O julgamento do tempo

Clayton Alexandre Zocarato

‘O julgamento do tempo: razão e desrazão em diálogo’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton Zocarato
Imagem criada por IA do Grok

(Cenário: Um espaço indefinido, entre ruínas e telas luminosas. No fundo, notícias piscam, protestos ecoam, o som de redes sociais se mistura a ruídos de bombas e aplausos. No centro, duas figuras humanas — Razão e Desrazão — sentam-se frente a frente, uma com um livro antigo nas mãos, outra com um smartphone brilhando no escuro.)

Razão: O mundo tornou-se um espetáculo. O que era reflexão virou manchete, o que era busca virou trend. Já não se lê para compreender — lê-se para vencer.

Desrazão: E por que não? A vitória é o novo critério da verdade. Antigamente, vocês, filósofos, diziam que a verdade libertaria o homem. Hoje, a liberdade é o álibi da mentira.

Razão: Não chame isso de liberdade. É fuga. Desde Sócrates, eu caminho ao lado do homem tentando ensinar que pensar é um ato de coragem. Mas vocês, os filhos da pressa, transformaram o pensamento em meme.

Desrazão: E você, mãe dos códigos, ainda acredita que o pensamento muda o mundo? Marx acreditava. Gramsci acreditava. Mas o capital aprendeu a falar em hashtags. A revolução agora é patrocinada por empresas de tecnologia, e os algoritmos são os novos deuses do destino.

Razão: Os algoritmos são espelhos — refletem a alma de quem os programou. E o homem, ao entregar seu julgamento às máquinas, apenas confessa sua preguiça moral.

Desrazão: Ah, moral… essa palavra enferrujada. Quem ainda acredita em virtude num tempo em que os heróis são processados e os corruptos dão palestras sobre ética? Olhe ao redor: o planeta está quente, a humanidade fria.

Razão: Ainda assim, existe esperança. Veja as ruas: jovens protestando, vozes que não se calam diante da injustiça. Da Revolução Francesa à Primavera Árabe, a chama da resistência não se apagou.

Desrazão: Chama? Eu vejo fagulhas. E logo depois, selfies. A revolta foi domesticada, virou produto. Até a dor tem marketing. As guerras agora são streams ao vivo, e cada cadáver é um ‘conteúdo sensível’.

Razão: A tecnologia não é a vilã — é a escolha que define o uso. Quando Gutenberg imprimiu a Bíblia, muitos disseram que a escrita destruiria o espírito. E, no entanto, foi ela que preservou a memória humana.

Desrazão: Memória? (ri) Nós vivemos no império do esquecimento. O passado é inconveniente, e o presente precisa de filtros. Negamos a escravidão, reescrevemos ditaduras, chamamos censura de opinião. Eu sou o novo senso comum, e você, velha amiga, é apenas uma página esquecida de Kant.

Razão: Mesmo esquecida, eu resisto. Quando a humanidade erra, é a mim que procura para se justificar. Após Auschwitz, Hiroshima e tantas covas rasas, é a Razão que os sobreviventes invocam para tentar entender o absurdo.

Desrazão: E, no entanto, o absurdo volta. Vestido de progresso, de fé, de segurança nacional. Os séculos mudam, mas o vício é o mesmo: o homem ama o poder mais do que a verdade.

Razão: O poder sem razão é tirania. Veja a história — Roma caiu pela arrogância, Napoleão pela ambição, Hitler pelo delírio.

Desrazão: E todos eles tinham filósofos para explicar suas glórias. A filosofia, minha cara, sempre chega atrasada — aparece depois do sangue, com um discurso pronto sobre o sentido da tragédia.

Razão: Talvez, mas sem ela, o sangue seria apenas lama. É a reflexão que transforma a dor em consciência.

Desrazão: Consciência? O mundo anestesiou-se. Freud chamou o inconsciente de rei oculto, mas hoje ele virou refém do consumo. A terapia é uma assinatura mensal, e a culpa, um emoji triste.

Razão: (fecha o livro lentamente) Mesmo assim, há beleza. Ainda há poetas, cientistas, professores, mães que ensinam os filhos a pensar.

Desrazão: Professores? Esses são os novos inimigos. O conhecimento foi colocado em julgamento. A ignorância é mais rentável — forma massas dóceis, fáceis de conduzir. Lembra-se de Galileu? Pois é, agora a fogueira é virtual.

Razão: Então, você admite que a história se repete. A diferença é que agora as chamas são invisíveis, mas queimam mais.

Desrazão: Sim, e o cheiro é de dados, não de carne. O homem ofereceu a alma ao mercado. E o mercado devolveu-lhe um aplicativo.

