Fantastic Mr. Fox

Bianca Agnelli:

Fantastic Mr. Fox: Quando o cinema e o outono se encontram em stop-motion

Fantastic Mr. Fox: Quando il cinema e l’autunno si incontrano in stop-motion

Bianca Agnelli
Bianca Agnelli
Fonte: Unsplash

outono na Europa chega com uma graça sutil, quase na ponta dos pés, mas com uma presença que nunca passa despercebida. Na Toscana, as colinas se tingem de tons quentes, os vinhedos explodem em cores e sente-se no ar o aroma inconfundível de castanhas e vinho novo.

Imersa nessa atmosfera muito sugestiva, decidi compartilhar um pouco dessa magia com você, leitor do Jornal Rol, acompanhando-o em uma viagem de outono através de um filme que sempre cativou meu coração. Porque se há um filme que grita ‘outono’ em cada quadro, é sem dúvida Fantastic Mr. Fox (2009) de Wes Anderson. Diga-me que você já viu! E se não viu, bem… por Deus, é hora de remediar!

Imagine isso: tons quentes e envolventes, uma paleta predominante de laranjas, marrons e âmbar que fazem você se sentir imerso em um dia de outono perfeito. Quase como se estivesse pintando uma tela que celebra a estação das folhas caídas, Anderson brinca habilmente com as cores. O modo como vibram na stop-motion é, sinceramente, uma obra-prima visual. Não só pela sua estética impecável, mas porque cada único quadro transborda daquela característica simetria andersoniana que todos amamos.

Mas Fantastic Mr. Fox não é apenas um prazer para os olhos. Os personagens – ah, os personagens! São extravagantes, adoráveis, um pouco malucos, mas incrivelmente cativantes, cada um com seu carisma singular. A história? Baseada no livro de Roald Dahl, mas com um toque de Anderson que a torna uma aventura sofisticada, irônica e, ao mesmo tempo, emocionalmente rica. A raposa, Mr. Fox, se vê tendo que equilibrar sua natureza selvagem com a responsabilidade em relação à sua família, tudo isso em um contexto visualmente hipnotizante e pontuado por piadas sagazes.

Se você está se perguntando por que este filme é a quintessência do outono, basta olhar para o uso das texturas e materiais na stop-motion: a pelagem dos animais que parece quase tangível, as folhas que parecem crocantes sob os pés, as paisagens campestres douradas pelo Sol do final da estação. A realização de Fantastic Mr. Fox foi uma empreitada realmente única. Uma equipe de 140 pessoas trabalhou todos os dias, o ano inteiro, para que isso acontecesse. “Levou sete meses apenas para fazer o primeiro modelo da raposa e depois tivemos que criar 535 bonecos em seis tamanhos diferentes e vesti-los com múltiplos trajes. Wes supervisionou todo o processo, desde os cílios até as pálpebras. Nós até tivemos que inventar agulhas de tricô em miniatura para fazer as roupas.” O animador chefe Andy Gent sobre a produção do filme.

Esse é um dos motivos pelos quais esta película não é apenas um filme, mas uma experiência sensorial que envolve você e o faz sentir parte daquele mundo.

Uma curiosidade interessante é que a trilha sonora foi em parte gravada nos Abbey Road Studios, o famoso estúdio de gravação de Londres, conhecido por suas histórias musicais. É um lugar que viu os Beatles passarem, e agora abrigava um filme animado que celebra um mundo de raposas e fazendas. Além disso, as vozes dos personagens principais foram confiadas a um elenco estrelado, incluindo George ClooneyMeryl StreepBill Murray, cada um contribuindo para dar vida aos personagens de uma forma única e inimitável.

Além de sua beleza visual e narrativa envolvente, Fantastic Mr. Fox teve um impacto significativo na cultura pop. Algumas frases e cenas do filme tornaram-se icônicas, enquanto as citações são frequentemente compartilhadas e reproduzidas nas redes sociais. Os personagens, com seu estilo único e excentricidade, tornaram-se verdadeiros símbolos da estética de Anderson, ajudando a consolidar sua influência no mundo do cinema e além.

Por fim, o filme foi recebido com entusiasmo pela crítica recebendo duas indicações do premio Oscar por Melhor Filme de Animação e Melhor Trilha Sonora, juntamente com uma indicação ao prêmio Golden Globe e duas indicações ao prêmio BAFTA. 

