O mistério da rua sem saída

Eduardo Martínez: Conto ‘O mistério da rua sem saída’

O mistério da rua sem saída
Logo da seção O Leitor Participa
Imagem criada por IA do ChatGPT em 13 de novembro de 2025, às 07:57 PM
Imagem criada por IA do ChatGPT em 13 de novembro de 2025, às 07:57 PM

Duas meninas, gêmeas, sete anos, uma Ana Maria, outra Mariana.  Ana Maria tinha grandes olhos de um castanho meio mel; Mariana também.  Ana Maria com seus cabelos encaracolados, caídos um pouco abaixo dos ombros; Mariana também.  Ana Maria adorava sorvete de flocos; Mariana, de morango.

            As duas irmãs moravam em uma pequena rua, uma rua sem saída, num bairro bem distante, numa cidade bem grande, num país chamado Brasil.  Havia outras crianças na rua da Ana Maria, que também era a rua da Mariana, mas que também era a rua de outras pessoas. 

Juliana também morava nessa rua, era amiguinha das gêmeas, tinha cabelos lisos, loiros, caídos bem abaixo dos ombros.  Todos a chamavam de Jujuba.  Também havia a Gabriela, morena dos cabelos tão grandes que alcançavam o bumbum.  Nossa, a Gabriela era tão mandona, gostava de chefiar tudo.  Mandar era com ela mesma.  Iago era um dos poucos meninos da rua, magro como um palito, negro, dois olhos de jabuticaba bem madura.         

A criançada se divertia com as brincadeiras que seus pais e até avós já haviam brincado.  Queimada, que essa nova geração cismava em chamar de queimado, pique-esconde, bandeirinha, o mestre mandou.  Muitas e muitas brincadeiras.  Puxa, como se divertia essa meninada!

          Não só havia crianças nessa rua, mas árvores frondosas, principalmente amendoeiras.  Quando chovia, e a criançada não queria acabar a brincadeira, todos se protegiam embaixo das árvores.  E quando o sol estava muito forte, a galerinha também ficava sob as copas tão protetoras das mesmas árvores.

            Alguns gatos circulavam pela rua, uns tinham dono, outros eram da rua mesmo.  Um desses errantes era um lindo gato branco, a cauda mais peluda do que o resto do corpo, um pouquinho gordo, mas nada que o impedisse de escalar muros e até mesmo as belas árvores.  E mesmo sendo um bichano das ruas, tinha nome e até sobrenome, colocado pelo pessoal da vizinhança.  Pois bem, o dito cujo se chamava Virgulino Ferreira da Silva.  Mas por que cargas d’água iriam dar um nome desses a um gato, você poderia perguntar.  É mais simples do que parece: esse bichano recebeu esse nome como uma referência ao cangaceiro Lampião, que se chamava Virgulino Ferreira da Silva e só tinha um olho.  Pois é, o gato Virgulino também só possuía um olho.  Ninguém sabe na verdade como ele perdeu o outro ou, se sabe, já se esqueceu.

            Quem sempre andava com o Virgulino era um gato de cor cinza azulado, olhos verdes e que sempre se metia em confusão.  Já havia escapado da morte diversas vezes e, por esse motivo, ganhara o sugestivo nome de “Elvis não morreu”.  Virgulino e Elvis eram amigos inseparáveis, sempre se metendo em encrencas juntos, sempre saindo delas juntos.  Eram como unha e carne.

            Não poderia deixar de existir nessa história uma gatinha, que por sinal se chamava Sonja ou, para os íntimos, Sonjinha.  Uma bela bichana de cor cinza, tigrada, olhos verdes como os do Elvis, mas bem mais dóceis e confiáveis.  Ao contrário de Virgulino e seu amigo inseparável, Sonja possuía dono, ou melhor, dona, ou melhor ainda, duas donas: Ana Maria e Mariana ou, se você preferir, Mariana e Ana Maria, as tais gêmeas de que falei logo no início desta história. 

Sonja não era a única na casa das duas irmãs, dividia o caixote de madeira com seu filho único, o Dunguinha, um gatinho loiro e de olhos verdes.  Ele ainda não havia completado três meses, mas já era o xodó da casa, da rua, enfim, de todos que o conheciam.  Era uma coisa de Dunguinha para cá, Dunguinha para lá, todos queriam pegar o filhotinho no colo.

            Não só de crianças, árvores e bichanos esta história é feita.  Também havia os pais e mães da criançada.  Ah, claro, também não podemos nos esquecer dos outros animais como, por exemplo, a Cuca, uma cachorrinha muito simpática, que morava na mesma casa da Sonja.  Ela também pertencia às gêmeas Ana Maria e Mariana e, apesar do dito popular, se dava muito bem com os bichanos da casa e até mesmo com os da rua. 

Atirei o pau no gato

             A criançada estava brincando na rua, numa sexta-feira já perto das dezenove horas, que é a mesma coisa que sete horas da noite.  Só que era horário de verão, e o dia continuava claro.

            Era um corre-corre para cá, um corre-corre para lá.  A patota já havia brincado de pique-bandeira, que alguns chamam de bandeirinha.  Também se divertiram muito jogando garrafão.  Ei, não pense você que jogar garrafão é sair atirando garrafas nos coleguinhas.  Garrafão é o nome de uma brincadeira onde a gente desenha uma grande garrafa no chão.  Aí, quem está dentro do garrafão só pode andar com um pé, a não ser que seja você que está tentando pegar seus amiguinhos.  Quem está de fora pode usar os dois pés.  Bem, mas como eu ia dizendo, a galerinha já havia gastado muita energia em inúmeras brincadeiras divertidas.  Então, a Gabriela, a tal menina mandona, chamou todos para brincar de show de calouros.  Cada um tinha de cantar uma música, mas podia cantar em dupla, trio ou, até mesmo, todos juntos.

            — Eu posso ser a primeira? – Jujuba perguntou.

            — Tá bem.  Depois vai ser a Mariana – Gabriela disse.

            — Mas eu posso cantar com a minha irmã? – quis saber a Mariana.

            — Claro que pode, Mariana – concordou a Gabriela.

            — E eu não vou cantar? – o Iago perguntou quase chorando.

            — Claro que vai, Iago – todos responderam ao mesmo tempo.

            Jujuba cantou “O trem maluco” e foi aplaudida por todos.  Depois foi a vez das gêmeas cantarem “Cai, cai balão”.  Outras crianças cantaram “Marcha soldado”, “Casa engraçada” e outras canções.  Quando chegou a vez do Iago, ele não quis cantar sozinho e pediu para que todos cantassem juntos “Atirei o pau no gato”.  Não pense você que eles maltratam os animais, mas apenas preferem a versão original àquela que diz “Não atirei o pau no gato”.  

            Quando terminaram de cantar “Atirei o pau no gato”, alguém, acho até que foi a Ana Maria, perguntou se uma das crianças tinha visto o Virgulino.  Ninguém, mas ninguém mesmo soube responder.  Pensando bem, a última vez que haviam visto o tal gatinho branco foi pela tarde do dia anterior.  E acho que foi o Iago, isso mesmo, foi o Iago quando voltava da escola, que o viu pela última vez. 

            Gabriela imediatamente organizou duas turmas de busca.  A primeira era formada por Jujuba, as gêmeas, Taís e Leila.  A outra turma ficou sendo a Gabriela, Amanda, Iago e o Leo, que na verdade se chama Leonardo e é irmão da Leila. 