Razão: Há séculos, Lutero denunciava a venda do perdão. Hoje, vendem-se curtidas, desejos, ideologias. Tudo se compra, inclusive a verdade.

Desrazão: Exato. E eu sou a gerente desse negócio. (ri alto) As redes sociais são o meu império. Eu governo pelo impulso — raiva, medo, vaidade. Ninguém mais lê Rousseau, todos querem ser influenciadores.

Razão: Mas a influência sem reflexão é tirania estética. O belo sem o bom é o veneno da civilização.

Desrazão: E quem quer o bom quando o belo rende mais visualizações? Veja, Razão, você é nobre, mas ingênua. O mundo não quer pensar — quer sentir.

Razão: Sentir sem pensar é o caminho da barbárie.

Desrazão: E pensar sem sentir é o caminho da indiferença. Eis o dilema eterno entre nós.

(Um silêncio. Ao fundo, projeções de guerras, protestos, incêndios florestais e discursos políticos. A luz pisca como se o tempo oscilasse entre séculos.)

Razão: Você se alimenta da crise. Eu, do diálogo. Enquanto houver palavra, há chance de equilíbrio.

Desrazão: Palavra? A língua foi sequestrada. Cada termo virou campo de batalha. ‘Democracia’, ‘liberdade’, ‘povo’ — todos usados até perder o sentido.

Razão: O sentido se reconstrói. Ele nunca morre. Assim como o homem sempre tenta reerguer-se depois da queda.

Desrazão: O homem tenta, mas tropeça. A pandemia mostrou o quanto somos frágeis: negamos a ciência, adoramos conspirações. Você viu? Até a morte virou estatística.

Razão: E mesmo assim, houve solidariedade. Médicos que trabalharam até cair, cientistas que dividiram conhecimento, vizinhos que se ajudaram. A tragédia revela tanto o pior quanto o melhor de nós.

Desrazão: Sim, mas eu fui mais rápida. Entrei nas redes, espalhei medo, cansaço e divisão. O mundo acredita mais nas minhas sombras do que na tua luz.

Razão: Talvez, mas lembre-se: toda noite é sucedida pelo amanhecer.

Desrazão: Bela metáfora. Pena que os homens andam sem janelas. Vivem trancados nas suas bolhas, gritando sozinhos.

Razão: Por isso mesmo eu insisto: é hora de reaprender a escutar. A democracia não é um grito, é uma escuta coletiva.

Desrazão: Democracia… (ri) Essa palavra está cansada. Uns a usam para censurar, outros para se perpetuar. Ela virou moeda de troca.

Razão: Mas ainda é o melhor dos caminhos imperfeitos. Churchill sabia. E mesmo ele, envolto em guerras, acreditava que o diálogo era a única forma de civilizar o conflito.

Desrazão: Ah, o conflito… o meu palco favorito! Sem mim, vocês não evoluem. Admitam: toda invenção, toda mudança, nasce de mim — do caos, da dúvida, do erro.

Razão: Verdade. Mas eu sou a costura. Você rasga, eu reconstruo. O mundo precisa de ambos — mas com equilíbrio.

Desrazão: Equilíbrio… a palavra mais entediante que existe. O ser humano não nasceu para o equilíbrio. Nasceu para o abismo.

Razão: Talvez. Mas é no abismo que ele aprende a voar.

(Luz baixa. A projeção no fundo mostra uma ampulheta virando lentamente. Som de batimentos cardíacos. Razão e Desrazão se encaram em silêncio por alguns segundos.)

Desrazão: Diga-me, Razão… depois de tantos séculos, de tanto sangue e tanta promessa, ainda acredita no homem?

Razão: Não. Acredito na humanidade. É diferente. O homem cai, mas a humanidade se levanta.

Desrazão: E se um dia ela não se levantar?

Razão: Então, ao menos terá tentado. E essa tentativa será a prova de que existiu.

Desrazão: (sorri) Talvez eu devesse poupá-la, então. Afinal, sem ti, eu também desapareço.

Razão: Vê? Até você compreende que somos interdependentes. A história é o nosso espelho — onde tua loucura e minha lógica dançam lado a lado.

Desrazão: Uma dança eterna.

Razão: Até o último acorde da consciência.

(As luzes diminuem. No fundo, a imagem de um planeta em rotação. Vozes indistintas ecoam — discursos, poemas, risadas, orações. O som de uma página sendo virada encerra a cena.)

FIM

 Observação para encenação ou leitura crítica:

Este texto propõe uma reflexão filosófico-jurídica e social sobre o mundo contemporâneo, explorando temas como pós-verdade, democracia, tecnologia, desigualdade, história e memória, sem divisão formal de atos ou cenas. A linguagem é provocativa, mas equilibrada entre o poético e o político.

