Aproveite o momento
Lina Veira: ‘Aproveite o momento’
Quem se recorda de uma época em que tudo parecia maravilhoso na vida? Férias na praia, encontros após a igreja, braços dados, inocentes alegrias banhadas de longas e longas conversas nas esquinas e praças, na calçada de casa, com olhos nos olhos.
Sempre que você experimentou essa sensação foi porque você decidiu se soltar e aproveitar o momento, seu tempo, lembra? Absorver a sensação do agora, do real é aproveitar o momento.
O tempo voa. O relógio corre. Você consegue lembrar uma situação em que se perdeu no que fazia?
– João, lembra dele? Mora em São Paulo, mas disse que vem. Hoje é um senhor bem-sucedido dono de uma empresa de ônibus. Vive muito bem e vem com suas filhas. Elas revezam para cuidar dele. Está separado. É o que sei.
Luiz, era agitado, sempre molhava a gente com a mangueira do parque na escola, hoje é lavador de carros. É feliz do jeito dele. Maria é diretora de uma escola de ricos na Parquelândia e Otávio é médico cirurgião e não se casou com Luana. Mora fora e dizem que é gay. Sempre viaja para o Brasil
(Luana… lembro dela sim. Parei um pouco a recordar)
Sem qualquer interrupção fiquei ouvindo de Gustavo aquelas mágicas palavras de pessoas incríveis que um dia fizeram parte da rotina da minha vida. Que tempo bom! Puro e fascinante vivemos. Como estariam de fato? Felizes?
A noite estava linda. Escolheram o melhor buffet da cidade para este reencontro depois de décadas. Gustavo sempre manteve contato de todos, mas não sei porque demoramos vinte anos para aproveitar o momento de novo. Uma banda com nossas músicas preferidas da época tocava.
Estava até apreensiva. O que falaria da minha vida? Desisti de tantas coisas, tive tantos medos… Precisei fazer terapia por décadas. Seria chato dizer tudo isso?! Focaria no presente! Estou tão feliz no presente. É isso! Olhei as fotos de meus filhos que trouxe já orgulhosa para apresentá-los. Acho que basta isso: falar do presente, das atuais alegrias e realizações porque o que passou, passou.
Um abraço pode dizer tudo, um olhar, um sorriso. Tinha levado alguns exemplares de meu primeiro romance recém-publicado para presenteá-los, e sei que João iria querer saber de tudo, cada detalhe, porque sempre foi curioso leitor. Quase namoramos sério. Que saudade.
Quando olhei para entrada, avistei um homem grisalho bem-vestido, numa cadeira de rodas com um sorriso lindo no rosto ao me ver.
João! Era João … Sem campus e sem barba o reconheci e ele a mim.
Eu fui ao seu encontro e ele apenas segurou minhas mãos beijando-as. Sempre galante.
– Como vai Melissa? Quanto tempo … Que linda estas.
O tempo parou para nós.
O que falar para alguém com uma doença rara sem expectativas de vida, mas com um sorriso apaixonante de sempre?
A noite foi uma criança agradável com jeito de gente grande sem conversas chatas.
Todos foram sim e estavam lindos.
Otavio com seu marido. Maria ainda solteira e Luana separada, estava com seu casal de filhos. Parecia bem-sucedida e competente. Era dona de lojas de roupas de sucesso.
Realizamos até sarau com os textos de meu livro. Dançamos também um forró em homenagem ao meu Nordeste e Nordeste de João .
Nos emocionamos muito e ficamos de nos encontrar em breve.
“É preciso cuidar da vida da gente e também da vida alheia, risos, não no sentido pessoal mas festeiro de sempre se cercar de amigos divertidos e inesquecíveis. Tudo começa com uma ideia, finalize. Isso é aproveitar cada momento como se fosse o último. É o que podemos fazer de melhor por nós.” João de Luz.
Dois dias depois de nosso encontro ele faleceu.
E você, o que está esperando para aproveitar os melhores momentos da vida como se fossem os últimos?