Leandro Portella

Dos vendavais da vida à aragem das artes!

Logo da seção Ode à Competência
Logo da seção Ode à Competência

ODE À COMPETÊNCIA é uma seção do Jornal ROL que visa apresentar aos leitores pessoas que, enfrentando toda sorte de adversidades da vida, encontraram em si força, coragem e fé para superar as pedras “no meio do caminho”, e, com elas, exemplificar ao mundo a capacidade de um ser humano de se erguer dos escombros interiores, em direção ao Sol da Vida.

Ode à Competência, portanto, é uma seção que resume uma bandeira a se manter sempre hasteada: RESILIÊNCIA, que, no campo da Psicologia, significa, resumidamente, resistência ao choque, à adversidade.

"Eu sou Leandro Portella — artista plástico, tetraplégico, sonhador, resistente. Minha arte não é apenas o que eu faço. É quem eu sou."  Arquivo Pessoal
“Eu sou Leandro Portella — artista plástico, tetraplégico, sonhador, resistente. Minha arte não é apenas o que eu faço. É quem eu sou.” – Arquivo Pessoal

A primeira provação

Resiliência, esta bandeira quem a tem hasteada é LEANDRO PORTELLA, paulistano radicado em Araçoiaba da Serra (SP), que, já ao nascer, encontrou a primeira e grande barreira a ser transposta: uma malformação congênita, fenda no palato, levou-o, com apenas um ano e meio de idade, a passar pela primeira cirurgia e, a partir de então, demandou anos de acompanhamento com fonoaudióloga, exercícios repetidos e tentativas de aprimorar a fala.

Não obstante todo o empenho do tratamento fonoaudiológico, a voz permaneceu anasalada, fator esse que, durante a infância, acarretou-he piadas mordazes e bullying quase diariamente. Consequentemente, Leandro, pouco a pouco, tornou-se uma criança tímida, de poucas palavras.

Uma luz no meio do caminho

Todavia, o vento da vida sempre sopra, mitigando as dores físicas e interiores, e Leandro passou a enxergar e valorizar as pessoas que realmente o apoiavam, tendo poucos amigos, mas que iluminaram seu caminho. E, com o tempo, encontrou nos esportes um porto seguro.

A prática física dava-lhe liberdade, confiança e um espaço onde não importava o som de sua voz, mas sim o desempenho do corpo. E foi na natação que encontrou a maior paixão. A água tornou-se seu elemento natural, proprcionando-lhe a sensação de integridade, liberdade, capacidade de ser quem ele queria ser. A imersão na água trazia-lhe a desejada paz, como um antivírus do preconceito do qual era alvo.

Nova provação

Entretanto, o frescor do vento, de tempos em tempos, cede lugar à realidade, pois a vida é um constante desafio, e um instante pode romper a tranquilidade dos dias amenos. Aos 17 anos, na Praia da Sununga, Ubatuba (SP), um mergulho mal calculado, vindo a quebrar-lhe o pescoço, traçou-lhe outra rota, tornando-o tetraplégico.

Durante seis meses ficou internado no Hospital das Clínicas, sob dores físicas atrozes e expectativa, tentando visualizar seu futuro. A liberdade de movimentos transformou-se num calabouço. E mais um estação do calvário interior descortinava-se a sua frente. Mais uma vez, a vida obrigava-o a ressignificar a relação com o mundo e consigo mesmo. Uma nova realidade se impôs diante dele, exigindo reinvenção.

Leandro Portella - Arquivo Pessoal
Leandro Portella – Arquivo Pessoal

Leandro Portella - Arquivo Pessoal
Leandro Portella – Arquivo Pessoal

A redenção pela arte

Para o espírito estoico, sempre há um mapa a assinalar o caminho. E foi pela arte que Leandro o encontrou. A arte tornou-se sua Pedra Filosofal, que permitiria transmutar a dor interior no ouro das oportunidades, e no elixir de uma vida plena de realizações.