Há uma magia sutil em Fantastic Mr. Fox. Não é apenas entretenimento; é uma viagem visual que convida você a desacelerar, a apreciar os detalhes, a se perder nos tons quentes e nas extravagâncias de personagens irresistíveis. É o filme perfeito para quem ama cinema com personalidade, com uma estética que fica na memória e um coração que bate sob a superfície brilhante.

Se você ama o outono, se ama Wes Anderson, ou se simplesmente quer viver uma hora e meia de pura beleza visual, Fantastic Mr. Fox é o filme para você. Um conselho? Assista em uma noite fresca, talvez com uma coberta e uma xícara de chá, e deixe-se levar por este pequeno universo laranja e dourado.

Bianca Agnelli

Fantastic Mr. Fox: Quando il cinema e l’autunno si incontrano in stop-motion

L’autunno in Europa arriva con una grazia sottile, quasi in punta di piedi, ma con una presenza che non passa mai inosservata. In Toscana le colline si tingono di sfumature calde, i vigneti esplodono di colori e l’aria comincia a profumare di castagne e vino nuovo.

Immersa in questa atmosfera molto suggestiva, ho deciso di condividere un po’ di questa magia con te, lettore del Jornal Rol, accompagnandoti in un viaggio autunnale attraverso una pellicola che ha da sempre rapito il mio cuore. Perché se c’è un film che grida ‘autunno’ da ogni inquadratura, è senza dubbio Fantastic Mr. Fox di Wes Anderson. Dimmi che l’hai già visto! E se non l’hai fatto, beh… per dio, è il momento di rimediare!

Immagina questo: toni caldi e avvolgenti, una palette predominante di arancioni, marroni e ambrati che ti fanno sentire immerso in una perfetta giornata autunnale. Quasi come stesse dipingendo una tela che celebra la stagione delle foglie cadenti, Anderson gioca abilmente con i colori. Il modo in cui vibrano nella stop-motion è, sinceramente, un capolavoro visivo. Non soltanto per la sua estetica impeccabile, ma perché ogni singolo fotogramma trasuda quella caratteristica simmetria Andersoniana che tutti amiamo.

Ma Fantastic Mr. Fox non è solo un piacere per gli occhi. I personaggi – oh, i personaggi! Sono stravaganti, adorabili, un po’ folli, ma incredibilmente affascinanti, ognuno col suo singolare carisma.

La storia? Tratta dal libro di Roald Dahl, ma con un tocco di Anderson che la rende un’avventura sofisticata, ironica e, allo stesso tempo, emotivamente ricca. La volpe, Mr. Fox, si ritrova a dover bilanciare la sua natura selvaggia con la responsabilità verso la sua famiglia, tutto questo in un contesto visivamente ipnotico e punteggiato da battute sagaci.

Se ti stai chiedendo perché questo film è la quintessenza dell’autunno, basta solo guardare l’uso delle texture e dei materiali nella stop-motion: la pelliccia degli animali che sembra quasi tangibile, le foglie che sembrano croccanti sotto i piedi, i paesaggi campestri dorati dal sole di fine stagione. La realizzazione di Fantastic Mr. Fox è stata un’impresa davvero unica. Un team di 140 persone ha lavorato ogni giorno, per un anno intero, per farlo accadere. “Ci sono voluti sette mesi solo per realizzare il primo modello della volpe e poi abbiamo dovuto creare 535 pupazzi in sei diverse dimensioni e vestirli con molteplici costumi. Wes ha supervisionato tutto il processo, fino alle ciglia e alle palpebre. Abbiamo persino dovuto inventare dei mini ferri da maglia per fare i vestiti.” L’animatore capo Andy Gent sulla realizzazione del film.

Questo è uno dei motivi per cui questa pellicola non è solo un film, ma un’esperienza sensoriale che ti avvolge e ti fa sentire parte di quel mondo.

Una chicca interessante è che la colonna sonora è stata realizzata in parte negli Abbey Road Studios, il celebre studio di registrazione di Londra, noto per le sue storie musicali. È un luogo che ha visto passare i Beatles, e ora ospitava una pellicola animata che celebra un mondo di volpi e fattorie. Inoltre, le voci dei personaggi principali sono state affidate a un cast stellare, tra cui George Clooney, Meryl Streep e Bill Murray, ognuno dei quali ha contribuito a dare vita ai personaggi in modo unico e inimitabile.

