descobri que era isso que eu queria — talvez o que eu devesse — fazer: compor, tocar. Ou seja, dedicar-me à música vocal, e especialmente à música coral a cappella.

MO: Como você conseguiu conciliar sua paixão pela regência coral com a composição musical e o que a inspirou a criar música para corais?

ET: Ouso dizer que foi o contrário: minha paixão por compor, por escrever música, me levou a criar meu próprio coral e, assim, poder executar minhas obras.

M O: Você acha que o trabalho em conjunto na música coral promove uma atitude relacionada à busca pela harmonia, tanto no sentido musical quanto em um sentido mais amplo?

E T: Claro, eu acho. Acredito firmemente que é impossível realizar uma performance musical que expresse algo profundo sem que o grupo se sinta, por sua vez, unido e unido; com uma dedicação absoluta que sempre reflete o que foi compartilhado, trabalhado e apreciado em cada ensaio. E, além dos ensaios, os grupos corais compartilham viagens, encontros, comida, risadas e muito mais do que apenas música.

MO: Se você tivesse que definir sua carreira musical, que mensagem acha que está deixando por meio do seu trabalho?

ET: “Nunca busquei a glória”, disse o poeta, mas, admito, talvez eu tenha “deixado minha canção na memória dos homens”. Há alguns anos escrevi para minha filha, a caçula, que despertava para esse milagre de decidir por onde tentaremos caminhar (não gosto da palavra “carreira”), uma canção que termina com estas palavras: “Voe e saiba que uma noite, uma noite eu não estarei mais lá. Você sabe disso, não há reprovações: na sua voz, no seu amor, no seu ardor, nessa estrelinha que se ilumina, eu viverei.” Assim, cada um de nós deixa sua pequena pegada, para quando não estivermos mais aqui. Se alguma das canções que compus ainda estivesse tocando por aí, depois do depois, terei cumprido meu dever comigo mesmo e com meus semelhantes.

VejaMais

ESTAMOS‘ (F. Delgado-E. Tozzi) Ensayo Coral de Avellaneda -dir. E. Tozzi- https://www.youtube.com/watch?v=b92zwVGzkdE

‘ANGELE DEI‘ (E. Tozzi) CORO ALBERTO GINASTERA – maestro. Roberto SACCENTE
https://www.youtube.com/watch?v=FCHhSTzItVs

BALADA PARA MI MUERTE’ (Ferrer-Piazzolla) arr: Esteban Tozzi – English lyrics in description
https://www.youtube.com/watch?v=b-RCYxyJCWA

‘PALABRAS’ (F. Delgado-E. Tozzi) – ECAVAL – coro virtual
https://www.youtube.com/watch?v=bb_JVgahCR0

CANCION PARA DORMIR A MIS CACHIVACHES‘ (Marta Oliveri-E.Tozzi) Niños D. Zípoli – dir. Jorge Colnago)
https://www.youtube.com/watch?v=jkFlTQwWpAQ

Marta Oliveri

Voltar

Facebook




Um caminho para a inclusão

‘Um caminho para a inclusão: educação, arte e consciência’

Logo da Seção Entrevistas ROLianas
Logo da Seção Entrevistas ROLianas

Entrevista com o intelectual, romancista, poeta, contista e ensaísta Mario Giacone

Mario Giadone
Mario Giadone

Mario Giacone é um humanista que percorreu diversos caminhos, abrangendo a psicologia diferencial e a literatura, personificando o ideal renascentista do ser humano integral, que abrange múltiplas disciplinas e facetas.

Ele é formado em Psicologia Diferencial e foi diretor de diversas escolas de educação especial. É também poeta, ensaísta e contista, o que reflete sua versatilidade e paixão pela literatura e pela educação.

Conversa com Mario Giacone

M.O.: Como surgiu a necessidade humanística que o levou a desempenhar um papel tão significativo na sociedade?

M.G.: Acredito que exista uma inclinação natural no ser humano, não sei se é genética ou ambiental, e, felizmente, desde a infância estive cercado de profissionais dedicados às humanidades que me proporcionaram educação, tanto por meio da minha família, quanto por meio dos meus amigos, educadores e de toda a comunidade que conheci ao longo do ensino fundamental, médio e superior.

