A história de Bárbara Vicente de Urpia aconteceu no século dezenove. O cenário, a praça 15, centro do Rio de Janeiro.
Conta-se que a belíssima Bárbara foi uma imigrante portuguesa que viveu uma vida de luxo, horror e mistério. Reza a lenda, que Bárbara matou com as próprias mãos, o RICO marido português, ao se apaixonar por um belo negro, ex escravo. Para esconder as provas do crime, botou fogo na mansão onde morava e foi viver sua paixão em outro lugar. Tempos depois, o amante morreu em uma briga de rua, por ciúmes de Bárbara. Atormentada com o ocorrido, ela voltou para o centro da cidade. Porém agora pobre, virou prostituta!
Ali, viveu seu reinado. Foi a mulher mais disputada do Arco do Teles. Anos mais tarde, devido à idade e as doenças que adquiriu na profissão, perdeu a beleza e o encanto. Foi quando iniciou sua saga para recuperar a juventude. Acreditando no poder da magia, passou a fazer rituais macabros! Se banhava, com sangue de clientes e também das criancinhas que ela raptava da Roda dos enjeitados, na Santa Casa de Misericórdia.
A fama de Bárbara se espalhou pelo lugar, gerando pânico e terror! A polícia passou a caçar a vampira, mas foi inútil. Ela sempre se escondia, como num passe de mágica. Um dia, Bárbara simplesmente desapareceu! Ninguém sabe o que aconteceu e até hoje, o Arco do Teles é mal-assombrado. Os visitantes ouvem à noite o choro das criancinhas e as gargalhadas de uma mulher.
Esta é a lenda urbana mais famosa do Rio de Janeiro-Colonial, Bárbara dos Prazeres, a Bruxa Vampira do Arco do Teles. Como alguns sabem, sou Psicanalista e esta lenda urbana faz parte da minha pesquisa sobre psicopatas e serial Killers.
Apresentada com performance e leitura dramatizada no Memorial dos Autonomistas, na minha estada em Rio Branco-Acre (15.11.2025), por ocasião do aniversário de dez anos de fundação da Sociedade Literária Acreana-SLA e 88 anos da AAL.
Versão por Maze Oliver (adaptação de outras versões).
Há linhas que costuram mais do que tecidos — costuram histórias, memórias e destinos.
É assim que a escritora Sandra Lugli define “Uma Tênue Linha”, sua obra de estreia: um livro de 17 contos que mergulha nas relações humanas e no delicado elo que conecta cada pessoa à sua própria origem.
Ítalo-brasileira, nascida em São Paulo e moldada entre Portugal e a Itália, Sandra carrega em si o mosaico de duas culturas e a curiosidade de quem busca entender de onde veio para compreender quem é.
Sandra Lugli
Química de formação, empresária, mãe e esposa, ela sempre manteve a arte e a literatura como refúgios de expressão e pertencimento.
“A partir da pesquisa sobre minha ancestralidade genética, tudo começou a fazer sentido — os gostos, as escolhas, até as emoções. Foi como se eu finalmente reconhecesse a linha que me liga aos meus ancestrais.”
Sandra Lugli
Essa descoberta foi o ponto de partida para “Uma Tênue Linha”, uma coletânea de contos sobre amizade, família e os laços invisíveis que nos moldam mesmo quando não percebemos.
Cada história nasce de vivências ou observações, transformadas em reflexões sobre o tempo, a herança emocional e o que permanece em nós, mesmo depois das gerações passarem.
Mais do que uma obra literária, o livro é um convite à introspecção, a olhar para dentro e para trás, e perceber que talvez nada seja por acaso.
Com escrita sensível e olhar maduro, Sandra Lugli celebra, em palavras, o poder da memória e o mistério da continuidade.
Porque, afinal, a vida também é isso: uma tênue linha que nos atravessa e nos conecta, de ontem até sempre.
Narrativa detalhada, sensível e fluida, leva o leitor a refletir sobre identidade e laços interpessoais e a procurar beleza e esperança, mesmo nos momentos mais desafiadores.