Oltre alla sua bellezza visiva e alla sua narrazione coinvolgente, Fantastic Mr. Fox ha avuto un impatto significativo sulla cultura pop. Alcune frasi e scene del film sono diventate iconiche, mentre le citazioni sono spesso condivise e riprodotte sui social media. I personaggi, con il loro stile unico e la loro eccentricità, sono diventati dei veri e propri simboli dell’estetica di Anderson, contribuendo a consolidare la sua influenza nel mondo del cinema e oltre.

Infine, il film è stato accolto con entusiasmo dalla critica, ricevendo due candidature agli Oscar per Miglior Film d’Animazione e Miglior Colonna Sonora, insieme a 1 candidatura al premio Golden Globe e 2 candidature ai premi BAFTA.

C’è una magia sottile in Fantastic Mr. Fox. Non è solo intrattenimento; è un viaggio visivo che ti invita a rallentare, a goderti i dettagli, a perderti nei toni caldi e nelle stravaganze di personaggi irresistibili. È il film perfetto per chi ama il cinema con carattere, con un’estetica che ti rimane impressa e un cuore che batte sotto la superficie brillante.

Se ami l’autunno, se ami Wes Anderson, o se semplicemente vuoi vivere un’ora e mezza di pura bellezza visiva, Fantastic Mr. Fox è il film che fa per te. Un consiglio? Guardalo in una serata fresca, magari con una coperta e una tazza di tè, e lasciati trasportare in questo piccolo universo arancione e dorato.

Bianca Agnelli

Contatos com a autora

Contatti con l’autore

Voltar

Facebook




armadilhas da cortesia

Fidel Fernando:

‘A linguagem do pretérito imperfeito do indicativo e as armadilhas da cortesia’


Fidel Fernando
Fidel Fernando
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 29 de setembro de 2024 às 7:17 PM
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 29 de setembro de 2024 às 7:17 PM

Se o caro leitor nunca passou por uma situação que lhe deixou intrigado, saiba, pois, que eu já. Talvez até mais de uma vez. Como professor de Língua Portuguesa, tenho a oportunidade (ou a maldição) de vivenciar episódios em que o que a gramática legitima como certo, a vida prática, muitas vezes, rejeita com estranheza, ou pior, com risos.

Veja, certo dia, dirigi-me nestes termos a uma turma do ensino médio: “Queria que me dissessem as horas, por favor”. Era uma frase inocente, polida até. A forma verbal no pretérito imperfeito do modo indicativo, ‘queria’, carregava um tom de cortesia que me pareceu adequado ao contexto. Afinal, ensinar é também uma questão de respeito mútuo, não é verdade?

Entretanto, o que recebi em troca foi um coro de risadas, seguido da provocação de um aluno do fundo da sala (sempre do fundo da sala, onde se concentram as vozes mais atrevidas!): “Querias, já não queres mais?”.

Riram-se de mim. E eu, num primeiro momento, confesso, senti-me insultado. Como podiam zombar de algo que, para mim, era tão óbvio? Raciocinei velozmente e percebi, logo, que o erro, se é que podemos chamar assim, não estava neles. A dificuldade em entender a sutileza do pretérito imperfeito do modo indicativo como forma de cortesia era uma evidência clara de como a linguagem, quando usada correctamente, pode se tornar uma barreira na comunicação, especialmente quando o ouvinte não está acostumado a tais nuances.

Lembrei-me, então, de Marcos Bagno, autor do brilhante livro ʻNada na Língua é Por Acasoʼ. Ah, como eu queria que a turma tivesse a mínima noção disso! Queria eu lhes falar sobre os valores semânticos de certos modos e tempos verbais. No caso concreto, o uso do pretérito imperfeito do modo indicativo ʻqueriaʼ com valor de cortesia, delicadeza social, modéstia. É uma prática comum na nossa língua, um recurso que suaviza a ordem e torna o pedido menos impositivo. Todavia, para aqueles alunos, acostumados a uma comunicação directa, talvez até brusca, o uso do pretérito imperfeito do modo indicativo soava estranho, deslocado.

Se a frase tivesse sido “Me dizem só que horas são”, provavelmente não gerasse gargalhadas. Afinal, a familiaridade com expressões informais e a naturalidade com que eles se comunicam nas redes sociais e na vida diária não só moldam o jeito deles de falar, mas também a forma como eles percebem a correcção linguística.

