Já fui semente
Irene da Rocha: Poema ‘Já fui semente’


Já fui semente ao pó desamparada,
sem luz, sem água, à terra me entreguei;
na luta agreste, em dor desesperada,
ergui-me ao sol, no fogo me encontrei.
Do seio escuro, em força revelada,
criei raiz, no chão firme fiquei;
tornei-me tronco e sombra consagrada,
frutifiquei na vida que sonhei.
E quando o vento em fúria me despoja,
chorando quedo ao pó que me devora,
mas minha fé maior jamais se deixou.
Pois sei que a vida em flor se restaura,
e a primavera em mim tudo reboja:
renasço em luz, mais forte a cada aurora.