M.O.: Qual você considera ter sido o momento mais significativo em sua carreira como humanista, professor, professora ou diretora de escolas de educação especial?

M.G.: Tive contato com diferentes ambientes e trabalhei com grupos interdisciplinares. Isso me ajudou a reabilitar crianças e jovens para que pudessem se integrar à sociedade como indivíduos.

M.O.: Você acredita que a educação, nesse sentido, deve ser um processo de evolução tanto cultural quanto política?

M.G.: Há interação — pelo menos deveria haver — entre profissionais, instituições e pacientes. A situação das crianças com deficiência é justamente o ponto-chave: a aceitação ou rejeição de jovens e crianças com essas características para sua possível integração em uma sociedade que muitas vezes os discrimina e os rotula.

M.O.: Estamos falando da integração da humanidade em todas as suas formas. Você considera a arte uma forma de desenvolvimento e crescimento para o ser humano?

M.G.: Eu poderia responder com exemplos. Muitos artistas literários e visuais sofreram com problemas de saúde mental e dificuldades com suas habilidades sensoriais e motoras. É o caso de Milton, que era cego; Dostoiévski, que era viciado em jogos de azar e alcoólatra; e Van Gogh, a quem foi atribuída uma forma de esquizofrenia em seus últimos momentos e cometeu suicídio.

Em outras palavras, os artistas também são afetados por essas questões, e elas não os impediram de desenvolver seu trabalho artístico. Pelo contrário, eles contribuíram porque sua inspiração vinha de sua intimidade e subjetividade.

Toda essa questão da deficiência ou da diferença pode ser perfeitamente integrada à arte. Temos isso em nossos centros psiquiátricos, onde os pacientes desenvolvem suas habilidades artísticas com bons resultados e produzem obras de primeira classe.

M.O.: Como o poeta, o escritor, o ensaísta emergiu em você? Você considera que abordar a arte como forma de expressão faz parte da sua integridade como humanista?

M.G.: O meu pensamento humanista está focado na própria humanidade… se olharmos para isso, embora possa parecer redundante, também o expresso na produção literária… em qualquer género… onde se revelou com mais precisão foi no ensaio… no meu último livro, ‘Uma Utopia Possível’… diferentes aspetos desta busca são demonstrados… tanto nos artistas como em outras atividades humanas… bem, também na minha poesia… porque desejo expressar as necessidades humanas individuais em primeira pessoa.

M.O.: Acha que a integração de todos estes aspetos pode gerar o preâmbulo de um novo homem?

M.G.: Sim, integração… se isso acontecesse em grupos… em grupos diferentes… artistas, intelectuais… e se houvesse uma vontade comum e coletiva… nesse caso, isso resultaria na possibilidade de uma verdadeira mudança… um novo homem é o nascimento de um Homem com M maiúsculo… mas isso tem de vir da consciência individual… uma mudança dentro de cada pessoa… não apenas dentro do intelectual ou do artista… mas também dentro de toda a comunidade.

E isso é revelado pelos aspectos fundamentalmente morais da consciência coletiva… porque é disso que se trata, em última análise, a nova humanidade.

A noite cai em Buenos Aires, o frio revela o nascimento do inverno que se aproxima diante da mudança das estações… Eu me pergunto se existe a possibilidade de a humanidade encontrar verdadeiramente sua consciência. Dentro desta paisagem sombria de guerras e distopias absurdas, este desafio proposto pela esperança seria uma empreitada ousada.