            A galera da primeira turma tinha de procurar embaixo dos carros; a outra procurou em cima das árvores.  Procuraram, procuraram, procuraram…  Puxa, mas como procuraram!  E nada de acharem o Virgulino.  Ainda estavam procurando quando a mãe da Leila e do Leo os chamaram.

            — Leila!  Leo!  Já tá tarde!  Vamos entrando!

            Logo em seguida foi a vez da avó do Iago mandá-lo entrar.  E as mães, pais e outras pessoas da família foram chamando a criançada para entrar.  E todos foram se despedindo dos coleguinhas e entraram para as suas respectivas casas.

Pique-esconde

             No dia seguinte, uma sexta-feira, lá estava a garotada da rua sem saída, a rua da Ana Maria e da Mariana, a mesma rua que também era de outras crianças, de árvores frondosas e de vários bichinhos.

            — Gente, hoje é sexta-feira, amanhã não temos aula, pois será sábado.  Então, podemos brincar até um pouco mais tarde – disse Gabriela, que você já sabe que era mandona.

            — É mesmo!  Que legal! – foi dizendo Iago.

            — Mas estudar também é muito legal – falou a Mariana.

            — É isso aí, Mariana! – concordou a Jujuba.

            — Podemos brincar de pique-esconde – sugeriu a Ana Maria.

            — Bacana! – disse a Taís.

            — Maneiro! – concordou a Leila.

            Como a maioria queria brincar de pique-esconde, a proposta da Ana Maria foi aceita.  Logo estavam todos formando um círculo e gritando “zerinho ou um”.  O último a sair contaria até 50 para que os outros se escondessem.  E o último a sair foi justamente o Leo.

            — Um, dois, três, quatro, cinco… – enquanto o irmão da Leila contava com o rosto virado para o pique, todos se escondiam.  

            A Ana Maria e a Jujuba se esconderam atrás de uma moita de capim limão, a Mariana foi para trás de um carro, o Iago e a Taís subiram em uma árvore, a Leila e a Gabriela ficaram atrás de uma  outra árvore.  As outras crianças também se esconderam, cada uma tentando escolher o esconderijo mais perfeito.

            Pois é, a galerinha ficou nessa brincadeira por mais de uma hora.  Depois do Leo, foi a vez da Jujuba contar até 50 para que todos se escondessem.  Mariana e Taís a sucederam.  E depois ainda vieram a Gabriela, a Leila e, por último, o Iago.  Só a Ana Maria não teve de contar até 50.  É, dessa vez, a danadinha teve sorte!

            A brincadeira só acabou mesmo porque alguém se lembrou de procurar o Virgulino, que havia sumido e ninguém conseguiu achá-lo.  Se não estou enganado, acho que foi a Mariana que se lembrou.  Seja como for, a mandona da Gabriela dividiu os grupos como no dia anterior e todos foram procurar o Virgulino.  

            Era um tal de gritar “Virgulino” pra cá, “Virgulino” pra lá, mas nada do bichano aparecer.  De tanto berrarem, as crianças já estavam ficando roucas.  Gritaram até que a Taís percebeu que não era só o Virgulino que havia sumido.  Ela notou que o amigo inseparável do gatinho desaparecido também não estava por ali.  

            — Galera, vocês notaram que o Elvis também sumiu? – perguntou a Taís.

            Ninguém havia visto o amigo do Virgulino.  Então, a Gabriela chamou todo mundo e fez uma grande roda.

            — Pessoal, a Taís notou que o Elvis também sumiu.  Ontem ele estava aqui, mas hoje desapareceu.  O que será que houve com os dois?  Será que foram embora da nossa rua? – falou a mandona.

            Mas antes que alguém pudesse responder, o pai das gêmeas mandou que elas entrassem.  Logo em seguida foi a vez da mãe da Leila e do Leo chamá-los.  E assim a criançada foi entrando para as suas respectivas casas, sempre obedecendo aos chamados dos pais, das mães, das avós…   

Cobra-cega

            O sábado amanheceu ensolarado e logo a garotada estava na rua.  A brincadeira já ia começar.  A maioria escolheu brincar de cobra-cega, que alguns conhecem por cabra-cega.  Só estavam faltando as gêmeas, que ainda não tinham saído de casa.  Então, a Gabriela, que era mandona mesmo, falou pro Iago ir chamá-las.  

            — Puxa, sempre sobra pra mim! – resmungou o garoto de olhos de jabuticaba.

            Antes mesmo que o Iago tocasse a campainha da casa da Ana Maria e da Mariana, elas apareceram e falaram ao mesmo tempo:

            — Iago, você viu a Sonjinha e o Dunguinha?

            — Não.  Por quê?  Não vão me dizer que eles sumiram também?

            — Isso mesmo – respondeu Ana Maria antes da sua irmã.

            Os três correram para contar a novidade para a galerinha.  Então, a Gabriela dividiu a turma em dois grupos para procurar os dois gatinhos.  Aliás, os quatro, pois o Virgulino e o Elvis continuavam desaparecidos.   Procuraram, procuraram, procuraram e nada de encontrar os felinos.  Onde eles poderiam estar?  

            Depois de mais de uma hora procurando os gatinhos, a Ana Maria veio conversar com a Gabriela.

            — Gabi, estive pensando numa coisa.

     — No quê, Aninha? – quis saber a Gabriela.

            — Olha, já procuramos os nossos amigos gatinhos em vários lugares, mas até agora nem sinal deles.  Então, tive uma ideia!

            — Que ideia, Aninha? – quis outra vez saber a Gabriela, que além de mandona era muito curiosa.

            — Precisamos da ajuda de mais alguém! – disse a Ana Maria fazendo um certo mistério.

            — E de quem? – mais uma vez a mandona e curiosa da Gabriela quis saber.

            — Ora bolas, da Cuca! – finalmente disse a Ana Maria.

            — Da Cuca?  Mas por que da Cuca? – a Gabriela não entendeu.

            — Olha, a Cuca é uma cachorrinha e tem um ótimo faro.  Ela conhece o cheiro de todos os gatinhos que sumiram.  Então, ela vai achá-los!  Tenho certeza de que ela irá encontrá-los! – falou a Ana Maria.

            — Boa ideia! – disse o Diogo, que estava por perto e acabou ouvindo a conversa das duas.

            — É, pode dar certo – concordou a Gabriela.

    Depois de chamar toda a criançada da rua, a Gabriela falou para o Iago ir buscar a Cuca, que era a cachorrinha da Ana Maria.

            — Iago, vai lá na casa da Ana Maria e traga a Cuca aqui.

            — Ah, tudo eu, tudo eu! – resmungou o Iago, mas mesmo assim obedeceu à mandona da rua.

            Em menos de cinco minutos, o Iago estava de volta com a Cuca, que veio abanando o rabinho para a garotada.  Ela gosta tanto das crianças que acabou por derrubar a Ana Maria e começou a lamber o seu rosto.  A Mariana foi tirá-la de cima da irmã, mas a Cuca deu um pulo e a jogou no chão e também lambeu o seu rosto.

            — Para, Cuca!  Você está me fazendo cócegas – protestou a Mariana.

            — Au, au, au! – a Cuca latia chamando todos para brincar.

            — Quieta, Cuca! – ordenou a Gabriela.

            Até a Cuca sabia que a Gabriela era mandona e, por isso mesmo, saiu de cima da Mariana e se sentou ao seu lado.  A Mariana limpou seu rosto das lambidas da cachorrinha danada.