No Hospital das Clínicas conheceu a artista Eliana Zagui. Ela havia contraído poliomielite na infância e perdeu os movimentos do corpo. No hospital, pintava quadros com a boca. Ambos se tornaram amigos e Leandro, apesar de nunca ter demonstrado aptidão com a pintura, pelo incentivo de Eliana começou a pintar como forma de terapia.

Com o tempo, percebeu que poderia até mesmo vender os quadros, gerando renda. Passou a ter aular com a professora Elza Tortello, desenvolvendo a técnica e estilo. Ingressou na Associação de Pintores com a Boca e os Pés (APBP), uma entidade internacional que apoia artistas com deficiência. A partir de então, sua arte começou a ganhar visibilidade, e participou de diversas exposições no Brasil e no exterior.

A política e o ativismo

A estrada de Leandro o levou à política e ao ativismo. Na política, teve por referência a senadora Mara Gabrilli, portadora de uma lesão semelhante à dele. Ao conhecê-la, foi estimulado a entrar na política para ajudar as pessoas com deficiência.

Candidatou-se a vereador de Araçoiaba da Serra e em 2012 foi eleito. Cônscio da importância do cargo, decidiu que era hora de entrar na faculdade e começou a cursar Gestão Pública, para continuar na vida política.

Como ativista, presidiu o Banco de Cadeiras de Rodas do Rotary local e atuou no Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Documentário internacional

Em 2020, sua história chegou às telas de cinema no documentário internacional Human Life, pelo qual, emocionou-se ao se ver ao lado de outras pessoas extraordinárias, cujas trajetórias de superação inspiram o mundo.

'Depois do Mergulho – Crônicas de uma Vida Reinventada', lançado no dia 16 de março de 2025 em Araçoiaba da Serra (SP) — Foto: Arquivo pessoal
Depois do Mergulho – Crônicas de uma Vida Reinventada’, lançado no dia 16 de março de 2025 em Araçoiaba da Serra (SP) — Foto: Arquivo pessoal

Literatura e novo documentário

2025 tem trazido a Leandro novas e importantes conquistas: em março, lançou o livro Depois do Mergulho – Crônicas de uma Vida Reinventada e participou do documentário Ressignificar, produzido pela PNAB. O livro traz reflexões sobre a vida de Leandro após o acidente. No documentário, mostra como a arte pode ressignificar a dor e revelar novos sentidos para a existência.

A tecnologia como aliada

O Universo conspira a favor de todo guerreiro da vida. Para Leandro, a tecnologia deu-lhe um computador com um comando de voz, por meio do sistema Motrix, o que llhe permite continuar criando, escrevendo e interagindo com o mundo de uma forma mais autônoma, inclusive proferindo palestras. A tecnologia, assim como a arte, segundo ele, tem sido uma ferramenta fundamental para sua liberdade.

Palavras de um vencedor

Hoje, sigo pintando, palestrando, criando e vivendo. Meu corpo é outro, mas minha essência continua intensa, curiosa e apaixonada pela beleza de existir. Eu sou Leandro Portella — artista plástico, tetraplégico, sonhador, resistente. Minha arte não é apenas o que eu faço. É quem eu sou.

Depois do Mergulho – Crônicas de uma Vida Reinventada:
https://loja.uiclap.com/titulo/ua82774/?srsltid=AfmBOoqx8chupGZWWtidwkbUNA7kCzQGhdWO_IMYDNu6zobPllAHuyjm

Capa do livro 'Depois do Mergulho – Crônicas de uma Vida Reinventada'
Capa do livroDepois do Mergulho – Crônicas de uma Vida Reinventada’

Documentário Internacional Human Life

Documentário ‘Ressignificar (2025)

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Cleide, mulher que semeia o futuro

ODE À COMPETÊNCIA

Berenice Miranda: ‘Cleide, mulher que semeia o futuro’