Clayton Alexandre Zocarato

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A educação como missão real

Alexandre Rurikovich Carvalho

‘A educação como missão real: a visão pedagógica de Dom Pedro II e a nobreza da docência’  

Dom Alexandre Rurikovich Carvalho
Dom Alexandre Rurikovich Carvalho
Retrato de Dom Pedro II em pose reflexiva, em estilo clássico do século XIX. O imperador é
representado em tons sépia, com gesto sereno e expressão contemplativa, simbolizando sua
admiração pela educação e pelo papel do professor.
Retrato de Dom Pedro II em pose reflexiva, em estilo clássico do século XIX. O imperador é
representado em tons sépia, com gesto sereno e expressão contemplativa, simbolizando sua
admiração pela educação e pelo papel do professor.

Resumo. O presente artigo analisa a célebre frase atribuída a Dom Pedro II — “Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro” — como expressão de um ideal humanista e civilizatório que marcou o Segundo Reinado brasileiro. Busca-se compreender o pensamento educacional do monarca, sua influência sobre o desenvolvimento da instrução pública e sua concepção do magistério como missão moral. A pesquisa, de caráter qualitativo e interpretativo, fundamenta-se em revisão bibliográfica e análise documental, contextualizando o imperador como patrono das letras, das ciências e das artes. Conclui-se que Dom Pedro II via na educação o instrumento fundamental para o progresso nacional e via o professor como o verdadeiro construtor do futuro.

Palavras-chave: Dom Pedro II; Educação; Docência; Humanismo; História da Educação Brasileira.

1. Introdução

A história da educação brasileira é inseparável da figura de Dom Pedro II (1825–1891), monarca que, mais do que governar, dedicou-se ao estudo, à cultura e à ciência. Sua frase — “Se não fosse imperador, desejaria ser professor” — ultrapassa o valor retórico e revela um ideal ético e pedagógico.
No contexto do século XIX, a afirmação de um soberano que via no magistério a mais nobre das profissões representa um marco de pensamento ilustrado e progressista. Para o imperador, educar era não apenas transmitir conhecimento, mas formar consciências e preparar cidadãos para o futuro da nação.

O presente artigo tem por objetivo analisar o significado dessa declaração e suas implicações para a história da educação no Brasil, discutindo as políticas culturais e o legado intelectual de Dom Pedro II à luz da pedagogia humanista e do papel transformador do professor.

2. Contexto Histórico e Intelectual do Segundo Reinado

Dom Pedro II ascendeu ao trono em 1840 e reinou até 1889, período conhecido como Segundo Reinado, marcado por estabilidade política, expansão econômica e florescimento cultural. Desde jovem, recebeu uma formação ampla e rigorosa, orientada por mestres como o padre Diogo Antônio Feijó, o marquês de Itanhaém e outros intelectuais de destaque da época. Dotado de notável inteligência e curiosidade intelectual, o monarca tornou-se poliglota, dominando mais de dez idiomas, entre eles o grego, o hebraico, o árabe e o tupi. Demonstrava grande apreço pelas ciências humanas e naturais, mantendo correspondência com personalidades científicas e literárias de renome mundial, como Victor Hugo, Louis Pasteur, Richard Wagner, Alexandre Dumas e Alexander von Humboldt, com quem trocava ideias sobre arte, filosofia e progresso técnico.

Segundo José Murilo de Carvalho (2007, p. 45), “Dom Pedro II foi um dos raros monarcas do século XIX cuja verdadeira paixão residia no conhecimento”. Essa paixão se refletiu em políticas que incentivaram o avanço educacional, artístico e científico no Brasil. O imperador foi patrono da Academia Brasileira de Letras e protetor de instituições culturais, como o Museu Nacional, a Biblioteca Nacional e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), que desempenharam papel fundamental na construção da identidade nacional. Também estimulou o desenvolvimento de infraestruturas modernas, como o telégrafo, a ferrovia e a fotografia, introduzindo o país no contexto da modernidade oitocentista.

O Colégio Pedro II (1837), criado ainda durante o período regencial, mas consolidado sob seu patrocínio, tornou-se modelo de ensino secundário e referência de qualidade intelectual. Além disso, Dom Pedro II incentivou a criação de escolas normais para formação de professores, reconhecendo o magistério como pilar da civilização. Em carta de 1873, afirmou: “Nada eleva mais um povo do que o saber; e nada o degrada tanto quanto a ignorância”. Essa convicção de caráter iluminista o levou a patrocinar o estudo de jovens brasileiros na Europa, apoiando bolsas de estudo e missões pedagógicas, especialmente na França e na Alemanha, com o objetivo de trazer ao Brasil novas metodologias e paradigmas científicos.

