Folheando o meu diário

Sandra Albuquerque: ‘Folheando o meu diário’

Sandra Albuquerque
Sandra Albuquerque
Imagem gerada por IA do Bing –  20 de outubro de 2024 às 1:43 PM

Faço hoje, ao completar 66 anos, uma viagem no tempo. Voltei à infância e lembrei que fui criada na roça e era filha de avó.

O relevo era diferente de hoje:

As estradas eram de terra, havia muito verde, as cigarras faziam festa e pássaros de todas as cores.

As casas eram um pouco distantes uma das outras. Corria em volta da casa, enquanto passava as mãos nas flores; brincava com os capins de fazer colchões e a goiabeira era a minha visita predileta, apesar de ter mamoeiro, limoeiro, laranjeira, abacateiro, bananeira e mangueira.

Eu acordava com o canto do galo, o glu-glu-glu do Peru e corria para ver o pavão fazer pose.

Eu tinha um porquinho rosa, o Roque, que não gostava de lama, seu chiqueiro era de cimento e tomava banho com sabonete. Mas ficou tão gordo que meu avô teve que matar e eu não quis comer-lhe a carne.

Também tinha gatos e cachorros.

Eu adorava ver o pé de pimenta-do -reino subindo pelo abacateiro, deixando o tronco cheio de bolinhas verdes que ficavam vermelhas e no ponto da colheita ficavam pretinhas. E o pé de urucum, que lindo! E isto, sem falar no algodoeiro e na amoreira.

Eita vida boa, diferente de hoje! Não precisava de muito pra ser feliz.

O leite? De cabras e de vaca e eram entregues em garrafas de vidro. Da nata fazia a manteiga.

A coalhada e o queijo eram de primeira qualidade e era uma delícia comer com mel ou com doce de banana feito no tacho e na lenha.

Pão era o padeiro que entregava amigavelmente.

O fogão era à lenha, feito de tabatinga. Minha mãe-avó fazia um feijão como ninguém. As panelas que iam no fogão à lenha eram ariadas com sebo de boi e areia e ficavam um brilho.

A carne de porco era conservada depois de assada, dentro da lata de banha do próprio porco

A mesa era farta no café da manhã: macaxeira, batata doce, banana cozida ou um bom pedaço de angu, canjiquinha e era festa, com café coado no coador de pano. Pegávamos a caneca de ágata e soprava com cuidado pra não queimar a língua.

A escola se chamava Grupo Escolar e era tão longe que eu ia de kombi escolar. Os trabalhos de casa tinham que ser feitos antes do escurecer, pois a energia era solar e, à noite, acendíamos a lamparina. Geladeira era à querosene.

Sou de uma geração que brincava com as crianças da vizinhança: amarelinha, passa anel, escravos de Jó, bambolês, detetive, pique tá, pique ajuda, pique lata, pular corda etc.

Os meninos soltavam pipas, jogavam bolas de gude, lançavam ferraduras de cavalo longe, quedas de braços etc. Ainda tinha andar na corda bamba, balanços, queda de braço, queimada. Ah, que coisa boa!

Telefone eu nem conhecia. A gente tinha o prazer em escrever cartas e tinha até umas que a gente perfumava.

Era tudo diferente. Era tudo melhor do que hoje. Era o tempo de bênção pai, mãe, tio e avós.

As crianças entendiam, apenas pelo olhar.

Se eu pudesse voltar no tempo… Voltaria à minha infância.

Todas as tardes eu ia na lagoa. E ia ao mar de Saquarema. Adorava comer siri, caranguejo, camarão e peixe. Lagosta, somente conheci já adulta

Como todo mundo cresce, cheguei à fase do trabalho e dediquei-me 30 anos à Educação.

No começo era no interior mesmo e ia de bicicleta ou de carona no carro do leite.

A distância era cruel: 45 minutos a pé pra dar aulas e amava o que fazia.

Saí do interior para a cidade grande e vi outro público diferente. Não aquele que você passava e era bom dia! boa tarde! ou boa noite! E sim cada um por si e Deus que proteja a todos.

