O ‘São João’ de minha infância
Evani Rocha: ‘O ‘São João’ de minha infância
Hoje é dia vinte e quatro. Nuvens passam espalhadas no céu, como fiapos brancos de algodão, num fundo, azul profundo, me dizendo que é céu de junho.
Meu coração bate calmo e leva-me a um tempo distante, sinto saudades da infância na época de São João. Posso até me ver menina: magrinha e serelepe, correndo descalça pelo terreiro; e os adultos batendo papo, em volta da fogueira.
Criança não quer saber de conversa de gente grande. Nós queríamos mesmo era acender gravetos e sair iluminando os trieiros no meio do campo, atrás das casas, nos quintais…
Recordo-me das batatas-doces assadas na brasa da fogueira e dos foguetes que animavam o São João. O frio de Chapada e o nevoeiro do inverno eram sempre presença certa.
Hoje eu sinto o frio por aqui, mas tem uma intensidade e uma luz diferente. O que será que muda quando a gente cresce? As coisas se transformam ou somos nós que mudamos demais? As mesmas comidas já não têm o mesmo sabor, não há mais fogueira, nem rojões, muito menos cantoria.
Caio na real que são novos tempos. Tempo da tecnologia, do mundo digital. Podemos compartilhar qualquer coisa: abraços, beijos, bate-papo e até uma vela acesa, virtualmente, é claro. Olho em volta à procura do terreiro de chão batido, das crianças correndo, da fogueira acesa, com as madeiras bem arrumadas e as labaredas vermelhas. Ainda os encontro: Posso compartilhar comigo essas lembranças, e nem precisei usar ‘meio tecnológico’. Apenas abri uma caixinha bem guardada no fundo da memória…
Como é gratificante ter boas recordações. Eu mudei de tempo e de lugar, nós mudamos. As coisas, os sabores, os cheiros também se diferenciaram.
Cada fase da vida tem um gosto especial. Essa luz e esse sabor de hoje, há pouco, também será saudade.
Evani Rocha