A postura intelectual do monarca refletia uma visão cosmopolita e humanista, que conciliava tradição e progresso. Dom Pedro II via a cultura como instrumento de emancipação moral e política, acreditando que o conhecimento poderia elevar o Brasil ao patamar das nações mais civilizadas. Sob sua influência, o país vivenciou um período de efervescência intelectual, com o surgimento de revistas literárias, debates científicos e a consolidação de uma elite letrada comprometida com a modernização nacional.

3. A Concepção Humanista e Moral da Educação

A frase analisada neste estudo contém um núcleo filosófico que remete ao ideal humanista. Para Dom Pedro II, a educação deveria transcender o ensino de conteúdos e promover o desenvolvimento integral do ser humano. Tal perspectiva aproxima-se das ideias de Rousseau e Condorcet, para quem a instrução pública é condição essencial de liberdade e moralidade.

O imperador acreditava que o educador era o verdadeiro condutor do progresso nacional. Em discurso de 1876, declarou:

“Educar não é apenas instruir, mas formar o caráter. O mestre não ensina apenas o que sabe, mas o que é.”

Essa visão traduz um compromisso ético com a formação do cidadão e antecipa princípios pedagógicos que mais tarde seriam retomados por pensadores brasileiros como Rui Barbosa, Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro.

Conforme Saviani (2007, p. 23), “a educação é sempre um ato político e moral”. Essa noção é coerente com o pensamento de Dom Pedro II, que via na docência uma missão espiritual, capaz de transformar o destino do país por meio da cultura e do conhecimento.

4. Políticas e Ações Educacionais de Dom Pedro II

O reinado de Dom Pedro II foi marcado por importantes iniciativas voltadas à disseminação do ensino, à valorização cultural e ao fortalecimento das instituições de saber. O monarca via a educação como base indispensável para o progresso moral e material da nação, e, por isso, adotou uma postura ativa na promoção de políticas públicas voltadas ao ensino, à ciência e às artes. Entre as principais ações, destacam-se:

  1. Criação e fortalecimento do Colégio Pedro II, que se tornou referência nacional em educação humanista e científica. A instituição foi concebida como modelo de excelência, com currículo abrangente que integrava disciplinas clássicas, línguas estrangeiras, filosofia, ciências naturais e história, formando gerações de intelectuais e estadistas. O próprio imperador acompanhava seu funcionamento, participando de cerimônias, visitando salas de aula e premiando alunos de destaque.
  2. Estímulo à formação docente, com a fundação de escolas normais em várias províncias, especialmente a partir da década de 1870. Dom Pedro II compreendia que o progresso do ensino dependia da qualificação do professorado, e incentivou reformas pedagógicas inspiradas em modelos europeus, como o francês e o alemão. Essas escolas tornaram-se centros de difusão de novas metodologias de ensino, contribuindo para o fortalecimento do magistério nacional.
  3. Apoio às instituições científicas e artísticas, como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), o Museu Nacional, o Observatório Imperial do Rio de Janeiro e a Academia Imperial de Belas Artes. Sob seu patrocínio, tais instituições desempenharam papel fundamental na produção e preservação do conhecimento, além de promoverem o intercâmbio intelectual entre o Brasil e a Europa. O imperador também incentivou a realização de expedições científicas, especialmente nas áreas de botânica, geografia e arqueologia, consolidando o país como centro emergente de investigação científica no hemisfério sul.
  4. Patrocínio à imprensa, à difusão cultural e à tradução de obras científicas e literárias, ampliando o acesso ao conhecimento. Dom Pedro II acreditava que a circulação de ideias era essencial para o desenvolvimento do espírito público e da cidadania. Assim, apoiou publicações educativas, jornais literários e a tradução de textos fundamentais das ciências e das humanidades, aproximando o Brasil das grandes correntes de pensamento do século XIX.
  5. Concessão de bolsas de estudo no exterior, destinadas à formação de estudantes, engenheiros, artistas e professores brasileiros. Essa política contribuiu para a modernização das práticas pedagógicas e científicas nacionais, permitindo que o país assimilasse avanços tecnológicos e concepções filosóficas do Velho Mundo. Entre os bolsistas estavam nomes que mais tarde se destacariam no cenário intelectual brasileiro, colaborando com o projeto civilizatório de Dom Pedro II.

