Ao Deus-dará: Ecos de uma era perdida
Verônica Moreira: ‘Ao Deus-dará: Ecos de uma era perdida’
Soltaram as feras.
Eis que chega a nova era,
onde os omissos se calam,
engolem gole a gole a inverdade,
sem voz, mas com olhos que desviam.
Feras famintas, de golpes e sede,
não pelo bem de todos,
mas pelo banquete que os espera em suas mesas fartas,
no prazer egoísta, no churrasco que arde na sua própria brasa.
E eu, na dor de ter de aceitar o pecado,
prisioneiro deste fado,
silencio-me perante a força, a injustiça, o sistema.
Não sem voz, mas sem talvez…
Falo ou me calo?
Seria o meu grito apenas combustível para o ódio?
Cansaço…
É isso, o peso que recai sobre os ombros, a palavra certa.
Decepção, calamidade,
o sistema que se alimenta da corrupção.
Para os grandes, nada importa a fome dos pequenos.
É o que vejo – e o que eu daria para não ter visto.
Lamento profundamente por aqueles que se dedicam,
os que dão de si com verdade,
sem saber que são peões usados, peças descartáveis.
Ah, vida!
Oh, céus!
Haverá ainda esperança?
Vivem perdidos, abandonados ao acaso…
Ao Deus-dará?
Sim… porque é Deus quem dá.
E ainda bem que temos a Deus para nos dar.