            — Aninha, fala pra Cuca procurar os gatinhos – disse a Gabriela.

            A Ana Maria se ajoelhou em frente à Cuca, pegou a cabeça da cachorrinha com as suas duas mãozinhas e olhou bem dentro dos olhos dela.

            — Cuca, quero que você ache a Sonjinha, o Dunguinha, o Virgulino e o Elvis, que sumiram.  Ninguém sabe onde eles estão.  Você pode encontrá-los pra mim? – falou a Ana Maria.

            — Au, au, au! – respondeu a Cuca.

            A cachorrinha, então, colocou o focinho no chão e saiu em busca de uma pista.  Ela vinha e voltava, vinha e voltava com o focinho quase arrastando no chão e a cauda levantada.  Até que ela foi seguindo para o final da rua, onde parou em frente à casa de um tal Ubaldo Canastra, que havia se mudado há poucas semanas para o bairro. 

A Cuca ficou de pé com as patinhas da frente apoiadas no muro da casa.  Ela estava inquieta, o rabinho agitado, mas não latia para não chamar a atenção do dono da casa.  A Cuca era danadinha, mas também não era boba.

            A criançada correu até onde a Cuca estava.  Jujuba foi a primeira a falar.

            — Galera, os gatinhos estão aí dentro!  Vamos entrar e pegá-los!

            — Não podemos fazer isso, Jujuba.  Quem mora aí é aquele homem estranho, o tal Ubaldo Canastra – disse a Taís.

            — A Taís tem razão.  Precisamos bolar um plano para salvar nossos amiguinhos – disse a Amanda.

            Então, a Gabriela, que você já sabe que era mandona e curiosa, convocou toda a galerinha para uma reunião secreta.  Só que quando todos já estavam na tal reunião secreta, a mãe da Gabriela a chamou para almoçar.  Não demorou muito e todas a mães, pais, avós, avôs, tias e tios da criançada apareceram na rua para avisar que o almoço já estava na mesa.   

O plano

            Após o almoço, a gurizada foi saindo de casa.  Primeiro foram as gêmeas Ana Maria e Mariana, depois a Jujuba, a Taís, a Gabriela, o Diogo, a Amanda, enfim, todos, menos um, o Iago.  Bem, o Iago demorou porque ele é meio guloso.  Também, naquele dia tinha feijoada e o Iago adora comer o feijão da sua avó.  Aliás, o Iago come de tudo, dizem que até sopa de pedra!  

            Depois de esperar pelo amiguinho guloso, a criançada finalmente viu surgir o Iago, que vinha coçando a barriga de satisfação.

            — Ah, que feijoada deliciosa! – disse o glutão.

            — Puxa, até que enfim você apareceu, Iago – protestou a Gabi.

            — É mesmo, Iago.  A gente só estava esperando você pra começar a reunião – disse a Jujuba.

            Então, a reunião teve início com as palavras da Gabriela.

            — Amiguinhos e amiguinhas, debaixo desta linda castanheira digo que a reunião comece.  A pauta é o salvamento dos nossos amiguinhos gatinhos – disse a mandona.

            A Mariana levantou a mão para falar.  A Gabriela olhou para ela e falou para todos prestarem atenção nas palavras da colega.

            — Meus amiguinhos, minha irmã e eu tivemos uma ideia para salvar os gatinhos.  Olha, um de nós vai ficar vigiando a casa do Ubaldo Canastra.  Quando ele sair, a gente pula o muro e entra na casa dele.  Aí, a gente pega os nossos amiguinhos e fugimos – disse a Mariana.

            — Boa! – concordou a Jujuba.

            — Mas e se ele aparecer de repente? – quis saber o Diogo.

            — Bem, é só deixar alguém vigiando a rua.  Quando o Ubaldo Canastra aparecer, quem ficar de vigia avisa os que entrarem na casa – explicou a Mariana.

            — Legal! – disse a Jujuba.

            — É, acho que o plano das gêmeas vai funcionar – concordou a Taís.

            Então, a Gabriela perguntou se todos estavam de acordo com o plano, e ninguém foi contra.  A mandona continuou a falar.

            — Iago, você vai ficar vigiando a casa do Ubaldo Canastra.  Assim que ele sair, você avisa a gente.

            — Puxa, tudo eu, tudo eu – resmungou o Iago.

            — E quem vai entrar na casa? – perguntou a Amanda.

            — Eu, a Aninha, a Mariana, a Jujuba e a Taís – respondeu a Gabriela.

            E assim ficou acertado o plano de resgate dos quatro gatinhos.  Mas como o dia foi passando e nada do Ubaldo Canastra sair de casa, a garotada resolveu brincar de queimado.  E o tempo foi passando, passando, até que as mamães, os papais, as avós, os avôs, as titias e os titios foram chamando a criançada para entrar.  Brincadeira só no outro dia!

O resgate

            Domingo!  O primeiro a sair à rua foi o Diogo.  Ele estava brincando de rodar pião.  Logo chegou a Jujuba, que brincou um pouco também.  Depois apareceram a Taís e a Gabriela quase ao mesmo tempo.  A criançada foi chegando aos poucos, mas ainda faltava um.  E você pode adivinhar quem era esse retardatário?  Pois é, era o guloso do Iago, que não se contentava com um pão.  Ele come pelo menos três!  E olha que ele é magrinho que nem palito!  

            E brinca daqui, brinca dali… A meninada estava com todo gás esse dia.  E o Iago, mesmo brincando, não desgrudava os olhos de jabuticaba madura da casa lá no final da rua, onde morava o tal Ubaldo Canastra.

            Ih, agora me lembrei que não disse como era esse tal Ubaldo Canastra.  Pois bem, ele é um homem de mais de 1,80 metro de altura, pelo menos uns cem quilos ou mais, mãos enormes com dedos grossos, as unhas são tão grandes e cheias de sujeira, é calvo e o pouco dos cabelos que lhe restam são quase pretos.  Tem um enorme nariz de batata e sua pele é branca encardida de terra.  Seus olhos são maiores do que os de uma coruja e sua boca mais fedorenta que um penico.  Pois é assim mesmo esse Ubaldo Canastra!

            De repente o Iago começou a pular e apontar para o final da rua.  Mas ele não conseguia dizer coisa com coisa.  Teve criança até que achou que o guloso da rua tinha pirado.  Também teve uma menina, acho até que foi a Jujuba, que achou que o Iago estivesse com dor de barriga.  

            — O que foi, Iago? – perguntou a Gabriela.

            — E…e… ele saiu! – gaguejou o guloso.

            — Ele quem, Iago? – quis saber a Jujuba.

            — O… o… Ubal…  Ubaldo Canastra! – finalmente falou o Iago.

            — Vamos turma!  Temos de agir o mais rápido possível – disse a Gabriela.

            Enquanto a criançada corria para frente da casa do Ubaldo Canastra, a Ana Maria e a Mariana correram para o lado oposto.  A Gabriela não entendeu e as chamou.

            — Ei, Ana Maria!  Ei, Mariana!  Aonde vocês estão indo? – falou a Gabriela.

            — Vão indo na frente.  A gente só vai pegar umas coisas lá em casa.  Logo estaremos com vocês – respondeu a Mariana.

            Então, a criançada ficou em frente à casa do Ubaldo Canastra.  Em menos de cinco minutos apareceram as gêmeas carregando um balde e cinco ratoeiras.

