Meu deserto
Ivete Rosa de Souza: Crônica ‘Meu deserto’
Conheci o deserto intricado, imensidão de areias, com o vento soprando incansável.
Um incrível mundo silencioso, onde mesmo o vento sussurra, talvez com receio de acordar as serpentes sob a escaldante areia. Conheci o deserto que habita em mim.
Tão extenso e complexo, que nem mesmo sei explicar. Tive tempo de planícies intermináveis, um verde inconfundível, até flores ali se estenderam como um tapete colorido.
Vi nascentes que vertiam águas límpidas, cristalinas, promessas de vida, coroando amor e sonhos. Vi chuvas torrenciais que espantaram as cores, nublando e varrendo em torrentes turvas, as minhas lutas e esperanças.
Vi nevar, e o gelo do medo profundo, habitou meu mundo em demasiadas dores. Vi tristeza, solidão, perdas irreparáveis.
Mas ainda estou aqui, o deserto habita a vida sempre que me revolto, com o que perdi, ou esqueci, nos caminhos tortuosos que percorri.
Sou a emenda de muitos erros, o deserto do que não alcancei, mas que espera pelas águas das lágrimas que por muito tempo derramei, o esperado oásis no fim.
Ivete Rosa de Souza