Pela razão e sensibilidade

Marcelo Augusto Paiva Pereira

‘Pela razão e sensibilidade’

Marcelo Paiva Pereira
Marcelo Paiva Pereira
Imagem criada por IA no Bing – 14 de março de 2025,
às 15:59 PM

A história da arquitetura e do urbanismo remontam a imemoriais tempos, em que os primeiros grupos sociais deixaram o nomadismo e se fixaram em locais apropriados, sob a organização de tribos ou aldeias.

Das primeiras habitações até as atuais, os conceitos de espaço e proteção sempre existiram, devido à sobrevivência de cada indivíduo e família. A distribuição das habitações no território definiu as primeiras relações sociais e configurações urbanas, cujos propósitos derivaram daqueles conceitos.

A distribuição interna de cada habitação teve causa nas tarefas domésticas (divisão do trabalho), privacidade dos membros da família e hierarquia entre eles. Tornaram necessários espaços para dormir, comer, preparar os alimentos e reunir a família, inclusive para dar mais conforto a cada indivíduo.

Dos sítios em que se encontravam aquelas protocidades surgiram as cidades, espaços permeados de edifícios representativos do poder local, das autoridades, dos habitantes e das atividades laborais. A divisão do trabalho distribuiu as classes sociais, criou o controle administrativo e político e foi fonte da urbanização e da civilização.

A cidade mais antiga que se conhece é Jericó (9.000 a.C.) e não tinha ruas; os habitantes caminhavam pelos telhados. Outras cidades posteriores surgiram com distribuição de ruas, as quais facilitavam a locomoção e transporte de pessoas, bens e mercadorias. Em todas, robustas fortificações asseguravam maior proteção contra a investida de invasores ou grupos rivais.

A salubridade urbana, porém, teve sério revés. Enquanto os romanos desenvolveram vários canais, aquedutos (312 a.C. ao século V d.C.) e sistemas de esgoto (200 a.C.) ao tempo da República (509 a 27 a.C.), as habitações e cidades da Idade Média em diante não se beneficiaram dessa tecnologia da Idade Antiga. Ao contrário, eram imundas, insalubres e centros de contaminação por agentes patogênicos.

Em meados do século XIX (Idade Contemporânea) surgiu em Londres o moderno sistema de esgotos, após a elite reclamar dos fétidos odores procedentes do rio Tâmisa, que recebia as águas das fossas sépticas espalhadas e conectadas a um ineficiente e antiquado sistema de esgotos, planejado para evitar inundações naquela cidade. Paris também acolheu esse moderno sistema, quando da reconstrução (1853-70) da aludida capital.

Conclusivamente, a história da arquitetura e do urbanismo se comunicam, e surgiram da oportunidade (espaço) e conveniência (proteção) em cada momento (período) e em cada lugar (território). Desenvolveram os conceitos de espaço e proteção, abarcaram o conforto, criaram cidades e civilizações e recuperaram os sistemas de esgoto, abandonados por séculos de insalubridade. Se vivemos em cidades modernas, foi pela razão (oscilações do conhecimento) e sensibilidade (instinto de sobrevivência) que ainda existem. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira

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A casa do lado de fora

Ismaél Wandalika: ‘A casa do lado de fora’

Soldado Wandalika
Soldado Wandalika
Imagem criada por IA do Bing – 14 de março de 2025,
às 14:27 PM


Habita um povo destemido
Vivo nos altares do sacrifício
Contam o tédio, enfrentam seu medo
Vê no espelho a fala do retrato


Eles buscam esperança em cada passo na trilha
Escrevem suas histórias sobre a folha de seus destinos.
Entoam canções esperançosamente
A casa do lado de fora inspira a mentes
Quem habita lá reza suas orações sem pressa
Sabe amar e valorizar.
Aprendeu a nadar
Fala com delicadeza, pois a vida o ensinou lições
Vive na circunferência das suas emoções.

A casa do lado de fora.

Soldado Wandalika

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A jornada pessoal e literária de um pai e filho

Buscando uma forma de passarem mais tempo juntos, decidiram se dedicar à literatura

Foto de Reginlado e Diogo
Reginaldo e Diogo

Reginaldo Andrade, natural de Patos de Minas (MG), é um contador com mais de 30 anos de experiência, formado em Ciências Contábeis e pós-graduado em Gestão Empresarial.

Além de atuar como consultor de empresas, Reginaldo ocupa atualmente o cargo de Secretário Municipal de Finanças de sua cidade natal, um município com aproximadamente 170 mil habitantes.