Todos estão felizes. Uma nova vida se fez. Cuidados extremos, surpresas… o desconhecido sempre assusta. Um ser frágil e dependente. Olhar curioso. Sua conversa é pelo olhar.
Vai crescendo, fazendo descobertas. Seus pais se descobrindo também.
O tempo passa, aquele ser crescendo, se desenvolvendo, tornando-se independente.
Vai ganhando energia rapidamente.
Seus pais sentindo o peso do tempo.
Ele é adulto. Os pais, idosos. Os papéis se inverteram. Agora são eles que necessitam de cuidados. A vida deu voltas. A paciência e a compreensão do filho nem sempre estão presentes. Esquece que já dependeu.
A energia dos pais minguando… findou.
A chama da vida se apaga.
Por algum tempo ainda serão lembranças. Depois, nem isso.
“Nasci para consagrar as Letras e as Ciências”: ‘O Humanismo Científico do Imperador Dom Pedro II’
Dom Alexandre Rurikovich CarvalhoA imagem, criada por IA do ChatGPT, apresenta o Imperador Dom Pedro II retratado em um ambiente claramente intelectual e científico, reforçando seu reconhecido perfil de monarca erudito. O estilo visual remete à tradição dos retratos acadêmicos do século XIX, com iluminação suave, tons dourados e composição equilibrada.
Resumo. A frase “Nasci para consagrar as Letras e as Ciências”, atribuída ao Imperador D. Pedro II, condensa sua visão de mundo e sua autocompreensão enquanto monarca intelectual. Este artigo analisa o significado histórico da expressão, contextualizando-a na formação educacional do soberano, em seu engajamento com o desenvolvimento científico e cultural brasileiro e nas políticas públicas que implementou ao longo de seu reinado (1840–1889). Fundamentado em estudos historiográficos recentes e em documentação da época, o trabalho demonstra que a frase representa um programa de vida baseado no iluminismo tardio, na valorização da educação e no mecenato científico, características que consolidaram o Império do Brasil como centro de produção intelectual no século XIX.
Palavras chaves: Dom Pedro II; Letras; Ciências; Império do Brasil; História Intelectual.
1. Introdução
O Imperador Dom Pedro II (1825–1891) ocupa um lugar singular na história política e intelectual do Brasil. Educado desde cedo para o exercício da monarquia, foi instruído rigorosamente nos princípios do Iluminismo, da filologia, das ciências naturais e das artes liberais. Em diversos documentos, cartas e declarações, o monarca expressou sua profunda inclinação pelos estudos, sendo célebre a frase: “Nasci para consagrar as Letras e as Ciências”.
Essa afirmação, longe de figurar como mero recurso retórico, revela a identidade intelectual do imperador e seu projeto civilizatório: construir um país moderno, instruído e capaz de dialogar com os centros científicos da Europa e dos Estados Unidos. O presente artigo busca analisar essa frase como síntese do humanismo científico de Pedro II e como chave interpretativa de seu governo.
2. Contexto histórico e intelectual da formação do monarca
A educação de Dom Pedro II foi marcada por forte influência de pensadores liberais e humanistas. Seus professores – entre eles Silvestre Pinheiro Ferreira, Manuel Inácio de Andrade Souto Maior (Visconde de São Leopoldo) e Monsenhor Joaquim Gonçalves de Azevedo – estruturaram sua formação a partir de disciplinas como linguística, literatura, moral, filosofia, matemática, geografia, astronomia e história universal.
Aos 15 anos, o jovem imperador já dominava diversas línguas, entre elas francês, inglês, alemão, árabe, grego e latim, além de demonstrar interesse peculiar pela literatura clássica, paleografia, geologia e etnografia. Seus diários de leitura revelam uma rotina intelectual intensa, que incluía não apenas leituras sistematizadas, mas também resenhas, reflexões e traduções de textos antigos.
No século XIX, em que a ciência avançava rapidamente – com a ascensão do positivismo, da medicina higienista, da física experimental e dos estudos evolucionistas -, Pedro II posicionou-se como um mediador entre o Brasil e o mundo científico emergente.