Mario Giacone: Carreira e Trabalho

Perfil Profissional

  • Bacharel em Psicologia
  • Trabalho com crianças e jovens em ambientes de educação e assistência especial
  • Intelectual, romancista, poeta, contista e ensaísta

Prêmios e Reconhecimentos

  • Prêmio Buenos Aires Pedía da Direção Geral de Cultura, 1971
  • Primeiro Prêmio, Editorial Creadores Argentinos, por “Conjeturas” (poesia)
  • Menção Honrosa Internacional da Rádio França pelo conto “Generaciones”

Obras Publicadas

  1. Os Meninos de Rua (comédia, 1971) – escrito em parceria com Celia Zorzolli
  2. Conjecturas (poesia, 2012) – premiado com o primeiro prêmio
  3. Passagens (poesia)
  4. A Sentinela (ficção, 2023)
  5. A Utopia Possível (ensaio, 2023)
  6. Beats (poesia digital, 2023)

Estilo e Temas

  • Gêneros: poesia contemplativa, contos com enfoque social, cenas teatrais infantis, ensaios reflexivos
  • Temas recorrentes: infância, utopia, o social, a palavra como motor de mudança, exploração existencial
Capa do Ensaio 'Uma Utopia Possível'
Capa do Ensaio ‘Uma Utopia Possível’

“A educação, em seus três níveis, como direito inalienável, consolidou-se ao longo dos séculos, com avanços e retrocessos, fortalecida pelas contribuições da ciência e da cultura.

No entanto, também demonstrou sua fragilidade e limitações diante de determinados sistemas políticos e econômicos e do avanço das novas tecnologias (diferenças no acesso, adaptação curricular, uso de dispositivos, manipulação do conhecimento).

Daí a relatividade dos princípios defendidos pela Educação até o momento, como apontou Grimson, em razão dessas limitações.

Essa vulnerabilidade não deve perder de vista a manutenção de sua essência: autonomia na aquisição e na criação de novos conhecimentos, pensamento crítico sobre esses conhecimentos, inclusão no uso das novas tecnologias sem limitações sociais e o aspecto formativo de cada pessoa conhecer suas liberdades e direitos.

Só assim teremos sociedades mais igualitárias e com sentido humanitário de existência.” (Trecho do Ensaio ‘Uma Utopia Possível)

Marta Oliveri

Voltar

Facebook




Raúl Villalba: Criador de mundos – O olhar que descobre

“Por meio das minhas imagens, tento mostrar o mundo dos sonhos, da magia, dos sonhos, do místico e todos aqueles mundos de fantasia que tenho dentro de mim, que nascem e renascem a cada momento.” (Raúl Villalba)

Logo da seção Entrevistas ROLianas
Logo da seção Entrevistas ROLianas
Raúl Villalba
Raúl Villalba

A arte é uma forma de expressão que transcende as palavras. A poética da imagem é uma linguagem visual que captura a essência da experiência humana. Nesse sentido, a obra de Raúl Villalba é um exemplo perfeito de como essa poética pode mergulhar nos limites mais profundos do ser.

Sua obra se caracteriza pela coragem de um verdadeiro criador, capaz de mergulhar nos limites da alma, onde a clareza e a ambiguidade se resolvem em uma zona de coerência artística. Nesse ponto onírico, os aspectos indizíveis da humanidade se resolvem em uma representação legítima. Assim, abre-se um território onde sombra e luz se entrelaçam em uma dança complexa e fascinante, explorando a escuridão luminosa dessa jornada cheia de acontecimentos que somos.

Carreira

Raúl Villalba, argentino, nascido em Buenos Aires. Autodidata. Iniciou sua exploração pela fotografia aos 17 anos e, desde então, nunca se desviou do caminho que havia escolhido seguir, dedicando todo o seu talento criativo a ele, tornando-se um dos fotógrafos criativos mais renomados nacional e internacionalmente. Trabalhou em todos os ramos da fotografia, como fotógrafo publicitário, retratista e ilustrador fotográfico criativo para capas de livros, capas de álbuns, contos e poesias para diversas editoras importantes da Argentina. Editoras: Julio Korn, Abril, Perfil, La Nación, etc. Gravadoras: Polygram.

Além dos Sonhos. Por Raúl Villalba
Além dos Sonhos. Por Raúl Villalba

Participou também do mundo das exposições, competindo nas mais importantes galerias de fotografia da Argentina e do exterior, conquistando inúmeros prêmios nacionais e internacionais em países como França, Itália, Polônia, África do Sul, Hungria, Brasil, Luxemburgo, entre outros.