No entanto, sua trajetória de vida passou por uma reviravolta após enfrentar dois episódios críticos de saúde, momentos que o levaram a refletir sobre o verdadeiro valor da vida.

Durante um desses períodos de risco iminente, Reginaldo percebeu que estava se entregando demais ao trabalho e negligenciando o tempo com seu filho, Diogo, que na época tinha 13 anos.

Ele sentiu a necessidade de reconectar-se com o filho e decidiu, de maneira simples, propor uma atividade que os unisse: as caminhadas.

Durante esses momentos, surgiu uma ideia que transformaria sua relação: escrever um livro juntos.

Reginaldo, que sempre adorou contar histórias para Diogo, e seu filho, com grande imaginação e amor pela criação de personagens, decidiram criar uma obra literária.

O primeiro fruto dessa parceria foi o livro Epic Adventure – O Jogo que Mudou o Mundo.

Ao começarem a escrever, ambos duvidavam de sua capacidade de produzir um livro de 120 páginas.

No entanto, o que começou com uma proposta simples logo se expandiu para mais de 250 páginas, e a satisfação foi imensa.

O sucesso do primeiro livro motivou-os a lançar a continuação, Entre Dois Mundos, e continuaram a escrever, apesar das dificuldades de tempo.

Diogo, por sua vez, é um jovem criativo e apaixonado por aviação e carros de corrida.

Seu talento para o desenho, visível nas ilustrações de Epic Adventure, reflete a profundidade de seu interesse por essas áreas.

A escrita do livro se tornou, então, não apenas uma forma de estreitar laços entre pai e filho, mas também um meio de comunicação onde poderiam expressar ideias e sentimentos, que talvez não tivessem compartilhado de outra maneira.

Em relação ao conteúdo das obras, Epic Adventure busca refletir sobre o impacto do mundo digital na vida real, abordando temas como o consumo crítico de informações, os perigos da exposição excessiva nas redes sociais e a importância das amizades genuínas no processo de crescimento.

O livro também trata das angústias e desafios que muitos adolescentes enfrentam, além de explorar a importância de uma vigilância equilibrada dos pais sobre a vida on-line de seus filhos.

O segundo livro da dupla, Entre Dois Mundos, aborda uma fase mais madura da vida, explorando questões relacionadas à liderança, insegurança e autocobrança.

A obra revisita a complexidade das decisões na vida adulta e como até mesmo as melhores intenções podem resultar em consequências dramáticas.

Reginaldo e Diogo, assim, oferecem uma reflexão profunda sobre a natureza humana, a vida espiritual e os comportamentos que moldam a experiência de viver.

Para Reginaldo Andrade, escrever ao lado de seu filho não foi apenas uma oportunidade de criação literária, mas uma jornada de autodescoberta e conexão familiar.

Em cada página, pai e filho conseguem se comunicar de uma forma única, abordando questões pessoais e universais por meio de histórias que instigam reflexão e aprendizado.

REDES SOCIAIS DOS AUTORES

SUAS OBRAS

Epic Adventure é uma história eletrizante, repleta de aventura, ação e emoção, mantendo o leitor completamente envolvido do começo ao fim.

É realmente incrível e altamente recomendada!

Assista à resenha do canal @oqueli no Youtube

Capa do livro Epic Adventure

Gabriel e seus amigos criam um jogo de realidade virtual chamado EPIC ADVENTURE, que se torna um sucesso mundial.

No entanto, um hacker assume o controle do jogo, adicionando novas funcionalidades e tornando-o mais real.

Quando mortes estranhas começam a ocorrer, a Polícia Federal e o Exército Brasileiro investigam, tratando o caso como um atentado terrorista global.

Os adolescentes passam de suspeitos a colaboradores e, acompanhados por um cabo do Exército, precisam retornar ao jogo, arriscando a própria vida para descobrir a causa das mortes e recuperar o controle do jogo, resultando em uma emocionante aventura que se desenrola dentro e fora do jogo.

Entre dois mundos é um livro repleto de ação e emoção, transmitindo mensagens importantes sobre amor, amizade, resiliência e família.

Uma verdadeira super aventura que prende o leitor do início ao fim.

É uma leitura que encanta!

Assista à resenha do canal @oqueli no Youtube

Capa do livros Entre dois mundos

Lucas é um jovem sargento recém-chegado ao planeta TOI 700e, a última esperança da humanidade após a Terra ser devastada pela Terceira Guerra Mundial.