Como observa Lilia Moritz Schwarcz (1998, p. 112), “a figura do imperador confundia-se com a do intelectual, que fazia da cultura um instrumento de poder simbólico e de prestígio internacional”. Essa postura consolidou o Brasil como uma das monarquias mais cultas e respeitadas de seu tempo, distinguindo-se por seu compromisso com o saber e com a modernidade ilustrada. Além disso, o legado educacional e científico de Dom Pedro II ultrapassou as fronteiras do Império, sendo reconhecido por instituições estrangeiras como a Academia de Ciências de Paris e a Royal Society de Londres, das quais foi membro correspondente.

O conjunto dessas políticas demonstra que Dom Pedro II compreendia o conhecimento como elemento estruturante do Estado e via na educação o caminho para a emancipação do indivíduo e o engrandecimento da nação. Sua visão de governo, profundamente marcada pelo humanismo, pelo racionalismo e pela fé no progresso, deixou marcas duradouras no sistema educacional brasileiro e na construção de uma identidade cultural própria.

5. O Professor como Agente de Transformação

Ao declarar que desejaria ser professor, Dom Pedro II revela não apenas uma admiração pessoal pela docência, mas uma profunda compreensão do poder formador da palavra, do exemplo e da transmissão do conhecimento. Sua afirmação — “Se não fosse imperador, desejaria ser professor” — sintetiza uma visão de mundo iluminista e humanista, na qual o saber se coloca acima do poder e a educação é vista como instrumento de emancipação individual e social. Para o monarca, o verdadeiro governante e o verdadeiro mestre compartilham a mesma missão: “dirigir inteligências” e “preparar homens do futuro”, conduzindo o povo pelo caminho da razão e da virtude.

Essa concepção coloca o professor no centro do processo civilizatório, reconhecendo-o como figura essencial na formação moral e intelectual da sociedade. Assim como o monarca dirige a nação, o educador conduz as mentes — mas sua autoridade é moral, ética e intelectual, e não política. O imperador compreendia que a força de um país residia menos nas armas do que nas escolas, e que somente por meio da educação o Brasil poderia alcançar o patamar das nações civilizadas. Em diversos discursos, Dom Pedro II exaltou o magistério como “a mais nobre das profissões”, chegando a afirmar que “a ignorância é a verdadeira inimiga da liberdade”.

A figura do professor, portanto, era para Dom Pedro II símbolo do progresso, do altruísmo e da construção do caráter nacional. Ele via na docência não apenas uma função técnica, mas uma missão espiritual e patriótica, responsável por moldar consciências e cultivar valores éticos, científicos e humanísticos. Em várias ocasiões, o imperador fez questão de visitar escolas públicas e privadas, dialogando com mestres e alunos, e demonstrando sincero interesse pelo cotidiano do ensino. Seu respeito pelos professores era público e constante, o que contribuiu para elevar o prestígio moral da profissão em uma época ainda marcada pela desigualdade educacional e pela escassez de recursos didáticos.

Segundo Fernando de Azevedo (1958, p. 67), “a educação brasileira deve a Dom Pedro II o impulso inicial de seu despertar cultural e o prestígio moral do magistério”. Essa valorização do professor como guardião do saber e agente da transformação social permanece como um ideal a ser plenamente alcançado na contemporaneidade. O imperador antecipava, de certo modo, ideias que mais tarde seriam defendidas por educadores como Anísio Teixeira e Paulo Freire, ao considerar que ensinar é um ato de libertação e que a instrução popular é o caminho mais seguro para a justiça e o desenvolvimento.

O legado de Dom Pedro II, portanto, não se limita às reformas institucionais, mas estende-se à formação de uma mentalidade educacional que valoriza o conhecimento como bem supremo. Sua visão coloca o professor como mediador entre o saber e o cidadão, como aquele que constrói pontes entre o passado e o futuro, entre a tradição e a inovação. Ainda hoje, em tempos de desafios educacionais e crises de valores, o exemplo do “imperador professor” continua a inspirar a crença de que a transformação do mundo começa pela sala de aula.

6. Atualidade do Pensamento de Dom Pedro II

No século XXI, a profissão docente enfrenta desafios complexos e persistentes, como a desvalorização social, a precarização das condições de trabalho, a sobrecarga emocional e a carência de políticas públicas consistentes voltadas à formação continuada e à valorização salarial dos educadores. Em meio a esse cenário, a mensagem de Dom Pedro II adquire nova relevância, ressoando como um apelo ético, filosófico e simbólico em defesa do magistério e do papel essencial da educação na construção de uma sociedade justa e esclarecida. Sua célebre admiração pela docência — expressa na frase “Se não fosse imperador, desejaria ser professor” — transcende o tempo, reafirmando a dignidade e a missão humanizadora do ensino.

