A criança e o adolescente no mundo virtual 

Maze Oliver:

‘A criança e o adolescente no mundo virtual’ 

Maze Oliver
Maze Oliver
A criança e o adolescente no mundo virtual
Imagem criada pela IA do Bing

Hoje a tecnologia digital domina os lares.  Crianças muito pequenas antes de falar já veem vídeos no celular de alguém da família. O que isso afeta na criança? E ao adolescente? É recomendável? O que fazer diante do vício? Existem estudos científicos que provam que o exagero da tecnologia na criança muito pequena é muito prejudicial ao cérebro, ao relacionamento com o outro e à saúde física e mental das crianças e dos adolescentes.

   Para uma criança muito pequena, até seis anos, uma hora de tecnologia é o indicado. A criança precisa se relacionar com as pessoas: ser estimulada a falar, a ouvir, a cantar, a amar etc. A Psicanálise afirma que esse grande outro (adulto) é fundamental na formação da identidade da criança. Convivendo com um aparelho, onde está a intervenção direta com a criança? Ela vai aprender a falar com os vídeos? É provável que sim.  Mas, e a parte emocional?  A Interação pessoal? Não estaremos criando robôs? Para o Psicólogo, Leo Fraiman, “tecnologia para crianças somente após os seis anos”. Está comprovado que somente após, essa idade, dependendo da criança, ela será capaz de separar a realidade da fantasia. Qual a repercussão do exagero?  As pesquisas mostram que 80% de nossas crianças, antes dessa faixa etária, estão na internet; vendo toda a sorte de violência, e muitos vezes conteúdos, até impróprios.

   Passar muito tempo no celular, vídeogames e computador, restringe os movimentos da criança. Ela precisa andar, correr, descer, subir etc. Limitar a criança é prejudicial ao seu crescimento físico. O corpo, é um organismo completo que necessita estar integrado com todas as suas necessidades nos anos iniciais para crescer saudável. Quanto ao cérebro, também já foi comprovado pela Neurociência que os jogos e os vídeos estimulam a produção de Dopamina, e outras substâncias responsáveis pelo prazer. Assim, estaremos viciando nossas crianças e jovens, desde muito cedo com uma dose extra de substâncias e estimulando a se afastarem de outras atividades, menos prazerosas, porém mais saudáveis ao crescimento integral, o brincar, que é tão necessário ao crescimento mental e físico.  Sabemos que o mundo proporcionará desafios para eles no futuro. Como enfrentarão as dificuldades? As responsabilidades? E as frustrações? Se estarão totalmente viciados em atividades prazerosas, e em grandes quantidades, pois todos os dias surgem novos jogos, novos vídeos, de todas as formas e níveis. E sabemos que em muitas famílias, não há nem mesmo uma seleção de conteúdo ou horários, para os filhos.

   Paiva NMN e Costa JS, no artigo científico: A influência da tecnologia na infância: desenvolvimento ou ameaça? Afirmam que:

     “… o mundo virtual utilizado de forma indiscriminada desestrutura os processos psicológicos da criança levando-a a apresentar o comportamento antissocial, instabilidade emocional e atitudes de agressividade”…01.

   A pesquisa da Revista Psicopedagogia, cita que:

    …“A utilização da tecnologia de forma indiscriminada pelos adolescentes provoca o desequilíbrio cognitivo do ser. Com isso, ela potencializa os transtornos de atenção, transtornos obsessivos, de ansiedade e problemas com a linguagem e a comunicação, o que afeta diretamente aprendizagem”. 02 

   …“A Associação Psicológica Americana incluiu a dependência de jogos e de internet no apêndice do DSM-VVII, o que aumenta a legitimidade clínica do transtorno e favorece o entendimento científico da natureza dessa dependência” 02.

   Assim, teremos alguns desafios para as futuras gerações pois com todos os problemas que já tínhamos com as crianças praticamente criadas por terceiros, devido ao enfrentamento dos pais no mercado de trabalho, o desemprego, alcoolismo, negligência familiar, drogas e outras violências, agora nos deparamos com mais um problema, o excesso do uso inadequado de tecnologia por crianças e jovens, a “over dose digital”. Eis aí, que devemos rever nossos padrões de comportamento que não servem mais, para essa nova sociedade que ora estamos vivendo. Limitar horários, selecionar conteúdos, alertar para os perigos da Net e fortalecer os laços familiares, são algumas providências urgentes.

