Na era da tecnologia: seres humanos em amadurecimento’
Elaine dos Santos
‘Na era da tecnologia: seres humanos em amadurecimento’


Integro a geração ‘baby-boomer‘, nasci em 1964, devo reconhecer, assim, que o computador e a internet somente ingressaram na minha vida no final do século XX, entre 1999 e 2001.
Durante o mestrado, cursado justamente entre 1999 e 2001, um dos professores enviava-nos e-meios, íamos ao Centro de Processamento de Dados (CPD) da universidade, o material era copiado para um disquete, que era aberto em casa para que tivéssemos conhecimento do conteúdo.
Nos dias posteriores, com as tarefas resolvidas, geralmente, um sem-número de leituras – fiz mestrado em Literatura Brasileira -, regressávamos ao CPD para enviar a resposta, via e-meio.
Com o passar dos anos e o desenvolvimento das atividades profissionais, tornei-me, como costumo brincar, “rato de internet”, não há o que eu não leia, com o computador devidamente configurado para línguas estrangeiras de meu interesse.
Devo acrescer que, quando criança, as nossas pesquisas escolares eram feitas na biblioteca da própria escola, muito singela, e na famosa Enciclopédia Barsa, que o delegado de polícia emprestava para a meninada.
Para muitos idosos, não há como negar que o ritmo acelerado das inovações tecnológicas criou uma barreira que os impede de acompanhar as mudanças, dificultando a inserção digital.
Devo admitir que eu, por exemplo, detesto ‘smartphones’ e não oporia resistência se abolissem os inadequados e invasivos aplicativos de mensagem. Tudo bem, eu sou revisora de textos e preciso de concentração para trabalhar!!
Causou-me surpresa, no entanto, dias atrás, ao conversar com senhoras entre 80 e 90 anos, trocando ideias sobre o uso da inteligência artificial e as diferentes formas de uso que têm experimentado. Deduzi que há casos e casos. Se alguns enfrentam dificuldades para manusear aplicativos de banco, por exemplo, outros estão bem além.
Embora seja um tanto refratária aos aplicativos de mensagem, é forçoso reconhecer que eles evitam o isolamento social, o que, por outro lado, é uma marca da velhice, quando os filhos, os netos têm outros afazeres e a solidão se instala.
De minha parte, que não tenho filhos e netos, acostumei-me, desde muito cedo, com o benefício da leitura – além disso, sou revisora de textos e a leitura configura-se como um aprendizado diário.
A tecnologia novamente insere-se como um aparato importante. Para a revisão de textos, recebo-os via e-mail, reviso-os diante de um computador e, para divulgar o meu trabalho, faço uso de redes sociais. Sei que muitas pessoas optam pela leitura de obras literárias por intermédio de ‘e-books’, o que pode facilitar-lhes em função da capacidade visual (ou não).
Alternativa interessante apresentou-me uma agente de saúde: a mescla de um grupo de leitura ou uma roda de conversa, em que aqueles com maior facilidade para ler façam a leitura de um pequeno texto, que seja o desencadeador de uma conversa, de lembranças, de histórias.
Afinal, velhice não é apagamento, não é invisibilidade, mas um processo da vida em que a maioria dos que envelhecem têm experiências, histórias para socializar.
Profa. Dra. Elaine dos Santos