            — Pra que vocês trouxeram essas coisas? – quis saber a Gabriela.

            — Depois a gente fala.  Agora precisamos agir o mais rápido possível – disse a Ana Maria, já pulando o muro da casa do Ubaldo Canastra.

            Então, a Mariana passou o balde e as ratoeiras para a sua irmã.  Depois também pulou o muro.  Vieram atrás dela a Gabriela, a Jujuba e a Taís.  As outras crianças ficaram ajudando o Iago a ver se o Ubaldo estava voltando.

            A porta da frente estava fechada.  Então, as gêmeas tiveram a ideia de olharem se a porta dos fundos estava aberta.  As cinco meninas deram a volta na casa.  A porta de trás também estava trancada.  Mas havia uma janela aberta, só que era um pouco alta para as meninas.

            — Puxa, e agora? – falou uma desanimada Jujuba.

            — Já sei!  Já sei! – disse a Taís.

            — O que você já sabe, Taís? – perguntou a Gabriela.

            — Olha, a gente vai fazer uma pirâmide humana!  Eu já vi isso no circo – respondeu a Taís.

            — Pirâmide humana?  Mas o que é isso? – quis saber a Jujuba.

            — Pirâmide humana é o seguinte: a gente vai subindo uma em cima da outra até ficar bem alta.  Entendeu? – respondeu mais uma vez a Taís.

            — E isso vai dar certo? – perguntou a Gabriela.

            — Só saberemos tentando – disse a Ana Maria.

            Como a Gabriela era a mais velha e mais forte, ela ficou sendo a base da pirâmide.  Então, ela encostou o corpo na parede da casa e falou para a Jujuba subir nos seus ombros.  Ajudada pelas outras meninas, a Jujuba conseguiu ficar em cima da Gabriela.  Depois foi a vez da Ana Maria subir nos ombros da Juliana.  Ela foi ajudada pela Taís e pela Mariana.  Com bastante esforço ela conseguiu.

            — Vai logo, Ana Maria, pula logo a janela, pois não estou aguentando todo esse peso – disse a Gabriela.

            A Ana Maria não perdeu tempo e entrou na casa através da janela.  Ela estava no quarto do Ubaldo Canastra.  Estava tudo escuro, apesar de ainda ser dia.  É que as cortinas estavam todas fechadas.  Tratou logo de descer a escada da casa de dois andares e foi abrir a porta de trás para a sua irmã e as suas amigas entrarem.  Por sorte a chave estava na porta.

            Assim que as meninas colocaram os pés na casa, ouviram um barulho…

            — Miaaauuuuuu!

     —      É a Sonjinha!!! – explodiu de alegria a Mariana.

            — Acho que o som veio dali – disse a Taís.  

            As meninas foram andando sempre de mãos dadas pela sinistra casa.  Os miados continuaram, agora mais fortes, agora de todos os quatro gatinhos.  Finalmente descobriram onde o malvado Ubaldo Canastra os havia escondido: presos numa gaiola dentro do banheiro.

            Assim que os gatinhos viram as corajosas meninas, eles começaram a miar, principalmente a Sonjinha e o Dunguinha.  As garotas soltaram os gatinhos.  A Gabriela pegou o Elvis no colo, a Jujuba ficou com o Virgulino, a Taís carregou a Sonjinha e o Dunguinha.  

            — Meninas, vocês vão indo na frente.  A gente tem de preparar uma surpresa pra esse malvado Ubaldo Canastra – disse a Ana Maria.

            — O que vocês vão fazer? – quis saber a Gabriela.

            — Depois você vai saber – disse a Mariana.

            As amigas das gêmeas, então, saíram da casa carregando todos os gatinhos.  Lá fora estavam as outras crianças esperando ansiosas pelas cinco meninas.  Mas só apareceram três.

            — Onde estão as gêmeas? – perguntaram todos quase ao mesmo tempo.

            — Elas já estão vindo.  Foram preparar uma surpresa pro Ubaldo Canastra – explicou a Gabriela.

            O tempo foi passando, passando…  Dez minutos!  Quinze minutos!  Vinte minutos!  

            — O Ubaldo Canastra está voltando, galera! – anunciou o Iago.

            — Temos de avisar as gêmeas! – disse a Jujuba.

            Mas não foi preciso chamá-las, pois antes mesmo do malvado raptor de gatinhos aparecer na rua, as duas irmãs saíram triunfantes da casa.  Aí, todos correram para debaixo da amendoeira que ficava em frente à casa da jujuba.

            — O que vocês fizeram lá dentro? – perguntou o Iago.

            — A gente colocou água no balde.  Depois o pusemos em cima da porta do quarto do Ubaldo. E espalhamos as ratoeiras pelo chão – respondeu a Ana Maria. 

            — Ué, mas pra que vocês fizeram isso? – perguntou a Amanda.

            Mas antes que uma das gêmeas respondesse, a criançada ouviu vários gritos vindos da casa do final da rua.  Logo após surgiu o malvado Ubaldo Canastra todo molhado e com cinco ratoeiras penduradas pelo corpo: uma em cada mão, uma em cada orelha e uma pendurada no nariz de batata.  A criançada caiu na gargalhada.  E essa foi a última vez que todos naquela rua viram aquele homem malvado que, segundo as pessoas, pegava gatinhos para fazer churrasquinho e tamborim.  

As duas irmãs continuam morando na mesma rua, uma rua sem saída, num bairro bem distante, numa cidade bem grande, num país chamado Brasil.  Talvez seja até uma rua bem parecida com a sua.

Eduardo Martínez

Eduardo Martínez. Foto por Irene Araújo
Eduardo Martínez. Foto por Irene Araújo

Eduardo Martínez é um premiado escritor carioca, mas mora em Porto Alegre, cidade pela qual é apaixonado. Vencedor do Prêmio Literário Clarice Lispector – 2025 na categoria livro de contos com “57 Contos e crônicas por um autor muito velho”, que saiu pela Joanin Editora.

Seu primeiro livro, o romance “Despido de ilusões”, 2004, figurou entre os mais lidos do Centro Cultural Banco do Brasil. 

Seus contos e crônicas, que já ultrapassaram a incrível marca de 1.000 publicações, são utilizados por escolas no Rio de Janeiro, em Brasília e em Brodowski-SP. É cronista/contista do jornal Notibras (https://www.notibras.com/site/) e do Blog do menino Dudu (https://blogdomeninodudu.blogspot.com/).

Divide a editoria Café Literário do Notibras com o poeta e escritor Daniel Marchi e a jornalista e poeta Cecília Baumann.

Instagram: @escritoreduardomartinez

Voltar

Facebook




Cooperar é melhor que competir!

José Ngola Carlos: ‘Cooperar é melhor que competir’

Kamuenho Ngululia
Kamuenho Ngululia
Imagem criada por IA do Bing, em em 4 de dezembro de 2025, às 16:09 PM
Imagem criada por IA do Bing, em em 4 de dezembro de 2025,
às 16:09 PM*

A vida em comunidade é uma que se faz melhor cooperando e não competindo. Cooperar é um ato coletivo com aspirações ao ganho comum ou de todos. Competir, por seu turno, é um ato igualmente coletivo, porém, com aspirações ao ganho individual ou particular.

O ego individual enfuna-se, muito mais facilmente, com a competição do que com a cooperação. Por ego individual quer-se dizer, a falsa noção de ‘eu’ que se separa de outros e do mundo, percebendo-se melhor, com a excessiva autoestima, ou pior, com a baixa autoestima.