Límites. Por Raúl Villalba
Límites. Por Raúl Villalba

Seus prêmios mais importantes incluem a Copa do Mundo na Bienal de Reims (França, 1983), o Super Circuito Austríaco (2008-2009), o Grande Prêmio concedido pelo Presidente da França na 40ª Exposição Internacional de Arte Fotográfica “Exposição de Autores por Convite” em Macon (França), o Prêmio Catalunha (2016) e o Best of the Best (FIAP) (2012). Tornou-se um dos melhores fotógrafos internacionais.

Noites de Tango. Por Raúl Villalba
Noites de Tango. Por Raúl Villalba

Realizou inúmeras exposições de fotografia, coletivas e individuais, em centros culturais e galerias de arte, nacionais e internacionais, todas com estrondoso sucesso e excelentes críticas. Suas imagens foram reproduzidas em cartazes e cartões em diferentes países, que são facilmente comercializados no mercado consumidor, alcançando grande impacto. Até o momento, ele conquistou mais de 6.000 prêmios internacionais.

Palhaço. Por Raúl Villalba
Palhaço. Por Raúl Villalba
Encurralada

Conversa com Raúl Villalba

M.O. – Você pode falar sobre seu processo criativo?
R.V – As pessoas costumam me perguntar como as ideias para minhas fotografias se concretizam, como se houvesse apenas um caminho. A verdade é que não sei. Dediquei toda a minha vida à fotografia, especialmente à fotografia artística, porque acredito que ela me permite liberar toda a minha capacidade criativa. Não existem técnicas, nem regras.

Não posso dizer que exista um único caminho para a criação. Vou aonde meus sentimentos me levam. Talvez essa seja a única regra: trabalho semiconscientemente.

Faço o que sinto sem pensar muito, sem impor limites. Mas isso não é o mais importante; acredito que o mais fundamental é dar vida à imagem. Somente quando esse passo vital é dado é que acredito que meu trabalho faz sentido.

O doce som da música
O doce som da música

M.O. – O que você tenta transmitir por meio de suas fotografias?
R.V. – Por meio das minhas imagens, tento mostrar o mundo dos sonhos, da magia, dos sonhos, do místico e todos aqueles mundos de fantasia que tenho dentro de mim, que nascem e renascem a cada momento. Dessa forma, posso apresentá-los aos observadores das minhas fotografias, que talvez representem o mundo interior de cada um deles.

M.O. – Qual você acha que é o papel do artista na sociedade e como ele contribui para como percebemos o mundo?
R.V – É mostrar ao mundo outra perspectiva sobre como os artistas percebem a nossa, porque a arte está em nossas almas, e poder tocar a alma daqueles que nos seguem.

Em suma, podemos concluir que a arte de Raúl Villalba é uma jornada ao interior do ser humano, uma jornada que nos leva a descobrir novas nuances da existência e a encontrar beleza na complexidade da humanidade. Nessa jornada, nos encontramos e descobrimos a verdadeira essência da existência humana.

Palhaço Estranho
Palhaço Estranho

O Grande Charlot
O Grande Charlot

Marta Oliveri

Voltar

Facebook




Entrevista com o Prof. Dr. Maurício Ferreira

“A ciência passou a ser discutida em rede social por todos, principalmente os ignorantes. O mundo padece até hoje pelos abusos cometidos pelas autoridades ignaras”.
(Maurício  Ferreira, 2024)

Logo das Entrevistas ROLianas
Logo da seção ‘Entrevistas ROLianas

MAURÍCIO FERREIRA, natural de São Paulo (SP), é Membro Fundador Imortal da ALB/MG-Uberaba e da Akademia Alternativa Pegasiane-Brasil. Graduado em Odontologia; Técnico em Enfermagem; Professor Universitário; Cirurgião Dentista; Presidente da Associação Brasileira de Odontologia (ABO),Uberaba-MG. Pesquisador; Escritor; Mestre Maçom da Loja Maçônica Sete Colinas de Uberaba-MG e líder voluntário do grupo infanto-juvenil DeMolay, que trabalha o Protagonismo Juvenil e Desenvolvimento Humano; Superintendente da Regional de Saúde do Estado de Minas Gerais.

MAF – Conte-nos sobre sua infância, adolescência, família.