Para Dom Pedro II, ensinar era um ato de elevação moral, um compromisso com o progresso intelectual e espiritual do povo. Essa convicção, ancorada nos ideais iluministas e no humanismo cristão, encontra eco nas discussões pedagógicas contemporâneas sobre o papel transformador da educação. No mundo atual, marcado pela aceleração tecnológica, pela crise de valores e pela desigualdade de oportunidades, o pensamento do imperador permanece como referência de esperança e propósito: o conhecimento continua sendo a via mais segura para a liberdade e para o fortalecimento da cidadania.

Como afirmou Anísio Teixeira (1969, p. 14), “sem professores não há nação possível”. Essa máxima reforça o sentido atemporal da frase imperial: formar inteligências é formar o próprio destino de um povo. A educação, vista por Dom Pedro II como instrumento de emancipação e progresso, mantém-se o principal caminho para o desenvolvimento nacional. Sua postura de respeito à ciência, à cultura e ao magistério oferece um contraponto inspirador diante da crise de reconhecimento que hoje atinge os profissionais da educação.

A atualidade do pensamento de Dom Pedro II reside, portanto, em sua capacidade de articular valores éticos, políticos e culturais em torno da figura do professor e da centralidade da escola como espaço de formação cidadã. Ao reconhecer no educador o verdadeiro construtor da pátria, o imperador antecipou um ideal que atravessa gerações: o de que nenhum projeto de nação é sustentável sem investimento intelectual e moral em seus mestres.

Mais do que um legado histórico, sua visão constitui uma lição permanente de valorização, respeito e esperança. Em tempos de transformações globais, é urgente resgatar o espírito que animava o “imperador professor”: a crença de que educar é servir à humanidade, e que o saber, mais do que um privilégio, é um dever compartilhado entre governantes e cidadãos. Assim, o pensamento de Dom Pedro II continua a iluminar o presente, inspirando novas gerações de educadores a manter viva a fé na força transformadora da educação e no poder civilizador da palavra e do exemplo.

7. Considerações Finais

Dom Pedro II compreendia a educação como a verdadeira base de sustentação de um país civilizado. Sua frase sintetiza uma visão de mundo em que o saber é o mais elevado dos poderes e o professor, seu mais digno representante.
O imperador não via o trono como símbolo de dominação, mas como espaço de serviço à cultura e à ciência. Seu amor pelo ensino e sua admiração pelo professorado representam um legado moral e intelectual que ultrapassa os limites do tempo.
Ao desejar ser mestre, Dom Pedro II eternizou a imagem de um governante que acreditava no poder das ideias — e, sobretudo, no poder do educador de transformar o mundo.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, Fernando de. A Cultura Brasileira: introdução ao estudo da cultura no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, 1958.

CARVALHO, José Murilo de. Dom Pedro II: ser ou não ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

NAGLE, Jorge. Educação e Sociedade na Primeira República. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.

RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

SAVIANI, Dermeval. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2007.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

TEIXEIRA, Anísio. Educação e o Mundo Moderno. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1969.BARROS, Maria do Carmo. O Ideal Educador de Dom Pedro II. Rio de Janeiro: MEC/INEP, 1989.

Alexandre Rurikovich Carvalho

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Retratos, imagens, fotografias

Lina Veira: ‘ Retratos, imagens, fotografias’

Lina Veira
Lina Veira
Imagem criada por Lina Veira
Imagem criada por Lina Veira

Os séculos XIX e XX foram marcantes ao campo artístico, especialmente em relação ao desenvolvimento de equipamentos utilizados para  a captura de imagens. A fotografia alcançou grande dimensão e alterou a relação do público com a arte, sendo um dos campos mais explorados pela indústria cultural até hoje.

A capacidade de registrar o mundo em diversos segmentos e miniaturas com efeitos visuais  ganhou uma evolução rápida que, por volta de 1840, transformou o  pintores em fotógrafos, como escreveu Walter Benjamin  em seu texto: 

“Pequena história da fotografia”  

Quem não tem na sua família um pintor, fotografo ou escultor?

Hoje , achei um retrato antigo, do tempo de meus avós, nem parece que o mundo passou por duas guerras mundiais. Quanto tempo!  Ainda vivi o tempo em que  as famílias tinham interesse em deixar registrados momentos de carinhos juntos.  E meus avós maternos, estavam sempre juntos! 

Uma fotografia é quase que uma pintura.  Uma representação visual de uma pessoa, de seus gestos e comportamentos. Real ou imaginária, criada por efeitos visuais ou por emoções, um desenho,  uma pintura,  uma escultura ou fotografia. Pura arte em transformação.