Por isso, não é raro que o que é correcto aos olhos da gramática seja, na prática, interpretado como um erro. A Língua Portuguesa, rica e malemolente como é, carrega em si armadilhas que podem fazer até os falantes mais experientes tropeçarem. E, como revisores textuais, lidamos diariamente com essas malemolências do nosso idioma. Frases que, no papel, são impecáveis, mas, na prática, soam ininteligíveis ou mesmo risíveis.

Aquela turma, após uma breve explicação sobre o uso do pretérito imperfeito do modo indicativo, teria compreendido, tenho certeza. Contudo, o sino da escola, sempre implacável, tocou antes que eu pudesse transformar o riso em compreensão. E eu fiquei com a sensação de que, às vezes, a comunicação efectiva depende mais da adaptação ao público do que da fidelidade à norma.

Nesta hora, cumpre realçar, então, que a norma culta pode ser uma barreira, uma espécie de muro que separa o professor do aluno, e a mensagem, por mais bem elaborada que esteja, não chega ao seu destinatário.

Reflectindo sobre isso, percebo que o sino escolar, que havia interrompido a minha tentativa de explicar os valores semânticos do pretérito imperfeito do modo indicativo, também simboliza a urgência de novos paradigmas pedagógicos. Em vez de ensinar a norma, nada contra a norma da língua, precisamos construir pontes entre o que se espera em se tratando de correcção e o que é efectivo.

Quem nunca se sentiu assim, perdido entre o certo e o que é vivido diariamente, que atire a primeira pedra.

Fidel Fernando
Luanda, 29.09.2024

Contatos com o autor

Voltar

Facebook




Conversas com o rio Sorocaba

Com Marcos Reigota, Mariana Gomes, Carlos Carvalho Cavalheiro e Guaíra Maia, curadores da instalação ‘Onde nasci passa um rio’

Foto: Pedro Negrão
Foto: Pedro Negrão

Encontro com as(os) profissionais que participaram da construção da instalação ‘Onde nasci passa um rio’, apresentando os processos e resultados de fazer estético, científico, poético e ecologista sobre o rio Sorocaba e as dimensões de suas relações com a sociedade.

Uma oportunidade para nos reconectarmos com o rio que nos atravessa. 

Grátis

Local: Sala de Oficinas.

Data e horário

31/10 • Quinta • 19h00

Retirada de senhas 1 hora antes. A partir de 14 anos.

Voltar

Facebook




La rencontre de la brume et la brise 

Ella Dominici: ‘La rencontre de la brume et la brise’

Ella Dominici: ‘Encontro névoa e brisa’ 

Ella Dominici
Ella Dominici
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 28 de setembro de 2024 às 8:01 AM
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 28 de setembro de 2024 às 8:01 AM

Quands me jours seront gris peints par des brumes

Mes yeux couverts de bateaux blancs

des nates qui nagent sur une tasse au lait

Je rencontrerai sur la mèr larmes d’ écumes

Quands mes langues seront fatiguées de saveurs

Ma tête angoissée en ayant plus des pleurs

L’ espoir de te revoir en rêve s’évanouie

Je ferai semblant de te croire,s’épanouit

À me plaire

Quands le soleil de ma croyance soit couché

Et presque des ténèbres d’insécurité

Me prendront le coeur ,les jambes et le ventre

Vivront encore mes désirs de tes anches

branches de mon arbre assoiffés de ton feu.

Le soulagement des mes souvenirs qui souffrent tant

Vient par la brise, sont des légères vents qui me soufflent et adoucissent ces moments

La brise femelle m’ avalle le cerveau

Me couvre comme un couvercle manteau

La pensée te voit, te désire,te touche

Le vent doux enlève vers le haut l’amoureux vers.

Ella Dominici

Encontro névoa e brisa

Quando meus dias serão cinza pintados por névoas

Meus olhos cobertos de barcos brancos

natas nadando em um copo de leite

Encontrarei lágrimas de espuma no mar

Quando minhas línguas estiverem cansadas de sabores

Minha cabeça angustiada sem mais lágrimas

esperança de ver você novamente em um sonho desaparecendo

vou fingir que acredito em você aparecer, florescer

para me agradar

quando o sol da minha crença se puser

quase uma escuridão de insegurança

levará meu coração, pernas e ventre

saberia que mesmo que meus lábios fluam

ainda viverei meus desejos de seus juncos

galhos da minha árvore sedentos pelo seu fogo.