Prof. Dr. Maurício Ferreira
Prof. Dr. Maurício Ferreira

MF – Eu nasci aos 3 dias do mês de abril do ano de 1956. Nossa família era constituída por pai e mãe e cinco filhos. Eu era o quarto entre eles.

Desde muito pequeno era o mais agarrado na saia da mãe. Nossa mãe trabalhava fazendo de tudo: lavadeira, faxineira, fazia doces para nós vendermos. Buscava verdura no mercado municipal do Brás e nós saíamos às ruas para vender.

Ainda pequeno, entre 8 e 10 anos, trabalhei em uma carvoaria. Pela manhã, escola do Primário, à tarde vender verduras, doces, picolés, ensacar carvão. Aos domingos eu e meu irmão íamos às feiras livres para fazer carretos em carrinhos de mão. Levávamos as compras das senhoras e ganhávamos algumas moedas. Interessante, muitos dizem que as crianças sofrem nas condições em que eu fui criado. Ledo engano. Era tudo muito divertido.

Mais tarde, já com 12 anos, trabalhava o dia todo no centro de São Paulo como office-boy. À noite, estudava o Ginasial. Escola particular com preço acessível. Eu ajudava minha mãe com um dinheiro do meu pagamento como office-boy.

Aos 14 anos de idade me vi sem o pai. Ele faleceu após um acidente com o carro que estava como carona. Minha mãe, sempre guerreira, mudou-se para Uberaba com dois filhos menores, eu e minha irmã. Em Uberaba fiz o Colegial e o curso Técnico de Enfermagem, concomitantemente. Época de grandes aprendizados. 

Aos 18 anos me formei Técnico em Enfermagem. Apaixonei-me pela área da saúde. Voltei para São Paulo e trabalhei poucos meses no Hospital da Beneficência Portuguesa. Um lugar enorme. Muitos doentes. Muitos profissionais. Lá conheci o Dr. Zerbini, Dr. Adib Jatene e o cirurgião vascular Dr. Edgar San Juan. Que privilégio! Vivíamos no mundo das inovações tecnológicas para tratamentos intensivos.

Após alguns meses voltei para Uberaba a fim de estudar em curso superior. Tentei vestibular de Medicina, mas não consegui ser aprovado. Parti para Odontologia. Fui aprovado no primeiro vestibular. Trabalhava a noite em hospital e estudava de dia.

Casei-me aos 21 anos, muito jovem ainda, fui pai aos 24 anos do primeiro filho. Formei-me dentista aos 25 anos, em 1981. Depois nasceu uma menina. Eu e minha família nos mudamos para São Paulo e depois Araraquara. Lugar maravilhoso. Voltamos para Uberaba em 1986. Trabalhei como dentista pela manhã. À tarde era no extinto INAMPS. À noite lecionava em duas escolas. Em 1988 veio a separação pelo divórcio e me casei novamente em 2000, já somando 44 anos. Fui pai de mais dois garotos. Graças ao bom Deus.
 

MAF – De que maneira você alia sua atividade laboral com a educacional técnica e Universitária?

MF – Na área da saúde nós, os profissionais, temos a oportunidade de fazer muito pelas pessoas. Com minhas experiências aprendi que tudo na vida é em prol do trabalho. Trabalhar no que gostamos nos faz feliz. Cada novo aprendizado no trabalho pode e, de fato, será aperfeiçoado, fazendo da experiência algo a ensinar. Mas, por mais contraditório, aprendi que na vida ninguém ensina ninguém, pois aprender é decisão do indivíduo. Na sala de aula, os conteúdos sempre foram respeitados, porém eram colocados de maneira reflexiva. Muito parecido, mas sem ser, o PBL, sigla inglesa que significa Problem Basic Learning. Ou seja, ao invés de darmos respostas nós apresentávamos problemas. 

MAF – Sabemos que você trabalhou incansavelmente na Pandemia da covid 19. Como essa pandemia Impactou a educação e qual sua função laboral exercida nesse contexto?

