Entrevista com o Prof. Dr. Maurício Ferreira
“A ciência passou a ser discutida em rede social por todos, principalmente os ignorantes. O mundo padece até hoje pelos abusos cometidos pelas autoridades ignaras”.
(Maurício Ferreira, 2024)
MAURÍCIO FERREIRA, natural de São Paulo (SP), é Membro Fundador Imortal da ALB/MG-Uberaba e da Akademia Alternativa Pegasiane-Brasil. Graduado em Odontologia; Técnico em Enfermagem; Professor Universitário; Cirurgião Dentista; Presidente da Associação Brasileira de Odontologia (ABO),Uberaba-MG. Pesquisador; Escritor; Mestre Maçom da Loja Maçônica Sete Colinas de Uberaba-MG e líder voluntário do grupo infanto-juvenil DeMolay, que trabalha o Protagonismo Juvenil e Desenvolvimento Humano; Superintendente da Regional de Saúde do Estado de Minas Gerais.
MAF – Conte-nos sobre sua infância, adolescência, família.
MF – Eu nasci aos 3 dias do mês de abril do ano de 1956. Nossa família era constituída por pai e mãe e cinco filhos. Eu era o quarto entre eles.
Desde muito pequeno era o mais agarrado na saia da mãe. Nossa mãe trabalhava fazendo de tudo: lavadeira, faxineira, fazia doces para nós vendermos. Buscava verdura no mercado municipal do Brás e nós saíamos às ruas para vender.
Ainda pequeno, entre 8 e 10 anos, trabalhei em uma carvoaria. Pela manhã, escola do Primário, à tarde vender verduras, doces, picolés, ensacar carvão. Aos domingos eu e meu irmão íamos às feiras livres para fazer carretos em carrinhos de mão. Levávamos as compras das senhoras e ganhávamos algumas moedas. Interessante, muitos dizem que as crianças sofrem nas condições em que eu fui criado. Ledo engano. Era tudo muito divertido.
Mais tarde, já com 12 anos, trabalhava o dia todo no centro de São Paulo como office-boy. À noite, estudava o Ginasial. Escola particular com preço acessível. Eu ajudava minha mãe com um dinheiro do meu pagamento como office-boy.
Aos 14 anos de idade me vi sem o pai. Ele faleceu após um acidente com o carro que estava como carona. Minha mãe, sempre guerreira, mudou-se para Uberaba com dois filhos menores, eu e minha irmã. Em Uberaba fiz o Colegial e o curso Técnico de Enfermagem, concomitantemente. Época de grandes aprendizados.
Aos 18 anos me formei Técnico em Enfermagem. Apaixonei-me pela área da saúde. Voltei para São Paulo e trabalhei poucos meses no Hospital da Beneficência Portuguesa. Um lugar enorme. Muitos doentes. Muitos profissionais. Lá conheci o Dr. Zerbini, Dr. Adib Jatene e o cirurgião vascular Dr. Edgar San Juan. Que privilégio! Vivíamos no mundo das inovações tecnológicas para tratamentos intensivos.
Após alguns meses voltei para Uberaba a fim de estudar em curso superior. Tentei vestibular de Medicina, mas não consegui ser aprovado. Parti para Odontologia. Fui aprovado no primeiro vestibular. Trabalhava a noite em hospital e estudava de dia.
Casei-me aos 21 anos, muito jovem ainda, fui pai aos 24 anos do primeiro filho. Formei-me dentista aos 25 anos, em 1981. Depois nasceu uma menina. Eu e minha família nos mudamos para São Paulo e depois Araraquara. Lugar maravilhoso. Voltamos para Uberaba em 1986. Trabalhei como dentista pela manhã. À tarde era no extinto INAMPS. À noite lecionava em duas escolas. Em 1988 veio a separação pelo divórcio e me casei novamente em 2000, já somando 44 anos. Fui pai de mais dois garotos. Graças ao bom Deus.
MAF – De que maneira você alia sua atividade laboral com a educacional técnica e Universitária?
MF – Na área da saúde nós, os profissionais, temos a oportunidade de fazer muito pelas pessoas. Com minhas experiências aprendi que tudo na vida é em prol do trabalho. Trabalhar no que gostamos nos faz feliz. Cada novo aprendizado no trabalho pode e, de fato, será aperfeiçoado, fazendo da experiência algo a ensinar. Mas, por mais contraditório, aprendi que na vida ninguém ensina ninguém, pois aprender é decisão do indivíduo. Na sala de aula, os conteúdos sempre foram respeitados, porém eram colocados de maneira reflexiva. Muito parecido, mas sem ser, o PBL, sigla inglesa que significa Problem Basic Learning. Ou seja, ao invés de darmos respostas nós apresentávamos problemas.