Ao testemunhar a morte de grande parte de seus companheiros e do tenente de seu avião, ele é atormentado por visões da tragédia e criaturas alienígenas que os atacam incessantemente, dizimando seu grupo.

A trama toma um rumo inesperado quando Lucas encontra um sobrevivente de uma missão anterior e, após perder a memória, desperta em um lugar desconhecido, que logo descobre ser a UTI de um hospital.

Ali, ele conhece Mariana, uma jovem com câncer em estágio avançado que o visitava diariamente.

Devido a complicações de uma cirurgia, entretanto, a perspectiva se inverte e agora é Lucas quem começa a visitá-la.

Nessas visitas, ele descobre que Mariana possui uma visão de mundo completamente diferente da sua e, através das interações com ela, percebe que eles têm muito mais em comum do que ele jamais poderia imaginar.

ONDE ENCONTRAR

Epic Adventure

Entre dois mundos


Página Inicial

Resenhas da colunista Lee Oliveira




É o dito pelo não dito

Sandra Albuquerque: Crônica ‘É o dito pelo não dito’

Sandra Albuquerque
Sandra Albuquerque
Imagem criada por IA no Bing – 14 de março de 2025,
às 09:16 PM

Está tudo esquisito. Onde será que este mundo vai parar? O errado é o certo e para o certo não tem explicação.

O amor se envolveu em traição. Valores humanos se perderam e o respeito ao próximo descarrilou.

Nação impiedosa que os animais maltratam, mas sempre há mãos bondosas que os acariciam e os tratam, dando-lhes dignidade.

A natureza se esvai em fogo pelo desrespeito para com o meio ambiente.

Ainda há a violência, a discriminação e a pobreza que assobiam em nossos ouvidos e, ainda, são bem visíveis, enquanto os mais abastados aplaudem o tapete vermelho e dizem que vai tudo bem.

Onde está, oh! Meu Deus, a dignidade que tu deste ao homem?

Se está tudo esquisito e é o dito pelo não dito: ninguém sabe, ninguém viu e não fui eu.

Ah, se eu pudesse mudar o mundo… Pintaria um quadro e colocaria cada um no seu quadrado em seu devido lugar, nem que fosse por um instante só para ter paz, e ainda passava verniz para fixar bem.

Lembranças boas deste mundo nem em peças de museu, pois virou um gigante profundo em suas opiniões.

Porém, apesar dos pesares, a esperança nunca morre. E se cada um fizer a sua parte, este mundo pode mudar e se tornar um mundo bem melhor.


Comendadora e poetisa
Sandra Albuquerque

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Palestra sobre os desafios da adolescência

Palestra sobre os desafios da adolescência, na escola Coronel Esmédio, de Porto Feliz (SP)

Card da palestra sobre os desafios da adolescência
Card da palestra sobre os desafios da adolescência

Com a intenção de dar continuidade às palestras e atividades ofertadas para a comunidade, a EMEF Coronel Esmédio receberá, na próxima quinta-feira, a palestra ‘Adolescer’, ministrada pela psicóloga educacional da unidade, Izildinha Olmeda.

A equipe gestora da escola produziu uma agenda mensal com temas de interesse de pais e estudantes, além da comunidade porto felicense.

A palestra abordará os principais desafios da fase da adolescência sob a visão da psicologia. A ideia é debater o tema e fornecer dicas para lidar com as mudanças emocionais e comportamentais.

O evento é aberto e será realizado nas dependências da EMEF. Cel. Esmédio no dia 20 de março, a partir das 18 horas.

A escola está localizada na Rua Adhemar de Barros, 118 – Centro – Porto Feliz (SP).

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Uma conversa com o padre

Tomás Eugénio Tomás: ‘Uma conversa com o padre’

Logo da seção O Leitor Participa
Logo da seção O Leitor Participa

Um crente decidiu ter uma conversa com o padre da sua paróquia. Ele alegava que queria sair da igreja, porque as pessoas de lá se apresentavam como queriam e faziam e desfaziam.

− Eu acho que vou sair da igreja, padre.

− Por quê, meu filho?

− As pessoas que actualmente têm vindo à igreja fazem e desfazem.

− Como assim? Questionou o padre com ar de preocupação. 

− No domingo passado, quando cheguei à igreja, sentei-me próximo duma irmã. Ela não parava de mexer o telefone do princípio da missa até ao fim.

− Mas isto não é motivo para sair da igreja.