3. A frase como expressão da identidade intelectual do imperador
A frase “Nasci para consagrar as Letras e as Ciências” funciona como síntese do ethos intelectual do soberano. A partir dela é possível observar:
3.1. Autopercepção como monarca ilustrado
Dom Pedro II via-se não apenas como governante, mas como estudioso. Há inúmeros registros de visitantes estrangeiros que se surpreenderam ao encontrá-lo em bibliotecas, observatórios e instituições de pesquisa, em vez de palácios ou cerimônias de caráter exclusivamente protocolar.
3.2. Missão civilizadora da instrução pública
Para Pedro II, a educação era instrumento de transformação social e motor do progresso nacional. Sua frase denota compromisso com a difusão do conhecimento, compreendido como condição essencial para o desenvolvimento de uma sociedade livre, moderna e racional.
3.3. Culto ao saber como fundamento moral do reinado
O imperador demonstrava profundo respeito pelos professores, cientistas e literatos, frequentemente afirmando que a figura do educador era mais nobre do que a do próprio imperador. Assim, a frase simboliza sua convicção de que o exercício do poder deveria estar subordinado ao conhecimento.
4. As políticas públicas de promoção das Letras e das Ciências
Durante seu reinado, Dom Pedro II promoveu o fortalecimento das instituições científicas, a valorização da cultura e inúmeras iniciativas educacionais. Entre as principais:
4.1. Incentivo às instituições científicas
Reestruturação do Museu Nacional, que se tornou referência em arqueologia, botânica e mineralogia.
Apoio direto ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).
Criação e financiamento do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro.
Patrocínio de missões científicas, como as expedições de naturalistas estrangeiros pelo território brasileiro.
4.2. Avanços na educação
Apesar das limitações estruturais do período, houve avanços notáveis:
criação de liceus provinciais;
ampliação da instrução primária;
incentivo ao ensino técnico, militar e científico;
envio de bolsistas brasileiros à Europa para especializações.
Pedro II defendia reformas educacionais mais profundas, muitas das quais só seriam implementadas no século XX.
4.3. Política cultural e literária
O imperador apoiou escritores, poetas, inventores e artistas. Manteve correspondência com nomes como Victor Hugo, Alexandre Herculano, Pasteur, Ernest Renan, Humboldt, Graham Bell e outros.
Sua aproximação com o universo artístico e acadêmico conferiu ao Brasil maior visibilidade cultural no cenário internacional.
5. Dom Pedro II no século da ciência
O século XIX foi marcado por grandes revoluções científicas, como a popularização da fotografia, a invenção do telefone, o avanço da física moderna, a consolidação da biologia evolucionista e a expansão do telégrafo.
Pedro II se envolveu pessoalmente em tais inovações. Foi um dos primeiros chefes de Estado a experimentar o telefone de Graham Bell. Adepto da fotografia, usou-a para registro documental e científico. Interessou-se por literatura oriental, arqueologia do Oriente Médio e estudos antropológicos, campos que ainda se estruturavam globalmente.
6. A dimensão simbólica e o legado da frase
O legado da frase “Nasci para consagrar as Letras e as Ciências” ultrapassa sua dimensão autobiográfica e se torna símbolo de um projeto nacional. Seu impacto pode ser observado em três níveis:
6.1. Histórico
A frase sintetiza um período de forte investimento cultural, científico e educacional, que posicionou o Brasil como centro intelectual da América Latina.
6.2. Político
Revela uma visão de Estado que reconhece a educação como instrumento de emancipação social.
6.3. Civilizacional
Materializa o ideal ilustrado: progresso, racionalidade, ciência e cultura como eixos do desenvolvimento.
Mesmo após a Proclamação da República, o imperador manteve seus estudos, demonstrando que sua dedicação ao conhecimento era componente intrínseco de sua identidade.
7. Considerações finais
A frase atribuída a Dom Pedro II reflete uma vida orientada pelo compromisso com a educação, a ciência e a cultura. Em um Brasil ainda politicamente instável e socialmente desigual, o imperador buscou construir instituições permanentes e fomentar a produção intelectual.
