Aproveite o momento

Lina Veira: ‘Aproveite o momento’

'Aproveite o momento' - Lina Veira
‘Aproveite o momento’ – Lina Veira

Quem se recorda de uma época em que tudo parecia maravilhoso na vida? Férias na praia, encontros após a igreja, braços dados, inocentes alegrias banhadas de longas e longas conversas nas esquinas e praças, na calçada de casa, com olhos nos olhos.

Sempre que você experimentou essa sensação foi porque você decidiu se soltar e aproveitar o momento, seu tempo, lembra? Absorver a sensação do agora, do real é aproveitar o momento.

O tempo voa. O relógio corre. Você consegue lembrar uma situação em que se perdeu no que fazia?

– João, lembra dele? Mora em São Paulo, mas disse que vem. Hoje é um senhor bem-sucedido dono de uma empresa de ônibus. Vive muito bem e vem com suas filhas. Elas revezam para cuidar dele. Está separado. É o que sei.

Luiz, era agitado, sempre molhava a gente com a mangueira do parque na escola, hoje é lavador de carros. É feliz do jeito dele. Maria é diretora de uma escola de ricos na Parquelândia e Otávio é médico cirurgião e não se casou com Luana. Mora fora e dizem que é gay. Sempre viaja para o Brasil

(Luana… lembro dela sim. Parei um pouco a recordar)

Sem qualquer interrupção fiquei ouvindo de Gustavo aquelas mágicas palavras de pessoas incríveis que um dia fizeram parte da rotina da minha vida. Que tempo bom! Puro e fascinante vivemos. Como estariam de fato? Felizes?

A noite estava linda. Escolheram o melhor buffet da cidade para este reencontro depois de décadas. Gustavo sempre manteve contato de todos, mas não sei porque demoramos vinte anos para aproveitar o momento de novo. Uma banda com nossas músicas preferidas da época tocava.

Estava até apreensiva. O que falaria da minha vida? Desisti de tantas coisas, tive tantos medos… Precisei fazer terapia por décadas. Seria chato dizer tudo isso?! Focaria no presente! Estou tão feliz no presente. É isso! Olhei as fotos de meus filhos que trouxe já orgulhosa para apresentá-los. Acho que basta isso: falar do presente, das atuais alegrias e realizações porque o que passou, passou.

Um abraço pode dizer tudo, um olhar, um sorriso. Tinha levado alguns exemplares de meu primeiro romance recém-publicado para presenteá-los, e sei que João iria querer saber de tudo, cada detalhe, porque sempre foi curioso leitor. Quase namoramos sério. Que saudade.

Quando olhei para entrada, avistei um homem grisalho bem-vestido, numa cadeira de rodas com um sorriso lindo no rosto ao me ver.

João! Era João … Sem campus e sem barba o reconheci e ele a mim.

Eu fui ao seu encontro e ele apenas segurou minhas mãos beijando-as. Sempre galante.

– Como vai Melissa? Quanto tempo … Que linda estas.

O tempo parou para nós.

O que falar para alguém com uma doença rara sem expectativas de vida, mas com um sorriso apaixonante de sempre?

A noite foi uma criança agradável com jeito de gente grande sem conversas chatas.

Todos foram sim e estavam lindos.

Otavio com seu marido. Maria ainda solteira e Luana separada, estava com seu casal de filhos. Parecia bem-sucedida e competente. Era dona de lojas de roupas de sucesso.

Realizamos até sarau com os textos de meu livro. Dançamos também um forró em homenagem ao meu Nordeste e Nordeste de João .

Nos emocionamos muito e ficamos de nos encontrar em breve.

“É preciso cuidar da vida da gente e também da vida alheia, risos, não no sentido pessoal mas festeiro de sempre se cercar de amigos divertidos e inesquecíveis. Tudo começa com uma ideia, finalize. Isso é aproveitar cada momento como se fosse o último. É o que podemos fazer de melhor por nós.” João de Luz.