− Senhor padre, noutro domingo, uma jovem ia comungar de saia curta, ao menos usava um pano e enquanto o outro, após comungar, não terminou mais a missa, foi ficar fora com os seus amigos, tirando e postando fotos. O padre acha essas atitudes justas?

 − Não, meu filho.

O homem estava muito decidido que nem deixou o padre terminar de falar.

− Hoje eu vou conversar com o meu grupo e vou dizer a eles que já não serei mais o coordenador.

Naquele instante o padre olhou para o homem e disse-lhe: − Meu filho, Deus nos deu a liberdade de escolha e quanto a sua decisão não serei contra e nem a favor, mas antes de você sair da igreja, quero que pegue esta vela e dê duas voltas à igreja, mas a vela não pode apagar.

O homem achou aquilo muito fácil e aceitou o desafio. Naquele dia o clima estava frioso e soprava bastante, talvez seria uma causa para a vela apagar, mas o homem fez o que o padre pediu-lhe… Minutos passaram e o homem chegou ao padre:

− Já fiz.

− Uau, estou feliz por você, não deixou cair nenhuma gotinha de vela e nem sequer apagou.

− Sim, eu disse que seria fácil. Agora já posso sair da igreja?

− Não. Permita-me dizer o seguinte: você sabe o porquê que conseguiu?

− Sim, porque estava concentrado na vela.

− Meu filho, é isto mesmo ‘concentração’ é o foco de tudo, se você estar concentrado em si e em Deus, não verá os que demais fazem. “Deus é a sua vela”, concentre-se e conecte-se apenas Nele. Saiba que cada um tem o seu objectivo cá na igreja; a igreja aceita todo mundo, mas não aceitamos toda prática, por esta razão que existe cristão (que segue a Cristo Jesus) e não cristão (que diz seguir, mas não segue). 

Tudo foi possível porque se concentrou apenas na vela, se estivesse distraído ela apagaria, isso se chama ‘Fé’, e ela diminui sempre que deixamos de acreditar e confiar. A fé aumenta com as nossas acções, atitudes etc. Nós não podemos ir à igreja simplesmente porque tem pessoas que vão nos olhar, nós devemos e temos que ir para adorar o nosso Deus (principal) e as pessoas são secundárias, tenho dito, meu filho que “a igreja é nosso coração e as pessoas só a compõem”.

Os dizeres do padre deixaram-no entre a espada e a parede.

E você vai mudar de igreja por isso? Por que o padre, pastor, ancião, coordenador, diácono e a diaconisa ou qualquer outro irmão da igreja dizem alguma coisa e não fazem? A irmã que diz sobre a fornicação namora muito? O pastor comprou carro com o dinheiro da oferta? A diaconisa falou mal da irmã do coral? O pianista e o guitarrista não pagam as ofertas? O líder do grupo coral falta com respeito aos outros membros do grupo? O diácono engravidou uma irmã e mandou abortar? O pregador e o profeta pregaram sobre o amor ao próximo, mas não amam? O ancião cometeu e foi destituído da congregação?

Sobre o autor

Tomás Eugénio Tomás
Tomás Eugénio Tomás

Tomás Eugénio Tomás, natural de Luanda (Angola), é licenciado no curso de Ensino de Língua Portuguesa e professor.

Na área literocultural, compositor, palestrante e revisor.

Autor das obras A Regra do jogo, Esperança, Rascunho, Kampôdia e a crónica O Infeliz.

Organizou a antologia Tudo e Nada e participou da antologia A voz do poeta.

É CEO do projecto Ensinar e Aprender e apresentador do programa 10 Minutos de Aprendizagem

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O mundo não é concebido como uma coleção de objetos

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

‘O mundo não é concebido como uma coleção de objetos’

Diamantino Bártolo
Diamantino Bártolo
Imagem criada por IA no Bint - 13 de março de 2025, às 15:05 PM
Imagem criada por IA no Bint – 13 de março de 2025,
às 15:05 PM

Todo o esforço intelectual e todo o movimento da sua ação se desprenderam do racional e só do racional. A unidade e a diversidade são impostas pela razão. A ordenação, a harmonia espiritual, o valor da razão a tudo fere. Tudo passa pelo seu crivo metodológico. Tudo é ferido, aferido e conferido pela razão, entre o máximo do juízo e a harmonia autossuficiente, que recusam aceitar que o imediato da experiência seja a expressão da realidade autêntica.