Seu legado permanece atual, sobretudo em um contexto em que a valorização da ciência e do pensamento crítico se mostra essencial para a consolidação de sociedades democráticas. Dom Pedro II tornou-se, assim, não apenas figura política, mas símbolo de respeito ao saber, ao humanismo e à construção de um país baseado na força da inteligência.
‘As viagens do imperador: a longa rota de conhecimento de Dom Pedro II’
Dom Alexandre Rurikovich CarvalhoA imagem,criada por IA do ChatGPG, apresenta Dom Pedro II em perfil, retratado em estilo pictórico clássico, evocando pinturas de viajantes e naturalistas do século XIX. O Imperador surge com expressão serena e contemplativa, mirando o horizonte, o que simboliza sua constante busca por conhecimento e sua curiosidade intelectual durante as inúmeras viagens que realizou pelo mundo.
Resumo: O presente artigo analisa as viagens internacionais realizadas por Dom Pedro II, imperador do Brasil, destacando sua importância histórica, científica e cultural. Por meio da leitura de diários, correspondências e registros oficiais, o estudo demonstra que as viagens do monarca ultrapassaram o caráter diplomático, constituindo um projeto de formação intelectual e afirmação da identidade nacional.
Palavras-chave: Dom Pedro II; viagens imperiais; história do Brasil;história do Brasil; história do Brasil.
1. Introdução
Durante o Segundo Reinado (1840–1889), Dom Pedro II destacou-se por sua curiosidade intelectual e pela busca incessante de conhecimento. Suas viagens internacionais refletem não apenas a postura de um governante atento às transformações do século XIX, mas também a de um homem de ciência que compreendia o valor da educação e da cultura como instrumentos de progresso nacional (UNESCO, 2012).
A primeira grande viagem de Dom Pedro II ocorreu entre 1871 e 1872, logo após a Guerra do Paraguai, quando o imperador visitou diversos países da Europa e do Oriente Médio. Essa jornada marcou o início de uma série de deslocamentos que se tornariam fundamentais para a consolidação de sua imagem como “monarca ilustrado”. Durante suas expedições, o imperador manteve contato com importantes cientistas, escritores, artistas e estadistas, entre eles Victor Hugo, Alexandre Dumas, Louis Pasteur e Richard Wagner (BARMAN, 1999).
As viagens tinham objetivos múltiplos: fortalecer relações diplomáticas, atualizar-se sobre os avanços científicos e tecnológicos da época e recolher modelos institucionais que pudessem ser aplicados ao desenvolvimento do Brasil. Em suas anotações, Dom Pedro II registrava observações sobre museus, universidades, ferrovias e bibliotecas, demonstrando um olhar analítico voltado ao aprimoramento das instituições nacionais (CARVALHO, 2014).
Além disso, o imperador utilizava suas viagens como meio de projetar uma imagem moderna e civilizada do Brasil perante a comunidade internacional. Em suas audiências e conferências, defendia a abolição da escravidão, o incentivo à instrução pública e o fomento às ciências, tornando-se uma espécie de “embaixador do progresso” do Império. Essa dimensão simbólica conferiu às suas viagens um valor político e cultural que ultrapassava as fronteiras do reino e consolidava sua reputação como um dos monarcas mais cultos do século XIX (SCHWARCZ, 1998).
Portanto, compreender as viagens de Dom Pedro II significa também compreender o projeto civilizatório que o imperador idealizava para o Brasil. Mais do que simples deslocamentos diplomáticos, suas jornadas foram experiências formativas e pedagógicas que expressavam o ideal iluminista de um soberano que via no conhecimento a base do poder legítimo e da transformação social.
2. Viagens e registros: o império em movimento
As viagens do imperador encontram-se amplamente documentadas. A coleção Viagens do Imperador – 1840/1913 reúne 44 diários manuscritos, itinerários, correspondências, esboços e fotografias, hoje preservados no Arquivo da Casa Imperial do Brasil e reconhecidos pelo Programa Memória do Mundo da UNESCO(UNESCO, 2012). Esse vasto acervo constitui não apenas um testemunho da trajetória pessoal de Dom Pedro II, mas também uma fonte primária de grande valor para a compreensão do olhar científico e humanista que o monarca projetava sobre o mundo.
