Há tanto mar entre nós

Evani Rocha: Poema ‘Há tanto mar entre nós’

Evani Rocha
Evani Rocha
Imagem criada pela IA do Gencraft

Há tanto mar entre nós
E muito céu a nos tocar
Os pés não sentem o chão
Acho que estamos a voar

As águas são cachoeiras
Translúcidas a borbulhar
Da boca nada é dito
Tudo fala o olhar

Há tanto mar entre nós
Estamos a mergulhar
Entre algas e corais
Entre os laços e os nós

O corpo é imensidão
Feito para explorar
Nas palmas leves das mãos
No jeitinho de tocar

Os cabelos misturados
Desde as raízes às pontas
Entre cachos, caracóis
Entre pele e lençóis

Sobre meandros e vales
Sobre escarpas e veredas
Os olhos e bocas calam
Pra sentir a sutileza

Há muito mar entre nós
E muitos nós a nos prender
Por dentro todos os sóis
Por fora um rio a correr!

Evani Rocha

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Rompeu tardia e chuvosa alvorada

Ella Dominici: ‘Rompeu tardia e chuvosa alvorada’

Ella Dominici
Ella Dominici
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Dentro do alto corpo destelhado como num estábulo, iam eretos como fósforos numa caixa; no transporte enxergavam a inundação que ia pela estrada do Sul. Os terrenos eram baldios, compondo uma área onde retinha as chuvas de outono, as águas de um maio colossal.

     Tudo desaparecera retumbantemente, dando lugar a um lençol horizontal e imóvel de águas marrons, que se estendiam aos campos de um além vivos. Emaranhado em compridos farrapos inertes no fundo do sulco dos arados e brilhando tenuamente sob a luz cinzenta.

     Via-se a água da inundação perfeitamente imóvel e plana. Não se iluda com inocência e suavidade, não, creia nas forças de um rio em perversão!

     Tão quieto agora, que se podia caminhar sobre ele, via-se uma colcha como de cetim perfeitamente lisa e imóvel, cobrindo as feridas humanas; um aceirado onde se fixavam os postes em retas fileiras como cercas que demarcavam os terrenos. Agora frouxos. Tudo bambeando molemente.

     Havia uma vala sob a ponte e um pequeno riacho que escondia a “Lagoa dos Patos”, invisíveis, de patos submersos e penas flutuantes.

     Ouviu- se um vago estrondo subaquático que soava como um trem destroçado que, num descarrilamento ao longe, sugeria uma velocidade espantosa e secreta.

     Na superfície corriam dejetos espumosos, animais, idosos, roupas, objetos, telhas de vinil e plásticos enquanto afundaram-se latas, ferros, pedras e concretos. A extrapolação das águas em excesso cobiça calçadas, ruas, praças, passarelas e para passá-las em avalanches pelas vulneráveis cidades, dificuldades e impossibilidades.

     Por que, água, não escoa e liberta a terra e as gentes, por que acumulada resta como mortalha? Enchentes e mais enchentes, mortes, epidemias, males por crises hídricas se avolumam nos anos e meses de impactos ambientais. E a correria, a fuga destes mortais, banais? 

     O prejuízo econômico pesa nas vidas e nas realidades convulsionadas por perdas residenciais, comerciais, industriais; morre a semente, o campo, o sementeiro, o gado, suínos, equinos, ovíparos, os lúcidos, infantes, gestantes, cadeirantes e caducos. Importam-nos plátanos, as parreiras e roseiras.

    Sucesso absoluto aos peçonhentos e aos ladrões, usurpadores em vulneráveis momentos.

     Correntezas frias e insensíveis, fortes avalanches despidas de compaixão levam móveis, comidas e vidas, mergulham alguns e “nenhuns” para não voltar, e os que restam a que prestam, nestes rostos empalidecidos pelas lágrimas do luar. 

     Sinistra e lamentosa chuva, espessou os rios e, agora,  contundente, comove e consterna os povos a socorrer e amar estas gentes, sobreviventes, heroínas das enchentes.

     Há um rio que atravessou a nossa casa, esse rio rebelou-se pelo tempo;  as lembranças são peixes que restaram das correntes nadando nos contratempos. E ao olhar nos céus de hoje vejo inundações de aves, refração de estrelas que, nadando, se movimentam no lumiar de minha esperança.

     Vem me guiando desde menino o rastro celeste de invisíveis enxurradas, em uma constelação que guardou meu diário em segredo, Cruzeiro do Sul.

Ella Dominici

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Orvalho de luz

Irene Rocha: Poema ‘Orvalho de luz’

Irene Rocha
Irene da Rocha
Esperarei por ti, no brilho do luar,
Entre as folhagens, teu nome irei chamar
“Esperarei por ti, no brilho do luar, Entre as folhagens,
teu nome irei chamar”
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Hoje acordei ao som das águas a respingar,
Estrelas recordadas no céu a brilhar,
Orvalhada de luz, corpo a perfumar,
Caminho secreto onde o amor nos faz sonhar.