Sérgio argumenta: «… Para mim, o essencial no conceito não é a imagem, é a relação; o conceito para mim não precede do acto do juízo, mas resulta, pelo contrário, da actividade judicatória do nosso juízo; é esta actividade judicatória (e não a imagem ou representação) o que está no ponto de partida do operar efectivo do saber científico”. (Ensaios, III:353). 

Sérgio é um racionalista, porque sustenta a irredutibilidade da razão à perceção sensível, arquitetar a vida mental. A razão tem os olhos postos em si, não está de olhos fitos na imediaticidade dos dados sensíveis. É racionalista porque afirma a existência no nosso espírito de uma atividade ordenadora, superior à perceção sensível. Daí que o seu racionalismo seja muito afim do idealismo metafísico ou gnosiológico.

António Sérgio reputa-se a si como um idealista neo-kantiano. O ataque ao racionalismo foi desencadeado pelos filósofos cientificistas e humanistas. A sua luta cifrava-se num ponto comum: o racionalismo clássico é abstrato e incapaz de atender ao conceito. Negam-se a admitir que o espírito humano seja uma atividade espontânea, e que o homem se faz a si, num ato de liberdade absoluta. Durante toda a sua vida reflexiva, Sérgio lutou por caracterizar o seu pensamento filosófico como uma razão que se concretiza, que se inunda ao particular, que se acarinha pelo real. 

O seu racionalismo não era abstrato nem padecia de qualquer incapacidade para se abalançar ao concreto. «A inteligência, como eu a concebo, não minora a tal realidade; inteleccionar, ao que me tem parecido, é perceber o real, o concreto, o particular…» (Ensaios, VII:205). Sérgio mergulha o seu espírito constantemente na lida do real. O seu racionalismo nada tem a ver com o racionalismo dos velhos tempos.

Mas cuidado! Qual o sentido do real, da existência, em Sérgio? A experiência e o objeto são identificados com a intuição fenoménica. Os objetos não passam de puros fenómenos. «A experiência é um produto da razão, não algo que a defronte, independente dela. Opor a experiência à razão é como opor a obra de arte ao artista que a criou.» (Ensaios, VII:189). «Não há objecto situado fora, para além do intelecto; o objecto em si e a experiência, em frente da inteligência, são meros fantasmas.» (Ensaios, VII:187).

 Sérgio não duvida da existência do que se designa por “um mundo exterior”, isto é, de algo independente da nossa “psique”, de uma realidade física, de uma “fisis”. Não é, todavia, um empirista. Antes, rejeita qualquer tipo de empirismo, como tendência filosófica que reduz a totalidade do conhecimento à experiência. A inteligência tem um papel constitutivo, criador, não só ao nível da experiência, mas também ao nível científico. 

O mundo não é concebido como uma coleção de coisas. É antes uma atividade cuja função é suscitar na: «“psique” o nascimento “dos algos a que chamei sentires (dados-dos-sentidos, sensações, intuições) os quais são sinais da Actividade-do-Mundo, mas não imprimissões do dito mundo em nós, que tenham semelhança com a Actividade-do-Mundo.» (Notas de Esclarecimento, Portucale, 1950:204). 

Segundo Sérgio: «Tudo desponta no viver da psique, pelo espontâneo actual da nossa energia psíquica, e não por estampagem do “chamado mundo externo”. Nada na mente é reflexo de algo. A experiência não é o sinal sensível, não é a ideia, não é o sentir, nem tão pouco a forma: é a indestronável ligação do sentir e da ideia sempre estruturada por interpretações do intelecto.» (in: SÉRGIO, 1950:199). 

A missão da experiência é a justificação das hipóteses colocadas pelo pensamento, que na sua marcha progressiva e regressiva, busca a verdade: acordo recíproco entre a tese (o facto que nos interessa) e a hipótese colocada pelo pensamento. Sérgio deve ser considerado um experimentacionista e não um empirista.

BIBLIOGRAFIA

CHAVES, C. B, V.V., António Sérgio, Obra completaEnsaios – Tomo I, Livraria Sá da Costa Editora, Lisboa, 1976;

SÉRGIO, António, (1974). Obras Completas: Ensaios, 1ª edição, Tomo VII, Lisboa: Sá da Costa.

SÉRGIO, António, (1976). Obras Completas: Ensaios, 2ª edição, Tomo I, Lisboa: Sá da Costa.

SÉRGIO, António, (1984). Educação Cívica. Lisboa: ICLP/ME

SÉRGIO, António, (1950), Notas de Esclarecimento, Portucale, Porto, nºs 28-30, julho-dezembro

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente Honorário do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

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