Em sua primeira grande expedição, entre 1871 e 1872, Dom Pedro II percorreu o Oriente Médio – Egito, Palestina, Síria e Líbano – registrando observações detalhadas sobre a geografia, a arqueologia e as práticas religiosas locais (ANBA, 2014). Fascinado pela Antiguidade e pelos vestígios das civilizações antigas, o imperador anotava em seus diários impressões sobre templos, museus e ruínas, frequentemente comparando as tradições orientais com a herança cultural europeia. Essa viagem consolidou seu interesse pelo estudo das religiões e das línguas antigas, levando-o a aprofundar-se no hebraico, no árabe e no grego clássico.
Já em 1876, durante sua visita aos Estados Unidos, Dom Pedro II revelou um genuíno entusiasmo pelas inovações tecnológicas apresentadas na Exposição Universal da Filadélfia, onde teve contato direto com invenções como o telefone, o elevador hidráulico e o motor a vapor de última geração. Impressionado com a aplicação prática da ciência à vida cotidiana, o monarca demonstrou grande admiração por Thomas Edison, a quem incentivou em suas pesquisas e de quem se tornou amigo (MARCELINO, 2021).
Nos anos seguintes, o imperador também visitou países europeus como França, Itália, Alemanha, Áustria e Inglaterra, onde frequentou academias de ciências, universidades e museus. Recebido com honras de chefe de Estado e reconhecido como membro correspondente de diversas instituições científicas, Dom Pedro II manteve contato com figuras intelectuais de destaque, como Louis Pasteur, Alexandre Dumas, Charles Darwin (com quem trocou correspondência) e Victor Hugo. Essas interações reforçaram sua imagem de soberano ilustrado e de mediador cultural entre o Brasil e a Europa (BARMAN, 1999; SCHWARCZ, 1998).
Em suas anotações, o imperador demonstrava sensibilidade artística e espírito investigativo, registrando desde descrições arquitetônicas e etnográficas até reflexões filosóficas e morais. Suas observações revelam uma mente aberta, curiosa e comprometida com o progresso humano. As viagens de Dom Pedro II, assim, transformaram-se em um verdadeiro laboratório intelectual itinerante, no qual o imperador buscava modelos de modernização que pudessem inspirar o desenvolvimento brasileiro – especialmente nas áreas da educação, ciência e cultura.
3. Impactos culturais e científicos das viagens
As viagens internacionais de Dom Pedro II exerceram profundo impacto sobre a vida cultural e científica do Império do Brasil. A experiência acumulada ao longo de suas expedições ao Oriente, à Europa e às Américas ampliou significativamente sua visão de mundo e consolidou um ideal de governo pautado na valorização do saber, da pesquisa e das instituições educacionais. O imperador concebia a ciência como um instrumento de emancipação nacional e acreditava que o progresso material e moral do país dependia da formação intelectual de seu povo (SCHWARCZ, 1998).
Entre as principais consequências das viagens destaca-se o fortalecimento das instituições científicas e culturais brasileiras, como o Museu Nacional, o Imperial Observatório, a Biblioteca Nacional e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Dom Pedro II não apenas apoiava financeiramente essas entidades, mas também participava ativamente de suas atividades, enviando coleções, manuscritos, fósseis e objetos arqueológicos adquiridos durante suas viagens (CARVALHO, 2014). A criação e ampliação desses espaços de conhecimento refletiam seu desejo de integrar o Brasil ao movimento científico internacional e de transformar o Rio de Janeiro em um centro de cultura e erudição.
O contato direto com academias europeias – como a Royal Society de Londres, o Institut de France e a Accademia dei Lincei, em Roma – inspirou o monarca a promover intercâmbios intelectuais e a estimular a vinda de naturalistas, astrônomos e professores estrangeiros ao Brasil. Essa política de cooperação científica possibilitou o avanço de áreas como a astronomia, a botânica e a engenharia, além de incentivar o estudo sistemático da flora e da fauna nacionais. As observações realizadas por Dom Pedro II em observatórios e universidades estrangeiras foram posteriormente aplicadas na modernização do Imperial Observatório do Rio de Janeiro, considerado um dos mais importantes da América Latina no século XIX (BARMAN, 1999).