Nunca vou me esquecer do medo que senti em atravessar dentro de uma rural em cima de uma balsa de Niterói para a cidade do Rio de Janeiro…

Hoje eu poderia estar falando de outro tema. Mas eu não me envergonho de ter nascido pobre  e chegar onde cheguei e sei que o futuro ainda me reserva muito mais.

Agradeço aos meus avós e meus tios que, mesmo como pobres, me deram ensinamentos e nunca me deixaram faltar nada.

E enquanto isso, vou folheando o meu diário e acrescentando todos os dias, nas entrelinhas do tempo, o que se passa na minha história de vida: de uma menina do interior a uma Acadêmica Benemérita, Comendadora  e Embaixadora Guanabara Poetisa Sandra Albuquerque pela Federação Brasileira dos Acadêmicos das Ciências Letras e Artes – FEBACLA, além de Editora Setorial Social e colunista do Jornal Cultural ROL, com várias agremiações e coautora de várias antologias e pertencente a outras academias literárias que me dão muita honra por delas ser acadêmica: Academia dos Intelectuais e Escritores do Brasil – AIEB e Academia de Letras, Ciências e Artes da Amazônia Brasileira – ALCAAB.


Sandra Albuquerque

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Fuga

Sergio Diniz da Costa: Poema ‘Fuga’

Sergio Diniz
Sergio Diniz
Imagem gerada com IA do Bing - 19 de outubro de 2024
 às 11:37 AM
Imagem gerada com IA do Bing – 19 de outubro de 2024
às 11:37 AM

Quisera, ao sol do dia,
Esconder minha presença
Em profundo poço.
Dormir o sono longo
Dos justos, dos cansados.

Quisera, ao sol do dia,
Ser apenas uma pedra
Numa gruta distante.

Quisera, ao sol do dia,
Ser apenas uma folha
Num livro com folhas
Sem fim.

Quisera viver somente à noite:
Hora mágica do dia!
Que ventura ao espírito!
Quão liberta e suave
A vida noturna,
Em que a alma se despoja
Dos grilhões da rotina diária
Em que nossos sentimentos se abrandam
Ao contato de outros seres.

Hora mágica,
Dos cantores de poesia
Dos suspiros românticos
Dos aromas de mel
Da lua irradiando saudades!

Triste dia que chega
Ao canto do arauto emplumado!
Triste vida luminosa
E, também, escura
Que clareia o inimigo
Que, à noite, era irmão!

Sergio Diniz da Costa

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No meio do caminho

Evani Rocha: Poema ‘No meio do caminho’

Evani Rocha
Evani Rocha
Imagem criada por IA do Bing
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No meio do caminho

Tinha uma flor

Tinha espinhos à margem do caminho

No fim do caminho tinha uma dor

Tinha saudade na brisa do mar

Tinha rastros fundos marcando o chão

Tinha maresia inundando o peito

E um jeito único de ser solidão

Tinha areia nas ruas desertas

E maré alta lavando a praia

Tinha deserto na alma da gente

E muita gente em procissão

Tinha uma flor na mão do jardineiro

E um murmúrio a reverberar

Tinha uma fala ainda ausente

E muitos lenços a tremular

Tinha abraços e laços refeitos

Tinha olhos fundos a marejar

Tinha mãos dadas em silêncio

E um barco de sonhos a naufragar.

Evani Rocha

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Deixe-me sangrar

Ivete Rosa de Souza: Poema ‘Deixe-me sangrar’

Ivete Rosa de Souza
Ivete Rosa de Souza
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às 1:31 PM
Imagem gerada por IA do Bing – 17 de outubro de 2024 às 1:31 PM

Não diga nada enquanto eu estiver sangrando

Enquanto meu corpo desfalece, minha alma vive

Deixe-me sangrar, todas as feridas do tempo que não  amei

O sangue da insensatez, da fúria, do ciúme

Que nada me deram somente desilusão

Deixe-me sangrar os sonhos perdidos,

Por entre os dedos esquecidos em minhas mãos

Se sou louca por deixar fluir, o sangue derradeiro

Não sabe dos pesadelos, das incertezas

Nem mesmo das dores e das injustiças

Deixe-me sangrar o tempo perdido,  esquecido, descabido

Que a sua presença levou, e sua ausência secou

Que se torne apenas poças de lágrimas e sangue

Que me deram por escolha sangrar até o  fim.

