Minh’alma de menino
Paulo Siuves: Poema ‘Minh’alma de menino’


O seu passo tem um jeito
de apagar o meu.
Não é medo —
mas é quase,
um tropeço dentro de mim.
Você chega perto
e eu viro menino.
A orelha esquenta,
o olho foge,
para qualquer canto
que não sejam os seus olhos.
É como quando eu ficava
na porta da sala
espiando a tia bonita,
o coração feito tambor,
a garganta fechada demais
a boca sem coragem
para inventar conversa.
Você diz “oi”
e tudo o que penso
escapa pela fresta da vergonha.
Fico ali, imóvel,
meio bobo,
tentando sorrir
sem mostrar o susto.
E, no fundo, sei:
você me intimida.