No campo da educação, as viagens reforçaram sua convicção de que o ensino público era a base do desenvolvimento social. Em suas anotações, o imperador destacava modelos pedagógicos europeus, especialmente os sistemas franceses e alemães, e defendia a criação de escolas normais e universidades no Brasil. Em discursos oficiais, associava o conhecimento científico à liberdade e à construção da cidadania, afirmando que “sem instrução, não há pátria livre nem povo soberano” (PEDRO II, 1884, apud MARCELINO, 2021).
Culturalmente, as viagens contribuíram para a difusão de valores cosmopolitas no ambiente intelectual brasileiro. As trocas com artistas, literatos e filósofos europeus fortaleceram o movimento romântico e científico do Segundo Reinado, que procurava conciliar tradição e modernidade. As bibliotecas pessoais de Dom Pedro II – que reuniam obras em mais de dez idiomas – tornaram-se símbolo desse diálogo intercultural e do esforço de integração do Brasil ao circuito do saber universal (UNESCO, 2012).
Por fim, o conjunto de experiências vividas durante suas viagens consolidou o imperador como um mediador entre o Brasil e o mundo moderno, um monarca que soube transformar o ato de viajar em instrumento de diplomacia cultural e de construção simbólica da nação. Seu legado científico e educacional perdura não apenas nos acervos que preservam sua memória, mas também no ideal de que a cultura e o conhecimento são as verdadeiras riquezas de um povo.
4. Ciência, cultura e diplomacia em movimento
As anotações de Dom Pedro II revelam o perfil de um verdadeiro monarca ilustrado, cuja mente se movia entre o rigor científico e a sensibilidade humanista. Em seus diários de viagem, o imperador registrava observações sobre museus, laboratórios, universidades, bibliotecas, obras de arte, costumes e idiomas locais, demonstrando não apenas uma curiosidade enciclopédica, mas também um profundo respeito pela diversidade cultural e religiosa dos povos que conheceu (ROMANELLI, 2020). Suas descrições ultrapassavam o olhar turístico, transformando-se em análises etnográficas e comparativas, nas quais avaliava as práticas educacionais, científicas e administrativas de cada país visitado.
Essas experiências tiveram impacto direto sobre sua política interna. Dom Pedro II compreendia que o conhecimento e a cultura eram os pilares de um Estado moderno e civilizado. Assim, ao retornar de suas viagens, o monarca implementou e fortaleceu instituições dedicadas à educação, à ciência e à inclusão social, como o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos (1857) e oImperial Instituto de Meninos Cegos (1854), ambos inspirados em modelos europeus e voltados à formação e integração de pessoas com deficiência (UNESCO, 2012). Esses projetos expressavam sua visão humanista e sua crença na educação como meio de dignificação e progresso social.
Além das instituições de ensino, o imperador demonstrou especial interesse pelas ciências naturais e pela astronomia, áreas que via como essenciais para o desenvolvimento do país. Investiu na modernização do Imperial Observatório do Rio de Janeiro, promoveu missões científicas para a observação de eclipses e incentivou a correspondência com estudiosos estrangeiros, entre eles Camille Flammarion, Louis Pasteur e Alexander von Humboldt (BARMAN, 1999). Suas coleções de minerais, fósseis, fotografias e manuscritos, adquiridas ao longo de suas viagens, enriqueceram o acervo do Museu Nacional, transformando-o em uma das instituições científicas mais respeitadas da América Latina.
No campo da diplomacia cultural, as viagens de Dom Pedro II funcionaram como instrumentos de aproximação entre o Brasil e o mundo civilizado. O imperador apresentava-se nas cortes europeias e nas exposições universais como um embaixador da ciência e da cultura, promovendo uma imagem do Brasil associada ao progresso, à tolerância e à erudição. Ao contrário de muitos soberanos de seu tempo, Dom Pedro II recusava privilégios aristocráticos, preferindo dialogar com intelectuais, professores e inventores – o que lhe rendeu o reconhecimento como um dos monarcas mais cultos do século XIX (SCHWARCZ, 1998).