OBS. Conheça a obra A poção mágica, Maze Oliver, primeira edição 2016, que se encontra publicada no saite Clube de Autores, à disposição dos pais. Para um diálogo com a criança de forma lúdica sobre o assunto: a questão do retorno às brincadeiras tradicionais.

Maze Oliver

FONTES DE PESQUISA E CONSULTAS:

01. Paiva NMN, Costa JS. A influência da tecnologia na infância: desenvolvimento ou ameaça? (acesso 2024) Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0839.pdf      

02. Revista Psicopedagogia, vol.34, no.103 São Paulo, 2017;

03. Young KS, Abreu CN. Dependência de internet: manual e guia de avaliação e tratamento. Porto Alegre: Artmed; 2011. 

Contatos com a autora

Voltar

Facebook




José Bembo Manuel: 'Atrevida adolescência'

Jose Bembo Manuel

Atrevida adolescência

Nandinho piscou o olho à senhora Simone, a titia mais gostofofa da banda. Esta, sentindo-se desrespeitada, acelerou os passos em direção ao rapaz e segurou-o pela orelha direita. Senhora Simone não mais largou e arrastou Nandinho até a casa de sua comparsa das xobotices e madrinha do rapaz, Mariazinha:

Mariazinha, teu afilhado faltou-me com respeito. Mal saiu das fraldas, está a me piscar o olho. Já viste?! – soltou a orelha de Nandinho empurrando-o para o centro do quintal onde ficou caído.

 

A orelha estava tão aquecida que, num instante, sentiu-a separar-se da cabeça. As lágrimas seguradas durante os 10 minutos de caminhada, escaparam dos olhos e Nandinho lançou as mãos ao rosto para impedir que vissem as lágrimas saírem daqueles olhos grossos.

Mariazinha, não maiou e respondeu com provocações como era seu costume: – Mana, desde quando é que piscar o olho a uma dama é crime?! Assim quase arrancaste a orelha do meu afilhado só mesmo porque te piscou o olho?! Coisas para agradecer, pensam mbora que é feitiço depois cantam por aí que são finas e chiques.

Simone enervou-se ainda mais. Repirou fundo e esclereceu: – Mariazinha, não me faças acreditar que ser ofendida por um miúdo faz parte de ser fina ou chique. Andas a incentivar esses comportamentos nele? Não importa a resposta. Tu és minha wi. Andamos sempre juntas nas xobotices, mas isso eu não tolero! Ele não tem a minha idade. Nem saiu ainda da adolescência e vai-me fazer uma cantada?! Achas que isso é para eu me alegrar?!

Nandinho interrompeu a senhora Simone e começou a apresentar a sua versão dos factos: – Só queria babá. Mô olho nu me obedeceu. Gosto mbora de vê a mana Simone a passá. És memu muito bala. Matas então bué de pai com os filhos deles. A madrinha também nu fica atrás. As duas memu são de comê com tudo ou sem. Já têm mbora bué de molhos. Gos-to-so-nas!

Mal terminou a terceira sílaba do adjectivo e zás! A mão direita de Simone foi visitar a bochecha esquerda de Nandinho. E Mariazinha viu-se forçada a intervir: – Sisi, vais aleijar o miúdo. Não bate na cara. Pelo menos bate nas nádegas. Até agora não vi mativos para tanto alarido. Até parece que estás muito carente.

Mariazinha chamou pelo Nandinho, acalmou-o e questionou: – Nandinho, fizeste o quê de errado à Sisi? Paqueraste mesmo a mana?!

 

Só gosto memu da mana Simone como gosto da madrinha Mariazinha das Inhas. Ela pensa que é pru male, mas nu é. A madrinha é magrela boa, já a mana Si… Nandinho olhou nos olhos de Simone e hesitou por instantes, porém incentivada pela madrinha continuou: – A mana Simone não é magrela nem é gorda. É memu só assim bué fofa e sa-bo-ro-sa. Apetece a todos que não estão doentes e que têm dentes na boca. Se eu também podesse, essas areias não escapariam do mô camião. Olham só memu! Uma a aumentar o gosto a outra. Na rua, todo mundo vira ventoinha lenta para vos vê. Podem mbora me agi. Pelo menos vão me tocá!. Ai, meu Deus, se eu vos segurá! Estaremos servidos até estar saciados. Comida gostosa, decoração perfeita. Aquilo é fo…

Alto lá, seu rato! Olha muito bem para mim e pense muito bem no que dizes. Vou-te rebentar na parede e quem tiver mais forças vai me bater – retorquiu Simone.