Quero ser rio, livre a correr,
No banhado das várzeas, em paz me perder águas
Esperarei por ti, no brilho do luar,
Entre as folhagens, teu nome irei chamar.

Seguirei com emoção, teus passos a guiar,
Pela luz que nos conduz, sem hesitar,
Na esperança de uma noite gloriosa,
Escuto tua voz, no silêncio que me acalma.

Num encanto de amor, o vento a soprar,
Solidão dos campos, ecoa ao recordar,
Meus versos, cantados por alguém distante,
Ventos que sopram, o amor a murmurar.

Irene Rocha

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Num dia claro de verão

Evani Rocha: ‘Num dia claro de verão’

Evani Rocha
Evani Rocha
Num dia claro de verão
Num dia claro de verão
Imagem criada pela IA do Canvas

Quero ir embora

Num dia claro de verão

Quero um céu raso

De nuvens brancas,

E um tapete de flores no chão.

Quero ir embora devagar,

Sem pressa na despedida.

Quero abraços apertados

E sorriso escancarado

Não quero adeus,

Mas um ‘até logo’

Quero enxutos meus olhos

E a alma,

Límpida como as águas.

Quero despir-me do orgulho,

Do medo e do espelho

Quero ir de peito aberto,

E ao vento, os cabelos

Aliás, não quero laços

Nem perfume de jasmim

Mas quero desatar os nós

Que se prenderam a mim

Deixar as regras terrenas

As horas longas do tempo

Levar comigo somente

Toda liberdade plena!

Evani Rocha

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Penhasco

Ceiça Rocha Cruz: Poema ‘Penhasco’

Ceiça Rocha Cruz
Ceiça Rocha Cruz
Na placidez da tarde, canta no crepúsculo a paisagem pelas janelas do tempo...
“Na placidez da tarde, canta no crepúsculo a paisagem
pelas janelas do tempo…”
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Na sombra da névoa tênue

e esvaecida da colina,

geme em segredo o vento.

Franzi as águas

que deslizam sorridentes

sobre a areia,

aos olhos da natureza.

Na placidez da tarde,

canta no crepúsculo

a paisagem

pelas janelas do tempo.

Mistérios,

segredos…

Nas paredes aquareladas

do entardecer

cortinas mescladas de saudades

nos adereços da tarde,

debruçam-se.

Aos olhos do rio sobre as ondas,

a solidão perpetua.

O crepúsculo adormece,

a tarde agoniza,

nuvens misteriosas

derramam-se no ocaso.

Na sombra da névoa tênue

e esvaecida da colina rochosa,

geme em segredo o vento,

enquanto o penhasco sorri.

Ceiça Rocha Cruz

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Tempo ancora em silêncio

Ella Dominici: Poema ‘Tempo ancora em silêncio’

Ella Dominici
Ella Dominici
tempo de amar em silencio. Tela impressionista estilo Van Gogh
tempo de amar em silencio. Tela impressionista
estilo Van Gogh.
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

O silêncio empoeirou-se

onde não há levante

de pássaros a cantar

onde não te começas choro
nem voas

nem nascente de águas
onde nadavas peixe

em toda volta
todo o ar de avoar

O silêncio empoeirou-se
dele voz nem se nota

vem vai e volta
é possível ver-me pó

Tempo ancora em silêncio

Tempo passa não espera a gente, que sente
amarras de todos e mundo não o resiste
com toda a sabedoria não o sabem ver bem

qual porto seguro, âncoras, correntes o retém

mas quando teus olhos me olharam de amor doce

senti a visão de suas mãos querentes
carícias em perfume

escutando seus lábios de melodia
vi a alegria

no silêncio sem tempo
pleno de corações.

Compreendi que o tempo
não tem dias mornos, horas frias

não começa nem finda no antes depois ou ainda

os encontros são subtrações dos reais anos

onde sobejamente sorriem
segundos sonoros dos sonhos

Ella Dominici

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Memória

Evani Rocha: Poema ‘Memória’

Evani Rocha
Evani Rocha
Castelo da Pena e Palácios Mouros – Sintra, Portugal
Foto por Evani Rocha

Já decorei tua arquitetura,

Tuas ruelas de pedras,

As fachadas coloridas

Disfarçadas de arco-íris.

Já pisei tuas calçadas,

Bebi tuas águas,

Tua fala, teu olhar,

Milimetrei tuas ruas.

Já conheço esse teu jeito

De apaixonar,

De tirar a paz,

Remexer por dentro.

Já colhi todas as flores

De setembro

E ainda espero

Os últimos botões

Fora de tempo…

Não me prendo mais às tuas

Camas, frias, vazias

E brancas como a neve.

Já fui embora de ti

E retornei todas as vezes

Que tentei transcrever tua poesia.

Evani Rocha

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