Alívio das minhas memórias dolorosas

vem pela brisa, são ventos leves

que me sopram e suavizam esses momentos

brisa feminina engole meu cérebro

me cobre como uma capa de casaco

pensamento te vê, te deseja, te toca

vento suave sopra o amante para o

alto em amorosos versos

Ella Dominici

Voltar

Facebook

                         




No Jornal ROL, as letras contundentes de Osvaldo Manuel Alberto

Mestre em Terminologia e Gestão de Informação e professor, as letras de Osvaldo Manuel são vozes que não se calam!

Osvaldo Manuel Alberto

Osvaldo Manuel Alberto nasceu nos complexos becos do Cazenga, em Luanda, na então República Popular de Angola, no vigésimo quarto dia, do terceiro mês, do terceiro ano, da década de oitenta, do século XX, às 13 horas de uma sexta-feira mini.

É mestre em Terminologia e Gestão de Informação e licenciado em Relações Internacionais, e, atualmente, exerce a função de professor de Matemática e Gestor Escolar.

Começou a dar os primeiros passos na literatura em 2001, escrevendo crónicas, contos e poemas.

Escreveu no Jornal Nova em Folha, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em Portugal.

Tem vários textos na sua página do Facebook, e obras no prelo, entre científicas, ligadas à gestão escolar [Guia prático do (sub)director pedagógico], e literárias (Paixão perdida no Golungo e A Resistência ao fruto proibido).

Osvaldo Manuel inicia sua colaboração no Jornal ROL com o contundente artigo ‘Os aliados mortíferos do sistema de ensino’, não deixando ‘pedra sobre pedra’ em relação ao sistema de ensino angolano.

Os aliados mortíferos do sistema de ensino

Imagem gerada com IA do Bing - 28 de setembro às 5:22 AM
Imagem gerada com IA do Bing – 28 de setembro às 5:22 AM

Um sistema de ensino de qualidade não pode ser visto como um privilégio para uns, poucos quantos, ou outros, quantos tantos. Não pode ser percebido como um direito reservado aos filhos de Deus e aos do diabo raios que os partam.

Muitos pensam com alguma nostalgia o ensino no tempo de outra senhora, onde com a famosa quarta classe, caligrafia e aritmética não constituíam problemas, pese embora o nível gritante de violência física.

Actualmente, ‘acabou-se’ com a violência física nas escolas e parece que com ela foi o rigor e a vontade de aprender. Não que seja a favor da violência, nem que ache que violência e rigor/ vontade de aprender seja directamente proporcional, mas o que constatámos e com muita tristeza é verificar que o sistema de ensino foi tomado de assalto por uma quadrilha: os que se preocupam com números para dar show off; os que fazem balanços orientadores sobre graus de aproveitamento antes da correcção de provas; os vendedores de vagas que se aproveitam das suas posições privilegiadas; os que confundem rigor com brutalidade e arrogância; os que corrompem e são corrompidos para transitar de classe; os que oferecem e são oferecidos corpos em troca de notas; os que vendem e compram certificados; os que adulteram os resultados finais; alunos ‘descompromissados’ por ausência clara e inequívoca de modelos saindo do povoado; professores sem agregação pedagógica, sem vocação, empurrados ao ensino como única e exclusiva fonte de rendimento para o pobre que não quer ver chicoteado os seus filhos com os porretes coloniais; gestores desqualificados e desclassificados, ‘olhudos’ no dinheiro e gananciosos.

Estes altamente perigosos condenam gerações e gerações ao fracasso. Até parece um crime organizado com um único propósito de mutilar intelectualmente os filhos do plebeu.

Com um sistema de ensino doentio, o plebeu está forçado à inconsciência e até inconsequência. Quando ouve caros compatriotas, acredita que o dito cujo, aquele que nunca resolveu o seu problema, resolverá desta vez. Trata-se de uma questão de fé. Sim, acreditam que a fé (esperança nas coisas não vistas) é solução para os seus anseios. Mas que anseios? Se ele nem sequer sabe o que espera, mas espera o que não sabe, por esta razão tudo que recebe e se recebe, recebe só. Só e só e só como cantou Teta Lágrimas um dia.

Há muito pouca gente interessada em criar país. Uns tantos perdem-se em política partidária, outros poucos quantos perdem-se em ideologias insustentáveis. Há ainda os intransigentes e inconsequentes que nem sequer se perdem porque nunca se tinham achado.

