Esses estranhos

Ivete Rosa de Souza: Crônica ‘Esses estranhos’

Ivete Rosa de Souza
Ivete Rosa de Souza
Imagem criada por IA no Bing - 11 de março de 2025, 
às 19:07 PM
Imagem criada por IA no Bing – 11 de março de 2025,
às 19:07 PM

São todos estranhos, esses que caminham como eu. No subúrbio, na madrugada, a caminho do trabalho. Vão em silêncio olhando para o vazio, alguns cochilam, quando encontram no coletivo um lugar para se sentar. Tem os que ficam espremidos, uns contra os outros, parecendo cansados, antes mesmo de iniciar a rotina do dia.

São homens e mulheres, esses que vão para as fábricas, construções, lutar pelo pão, o sustento dos familiares, dos filhos. A luta para continuar a viver. E vejo em seus olhos, tristeza. O corpo magro, mostra a falta do alimento de qualidade. As vestes demonstram estar desbotadas, entregando o uso diário. No frio vi por várias vezes os que passavam por mim, encolhidos, com as mãos enfiadas nos bolsos, procurando calor.

São os desfavorecidos, de empregos que lhes paguem o que merecem. São os assalariados, que recebem um salário tão pequeno quanto a sua crença de uma vida melhor.

São esses que passam na rua por mim, com a cabeça baixa, parecendo ter cometido tantos pecados, que os olhos só encontram o chão. Não se interessam pelos outros estranhos que cruzam por eles, caminham em seus destinos preocupados com as dívidas, a fome e sua própria sobrevivência.

São esses estranhos que engradecem a indústria, a lavoura, e fomentam a economia, o crescimento do País. Esses que, em sua ignorância, enfrentam os empregos mais hostis e insalubres. Desprovidos de educação, cultura, semianalfabetos, são os que constroem o mundo em que vivemos.

Os pobres que cheiram a suor, que emanam tristeza, que pedem com seus olhos tristes dias melhores.

Ivete Rosa de Souza 

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