MAF – Sabemos que você trabalhou incansavelmente na Pandemia da covid 19. Como essa pandemia Impactou a educação e qual sua função laboral exercida nesse contexto?
MF – Sim, estava à frente da Superintendência Regional de Saúde, cuja sede é em Uberaba, e, de repente, nos vimos envoltos na pandemia da covid 19. Momento de grande comoção. Minha sorte foi ter ao lado profissionais técnicos da mais alta competência. Por mais terrível que tenha sido, a equipe foi fundamental para atravessarmos aquele momento. A pandemia foi uma grande lição. Pudemos vislumbrar o quanto somos desorganizados como sociedade.
Foram muitas mortes e sofrimentos por falta de leitos em CTI. Hospitais foram isolados e dedicados exclusivamente ao atendimento de pacientes com covid. Mas, mesmo diante de tanta tragédia, nós, enquanto comunidade, não aprendemos nada. A pandemia passou e voltamos aos mesmos desrespeitos às regras de boa convivência. Lamentável! A pandemia foi usada politicamente para destruir adversários com acusações inconsequentes. A ciência passou a ser discutida em rede social por todos, principalmente os ignorantes. O mundo padece até hoje pelos abusos cometidos pelas autoridades ignaras.
MAF – Você acredita que a literatura contemporânea tem sido adequadamente representada nas escolas? Como isso pode ser melhorado, especialmente em uma era digital?
MF – Somos vítimas de nós mesmos. Nós construímos os monstros que nos destruirão. O consumismo desenfreado, ditado pelas grandes indústrias, através de marketing violento, faz com que busquemos ganhar dinheiro cada vez mais para adquirirmos os itens da última moda. Assim, nossos infantes são, desde cedo, submersos no oceano das facilidades digitais. Hoje não precisamos saber gramática, pois o computador avisa que tal palavra ou frase está errada. Somos convidados a não ler, mas aperta teclas interativas.
Não tenho dúvidas de que estamos vivendo o fim de um ciclo. Os autores e escritores deverão se adaptar a este novo ciclo e achar na interatividade com o mundo digital a fórmula mágica de tornar a leitura necessária e fundamental, como sempre foi. Talvez usar a inteligência artificial (IA) para criação a partir de discussão. A sala discute um determinado tema e depois se leva o resultado das humanidades pensantes e o submete à criação de um texto pela IA. A turma, então, poderá avaliar se o texto corresponde ao resultado antes alcançado.
MAF – De que maneira a Maçonaria entrou na sua vida? E os DeMolays e seus objetivos?
MF – Fui convidado por um amigo a conhecer sobre maçonaria. Era um ignorante sobre este assunto. Interessei-me e fomos aprofundando a conversa. Sou grato ao meu amigo, já falecido, pela oportunidade que me deu ao me apadrinhar no processo de ingresso. Já se vão 33 anos. O estudo em qualquer ambiente, para qualquer grupo, não alcança o mesmo resultado nos aprendizes. Por vários motivos, desde emocionais, nutricionais, genéticos e espirituais, não teremos o mesmo interesse sobre nada neste mundo.
Sempre fui muito observador. Usando a razão sem perder a emoção consigo ler nas entrelinhas daquilo que me é apresentado. Tão logo percebo as entrelinhas tento fazer uma analogia prática com a própria vida. De tanto gostar das discussões maçônicas e, pela experiência com jovens alunos, fui destacado para ajudar na condução de um grupo de jovens rapazes, os DeMolays, que é uma associação juvenil que agrega jovens de 12 a 21 anos incompletos para, através de ensinamentos filosóficos, fazer com que tenham mais respeito aos pais, à família, a sociedade, às escolas, às mulheres e à fé. Uma Escola fantástica. Existe em vários países do mundo. Uma honra ser chamado de Tio Maurício pelos sobrinhos.
MAF – Deixe uma mensagem para os leitores do Jornal ROL.
MF – Se chegaram até aqui, me permitam sugerir algo que não é novidade, mas é frequentemente esquecido. Amemo-nos! Cuidemos uns dos outros. Alguém um dia disse: “Tudo passa”. E passa mesmo. Até a vida passará. Então, antes de passar, estejamos atentos aos irmãos à nossa volta. Afinal, eu estou em volta de alguém. Fiquem na Paz!
MAF – Muito obrigada pela sua participação!
Magna Aspásia Fontenelle