Fragmentos parasitoides
Nilza Murakawa: Poema ‘Fragmentos parasitoides’


às 7:37 PM
Em lustres de cristais
Cirandam urubus e um negro corvo
Mastigam sempre qualquer estorvo
Engolem pedras brutas
E vomitam pobres mortais
Esguias garças
Pernas nuas
Eretos dorsos
Com etiquetas até o pescoço
Desfilam pelas ruas
Com suas bolsas escassas
À procura de tubarões e bons moços
Impassíveis predadores
Exibem as peles esticadas de suas caças
Cultuam alguns selecionados deuses
Silenciam tambores
Em plena praça
Sequer ouvem o choro
Em ocos troncos
Do animal morto
E já lhes assopram a fumaça
A céu aberto, as mariposas
Costuram o ar e, então, pousam
Limpam seus homens
Recortam-lhes os bolsos
Salgam-nos as entranhas
Devoram-nos com calma
Chupando-os até a alma
Sem constrangimento
Raposas oportunistas
Invadem marsúpios quentes
Fazem de tetas alheias
Seu próprio alimento
Grandes holofotes
Aquecem marmitas para abutres
Troféus, farelos e migalhas
Almas, ossos e medalhas
Cardápio que agrada estes tais ‘ilustres’
Uma senhorinha apressada
Com um franjado xale preto
Sapatos bem limpos, vestido discreto
Lenço na mão que ela mesma bordou
Corre atrás do seu guarda-chuva
Que o vento lhe roubou
Nilza Murakawa