O sentido de identidade, isolada do todo existencial, não acontece apenas aos indivíduos. As sociedades ou comunidades humanas também enfermam-se com o cultivo do ego comunal ou social. Este ego, conforme se identifica pelo nome, diz respeito ao desejo das sociedades de apartarem-se de outras ou do mundo, percebendo-se melhores ou piores.

Tal como o ato cooperativo não apela fortemente ao ego individual, o mesmo acontece com o ego comunal. Na sua individualidade, tanto as pessoas singulares quanto as pessoas coletivas, não são entidades com vida sem fim ou perene. Elas nascem, desenvolvem-se e morrem. Pelo que, para os seres de inteligência, competir é um ato de violência desnecessário porque se percebe que, no final, tanto a/o vencedor/a, quanto a/o perdedor/a terão o mesmo destino.

Só na cooperação é que os indivíduos e as sociedades se desenvolvem plena e harmoniosamente. A competição desenfreada e irresponsável, por seu turno, enferma os indivíduos, satisfaz mais ao ego do que ao desenvolvimento pessoal, social e planetário e causa pesares desnecessários.

A existência, a todos nós pode prover. Talvez conviesse competir em um mundo onde os recursos fossem escassos, mas a nossa realidade é diferente. No mundo em que vivemos, os recursos se escasseiam com a falta de produção ou com a pouca produção, pelo que, e neste sentido, cooperar, ao invés de competir, é a melhor estratégia de sobrevivência.

José Ngola Carlos, Msc

Malanje, 4 de dezembro de 2025

Como citar este artigo: 

Carlos, J. N. (2025:11). Cooperar é Melhor que Competir! Brasil: Jornal Cultural ROL.

** Fonte da imagem: https://www.bing.com/images/create/pessoas-de-vc3a1rias-culturas-felizes-e-envolvidas-na/1-69316965fc5241dfb986a2aff11721b2?id=G6ImkMx4OkBdQPeMck4Spw.KbJahzV3zqgl%2BsJP9lmZMQ&view=detailv2&idpp=genimg&thid=OIG4.VYFQ7oAZHUEGI5Cu.IYV&sm=1&mdl=0&ar=1&skey=EKhn9CWi2gsIWFf3FZtfeMS5fHju8imqOKmbEdGuQGQ&form=GCRIDP

Voltar

Facebook




Ouro derretido à deriva

Ella Dominici: Poema ‘Ouro derretido à deriva’

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem criada por IA do Bing (https://sl.bing.net/cA5FAA4aR6i) , em 04 de dezembro de 2025, às 15:38.

pergunta-me onde me achava morrendo
como um navio incendiado em alto mar
deixando tombar o ouro que se fundia em pleno amar lava
incandescente derretendo aos poucos a formar arte deslumbrante

sem ar no pulmão das águas frias
pergunta-me as palavras que te dissera
foram de audácia as correntes que te prenderam
algema líquida que te segurou bem firme
deixara-te deslizar como peixe escorrega das mãos
redimes, lembra-te e salta em águas conhecidas
reconhece teu habitat

peixe que passa por minhas pedras limosas de cheiro do mar
marulho te cante aos ouvidos
salgado salino ao teu paladar
brinda e não esqueças do molhado na borda da taça
folga-te das bolhas que se formam na boca que beijas
palavras poéticas feitas de um nada
se agitam e dizem o tudo de uma só vez

brigas comigo que o tudo é teu é meu
é demais e de mais ninguém
nademos sem rumo de mãos enamoradas
se me afundas te sossego, se te afundo nadas de braçadas
e boias de prazer comigo

olha-me molha-me debaixo d’água
meu corpo se dilui e a visão é ilusão
o movimento é nosso no insustentável
até que morras até que acordes
de tuas águas que me quiseram e me amaram
pergunta-me onde me achava
morrendo como um navio incendiado em alto mar,
à deriva

Ella Dominici

Voltar

Facebook




Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias

Alexandre Rurikovich Carvalho

‘Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias: Origem, Trajetória, Atuação Pública e Legado da Imperatriz do Brasil’ 

Dom Alexandre Rurikovich Carvalho
Dom Alexandre Rurikovich Carvalho
Retrato colorizado da Imperatriz Teresa Cristina, mostrando-a em pose frontal, com expressão serena, vestida em traje verde escuro com detalhes em renda. O penteado trançado e os brincos discretos reforçam sua aparência elegante e digna. Imagem criada por IA do ChatGPT.

Resumo

Este artigo examina a trajetória de Teresa Cristina Maria de Bourbon-Duas Sicílias (1822–1889), imperatriz consorte do Brasil, enfatizando suas origens europeias, o casamento dinástico com D. Pedro II e sua atuação durante o Segundo Reinado. Analisa-se sua relevância política indireta e seu impacto cultural e social, evidenciados no título simbólico de “Mãe dos Brasileiros”, construído por meio de práticas de beneficência, religiosidade e proximidade afetiva com a população. O estudo também aborda as condições de sua vida no exílio após a queda da monarquia e destaca a fundação da cidade de Teresópolis, no Rio de Janeiro, como homenagem permanente à soberana, incluindo a denominação do Palácio Teresa Cristina, sede do Poder Executivo municipal. À luz da historiografia recente, argumenta-se que Teresa Cristina exerceu papel fundamental na legitimação simbólica da monarquia brasileira e na formação da memória imperial.

Palavras-chave: Imperatriz Teresa Cristina; Segundo Reinado; Monarquia Brasileira; Dom Pedro II; Mãe dos Brasileiros; Exílio da Família Imperial; Teresópolis; Palácio Teresa Cristina; História do Brasil Império; Cultura e Beneficência no Século XIX.

1. Introdução

A figura de Teresa Cristina Maria de Bourbon-Duas Sicílias tem sido objeto de crescente atenção historiográfica nas últimas décadas. Embora a narrativa tradicional a descreva como uma personagem discreta e relegada ao ambiente doméstico, estudos recentes revelam a amplitude de sua atuação, especialmente na promoção da cultura, na filantropia e na construção da imagem simbólica da monarquia brasileira. Este artigo pretende ampliar a compreensão de sua vida e relevância histórica, contextualizando sua presença no cenário sociopolítico do século XIX. Teresa Cristina nasceu em Nápoles em 14 de março de 1822, filha do rei Francisco I e da rainha Maria Isabel da Espanha. Sua infância transcorreu na corte das Duas Sicílias, ambiente marcado por forte influência artística, musical e científica. Estudos mostram que ela recebeu uma educação ampla, com domínio de línguas, formação religiosa sólida e grande interesse por arqueologia e história antiga. A corte napolitana, especialmente sob o reinado dos Bourbons, cultivava intensa efervescência cultural devido às proximidades com Pompeia e Herculano, centros arqueológicos redescobertos no século XVIII. Teresa Cristina não apenas acompanhou essas descobertas, mas também desenvolveu forte apreço por elas, algo que mais tarde influenciaria seu apoio ao Museu Nacional no Brasil.

