Cotovia mestre é pai
Ella Dominici: ‘Cotovia mestre é pai’
Como eu sei que é uma cotovia que me canta à janela
nas manhãs de sentinela…
graças à beleza de seu canto proverbial, a cotovia…
O pássaro pontual me habita a vida
em relógio de mestre pulsa ponteiros em usual
batida
não há dúvida na lembrança nem há breu na aliança
paternal
A cotovia que me ensinou a piar…quando minha voz
pareceria de uma corujinha…e a voar com asas curtas
de uma pequenina fêmea passarinha
A cotovia me mostrou a água boa, beber do lago limpo
não das poças
pescando levemente ou apreendendo as minhocas
nutrindo as carências
A mestre pássaro passou a voar-me a lado a lado
em poético voo palavrear de ensinamentos
em meus lamentos ensinou driblar os ventos
saramos juntos juvenis e mais maduras…dores
trocamos penas primaveras, vis invernos
se ela voou em tempo certo, nada importa…
meu pai é isto cotovia que avoou, passarinho que me volta bica, canta, assobia, fala o nome e me vicia na interminável alegria de lembrar sua poesia que na minha se esguia e intensamente me cria.
Me criou assim me criará sem fim…
Papai
O elo em aves ultrapassa véu de tempos
nas colinas se aguarda a breve volta
não da ave
de um tempo onde os elos mais sublimes
serão mais altos que todos os caminhos
Ella Dominici