Simone deu um salto e já estava pendurada ao colarinho de Nandinho.

Fala mais, seu atrevido de uma figa!

Nadinho percebeu que o dia seria dos piores que já vivera até aos seus 17 completados na semana anterior. Ouviu as vozes de seus amigos e amigas da parte exterior ao quintal expectantes para ver o desfecho da confusão. Por isso, entregou-se à Simoninha para, no mínimo, gabar-se entre os amigos de ter sido tocado e por ela. Para provocar afirmou em alto e bom som: – Madrinha, a Simoninha, de tia, tem nada. É o sambatito que todos disputamos para chup…

Mariazinha interrompeu: – Olha o respeito, Nandinho! Estás a dar muitas bandeiras. Não vou mais te acudir!

Sou uma dama, não comida, seu imbecil. Se a Mariazinha te dá essas confianças eu não. Estás doente é isso? –  interrogou Simoninha.

Nandinho consegue livrar-se de Simone e foge para a sala de jantar da casa de Mariazinha. E de lá atira: – Eh! Madrinha, fala então para a Simoninha que aqui nada é real. Nós já demos conta das coisas e já estamos habituados com isso. Cabelos para tapar as carecas. Barro que fantasia as pele. Rabos e peitos insufláveis. Unhas com plasticidas. Corpos falsos, falsas pessoas. Nú estragó nada. Tamu a gostá memu assim. Nós mbora nos cuia só à toa.

– Isso é azar! Fumaste dragão ou o quê, Nandinho? Nunca te dei confiança para essas faltas de respeito todas. Olha vou te pisar à frente de tua madrinha! – Ameaçou Simone.

Nandinho reage: – Será um prazer senti as coisas na minha cara! Me pisa, me senta, me encosta só já. Gosto de tudo que me faz bem e esses sambapitos são os que mais quero na vida. Verei o quanto têm de verdadeiras.

Como assim, Nandinho?! – Indagou Mariazinha já impaciente com a situação.

Isso memu. Aqui nem tudo é como parece. Enche o estômago, mas não alimenta. Fofinhas com cabelos enganadores, as curvas de laboratório, enchidos que apodrecem ou furam. Sabemos das coisas. Coroas que nunca envelhecem, mas apodrecem por dentro. Tudo do canale denominado mixolândia – esclareceu Nandinho.

– Meu filho, foste longe demais. Não te acudo mais. A Sisi tem razão dela. Essas andanças com as pessoas do M estão a te deixar malandro. Assim estás a falar que nós somos uma farsa?! Simone, ajuda-me a endireitar esse gajo. Ele tem de nos mostrar o que de falso existe em nós. Se não o endireitamos agora, entorta para sempre.

Mariazinha puxou o mexerico ainda sujo. Simoninha não perdeu tempo e, ao Nandinho, ensaiou a segunda bofetada, desta vez, com maior agressividade. Nandinho não podia gritar para ser ouvido pelos amigos que não se tinham afastado do portão. Não resistiu a intensidade da bofetada. Caiu. Simoninha prendeu as duas mãos. O seu tronco todo alinhado para o rosto de Nandinho. Os turbinados seios que desconheciam o efeito sutiã, roçavam o rosto do rapaz. O pânico da surra desapareceu. Mariazinha sentou-se na cintura de Nandinho. O incêndio estava criado. Simoninha puxou a cabeça de Nandinho para junto de seis peitos agora nus porquanto o vestido estava arriado até a cintura. Os calores invadiram o corpo de Nandinho.

Melhor maneira de verificar a autenticidade da beleza estrutural não podia existir – pensou rapidamente Nandinho.

O deleite do momento interrompeu o pensamento. Ele seria elevado ao topo entre os jovens e adultos da região. Conseguir a atenção de Simone não era tarefa fácil para quem quer que seja. As duas numa só só sentada mais trabalho representa. Nandinho já se imaginava gabar-se do feito diante de Rossana, sua querida mãe que sempre insinuou os truques para flertes. Simoninha sentou-se na cara de Nandinho. Mariazinha tinha acabado de humedecer o músculo que proporcionaria as entradas. Nesse instante, o incêndio não mais se podia controlar. Invadiam os corpos e mentes de todos. O coração de Nandinho batia cada vez mais acelerado até que o despertador tocou e tirou-o do sono.

 

José Bembo Manuel

martinsbembo@gmail.com