Se quisermos fazer algo verdadeiramente útil para o país, temos de investir seriamente no sector da educação, privilegiando os COMs. Os com vontade de aprender, com vocação para ensinar e com mérito para dirigir. Pois os SEMs, sem vontade de aprender, sem vocação para ensinar e sem mérito para dirigir, quando actuam em tripla ou dupla já mostraram serem uns verdadeiros assassinos de gerações e até mesmo quando actuam unilateralmente os vestígios de podridão destes verdugos são incomensuráveis.

Deve-se sim, evitar que políticos doentios e comerciantes, insensatos, no ensino tomem decisões sobre política educativa, quer a nível macro como micro, se preferir a nível nacional como ao nível das escolas.

Ainda vamos a tempo de pensar país. Quando não aprovarmos medidas que condicionem as gerações futuras, nem quando nos preocuparmos única e exclusivamente com o fruto do nosso ventre. Pois todos os outros, também são frutos de ventre e resultados de ‘relações sexuais’.

País acima de tudo e amor ao próximo não pode ser sinónimo de transição automática cega, nem fluidez. De tanta fluidez, talvez tenhamos descoberto que água pode estar em quatro estados (líquido, sólido, gasoso e pó). Sim, pó, como é que não nos apercebemos antes se todos nós viemos do pó e lá voltaremos?
Apesar de lá voltarmos e pelo facto do nosso corpo ser constituído em 70 por cento de água, será que é facto bastante para cientificamente apurar-se que há água em pó? 
Que o leite não é água isso é irremediavelmente seguro, mas quanto ao resto deixemos para o resto pois sabemos o seu lugar.

Envergonhemo-nos quando as nossas instituições fiquem parasitariamente dependentes de nós e devemos nos orgulhar quando as coisas avançam com o pensar de cada um e de todos para que os aliados mortíferos do sistema de ensino tenham os dias contados!

Osvaldo Manuel Alberto

Contatos com o autor

Voltar

Facebook




Mariposas e borboletas

Sergio Diniz da Costa: Crônica ‘Mariposas e borboletas’

Sergio Diniz
Sergio Diniz
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 23 de setembro de 2024 às 4:30 PM

O centro das cidades, nos dias úteis e no horário comercial, concentra uma quantidade significativa da população que, em sua roda-viva diária, dirige-se ao trabalho, às compras, para realizar algum negócio específico ou, ainda, simplesmente, como alguns aposentados, sentar nos bancos da praça para prosear ou apreciar a movimentação das pessoas.

 Eu sempre gostei de andar pelas ruas do centro da minha Sorocaba. Principalmente após a aposentadoria e, com ela, me dedicar exclusivamente à carreira literária.

 Uma das vantagens de não precisar mais ‘matar um leão por dia’ ─ prática essa metaforicamente incorreta, aliás! ─ é, justamente, ter a liberdade de se fazer o que mais gostamos. No meu caso, observar as pessoas, tentando captar o que pensam ou sentem. Um verdadeiro trabalho de ‘investigador da alma humana’!

Há algum tempo, comecei a observar uma, em particular. Uma mulher! Postada sempre na mesma esquina, da mesma rua. Todavia, sem qualquer produto visível, supostamente sendo colocado à venda.

Idade imprecisa, nem jovem ou velha, demais.

O corpo, muito longe do que, hoje, parece ser ─ ou fazem-nos acreditar que o seja ─ o ‘ideal’, ditado pela Moda.

As roupas, aparentemente de grife nenhuma e um tanto quanto exíguas, deixando à mostra um pouco mais aquilo que pessoas mais recatadas e conservadoras considerariam ‘aceitável’.

O rosto, carregado com uma maquiagem feita sem arte, talvez por ter sido produzida com produtos baratos ou por pura falta de conhecimentos desse ofício.

O rosto, refletindo um brilho no olhar que me pareceu enigmático, e um sorriso que, num primeiro momento, me pareceu malicioso.

E ali, na mesma esquina, da mesma rua do centro, ela parece mais um detalhe da paisagem urbana. Um detalhe que, provavelmente, poucos notam ou se detêm nele.

O olhar brilhante e o sorriso, misteriosos, maliciosos, porém, aos poucos foram me mostrando que se detinham em algumas pessoas em especial: os homens!

Ao ter essa percepção, finalmente percebi a realidade de sua presença: ela era o próprio produto colocado à venda! E, imediatamente, lembrei-me da primeira vez que ouvi um adjetivo aplicável a esse tipo de mulher: ‘mariposa’!

