Liberdade geométrica

Nilza Murakawa: Poema ‘Liberdade geométrica’

Nilza Murakawa
Nilza Murakawa
Imagem criada por IA no Bing – 17 de março de 2025, às 10:17 PM

Daqui de casa
Vejo o Sol nascer quadrado
Raios e ferros listrados
Bordados em ponto cruz

Lá em cima
Pipas coloridas, confusas
Driblam fios e linhas de vidro
Espiando de seus ninhos
Passarinhos desconfiados

No muro em frente
Rabiscos insistentes
Recados em códigos esquisitos
Tingem de negro e de cinismo
Toda aquarela do grafitismo

Deste lado da rua
Peões respingados da massa
Apressam os passos, sem graça
Domésticas arrumadas
Abraçadas com suas bolsas a tiracolo

Do outro lado
Em vidros semiabertos
Colarinhos engomados
Brincos e penteados
Voam blindados

Da esquina
O chope e as batatinhas
Mudaram-se para o quintal
Os guris de calças curtas?
Nem sinal!

No portão
Bem posicionados
Olhares eletrônicos
Nem só pela pizza esperam
Lavanderia, padaria
Pet shop, pedrarias
Manicure, pedicure
Jornal, revista semanal
Jontex®, calminex®
Buquês, marmitex®
E sapatos via sedex®

Meus pés sentem falta de gente…

Reféns de bichos
Minha história e a sua
Não são mais escritas
Com nossa tinta
Também não é mais redonda
Nossa lua

Meus olhos sentem falta do sol por inteiro…

Tem listras minha pele
Tem listras meu pijama

Nilza Murakawa

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