Marota mente
Pietro Costa: Poema ‘Marota mente’
Os anjos trocaram a harpa pelo pandeiro,
Ano de 1982, no fatídico 23 de novembro,
Salve Adoniran, importante músico brasileiro.
No samba foi desenvolto, de fino trato,
Exultante ao narrar histórias de amor,
Sem basófias, da singeleza um retrato,
Na arte, um vivaz estandarte de humor.
Pelas ruas de São Paulo, cidade querida,
A sua marota mente, andante e aguerrida,
Trazendo à tona as malocas e os cortiços,
Repercutindo sons e vozes, criou rebuliços.
Astuto cronista da metrópole a se levantar,
Das memórias demolidas pelo progresso,
De negros, retirantes, lutas para enfrentar,
Do coração do povo, jamais foi egresso.
Pietro Costa
Longos dias
Evani Rocha: Poema ‘Longos dias’
Dediquei-me a tolerância desses dias
Longos dias frios de inverno
Esperei no peitoril da janela
As transformações no céu
Não cansei-me de contar as estrelas
E as folhas secas que o vento levou
As mudanças da lua
E as cores mutantes que
Se expressaram nas ruas
Não me feriram as partículas de granizo
Mas deixaram nuas
As árvores e os vitrais
Desolaram as calçadas
Abdiquei dos sonhos de infância
Pela tenacidade do laboro
Perdi a última florada da primavera
Quando me escondi na penumbra do silêncio
Dediquei-me a rabiscar versos sem rima
Para derramar os excessos de min’ alma
A semear as sementes que não tinha,
Na terra úmida de meus olhos marejados.
Evani Rocha
Nas profundezas da dor
José Louro: Poema ‘Nas profundezas da dor’
Mergulhaste nas profundezas da dor
Esperando encontrar nas lágrimas
a água límpida e cristalina
para nela purificares a tua alma
Mergulhaste nas profundezas da dor
Esperando encontrar água límpida e cristalina
na pureza das tuas lágrimas.
Mas encontraste apenas um poço de pedra.
Encontrado o poço de pedra
De quem um dia encontrou o eterno sofrimento
Percebeste que a noite seria tua companheira
Até ao limite da dor, até ao fim dos teus dias.
Nesse dia fatídico percebeste então
Que a luz que um dia viste
Não passou de uma mera ilusão.
Foi nesse dia que abraçaste o teu destino.
Nesse dia fatal esvaziaste o teu coração
Da força do amor de quem um dia foi puro
e apenas quis o abraço da vida em todo o seu esplendor.
Nesse dia encheste o teu coração do granito mais frio.
Nesse dia incerto e em lugar oculto
A tua alma viria a morrer
Nesse dia incerto e em lugar oculto
A tua alma partiu para não mais voltar.
Para não mais voltar
Para não mais voltar
A tua alma partiu
José Louro
07-11-2024
A morte e a sorte
Clayton Alexandre Zocarato: ‘A morte e a sorte’
Morrer é continuar
A querer
Algum tipo
De merecer
Na tentativa de ter
Alguma sorte
Que faça um zelote
Não ficar parado
Em um fúnebre sentimento
Sendo um guardião
De uma aflição
Que em breve cairá
Na escuridão do esquecimento
Gerando pouco lamento
E muito divertimento
Nas cavernas de orgias sorrateiras
De mundos imundos
Que pensam serem
O centro de sortes
Que almejam mortes
Entre cortes
E recortes
Repletos de vertes assassinos
Clayton Alexandre Zocarato
A vida e suas nuances
Eliana Hoenhe Pereira: ‘A vida e suas nuances’
Há dias em que canto por todos os cantos,
Declamo minhas poesias com louvor,
Pauso para apreciar o beija-flor enfeitiçado pela sua flor.
Danço ao luar
E me ponho a sonhar.
Abro um sorriso
E faço do dia um paraíso.
Em outros,
A esperança fica distante,
Pensamento inconstante
Sentimentos oscilantes
tais como um rio e suas correntezas,
Sujeito às incertezas
Então, Busco o alto.
Pois bem sei
que é de lá que tudo vem.
Eliana Hoenhe Pereira
O poeta da Morte
Ceiça Rocha Cruz: ‘O poeta da morte’
(À memória de Augusto dos Anjos)
A tarde agonizou…
na penumbra do poente,
o grande precursor da poesia,
ao versejar ‘versos íntimos,’
seu célebre poema,
enfocou a destruição de sonhos e ideais.
Desse modo,
ao debruçar-se no portal do tempo,
o poeta pré-modernista,
luminar da literatura brasileira
também versou com eterna mágoa,
raízes do simbolismo,
com temas mórbidos e sombrios.
Assim, retratava o gosto pela morte,
a angústia, pessimismo, ceticismo,
e em relação às viabilidades do amor,
o egoísmo e a volúpia,
foi apelidado de “Doutor Tristeza”.
Entretanto, em sua plenitude,
o mestre e gênio literata paraibano,
persistente em seu poetizar,
redigiu versando com destreza,
as inovações temáticas
e de múltiplos estilos.
Então, na quietude sombria,
o ‘Poeta da morte’, como era chamado,
deleitou-se em sua poética,
obcecado pelo tema morte
expressou a morbidez do homem
e a incapacidade de enfrentar o destino.
Enfim, diante dos sussurros poéticos,
despojaram seus versejos,
encravando na história literária
seu legado incomensurável,
afinal, a magnitude de sua obra, “Eu”
eternizou-se!
Ceiça Rocha Cruz