O voyeur
José Antonio Torres: ‘O voyeur’


Embora muitos casos tenham acontecido naquela casa de cômodos, a que já me referi em crônicas anteriores, finalizo essa sequência com este caso. Ressaltando que todos os casos são verídicos.
Naquela casa de cômodos moravam cerca de vinte inquilinos. Alguns quartos possuíam duas camas, outros três e havia um bem espaçoso, que possuía quatro camas. Era um tempo em que a violência não era como a de hoje em dia. Não havia roubo de pertences de um morador por outro.
A casa era antiga e na parte externa ao corpo principal da casa, na parte dos fundos do quintal, havia um banheiro com uma parede que dividia as partes do vaso sanitário e a do chuveiro. Havia portas individuais com fecho por dentro e por fora de cada ambiente. Eles eram independentes. Além disso, havia um grande tanque feito de pedra, ao lado dos banheiros. Nunca houve qualquer problema ou confusão. O fato de os inquilinos serem apenas homens certamente contribuía para isso.
Ocorre que certa vez deu um problema no chuveiro interno da casa, que era utilizado apenas pela dona da casa de cômodos e seu filho, que estava ainda iniciando a adolescência. Devido ao problema no chuveiro interno, a senhora foi tomar banho no chuveiro comunitário citado anteriormente. Aproveitou o meio da tarde pois a maioria dos inquilinos estaria trabalhando.
Após terminar o seu banho, um inquilino que estava em casa pediu para falar com ela. Contou-lhe que se dirigia ao banheiro, quando percebeu um outro inquilino agachado, tentando olhar por baixo da porta do banheiro onde ela estava tomando banho. O outro assustou-se e saiu, dirigindo-se ao seu quarto. O inquilino que presenciou aquela cena disse-lhe que ficou ali no tanque fazendo a barba e esperando para ver quem sairia do banho e comentar o que havia presenciado. Quando viu que era a senhora que havia tomado banho, se revoltou ainda mais com a atitude do tarado. O que chama a atenção é que o voyeur não tinha como saber quem estava tomando banho. Ela perguntou qual foi o inquilino que fez aquilo, e ele falou. Ela esperou um outro inquilino, que era o mais antigo do lugar, chegar do trabalho. Contou-lhe o ocorrido e pediu ajuda para dar uma lição no voyeur.
Ela possuía um tipo de cassetete que era constituído de um cabo telefônico grosso e emborrachado, com uma das extremidades dobradas para que se encaixasse no pulso. Ela estava espumando de raiva pelo acontecido e, com o outro morador, dirigiu-se ao quarto do voyeur e bateu à porta. Quando ele abriu, ela e o outro inquilino entraram. O outro imobilizou o voyeur, e a senhora, com os olhos faiscando de raiva, ia dando-lhe vigorosas lambadas e perguntando se ele gostava de ver mulher tomando banho. Mesmo não dando para ver nada, a intenção dele o incriminava. Ela bateu com vontade.
Após cansar de ‘descer-lhe a ripa’, determinou que ele fosse embora da casa.
Quando, ao final da tarde, o filho dela chegou do colégio, ficaram sentados no degrau da porta da sala que dava para o quintal, como sempre faziam, tomando o fresquinho do final de tarde. Nisso, passa o voyeur vindo do chuveiro com uma toalha aberta sobre as costas. Quando ele passou, o menino viu, mesmo com a toalha, lanhos vermelhos que se estendiam para onde a toalha não cobria. Ele mancava também.
Espantado, o menino perguntou à mãe se ela tinha visto. Ela então contou-lhe o que havia acontecido e que havia sido ela quem dera aquelas lambadas nele. Disse, também, que ordenou que ele fosse imediatamente embora da casa.