Essas ações contribuíram para a construção de uma identidade nacional moderna e cosmopolita, em que a educação e o saber científico eram vistos como símbolos de soberania e civilização. O legado de Dom Pedro II, nesse sentido, transcende sua figura política: ele representa o ideal de um governante que, ao colocar a ciência e a cultura em movimento, fez do próprio Império um espaço de circulação de ideias, saberes e valores universais.
5. O simbolismo do “viajante do saber”
Mais do que um chefe de Estado, Dom Pedro II representava o ideal de um monarca humanista, cuja autoridade derivava do conhecimento e da virtude moral, e não da força. Em um século marcado por revoluções políticas e transformações tecnológicas, o imperador brasileiro destacou-se por fazer do saber o eixo de sua legitimidade. Suas viagens internacionais foram verdadeiras expedições intelectuais, nas quais buscava estabelecer pontes entre o Brasil e o mundo civilizado, promovendo o intercâmbio cultural e científico como instrumento de progresso nacional.
Ao contrário de outros soberanos de seu tempo, que viajavam em busca de prestígio ou conquista, Dom Pedro II viajava em busca de ideias. Em seus diários e correspondências, observa-se um espírito curioso e reflexivo, empenhado em compreender as diferenças culturais e em aprender com elas. O monarca via a diversidade humana como fonte de enriquecimento espiritual, e não de hierarquia – o que o tornava um dos raros governantes do século XIX a defender a tolerância religiosa, o diálogo intercultural e o respeito aos povos não europeus (SCHWARCZ, 1998).
Essa postura conferiu-lhe uma dimensão simbólica singular: a de um “viajante do saber”, figura que sintetiza o encontro entre poder e erudição. Suas andanças pelo Oriente Médio, pela Europa e pelas Américas não se limitavam ao campo político, mas configuravam um itinerário de formação intelectual e ética. Cada viagem representava uma etapa de um projeto maior – o de construir um Império do Conhecimento, no qual ciência, cultura e moralidade fossem pilares de uma nação moderna e emancipada (CARVALHO, 2014).
Como registrou em seus escritos:
“A verdadeira grandeza de um império não está em suas armas, mas em suas escolas.” Dom Pedro II (apud UNESCO, 2012).
Essa máxima, que ressoa como um lema civilizatório, expressa o ideal de soberania intelectual que orientava sua visão de governo. Dom Pedro II compreendia que o verdadeiro poder de um governante reside na capacidade de educar, inspirar e promover o bem comum, e não na imposição da força. Por isso, sua figura transcende a história política e adentra o campo da simbologia cultural, representando o paradigma de um governante-filósofo, que via na educação o caminho para a liberdade e na cultura o alicerce da identidade nacional.
O legado simbólico do “viajante do saber” persiste na memória histórica brasileira como um convite à reflexão sobre o papel do conhecimento na construção de sociedades mais justas e ilustradas. Em tempos de incertezas e transformações, a mensagem de Dom Pedro II – de que a educação é a mais poderosa forma de soberania – permanece como um farol ético e intelectual para as futuras gerações.
Considerações Finais
As viagens de Dom Pedro II constituem um dos capítulos mais notáveis da história política e cultural do Brasil oitocentista. Longe de serem simples deslocamentos diplomáticos, representaram uma verdadeira rota de conhecimento e autoconstrução intelectual, na qual o imperador buscava integrar o país ao concerto das nações civilizadas. Ao percorrer diferentes continentes, Dom Pedro II revelou-se não apenas um soberano, mas um erudito cosmopolita, movido por uma fé inabalável no poder transformador da ciência e da educação.
Os registros de suas viagens — diários, cartas e observações — revelam um olhar sensível e crítico, capaz de unir curiosidade científica e compromisso ético. Cada visita a universidades, observatórios e museus reforçava seu ideal de que o saber é o fundamento do verdadeiro progresso. Essa visão se traduziu em ações concretas, como o apoio às instituições de ensino e pesquisa, o incentivo à inclusão educacional e o fortalecimento de centros científicos nacionais, entre eles o Museu Nacional e o Imperial Observatório.