Nesta foto, percebi as névoas do tempo recobrindo nossa pele,  os detalhes de um sorriso e olhares vazios da vida, me roubaram a atenção. O cabelo branquinho de meus avós…Minha Irmã Andressa estava no colo deles. Eu não sorria, mas em todas as fotos eu sempre sorri. Por dentro de toda arte existe a verdadeira vida, derivada da luz, de ondas percebidas pelo olho humano a deriva de  todo tom e cor diferente.  As mudanças são inevitáveis. Por dentro de toda arte existe uma leitura, uma síntese, a verdadeira verdade, um nascimento, algo informal também. Um dia quando eu morrer, essa foto também morrerá.

Cecília Meireles (1901-1964) marco da literatura brasileira soube escrever  muito bem. Nos versos da terceira parte do poema Retrato,  assume que já não se reconhece mais depois da sua transformação :

“Eu não dei por esta mudança,

Tão simples, tão certa, tão fácil:

— Em que espelho ficou perdida

a minha face?”

Minha fotografia predileta, estava intacta. Sentada no  pé de seriguela,  atualizando meus pensamentos e sorrindo.  Meu colo era no quintal, no  tronco do pé de seriguela que me viu crescer, onde meus dias  sempre foram como as manhãs de domingo num dia ensolarado.

Que bom que existe a arte e suas diversas formas de expressão,  que bom que guardei algumas fotos daquele tempo, que bom que escrevo.

Minha arte é manual – tem a segurança de deixar coisas e pessoas para trás e conseguir carregar tudo que sou, somos, vejo e vemos, tudo que atualizamos por ser realmente útil e absolutamente natural se manifestar.

Lina Veira

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A Casa das Memórias e o Quintal de Todos Nós

Segundo livro da escritora Dorilda Almeida, A Casa das Memórias e o Quintal de Todos Nós é lançado em Frankfurt, Alemanha, na maior Feira do Livro do mundo

Capa do livro 'A Casa das Memórias e o Quintal de Todos Nós', de Dorilda Almeida
Capa do livro ‘A Casa das Memórias e o Quintal de Todos Nós‘, de Dorilda Almeida

A escritora, poetisa, psicanalista clínico e filósofa Dorilda Almeida, num voo literário ainda mais alto, no dia 18/10/2025 lançou seu segundo livro, A Casa das Memórias e o Quintal de Todos Nós, em Frankfurt, Alemanha, na maior Feira de Livros do mundo.

A obra, lançada pela Editora Mágico de Oz e com prefácio da renomada escritora e poetisa Claudia Gomes, em suas 165 páginas e 30 contos e memórias, traz aos leitores temas variados e atuais, dentre os quais, respeito às diferenças; eesiliência; bullying; doenças mentais; generosidade; relação afetiva entre pais e filhos; violência contra a mulher; preconceitos; infância; adolescência; solidão e amizade.

Sinopse

Em A Casa das Memórias e o Quintal de Todos Nós, Dorilda Almeida nos convida a entrar numa casa feita de lembranças, afetos e histórias entrelaçadas pela ternura e pela resistência. Entre contos e textos de memórias, a autora costura cenas da infância, da vida familiar e das relações comunitárias, trazendo à tona uma Bahia profunda marcada por cheiros, vozes, sabores e sentimentos que atravessam gerações. Com linguagem acessível, traços de oralidade e toques poéticos, Dorilda transforma experiências pessoais em patrimônios coletivos, em narrativas que nos fazem lembrar da casa da vó, do quintal compartilhado, das amizades da infância, das dores silenciosas e da força resiliente de quem sonha com uma vida mais digna. Este livro é uma celebração das memórias que moldam quem somos e um convite para revisitarmos nossos próprios quintais, reais ou simbólicos. Uma leitura que aquece, emociona e nos faz compreender que, contar histórias é, também, um ato de amor, permanência e transformação.

Serviço

Livro: Casa das Memórias e o Quintal de Todos Nós

Autora: Dorilda Almeida

Editora: Mágico de Oz

ISBN: 978-65-5298-109-7

Número de páginas: 165

Preço: R$ 40,00

Contatos com a autora: Instagram / E-meio

Sobre a autora

A autora, no lançamento, recebendo da Editora Mágico de Oz o Prêmio Personalidade do Ano 2025
A autora, no lançamento, recebendo da Editora Mágico de Oz o Prêmio Personalidade do Ano 2025

Dorilda Almeida, natural de Jacobina (BA), e radicada em Salvador, é escritora, poetisa, psicanalista clínico, filósofa, coordenadora geral do CEDHIA, professora, especialista em Direitos Humanos e Educação. Possui artigo publicado na Revista Neurociências Psicologia.

É criadora e coordenadora de projetos sobre Direitos Humanos com alunos adolescentes na Comunidade Escolar de Salvador (BA). Membro Fundadora de várias Academias nacionais e internacionais.