Dois dias depois de nosso encontro ele faleceu.

E você, o que está esperando para aproveitar os melhores momentos da vida como se fossem os últimos?

Lina Veira

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Natal. Abertura ao outro

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Artigo

‘Natal. Abertura ao outro’

Diamantino Bártolo
Diamantino Bártolo
"O reencontro dos familiares, também dos amigos verdadeiros, naquele dia mágico..."
“O reencontro dos familiares, também dos amigos verdadeiros, naquele dia mágico…”
Microsoft Bing – Imagem criada pelo Designer

Ano após ano, a festa tradicional, alegadamente da família, celebra-se com mais ou menos pompa e circunstância, designadamente, nas suas principais dimensões: material, religiosa, social; ou conforme os objetivos de cada pessoa, independentemente dos seus valores, crenças, tradições e cultura; e, também, ainda há quem passe indiferente por esta festa, encarando o dia de Natal, como um outro qualquer dia do calendário anual.

Na cultura da sociedade Portuguesa, o Natal continua a ser a festa da família, período de tempo em que se procura reforçar os laços parentais ou, em muitos casos, a reconciliação dos entes mais queridos que, por vicissitudes várias da vida, estiverem desavindos durante mais ou menos tempo.

O reencontro dos familiares, também dos amigos verdadeiros, naquele dia mágico constitui motivo de grande felicidade e de quantas vezes, acerto do passado, da resolução de situações mal resolvidas ou, ainda, por solucionar, de cedências, desejavelmente, sinceras e generosas, das partes até então conflituantes.

Natal de todos, para todos e com todos: adultos e crianças; famílias e amigos; colegas de trabalho e patrões; camaradas de armas, independentemente de o serem em tempo de guerra ou de paz; tempo para recordar traquinices de infância, malandrices escolares, paixonetas de adolescentes, namoros e compromissos, enfim, um mundo de vivências e de recordações, que se tenta reconstruir, se possível com as pessoas que também as experimentaram connosco.

Mas esta magia, que tão bem carateriza o Natal, vive-se, ainda mais intensa e sinceramente, no mundo das crianças, que, na sua ingenuidade e simplicidade, aguardam com imensa ansiedade, a “chegada” do “Menino de Jesus”, precisamente na noite da consoada, em que a família, os amigos incondicionais, quando convidados, se juntam para tomarem a refeição tradicional daquela noite mágica, e que varia, relativamente, de região para região, mesmo dentro do próprio país.

Em geral, as famílias constroem o presépio, alusivo ao nascimento de Jesus, implantam a denominada “Árvore de Natal”, que enfeitam e iluminam, no cimo da qual é colocada a estrela, qual farol que, dias mais tarde, nos princípios de Janeiro, guiará: “na tradição cristã, os três reis magos eram sábios que vinham do Oriente à procura do menino Jesus. Ao encontrarem Cristo, prestaram-lhe culto e deram-lhe presentes. 

“Segundo a narrativa bíblica, os reis magos vieram do Oriente à procura do recém-nascido menino Jesus a fim de adorá-lo e oferecer-lhe presentes. Apesar de serem descritos em algumas versões da Bíblia apenas como magos (termo utilizado para referir-se a homens sábios, eruditos), essas figuras foram convertidas ao longo da história em reis, por isso, são conhecidos hoje como “três reis magos”.” 

“Os magos, então, ofereceram ao menino Jesus três presentes: incenso, mirra e ouro. Após isso, foram avisados por Deus em um sonho que não deveriam informar nada a Herodes e, assim, retornaram para sua terra por outro caminho.” (in: https://brasilescola.uol.com.br/natal/reis-magos.htm)

O presépio é, porventura, o símbolo maior e mais encantador do Natal. Ele como que irradia uma atração irresistível, as figuras que o integram, parecem reais, com vida e, bem protegida, a cabana onde estão Maria e José com o seu filhinho, Jesus, aquecidos, naquela noite fria de dezembro, pelos animais.