2. Casamento com D. Pedro II e a Chegada ao Brasil – Contexto, Expectativas e Adaptação

2.1 Motivações diplomáticas e o casamento por procuração

  • O casamento de Teresa Cristina com D. Pedro II foi precedido de intensas negociações diplomáticas: como princesa do reino das Duas Sicílias, sua união ao imperador brasileiro refletia o tradicional interesse da monarquia luso-brasileira em fortalecer laços com as casas Bourbon europeias. 
  • A cerimônia formal aconteceu por procuração em 30 de maio de 1843, em Nápoles — D. Pedro II foi representado por seu cunhado, o príncipe conde de Siracusa. 
  • A noiva partiu acompanhada por uma comitiva e uma pequena frota — a viagem foi organizada de modo a garantir equilíbrio entre cerimônia, segurança e logística.

2.2 A chegada ao Brasil e o primeiro encontro público

  • Teresa Cristina chegou ao Rio de Janeiro em 3 de setembro de 1843. 
  • A cerimônia de casamento pública – o casamento de Estado, ocorreu em 4 de setembro, na Capela Real do Paço. 
  • Fontes históricas apontam que, ao contrário do retrato idealizado que D. Pedro II recebera para “avaliar” sua futura esposa, o encontro real gerou surpresa: o imperador teria ficado insatisfeito com a aparência “simples” da noiva.

     

  • Apesar desse clima inicial – que poderia se traduzir em desconfiança ou descontentamento – as cartas contemporâneas e relatos da corte indicam que o desfecho foi mais humano: o casal demonstrou nervosismo, especialmente Teresa Cristina, e, no momento do abraço de boas-vindas, ambos estavam visivelmente emocionados. O militar napolitano que acompanhou a viagem relata que D. Pedro II “bateu no peito da noiva” e a saudou com um abraço, gesto que sugere ansiedade, mas também aceitação.

2.3 A adaptação à nova realidade e o papel de imperatriz consorte

  • Após o desembarque, Teresa Cristina passou a residir no Paço de São Cristóvão – então residência oficial da corte – e, posteriormente, em residências de veraneio como a antiga residência imperial em Petrópolis. 
  • A imperatriz não apenas representava a corte em eventos oficiais e cerimoniais, mas gradualmente se integrava à vida social do Brasil, participando de festas, cerimônias religiosas, recepções diplomáticas e atos de caridade. 
  • O casamento produziu quatro filhos: dois meninos – D. Afonso e D. Pedro Afonso, que morreram na infância; duas meninas: D. Isabel e D. Leopoldina, que chegaram à idade adulta. A morte dos herdeiros homens gerou, na corte, incertezas acerca da linha de sucessão, o que intensificou o papel simbólico da imperatriz como mãe da futura geração imperial. 
  • Com o tempo, Teresa Cristina, mesmo com sua aparência discreta e estilo reservado, conquistou o respeito da corte e, sobretudo, dos cidadãos que a conheciam, não por ostentação, mas pela educação, retidão, serenidade e comportamento pautado pela religiosidade e modéstia. 
  • Em resumo: o casamento de 1843 marcou o início de uma travessia dramática – da corte napolitana para os trópicos – e exigiu de Teresa Cristina adaptação rápida a nova realidade política, social e cultural. A despeito de incertezas iniciais, ela assumiu seu papel com dignidade, respeito e senso de missão.

3. Papel Político, Social e Cultural no Segundo Reinado – Mecenato, Filantropia e Identidade Imperial

Embora não exercesse poder de governo direto – o que era tipicamente reservado ao imperador – Teresa Cristina traduziu sua posição em influência simbólica, cultural e humanitária, que reverberou por décadas no Brasil imperial.

3.1 Mecenato cultural e científico: a “imperatriz arqueóloga”

  • Por formação e tradição familiar, Teresa Cristina tinha fascínio pelas artes clássicas, arqueologia e cultura mediterrânea – ela havia crescido em Nápoles, berço de escavações monumentais como as de Pompéia e Herculano. 
  • Logo que chegou ao Brasil, trouxe consigo uma coleção de artefatos clássicos – peças de bronze, terracota, vidro e afrescos – relacionados à civilização greco-romana. Esse conjunto formava a base do que seria conhecida como “Coleção Teresa Cristina”. 
  • Com o tempo, a imperatriz continuou a incentivar trocas científicas e culturais entre a Europa e o Brasil. Por correspondência com seu irmão (na Itália) e outras autoridades, organizava remessas de artefatos clássicos, manuscritos, livros e curiosidades culturais. 
  • A Coleção Teresa Cristina foi incorporada ao acervo do Museu Nacional (Rio de Janeiro), tornando-se uma das mais importantes coleções de arqueologia clássica da América Latina, com cerca de 700 peças datadas entre o século VII a.C. e o século III d.C. 
  • Além disso, o mecenato da imperatriz ajudou a consolidar o gosto pelas artes clássicas, pela erudição e pelo estudo histórico-cultural no Brasil do século XIX — contribuindo para a difusão de uma identidade cultural imperial alinhada a padrões europeus clássicos.

3.2 Filantropia, sensibilidade social e caridade imperial

  • Teresa Cristina era conhecida por sua generosidade e dedicação a causas sociais: participava de iniciativas beneficentes, visitava hospitais, orfanatos e instituições de assistência, atuando como ponto de ligação entre a monarquia e as populações vulneráveis. 
  • Sua atuação em caridade e assistência não se limitava a gestos simbólicos: ela se envolvia pessoalmente, participando de cerimônias religiosas, oferecendo apoio financeiro e visibilidade à causa social – fato que reforçou sua imagem pública de “mãe adotiva” do povo brasileiro. 
  • Esse papel de mediadora social e moral ajudou a suavizar as tensões da sociedade do Segundo Reinado: em um Brasil marcado por desigualdades, resistência à escravidão, tensões regionais e contrastes sociais, a imperatriz representava – para muitos – um ideal de benevolência, caridade e estabilidade moral.

3.3 Construção simbólica da monarquia: legitimação através da cultura e da moralidade

  • A presença de Teresa Cristina ao lado do imperador, em cerimônias, cultos religiosos, festas da corte, viagens pelo país e recepções diplomáticas ajudava a consolidar uma imagem de estabilidade, ordem e “civilização”, valores caros à monarquia constitucional do Brasil. 
  • Seu perfil reservado, educado, culto e discreto contrastava com a noção de monarcas absolutistas ou carismáticos; ao invés disso, representava uma aristocracia iluminista, erudita, associada à cultura, à ciência e à caridade – uma monarquia moderna, refinada e comprometida com o progresso civilizatório. 
  • Ao trazer o legado cultural italiano – desde artefatos clássicos até apoio à imigração italiana e ao incentivo à cultura operística e teatral – Teresa Cristina tornou-se um canal de intercâmbio cultural Europa-Brasil, enriquecendo o panorama cultural do país e contribuindo para a construção de uma identidade nacional mais cosmopolita e refinada.

4. Intersecções entre Papel Privado e Público: Limites, Potencialidades e Importância Histórica

Uma análise mais detalhada evidencia como Teresa Cristina operou na intersecção entre o privado e o público – um espaço muitas vezes subestimado pela historiografia tradicional, que privilegia o papel dos homens no poder formal. No entanto:

  • Sua atuação como consorte imperial permitiu-lhe exercer influência indireta, mas real, por meio da cultura, da filantropia e da construção de símbolos – apoios culturais e científicos, auxílio social, presença em atos oficiais.
  • Esses mecanismos eram particularmente relevantes num contexto em que o poder executivo estava concentrado no imperador, e os consortes tradicionais tinham pouca voz formal. Teresa Cristina, ao transformar sua posição de “consorte” em “ponto de referência moral, cultural e social”, ampliou as fronteiras do que poderia ser o papel feminino numa monarquia constitucional.
  • Do ponto de vista historiográfico, sua trajetória contribui para repensar o papel das mulheres na formação da nação brasileira – não apenas como esposas e mães, mas como mediadoras culturais, mecenas, agentes de inserção social e ponte entre culturas.