Coautora de várias antologias e revistas eletrônicas, como a LiteraLivre e Pragmatha, e na Seleção Especial de Textos Talentos Brasileiros.

Detentora de vários títulos, medalhas, prêmios e destaques literários e culturais, dentre os quais o Título de Dra. h. c. em Educação e Direitos Sociais e Humanitários, pela FEBACLA e Consulesa Honorária do Estado da Bahia.

Autora do livro Entusiastas Palavras-Conexão Amorosa e A Casa das Memórias e o Quintal de Todos Nós.

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Vazia

Loide Afonso: Poema ‘Vazia’

Loid Portugal
Loid Portugal
Imagem criada por IA da Meta
Imagem criada por IA da Meta

A dor era tudo que
Eu sentia
Mesmo tentando fugir dela
Ela doía

Eu não quero ser o tipo de ser humano
Que chora
Sem uma pedra nas mãos

Não quero estar vazia
Não
Quero que as pedras se multipliquem
Minhas mãos se encham

Mais sem peso
Sem sentir raiva
Ou vontade de chorar
Só de mãos cheias

Não quero correr com
As mãos cheias
Quero caminhar tranquilamente

Como se nada tivesse nas minhas mãos
Quero voar também
Sentir o vento batendo forte

Não quero correr vazia
Nem sentindo peso
Quero estar em paz!

Loid Portugal

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Samuel Wincheski Garcia

O jovem autor que ilumina mundos com palavras

Samuel Wincheski Garcia
Samuel Wincheski Garcia

Aos 28 anos, o paulistano Samuel Wincheski Garcia vive aquilo que muitos apenas sonham: transformar imaginação em realidade.

Jornalista por formação e contador de histórias por vocação, ele estreou na literatura com o livro “Elýria: Três Luzes na Escuridão”, uma fantasia independente que une aventura, drama e espiritualidade em um universo próprio, cheio de símbolos e humanidade.

Desde criança, Samuel é fascinado por fantasia, RPG e mitologia, paixões que o acompanharam até a vida adulta e se tornaram combustível para sua escrita.

Inspirado por mundos épicos como Dragon Age, Final Fantasy e Dungeons & Dragons, o autor criou Elýria, um cenário vasto e profundo, onde luz e escuridão convivem não apenas nas paisagens, mas dentro de cada personagem.

Em Elýria: Três Luzes na Escuridão, três protagonistas muito diferentes têm seus destinos entrelaçados por forças misteriosas.

Cada um carrega dores, medos e memórias, e é nesse equilíbrio entre o épico e o íntimo que Samuel revela sua verdadeira força como escritor.


“Eu queria que meus personagens fossem reais, e que o leitor se visse neles, que sentisse junto suas quedas e recomeços. Não busco fama. O que realmente valorizo é que as pessoas leiam meus livros e se conectem com eles. É isso que me move.”

Samuel Wincheski Garcia


Mais do que uma história sobre batalhas e reinos, “Elýria: Três luzes na escuridão” fala sobre identidade, esperança e a luz que sobrevive mesmo nos momentos mais sombrios.

O livro, disponível em formato digital na Amazon, é o primeiro passo de um projeto maior, um universo literário que Samuel vem construindo com paciência, paixão e propósito.

Com escrita envolvente e sensível, Samuel representa uma nova geração de autores brasileiros: criadores que sonham grande, mas com os pés firmes no chão, iluminando o caminho de seus leitores com histórias que nascem da alma.

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ELÝRIA: TRÊS LUZES NA ESCURIDÃO

SINOPSE

A Floresta da Primavera está morrendo. As árvores retorcem-se, o solo apodrece, os animais se corrompem.

Nas sombras, monstros aguardam, guiados por uma força ancestral e faminta.

Nesse cenário surge Samantha Valence, uma meio-dragão exilada de sua casa nobre, rejeitada por um mundo que a teme sem compreendê-la.

O destino a conduz ao encontro de um cavaleiro errante, de coração tão duro quanto sua teimosia, e de uma semideusa cuja luz brilha tão intensa quanto seu orgulho.

Três luzes erguem-se contra a escuridão, frágeis, dispersas, incompletas… e que, unidas, talvez possam devolver o amanhecer à floresta.

Se estas palavras despertaram algo em você, seja bem-vindo.

Elýria o aguarda.

Que esta história acenda a chama da aventura em seu coração.

Assista à resenha do canal @oqueli no YouTube

OBRA DO AUTOR

"Elýria: Três Luzes na Escuridão"
“Elýria: Três Luzes na Escuridão”

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Amor pleno, começo da jornada.

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