Mariposa! Mariposa!… Uma mariposa ali, no centro da cidade.

E em plena luz do dia!

Passei, então, a refletir sobre a palavra e do inseto que a representa. E me lembrei de uma aula de Biologia, quando estudávamos os insetos.

As mariposas ─ as de maior tamanho, também conhecidas como ‘bruxas’ ─, fazem parte da ordem científica Lepidoptera, que significa ‘asas escamosas’. O nome deriva das escamas que caem das asas em forma de pó quando tocadas. A maioria delas tem hábitos noturnos.

Lembrei-me, também, que as mariposas têm muito em comum com as borboletas. Ambas fazem parte da mesma ordem científica e começam suas vidas como lagartas famintas antes de se transformarem em suas versões adultas, voadoras. E ambas se alimentam do néctar das flores.

As mariposas e as borboletas, todavia, têm algumas diferenças. Uma delas é o comportamento das mariposas de voar em círculo em torno das luzes (fototaxia), particularmente as artificiais, comportamento esse ainda não totalmente explicado pela ciência.

Ademais, há diferenças, entretanto, de natureza simbólica. A borboleta é considerada o símbolo da transformação, da felicidade, da beleza, da inconstância, da efemeridade da natureza e da renovação. E, para a psicanálise moderna, é o símbolo do renascimento. A mariposa, por sua vez, por ser um inseto geralmente de hábitos noturnos, simboliza a morte, bem como a força destruidora da paixão.

Voltando dessa ‘aula de reminiscências’, observei, mais uma vez, aquela mulher. Olhei mais atentamente para seu rosto. E, de repente, tive a impressão de que aquele olhar ainda detinha um brilho, mas era uma cintilação diferente, distante. E o sorriso já não mais me parecia malicioso, porém, ingênuo.

Nesse momento, parecia que não via mais uma mariposa, mas uma lagarta; uma lagarta que talvez um dia poderia ter escolhido se transformar numa borboleta. Uma borboleta leve, multicolorida, admirada!

E a única luz, em direção à qual voejaria, seria a do sol.

Aquela esquina, daquela rua, seria tão somente um lugar por onde ela passaria e, momentaneamente, pousaria, até que algum transeunte, um poeta a notasse.

E sobre ela escreveria ‘O Poema da Libertação’!

Sergio Diniz da Costa

Contatos com o autor

Voltar

Facebook




A canção que nunca chega ao fim

Paulo Siuves: ‘A canção que nunca chega ao fim’

Paulo Siuves
Paulo Siuves
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 28 de setembro de 2024 às 6:18 AM
Imagem gerada com IA do Bing ∙ 28 de setembro de 2024 às 6:18 AM

“Por que ela teve que ir? Eu não sei/
Ela não me diria
Eu disse algo de errado, agora anseio
Pelo dia de ontem”
(‘Yesterday’ – The Beatles)

Em meu coração, há uma canção que parece nunca terminar. É como se eu estivesse sempre no meio de uma composição musical interminável, tocada em acordes de esperança e tristeza. O meu mundo interior é o palco onde a luz nunca se apaga e as cortinas estão sempre abertas para uma peça que nunca chega ao fim.

Você, com sua beleza única e enigmática, é a nota que nunca se completa. Sempre que tento alcançá-la, você me desafina no ar, tornando-se um tom que escapa aos meus maiores esforços. Sua presença é um acorde suspenso, uma tonalidade que nunca se concretiza. Cada vez que penso que estou perto de tocar você, o destino nos separa e eu fico com o eco do seu não ser.

A música que toca em mim é uma sequência interminável de esperanças e sonhos. Cada verso parece repetir o mesmo desejo não realizado, cada refrão é um ritornelo do que poderia ter sido. Eu continuo a dançar, a cantar, a viver conforme a melodia que nunca se resolve, como se o tempo não fosse importante e a espera fosse uma parte natural do meu ser.

No meio dessa canção sem fim, encontro algo de beleza. Talvez a verdadeira essência esteja na jornada interminável, na aceitação de que a canção nunca terá um final. Nessa melodia que não se completa, descubro uma forma de paz. É uma aceitação do que é, uma promessa de algo que nunca será, mas que continua a tocar o meu coração, sempre me lembrando do que poderia ter sido.

Paulo Siuves

Contatos com o autor

Voltar

Facebook