5. A Mãe dos Brasileiros: Construção Histórica de um Título Simbólico

O epíteto “Mãe dos Brasileiros”, associado à Imperatriz Teresa Cristina, não foi fruto de um gesto isolado, mas resultado de um conjunto de práticas, percepções sociais e representações políticas consolidadas ao longo de seu papel público durante o Segundo Reinado. Ao contrário de outras figuras femininas da realeza que assumiram posturas ostensivamente políticas ou de protagonismo público, Teresa Cristina construiu sua legitimidade por meio da discrição, proximidade afetiva e atuação humanitária, qualidades que, somadas, permitiram que sua imagem transcendesse a esfera palaciana para tornar-se um símbolo da monarquia perante a população.

5.1. O papel da beneficência na cultura monárquica

No século XIX, era comum que monarquias europeias utilizassem ações beneficentes como mecanismo de legitimação simbólica. No Brasil, Teresa Cristina incorporou esse modelo de forma constante: visitava hospitais, orfanatos, casas de caridade, apoiava instituições religiosas e financiava discretamente iniciativas de assistência às populações mais vulneráveis. Sua atuação durante epidemias de febre amarela, varíola e cólera, por exemplo, foi amplamente registrada pela imprensa da época, que ressaltava sua presença física nos locais atingidos e seu envolvimento direto com doentes e famílias afetadas.

Essa postura contrastava com a percepção comum de distanciamento entre o Estado e as camadas populares, o que fez com que Teresa Cristina funcionasse como uma espécie de ponte simbólica entre monarquia e sociedade civil. A designação “mãe” reforçava a imagem de cuidado, acolhimento e proteção, valores que se integravam ao ideal de monarquia paternalista do Império brasileiro

5.2. A construção afetiva pela imprensa e pela memória coletiva

A imprensa imperial desempenhou papel central na difusão dessa imagem. Jornais como O Jornal do Commercio, Correio Mercantil e Gazeta de Notícias frequentemente destacavam sua “bondade inata”, “ternura maternal” e “virtudes domésticas”. Esses elementos, associados a uma personalidade marcada pela simplicidade e religiosidade, levaram a que seu retrato público fosse moldado segundo o paradigma da “rainha-mãe”, figura cara ao imaginário monárquico ocidental.

Além disso, relatos de contemporâneos e correspondentes diplomáticos reforçavam sua postura afetuosa e sua dedicação a causas sociais. A própria Casa Imperial fazia uso moderado, mas estratégico, dessa imagem, contribuindo para que Teresa Cristina se tornasse símbolo de estabilidade moral e humanização da monarquia em um período de transformações políticas no Brasil oitocentista.

5.3. A dimensão política de um título afetivo

Embora Teresa Cristina não tenha exercido protagonismo político direto, sua imagem maternal possuía função política indireta. Durante crises institucionais – como a Guerra do Paraguai, tensões entre Igreja e Estado e desafios socioeconômicos – sua presença pública ajudava a suavizar percepções negativas e reforçava a ideia de que a monarquia imperial era uma instituição cuidadora e benevolente.

Assim, o título “Mãe dos Brasileiros” deve ser compreendido não apenas como expressão espontânea de afeto popular, mas como dispositivo de legitimação simbólica, articulado entre práticas culturais, estratégias institucionais e elementos afetivos compartilhados pela população do Império.

6. O Exílio e os Últimos Anos

Com a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, a família imperial foi expulsa do Brasil. O impacto emocional em Teresa Cristina foi devastador. Conforme registram diversas fontes, a imperatriz demonstrou profunda tristeza ao deixar o país que considerava sua pátria adotiva.

Durante a viagem rumo à Europa, seu estado de saúde deteriorou-se rapidamente. Em 28 de dezembro de 1889, faleceu na cidade do Porto, Portugal, apenas 41 dias após a partida do Brasil. Sua morte simbolizou, para muitos contemporâneos, o sofrimento moral ocasionado pelo exílio.Em 1921, seus restos mortais foram trasladados para o Brasil, sendo colocados no Mausoléu Imperial da Catedral de Petrópolis, gesto que reforçou a memória pública de sua dedicação ao país.

7. Teresópolis: Uma Cidade em Homenagem à Imperatriz Teresa Cristina

A fundação da cidade de Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro, constitui um dos mais significativos testemunhos da presença simbólica da Imperatriz Teresa Cristina na geografia e na memória cultural brasileira. O nome – que significa literalmente “Cidade de Teresa” – foi atribuído em homenagem direta à soberana, reconhecendo não apenas sua posição como consorte de Dom Pedro II, mas sobretudo suas virtudes pessoais, sua ligação com a natureza e seu apreço pelas regiões serranas do Império.

A região, que já era conhecida desde o século XVIII por viajantes e exploradores, desenvolveu-se no século XIX a partir da antiga Fazenda do Porto, propriedade que, sob iniciativa do coronel George March, deu origem à chamada “Vila de Teresa Cristina”. A consolidação do núcleo urbano e seu posterior reconhecimento oficial como município – processo que se intensificou a partir da década de 1890 – foram acompanhados de discursos que destacavam a benevolência, a simplicidade e a importância cultural da Imperatriz para o Brasil.

Entre as homenagens que reforçam esse legado destaca-se o fato de que a sede do Poder Executivo municipal recebe o nome de Palácio Teresa Cristina. O edifício, além de exercer funções administrativas, simboliza a permanência da memória histórica da Imperatriz na vida política contemporânea da cidade. A escolha do nome reafirma o papel de Teresa Cristina como figura maternal, benevolente e culturalmente significativa para o Brasil, dialogando com a tradição local de valorização de seu legado.

Teresópolis, situada na Serra dos Órgãos, não apenas homenageia a figura da Imperatriz, mas também reflete o imaginário romântico associado à natureza no século XIX e a sensibilidade cultural de Teresa Cristina, conhecida por seu apreço pelas ciências naturais, pela arqueologia e pela preservação do patrimônio cultural. Assim, a cidade tornou-se parte do legado simbólico deixado pela soberana, perpetuando sua memória na toponímia nacional e no patrimônio identitário do estado do Rio de Janeiro.

8. Considerações Finais

Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias foi uma personalidade central no processo de consolidação simbólica e cultural da monarquia brasileira. Embora não exercesse poder político direto, sua atuação nas áreas social, cultural e assistencial teve grande impacto no Segundo Reinado. Seu legado permanece associado à beneficência, ao cultivo das artes e à formação de uma memória afetiva em relação à figura imperial.

O título de “Mãe dos Brasileiros”, ainda hoje lembrado, reflete a dimensão humana de sua atuação e evidencia a importância de seu papel na construção do imaginário social do Império. Sua trajetória – da corte napolitana ao exílio – constitui um capítulo fundamental da história do Brasil oitocentista.

Referências Bibliográficas

Fontes sobre Teresa Cristina, a família imperial e o Segundo Reinado:

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. Império: A Guerra dos Trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

CALMON, Pedro. História de D. Pedro II. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.

CARVALHO, José Murilo de. D. Pedro II: Ser ou Não Ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

CARVALHO, José Murilo de. A Construção da Ordem: A Elite Política Imperial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.