A simplicidade, a humildade e o amor estão ali expostos para o mundo habitado por uma humanidade que não consegue entender-se, devido aos mais diversos e, por vezes, incompreensíveis e inaceitáveis interesses, não obstante todas as pessoas terem perfeito conhecimento que, sem exceções, a vida físico-intelectual e sócio material é, tão só, uma passagem efémera, por um mundo que se renova e morre a cada instante.

O Natal das crianças, também dos adultos, deveria ser uma quadra de paz, de alegria, de fraternidade e de perdão, quanto mais não fosse por um futuro melhor, no qual se possa acreditar, que seria: de conforto, de abundância, de tranquilidade, de segurança, de liberdade, de igualdade, de justiça, de paz, de solidariedade, de amizade, de lealdade e de gratidão, entre pessoas e povos que habitam um mundo que, afinal, não é deles.

A Quadra Natalícia, tal como a Quaresma por ocasião da Páscoa, porém, numa perspetiva diferente, designadamente para as religiões que comemoram estes períodos festivos, reveste-se de um significado muito intenso, porque vivido com as mais profundas convicções culturais, e uma Fé muito grande no devir melhor. É um tempo mágico, de esperança.

O Natal, para quem acredita que pode ser uma Festa da Família, que neste período é possível resolver muitas situações do passado, proteger um futuro de concórdia, enfim, para quem deseja viver esta festa com o coração, deve ser encarado como mais uma oportunidade de vida, agora, no sentido de que há sempre uma porta aberta, (uma oportunidade) e, quando esta, apesar de tudo, se fecha, é preciso confiar na possibilidade de que uma janela poder abrir-se para a bem-aventurança.

Aproveito esta oportunidade para: primeiro, pedir desculpa por algum erro que, involuntariamente, tenha cometido e, com ele,  magoado alguém; depois para desejar um Santo e Feliz Natal, com verdade, com lealdade, com gratidão, seja no seio da família, seja com outras pessoas, com aquela amizade de um sincero «Amor Humanista» e muito reconhecimento pelo que me têm ajudado, ao longo da minha vida, compreendendo-me e nunca me abandonando. 

É este Natal, praticamente simbólico, que eu desejo festejar com a alegria possível, pesem embora as atuais restrições e condicionalismos, impostos por um conjunto de situações cruéis, que atiram cada vez mais pessoas para a miséria, fome e morte.

Finalmente, de forma totalmente pessoal, sincera e muito sentida, desejo a todas as pessoas que, verdadeiramente, com solidariedade, amizade, lealdade e cumplicidade, me têm acompanhado, através dos meus escritos, um próspero Ano Novo e que 2024 e, desejavelmente, as muitas dezenas de anos que se seguirem, lhes proporcionem o que de melhor possa existir na vida, que na minha perspetiva são: Saúde, Trabalho, Amizade/Amor, Felicidade, Justiça, Paz e a Graça Divina. A todas estas pessoas aqui fica, publicamente e sem reservas, a minha imensa GRATIDÃO.  

Venade/Caminha – Portugal, NATAL de 2023

Com o protesto da minha permanente GRATIDÃO

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente Vitalício (Não Executivo) do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

Contatos com o autor




Quando nada me vê

Resenha do livro “Quando nada me vê”, de Thais Carolina da Silva, pela Editora Hope

Capa do livro "Quando nada me vê", de Thais Carolina Silva, pela Editora Hope

RESENHA

Este livro conta a história de Júlia, uma bailarina e artista plástica negra, competente, linda e amada por todos.

Julia mudou-se recentemente, após a morte do pai , para um apartamento num prédio cheio de senhoras simpáticas.

Trabalha em dois lugares, e ainda tem sua religião de matriz africana, o Candomblé, ao que se dedica tempo e felicidade por saber que sua vida é um milagre dos Orixás.

