De poeta para poeta

As cores poéticas do bardo equatoriano Humberto Napoleón Varela Robalino!

Marta Oliveri
Marta Oliveri
Humberto Napoleón Varela Robalino. Foto da página do poeta no Facebook

No vasto mapa poético universal, existem diferentes espécies de poetas. Há poetas do decoro, poetas da formalidade e do preciosismo. Há poetas da emoção pura, poetas do esteticismo e poetas do excesso. Há também poetas com um toque de selva, poetas que mergulham nas profundezas da condição humana. A esta última espécie pertencem os grandes e amados poetas, como César Vallejo e Humberto Varela Robalino. Esses poetas têm a capacidade de tocar as fibras mais profundas do ser humano e falar de vida e morte, de luta e esperança. É assim que os poemas de Humberto Varela Robalino se expressam a partir da territorialidade ameaçada, da dor da guerra, num grito universal. Como ele nos diz em seu poema ‘Grito do Primeiro Grito‘:

Homens e mulheres do mundo, venham a mim
à antiga Síria, agora convertida em matadouro,
um rastro arrepiante de sangue, Cemitério,
ossuário de corpos tenros
Venham às portas de Aleppo, cidade amada
Chora por ela até te esgotares, até te esgotares
Até que a cinza fedorenta
de tantos bombardeios
escorra pelo Muro das Lamentações
Chora em solidão por tua ausência coletiva
Uma ausência desajeitada, cega, surda, muda
Ao menos mantém a honra das lágrimas
Até que apareça o primeiro rubor da vergonha

E continua:

Homens e mulheres do mundo reunidos
Em volta do berço com os fios da chuva seminal
Costuram as vísceras, essas epidermes
Atam esses ossos como brinquedos quebrados
Remontam a vida
E lá terás teus filhos chorando em seu primeiro choro
Pai, mãe, por que nos abandonaste?


Grito del Primer Grito


Hombres y mujeres del mundo, venid a mí

a la Siria milenaria ahora convertida en matadero,
reguero de sangre, escalofriante, cementerio,
osario de cuerpos tiernos
venid a las puertas de Alepo ciudad amada
lloradla hasta el primer cansancio hasta el cansancio
hasta que la ceniza pestilente

de tantos bombardeos
corra escape por el muro de las lamentaciones

llorad en la soledad vuestra colectiva ausencia
ausencia torpe, ciega, sorda, muda
al menos mantened el honor del llanto
hasta que aparezca el primer rubor de la vergüenza

Y continúa:

Hombres y mujeres del mundo reunidos
alrededor de la cuna con los hilos de la lluvia seminal
cosed las vísceras, esas epidermis
atad esos huesos como juguetes rotos
armad otra vez la vida
y ahí tendréis a vuestros hijos clamando en su primer llanto
padre, madre, ¿por qué nos has abandonado?

Humberto Napoleón Varela Robalino. Foto da página do poeta no Facebook

E também podemos ver no poema ‘Criação‘ como, de forma sintética, mas com uma profunda visão existencial, ele expressa o mistério da criação. É assim:

A voz falou do nada e Ele disse:
Haja luz, e com ela, o homem.
Não era a lama, mas a pérola gota,
lenta, morna, que explodiu de alegria
sobre a orquídea.

Criación

Habló la voz desde la nada y dijo:
hágase la luz y con ella el hombre
no fue el barro fue la gota perlada
lenta tibia que explotó la alegría
sobre la orquídea

Não é de se estranhar que o poeta equatoriano Humberto Varela Robalino tenha sido declarado o maior poeta do século XX pela Academia Brasileira de Letras, visto que sua mensagem é um legado para toda a humanidade, sem descurar as profundas raízes latino-americanas de suas palavras e em consonância com seu compromisso com seu tempo e com o homem contemporâneo.

Biografia de Humberto Napoleón

Humberto Napoleón Varela Robalino é natural de Tulcán, capital de Carchi, pertencente à Zona Região Norte do Equador, localizado nos Andes do Equador, na fronteira com a Colômbia, e atualmente reside em Quito, capital equatoriana.

Foi professor na Universidade Tecnológica Equinocial e Universidade Internacional do Equador; Presidente do Núcleo da Casa da Cultura ‘Benjamín Carrión’ – Nucleo del Carchi por 2 períodos; é membro da Sociedade de Escritores do Equador; membro da Casa da Representação Internacional do Poeta Peruano de Quito; membro fundador do Grupo ‘Caminos’ da subsidiária de Tulcán, que então presidiu; membro da Academia Virtual Internacional de Poesia, Artes e Filosofia – AVIPAF; vice-presidente Internacional da Academia Poética Brasileira (2016); Embaixador para o Mundo no Equador da Câmara Internacional de Escritores e Artistas CIESTAR (2020); Membro da Academia Internacional da União e do Mérito Literário (2020) e, agora, colaborador oficial do Jornal Cultural ROL. Além disso, é membro de várias instituições e organizações literárias internacionais.

Suas obras foram comentadas, analisadas e traduzidas em revistas e jornais especializados do Brasil, do Egito e de várias capitais latino-americanas.

Foi convidado pela Editora Dunken para a Feira Internacional do Livro de Buenos Aires 2019 para assinar o livro para Dos Voces.

Publicou seu primeiro livro de Poesia ‘Gray Circumstance’, em 1973. Seus livros mais recentes são: Singuantes (Poesia 2010; A Noite da Coruja em 40 Dias (2014) Uruguai; Sex Sentido (Coautor Poesia 2014) Uruguai; Letras Ecuatorianas 1 (Poesia em coautoria em 2014) Uruguai; El fadigue que nos Une (publicação online aBrace 2015); Letras Ecuatorianas 2 (Poesia em coautoria em 2016) Uruguai; A Dos Voces (Editorial Dunken 2018) Argentina, escrito com Marta Oliveri; Poesia do Bigode umedecido em vinho (Sangre editora 2019) Brasil; Pieladentro (2019 Editorial Lord Byron Ediciones) Madrid – Espanha.

Marta Oliveri

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