LYRA, Heitor. História de Dom Pedro II: O Segundo Reinado. 3 vols. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1994.

PENNA, Lincoln de Abreu. O Segundo Reinado. 12. ed. São Paulo: Ática, 2006.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Sobre Teresa Cristina especificamente:

BARMAN, Roderick. Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891. Stanford: Stanford University Press, 1999.

CAMARGO, Célia. Teresa Cristina: A Imperatriz Arqueóloga. Rio de Janeiro: Museu Nacional/UFRJ, 2002.CHRISTO, Maraliz de Castro Vieira. A Imperatriz Teresa Cristina e a Construção de sua Imagem Pública. Revista do IHGB, Rio de Janeiro, v. 172, 2011.

Sobre a formação de Teresópolis:

MONTEIRO, José. História de Teresópolis: Da Fazenda do Porto ao Município. Teresópolis: Prefeitura Municipal, 2003.

IPHAN. Patrimônio Cultural de Teresópolis: Memória e Identidade. Rio de Janeiro: IPHAN, 2017

Outras obras gerais relevantes:

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Do Império à República. História Geral da Civilização Brasileira, t. II. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

MATTOS, Ilmar Rohloff de. O Tempo Saquarema. São Paulo: Hucitec, 2004.

Alexandre Rurikovicha Carvalho

Voltar

Facebook




O caminho

José Antonio Torres: Poema ‘O caminho’

José Antonio Torres
José Antonio Torres
Imagem criada por IA da Meta

A estrada é longa e demanda esforços.
Subidas íngremes e escorregadias.
O equilíbrio se faz necessário.
Encontramos desertos de sentimentos,
mas também jardins de graciosa beleza,
assim como acolhimento.

Os talos espinhosos de algumas flores nos ferem.
Outras nos ajudam a embelezar o caminho e a perfumá-lo.
As tempestades são inevitáveis,
mas logo após, vem o sol,
radiante e terno a nos alegrar.

A sede de justiça nos queima as entranhas,
mas a saciamos em fontes cristalinas de amor.
Algumas vezes nos deparamos com areia movediça que ameaça nos tragar.
Buscamos algo em que nos agarrar.
O desespero toma conta de nós.
Muitos afundam.
Outros, mais determinados, sobrevivem.

Precisamos focar na chegada, mas não podemos descuidar do caminho.
O objetivo ainda está longe.
A cada passo dado, mais próximos estaremos.
De tempos em tempos, precisamos algumas vezes repensar o trajeto.
Refeitas as forças, novos planos elaborados, seguimos confiantes!

Não cometeremos os mesmos erros.
Evitaremos os desvios que escondem perigos.
Em muitos trechos do caminho, seguiremos sozinhos.
Em outros, companheiros de caminhada se juntarão a nós.
Estejamos atentos para não nos desviarmos do caminho.
Sigamos com a bússola da luz e do amor.

José Antonio Torres

Voltar

Facebook




Dezembro

Joelson Mora

‘Dezembro: o mês do alinhamento e da preparação interior’

Joelson Mora
Joelson Mora
Imagem criada por IA do Bing -  Imagem criada em 30 de novembro de 2025, às 11:25 PM
Imagem criada por IA do Bing em 30 de novembro de 2025, às 11:25 PM

Todos os anos, quando dezembro chega, há um movimento quase invisível, porém profundamente perceptível, que toca nossos sentidos mais sutis. É como se a natureza, o tempo e o espírito humano entrassem em acordo silencioso para nos convidar à reflexão. Dezembro não é apenas o encerramento de um ciclo; é um chamado para reorganizar a energia, alinhar intenções e preparar o coração para o que está por vir.

No ritmo acelerado em que vivemos, é comum confundirmos desejo com propósito. Mas, na dimensão espiritual, existe uma diferença essencial: as portas que Deus abre não respondem apenas ao querer, respondem ao alinhamento. A vibração que emitimos, a maturidade com que caminhamos e a disposição interna para sustentar aquilo que pedimos determinam muito mais do que imaginamos.

Em saúde integral, entendemos que o corpo, a mente, as emoções e o espírito não funcionam de forma isolada. Eles se influenciam, se completam e se potencializam mutuamente. E o mesmo ocorre com os propósitos da alma: não basta desejar um novo ciclo, é preciso estar preparado para ele. Preparado emocionalmente, espiritualmente e energeticamente.

Dezembro, portanto, não é um mês qualquer; é uma estação de sintonia.

Um tempo para reavaliar o que carregamos, o que deixamos, o que nos move e o que nos trava.

Um momento para ajustar o foco, fortalecer a fé, elevar a vibração e liberar espaços internos,  porque nenhum propósito encontra morada em nós quando estamos cheios demais do que não nos serve mais.

O que Deus tem para cada pessoa é maior do que qualquer expectativa humana, mas cada promessa exige preparo. Exige consciência. Exige expansão interna. É por isso que dezembro chega como um convite ao recolhimento ativo: não de parar, mas de perceber; não de retroceder, mas de alinhar; não de acelerar, mas de direcionar.

Que este mês nos encontre mais maduros, mais sensíveis ao movimento divino e mais dispostos a viver o que realmente nasceu para ser nosso.

Que dezembro nos ensine que as maiores bênçãos não chegam quando queremos, mas quando estamos prontos.

E que o novo ciclo que se aproxima encontre em nós terra fértil, energia elevada e propósito claro.

Dezembro é alinhamento.

Dezembro é preparação.

Dezembro é o prenúncio do que Deus já colocou em movimento.

Joelson Mora

Voltar

Facebook




Uma noite inesquecível em Manhuaçu!

No dia 01/12/2025, o segundo pavimento da Rodoviária foi palco do lançamento do e-book Entre Cores e Letras: A Pedagogia da Expressão, organizado pelo professor e escritor Fabrício Souza Santos

Lançamento do e-book Entre Cores e Letras: A Pedagogia da Expressão  em Manhuaçu
Lançamento do e-book ‘Entre Cores e Letras: A Pedagogia da Expressão’ em Manhuaçu

No dia 01/12/2025, o segundo pavimento da Rodoviária foi palco do lançamento do e-book Entre Cores e Letras: A Pedagogia da Expressão, organizado pelo professor e escritor Fabrício Souza Santos.

🎶 A abertura ficou por conta dos talentosos Meninos Cantores da AABB Comunidade, emocionando o público com música e sensibilidade. 📚 A celebração reuniu acadêmicos homenageados, artistas plásticos e membros da ACLA/MG – Academia de Ciências, Letras e Artes de Minas Gerais, que também comemorou seus 16 anos de fundação.

👩‍🎨 Entre os presentes, destacaram-se os casais Rita e Elson Santos, Grazielle e Ivan Sabino, Fábio Santos e Marilza Teixeira, reforçando o espírito de união entre arte e educação. 🌍 A noite também celebrou os 20 anos de trajetória artística internacional de Fabrício Santos, que já levou seu projeto pedagógico a 11 países.

💡 Foi um encontro de cultura, emoção e inspiração que ficará marcado na história de Manhuaçu.
https://www.instagram.com/reel/DRxosAcifV5/?igsh=cHk2ZGU2ZWFmZmQ4

Veja mais: matéria da TNTV News e fotos do evento, por Téo Nazaré:
https://tntvnews.com.br/lancamento-do-e-book-entre-cores-e-letras-reune-arte-e-pedagogia-em-manhuacu/

Voltar

Facebook