Berenice Miranda
Berenice Miranda
Cleide Rodrigues de Moura
Cleide Rodrigues de Moura

Em uma bela manhã de sexta-feira do século XX, especificamente no dia 30 de dezembro do ano 1977 no município de São João do Paraíso/MG, nasceu uma doce menina nomeada Cleide Rodrigues Moura. Uma criança alegre e sorridente que logo sofreria dores profundas com as perdas dos seus progenitores, necessidade de trabalho em idade precoce e desistência dos estudos. Contudo, foi nesse cenário hostil que surgiu uma grande mulher que fez do seu passado triste um grande alicerce para o presente no desejo de semear o futuro.

Ao completar oito meses de idade, Cleide perdeu seu pai e foi levada para o estado da Bahia pela mãe, que contraiu novo casamento. No novo ambiente, Cleide viveu com a sua amada mãe até os seis anos de idade, momento em que sua progenitora faleceu, devido complicações de parto. A menina, que antes vivia feliz, enfrentou grandes desafios com o padrasto e madrasta, sem a presença dos pais biológicos. 

Criada por uma família desconhecida, o padrasto falou-lhe que não era seu pai e que se ela quisesse comer teria que trabalhar. Antes de completar sete anos, Cleide começou a laborar duro, pois sua mãe havia deixado outros filhos pequenos, os quais a menina tinha que ajudar a cuidar, além de se sustentar. Foi nessa época que a menina passou fome de alimento e sede dos estudos.

Sedenta por aprender a ler e escrever, a criança, que nunca foi matriculada em uma escola, iniciava o trabalho às quatro horas da manhã para poder participar da aula em alguns minutos do dia, porém, era muito raro comparecer em uma aula completa. Embora com vida financeira difícil, Cleide gostava de ajudar as pessoas, trocava seu serviço por roupas e sandálias usadas. 

A menina cresceu e com 17 anos teve seu primeiro filho, e considerou que seus descendentes eram suas bênçãos na vida. Nessa nova fase, Cleide conheceu um outro tipo de sofrimento: o de mãe, pois não conseguia dar aos filhos o que eles necessitavam, uma vez que o pai das crianças sofria com o alcoolismo. Seu coração de mãe conseguia ser forte ao sofrer privações, mas compadecia-se ao ver o sofrimento da sua prole.

A menina, que agora já é mulher, sempre foi uma pessoa de grande fé em Deus e acredita que Ele nunca a abandonou; seus filhos atualmente estão todos casados com uma vida digna e honrada. Mas em todos os anos a vida financeira continuou a ser difícil ao ter que sustentar a casa, devido problemas de saúde do esposo que foi proibido de trabalhar e não conseguiu recurso do governo.

Na nova conjuntura surge a mulher que semeia o futuro, Cleide sempre teve carinho enorme pela natureza e indagou a Deus o que ela faria para sustentar a sua casa. A partir daquela oração, começou a pegar sementes da natureza e transformar em mudas para serem devolvidas à natureza para que mais pessoas as valorizassem, visto que, para ela, na sociedade atual são poucos os que se preocupam com o meio ambiente. Presentemente, século XXI, Cleide sustenta a sua família com o trabalho de ir à natureza, pedir licença ao Criador, colher a semente e produzir muda para vender em seu viveiro. O Viveiro Moura produz mudas nativas, cerrado, recuperação de nascentes e leito de rios, área degradada como também jardinagem (rosas, palmeiras, entre outros), frutíferas e café.

Cleide Rodrigues Moura é a representação da mulher brasileira superior ao seu tempo; seu passado de dores a impulsionou para a construção de um futuro de respeito pela natureza e pelos seres vivos que a compõem. Seu caráter utilitarista desde seus primórdios aos tempos atuais, promove a fé na humanidade. Certamente, essa mulher que semeia o futuro, retirará desta terra, sob a licença de Deus Criador, muitas sementes de reciprocidade, empatia, fé e amor.

Berenice Miranda

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