Ivete Rosa de Souza

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Os bichos que destruíram o reino

Osvaldo Manuel Alberto:

‘Os bichos que destruíram o reino’

Osvaldo Manuel Alberto
Osvaldo Manuel Alberto
Imagens gerada por IA do Bing - 17 de outubro de 2024 às 11:07 AM
Imagem gerada por IA do Bing – 17 de outubro de 2024 às 11:07 AM

Havia um reino onde todos eram poderosos e a sobrevivência de um estava implicitamente ligada ao infortúnio de outro. As acções ou omissões dos bichos contribuíram grandemente para o desequilíbrio do ecossistema.

O mosquito, o lagarto, o papagaio, o cabrito, o camaleão, o marimbondo, o cágado e a mosca destruíram o reino sob o silêncio tumular do bicho grande, mas no final o salalé, sem sal, tomou conta deles.

O mosquito, parecendo inofensivo, fazia perecer muita gente. Ele era o responsável pela mortandade gritante, enquanto GPP (Grande Produtor de Paludismo). As quantidades enormíssimas desta produção eram exportadas em forma de malária, zica e xikungunya, também conhecida por katolotolo, e em grande escala consumida internamente. Este consumo contribuiu para a piora das condições de vida daquela população, pois muitos nem aos cinco anos chegavam.

O lagarto, que andava de parede em parede, de meio em meio metro acenava positivamente com a cabeça a tudo quanto lhe chegava aos ouvidos, mesmo àquilo que não lhe chegava. Era o yes man.

O papagaio só reproduzia teorias, mesmo aquelas cujo domínio era inferior a medíocre. Ele estava pouco se borrifando pela compreensão do que falava, para além de nunca dizer nada. Os seus discursos eram eloquentes, cozinhados à luz dos mais modernos dicionários que dariam inveja ao Camões. Este, se estivesse vivo, duvidaria das suas capacidades.

Por distracção do pastor, que sempre pensou que “o cabrito come onde está amarrado”, o cabrito comeu todo o pasto dele e dos outros, pois a corda era tão grande. Daí, o cabrito passou a comer em função do tamanho da sua corda.

O camaleão se tornava leão sempre que visse uma cama.

O marimbondo fez das suas e aliou-se ao cágado que só fazia cagada. As cagadas eram enormes, porque o cágado estava mais preocupado com quem o colocou no topo da árvore do que com a árvore em si.

A mosca perdeu toda a honra e dignidade, porque pousava, publicamente, no excreto, fingindo ser agradável.

Os mais curiosos aperceberam-se que todos passarão pelo salalé. O salalé trabalha no silêncio e fora dos holofotes!

Osvaldo Manuel Alberto

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Supere a dor

Denise Canova: Poema ‘Supere a dor’

Denise Canova
Denise Canova
Imagem gerada por IA do Bing – 16 de outubro de 2024 às 10:01 PM

Supere a dor

A tristeza

Supere

Sem medo

Supere a dor

Dama da Poesia

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O céu toca o mar

José Antonio Torres: Poema ‘O céu toca o mar’

José Antonio Torres
José Antonio Torres
"... o céu toca o mar no horizonte..."
Imagem gerada por IA do Bing - 15 de outubro de 2024 às 5:21 PM
“… o céu toca o mar no horizonte…”
Imagem gerada por IA do Bing – 15 de outubro de 2024 às 5:21 PM

A beleza dos sentimentos;
Os relacionamentos intensos e vividos;
Os rios que tocam as margens;
A chuva que toca o solo
Para irrigá-lo e fazer germinar as flores;
Os olhares que se tocam;
Mãos que se tocam e entrelaçam;
Lábios que se tocam,
Suave ou ardentemente;
Enamorados que se tocam através do sentimento;
Música que toca a alma.
Assim como o céu toca o mar no horizonte,
Você me tocou com o seu amor.

José Antonio Torres

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