Não sei
Evani Rocha: Poema ‘Não sei’
Não sei de mim,
Nem dos dias arrastados sob o Sol
Não sei das horas, que correm no tempo
De outrora
Das noites alongadas de inverno
Não sei…
Não sei das flores que murcharam por falta de rega,
E das ervas que cresceram no jardim
Não sei da poeira fina da estrada de terra
Ou do asfalto negro, feito pedra…
Não sei das conversas veladas ao pé do ouvido
Ou do zunido de uma cigarra
Em ecdise,
Não sei…
Não sei se é Lua cheia ou crescente
Ou das explosões solares…
Não sei dos braços abertas a esperar…
Das ruelas vazias ou das janelas floridas
De São Francisco,
Não sei se é isso ou aquilo!
Não sei se penso ou se sorrio,
Não sei…
Não sei dos rascunhos guardados nas gavetas
Dos homens tristes caídos nas sarjetas
Dos sapatos empoeirados por falta de uso
Não sei das fotografias antigas,
Revelando a lisura da tez,
Não sei…
Não sei sobre o que sei, talvez nada saiba
O mundo é uma complexa rede de teias
Entrelaçadas em círculos,
Como uma imensa roda gigante
Dentro de outras rodas
E com outras rodas por dentro.
Então, não sei…
Não sei de você,
Se tem a boca entupida de silêncio
Ou se os olhos profundos
Não podem expressar…
Não sei das estações do ano,
Há muito, deixei de olhar o calendário!
A mim não importa o tempo,
Os anos, os dias…
Não sei…
Dos caderninhos da infância, escritos à mão
Das poesias sem rima, dos versos soltos no ar…
Não sei das filas na parada do coletivo,
Na fase do colegial,
Do uniforme amarrotado,
Do anseio pelas férias…
Não sei dos caminhos trilhados a meio século…
Dos amigos que ficaram no passado,
Daquela palmeira na curva da estrada!
Não sei…
Quantos registros deletei da memória…
Quantas histórias por contar!?
Não sei do amanhã: se faço isso ou aquilo…
Não sei do ontem e nem do agora…
Talvez essa dúvida de não saber,
É o combustível da mente,
Para não morrer,
Antes de tentar, antes de vasculhar as caixinhas da memória,
Antes de se entregar ao fim:
Preenchido de tudo o que o corpo e a alma foram capazes de alcançar!
Evani Rocha