MF – Sim, estava à frente da Superintendência Regional de Saúde, cuja sede é em Uberaba, e, de repente, nos vimos envoltos na pandemia da covid 19. Momento de grande comoção. Minha sorte foi ter ao lado profissionais técnicos da mais alta competência. Por mais terrível que tenha sido, a equipe foi fundamental para atravessarmos aquele momento. A pandemia foi uma grande lição. Pudemos vislumbrar o quanto somos desorganizados como sociedade.

Foram muitas mortes e sofrimentos por falta de leitos em CTI. Hospitais foram isolados e dedicados exclusivamente ao atendimento de pacientes com covid. Mas, mesmo diante de tanta tragédia, nós, enquanto comunidade, não aprendemos nada. A pandemia passou e voltamos aos mesmos desrespeitos às regras de boa convivência. Lamentável! A pandemia foi usada politicamente para destruir adversários com acusações inconsequentes. A ciência passou a ser discutida em rede social por todos, principalmente os ignorantes. O mundo padece até hoje pelos abusos cometidos pelas autoridades ignaras.

MAF – Você acredita que a literatura contemporânea tem sido adequadamente representada nas escolas? Como isso pode ser melhorado, especialmente em uma era digital?

MF – Somos vítimas de nós mesmos. Nós construímos os monstros que nos destruirão. O consumismo desenfreado, ditado pelas grandes indústrias, através de marketing violento, faz com que busquemos ganhar dinheiro cada vez mais para adquirirmos os itens da última moda. Assim, nossos infantes são, desde cedo, submersos no oceano das facilidades digitais. Hoje não precisamos saber gramática, pois o computador avisa que tal palavra ou frase está errada. Somos convidados a não ler, mas aperta teclas interativas.

Não tenho dúvidas de que estamos vivendo o fim de um ciclo. Os autores e escritores deverão se adaptar a este novo ciclo e achar na interatividade com o mundo digital a fórmula mágica de tornar a leitura necessária e fundamental, como sempre foi. Talvez usar a inteligência artificial (IA) para criação a partir de discussão. A sala discute um determinado tema e depois se leva o resultado das humanidades pensantes e o submete à criação de um texto pela IA. A turma, então, poderá avaliar se o texto corresponde ao resultado antes alcançado. 

 

Membros da Ordem DeMolay

MAF – De que maneira a Maçonaria entrou na sua vida? E os DeMolays e seus objetivos?

MF – Fui convidado por um amigo a conhecer sobre maçonaria. Era um ignorante sobre este assunto. Interessei-me e fomos aprofundando a conversa. Sou grato ao meu amigo, já falecido, pela oportunidade que me deu ao me apadrinhar no processo de ingresso. Já se vão 33 anos. O estudo em qualquer ambiente, para qualquer grupo, não alcança o mesmo resultado nos aprendizes. Por vários motivos, desde emocionais, nutricionais, genéticos e espirituais, não teremos o mesmo interesse sobre nada neste mundo. 

Sempre fui muito observador. Usando a razão sem perder a emoção consigo ler nas entrelinhas daquilo que me é apresentado. Tão logo percebo as entrelinhas tento fazer uma analogia prática com a própria vida. De tanto gostar das discussões maçônicas e, pela experiência com jovens alunos, fui destacado para ajudar na condução de um grupo de jovens rapazes, os DeMolays, que é uma associação juvenil que agrega jovens de 12 a 21 anos incompletos para, através de ensinamentos filosóficos, fazer com que tenham mais respeito aos pais, à família, a sociedade, às escolas, às mulheres e à fé. Uma Escola fantástica. Existe em vários países do mundo. Uma honra ser chamado de Tio Maurício pelos sobrinhos.


MAF –
Deixe uma mensagem para os leitores do Jornal ROL. 

MF – Se chegaram até aqui, me permitam sugerir algo que não é novidade, mas é frequentemente esquecido. Amemo-nos!   Cuidemos uns dos outros. Alguém um dia disse: “Tudo passa”. E passa mesmo. Até a vida passará. Então, antes de passar, estejamos atentos aos irmãos à nossa volta. Afinal, eu estou em volta de alguém. Fiquem na Paz!

MAF – Muito obrigada pela sua participação!

Magna Aspásia Fontenelle

Voltar

Facebook