Do ponto de vista simbólico, Dom Pedro II encarnou o arquétipo do “viajante do saber”, um governante que concebia o mundo como espaço de aprendizagem e a cultura como instrumento de soberania. Ao promover o diálogo entre o Brasil e as nações estrangeiras, fez da diplomacia um ato pedagógico e da curiosidade uma forma de governo. Seu exemplo desafia os modelos tradicionais de autoridade, demonstrando que o poder pode ser exercido pela inteligência, pela sensibilidade e pela cultura, e não apenas pela força.
O legado do imperador permanece atual no século XXI. Em um contexto global de crise de valores e de desvalorização do conhecimento, sua figura ressurge como símbolo de ética, erudição e compromisso com a educação pública. As viagens de Dom Pedro II, portanto, não pertencem apenas ao passado: continuam a inspirar o presente e a apontar caminhos para um futuro em que o conhecimento seja o verdadeiro alicerce da liberdade e da identidade nacional.
Referências
ANBA – Agência de Notícias Brasil-Árabe. Dom Pedro II e o mundo árabe: o imperador que viajou pelo Oriente Médio. São Paulo: ANBA, 2014. Disponível em: https://anba.com.br.
BARMAN, Roderick J. Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891. Stanford: Stanford University Press, 1999.
CARVALHO, José Murilo de. Dom Pedro II: ser ou não ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
MARCELINO, Marcelo. Dom Pedro II: o imperador da ciência e da educação. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2021.
PEDRO II, Dom. Cartas e Diários de Viagem (1840–1891). Rio de Janeiro: Arquivo da Casa Imperial do Brasil, 1884.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil (1930–2020). 43. ed. Petrópolis: Vozes, 2020.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
UNESCO. Programa Memória do Mundo: Coleção Viagens do Imperador – 1840/1913. Brasília: UNESCO, 2012. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org.
Eu fui calcular a distância entre a Terra e o Céu… Os quilômetros das estrelas dentro de um olhar fiel… A estrada entre o ferrão da abelha e o seu mel… E descobri que há uma geometria colossal: Todo o Céu fica bem perto daquele que é distante do mal!
Eu fui calcular a distância entre o espinho e a flor… E aprendi: posso crescer naquilo que me desconfortou! Escolho ser a pétala que o mundo perfumou!
Então olhe: É você que escolhe! A distância entre a flor e o espinho é a mesma no caminho! O Céu fica mais perto de quem o tocou! O Céu é o vizinho de um sonhador! Então sonhe: A distância entre os anjos e os homens…finda no amor em que toda distância some! O Céu está do lado de quem amou!
Então amanheceu: o Universo respirou o que você floresceu… Não há distância entre tua alma e Deus… Se escolho as essências mais perfumantes… Os espinho, por si só, ficarão distantes!
Eu fui calcular o valor de um aprendizado… O tesouro que há num saber bem depurado… Descobri que o espinho protegeu a flor! Que guardião de louvor! E sou tão grata àquilo que um dia chamei de dor!
Eu fui calcular a distância entre o Céu e um coração: descobri que posso ser o Céu, então, se a minha mão tocar o coração de quem precisou! Um espírito mais filosófico diria: distância não é espaço, é ontologia! O perfume deixado pelo que foi superado é maestria! O Céu é o teu interior!
Navegar na pensabioidade… Nutre a qualidade de nosso vínculo c’a perenidade…Isso é restaurador! Escolho um perfumar não persecutório, trazendo Continentes dentro de meus olhos… Ampliando a visão do Cosmos…Com candor!
O Universo, todo aberto, é só uma letra d’um grande Alfabeto… O Cosmos ainda é um feto… em labor! Evoluir a alma é o maior dos sucessos… Eis o cálculo mais correto: cumpra a vida em todos os seus metros! Reencante o teu interior!
Colaboremos com o parto da própria Criança… Pois a vida sempre estará em gestação…Esse poema é uma laica oração…p’ra quem o mundo já perdoou!