Memória de um cárcere
Sandra Albuquerque: ‘Memórias de um cárcere’
Querido Policarpo.
Se esta carta está chegando às suas mãos, não estou mais neste plano e foi o meu último desejo. Sentado na cadeira de execução, passou um filme da minha trajetória.
Espero que você jamais cometa erros que o leve a chegar aqui. Troque os maus pensamentos pela bondade e a vontade de viver. Veja como a liberdade é bela! Ter família e amigos e uma bela história de vida. Não seja ambicioso ao ponto de não ter o sono dos justos.
Foram dias, meses e anos e a maioria deles numa solitária. Em torturas, queriam extrair de mim toda a estratégia que levou à faceta tão perfeita do roubo. Emudeci e sofri horrores desumanos por calar-me.
Tirei o sono dos poderosos e sentia prazer ao ver o desespero deles em querer mostrar trabalho, sabendo como tudo aconteceu e onde eu coloquei tanto ouro.
Já cansado de sofrimentos e com idade avançada, dei a informação, com uma condição: de que essa carta chegasse a você ,meu único amigo, para que você, com isto, aprendesse que roubar não vale a pena.
Atenciosamente,
Seu amigo.