Tudo na vida de Julia caminhava em total tranquilidade até que ela, por descuido, ao pintar o muro em frente ao prédio onde mora, deixa cair a lata de tinta em cima de um homem que passava.

Sua vida daí em diante nunca mais será a mesma…

‘Quando nada me vê’ é um livro que aborda muitos assuntos importantes como o preconceito racial, religioso e de gênero.

Com muita sagacidade, Thais nos fala da dor que cada um destes preconceitos causam nas pessoas, o quanto isso ainda está enraizado em nossa sociedade.

Como as pessoas negras são julgadas pela sua cor, não levando em conta sua competência.

Nos fala também da dor do preconceito de gênero, do processo de libertação do medo e da felicidade em assumir sua posição neste contexto de ser o que você quiser, e ser feliz assim.

E também aborda a intolerância e o preconceito relativo às religiões de matriz africana.

Não é macumba!

Nunca foi!

Macumba é um instrumento musical.

Candomblé e Umbanda são religiões de matriz africana, que cultuam os Orixás e seus guias.

Um terreiro é onde se pratica caridade, amor e solidariedade.

E onde há paz!

Um livro de muita clareza e empoderamento.

Lindo, absurdamente emocionante.

Eu, particularmente, posso dizer que nunca chorei tanto lendo um livro.

Recomendadíssimo.

Assista à resenha do canal @oqueli no Youtube

SOBRE A OBRA

Por ser muito musical, a ideia desta obra surgiu com Thais escutando Alejandro Sanz, “Cuando nadie me vê”.
Ela decidiu falar um pouco sobre coisas que a incomodam e sobre o sagrado africano.
O intuito deste livro foi passar um pouco da vivência da autora, do que é cultuar uma religião de matriz africana, além de abordar o preconceito em várias outras formas.
“Quando nada me vê” passa mensagens poderosas e de muita importância para todas as pessoas.

SINOPSE DO LIVRO

Viver em sociedade é muito mais do que ser visto e julgado; é uma experiência de constante condenação.

As pessoas se vestem com máscaras para disfarçar quem realmente são, escondendo-se atrás de portas abertas para evitar o sentenciamento implacável dos outros.

Alberto, um homem comum, tem sua vida virada de cabeça para baixo quando é atingido por um banho de tinta.

É nesse momento inesperado que ele encontra Júlia, uma professora de balé negra, de sorriso cativante e mãos habilidosas com a pintura.

Enquanto ele a julgava inicialmente como irresponsável, Júlia abre as portas do seu apartamento e revela a verdadeira essência de sua alma.

Lá, Alberto se depara com um espelho, com a frase inspiradora escrita: “A pessoa que estás vendo, vai te levar aonde quiseres!”.

Essas palavras provocam uma profunda reflexão em Alberto, abrindo sua mente para uma nova perspectiva sobre como a sociedade enxerga as pessoas.

Júlia, por sua vez, não apenas abre a porta do seu apartamento para ajudar Alberto, mas também abre sua vida e compartilha seu mundo com ele.

Ela revela a ele a beleza e a liberdade que existem nos bastidores, longe dos olhares críticos.

Júlia dança como se ninguém estivesse assistindo, expressando sua verdadeira essência, e quando pincéis tocam sua pele, ela se torna tão transparente quanto as águas de Oxum, revelando sua autenticidade.

Com o rio Guaíba como testemunha silenciosa e a sociedade como juíza implacável, a vida de Júlia e Alberto nunca mais será a mesma.

Eles desafiarão as convenções, romperão as barreiras do preconceito e descobrirão a força transformadora da verdadeira conexão humana.

Em meio a um mundo onde todos estão mascarados e julgados, Júlia e Alberto encontrarão coragem para se libertar e revelar sua verdadeira essência, desafiando os limites impostos pela sociedade.

Esta é uma história de amor, autenticidade e redescoberta que irá cativar e inspirar os leitores, mostrando que a verdadeira felicidade reside na quebra dos padrões e na busca pela nossa própria voz.

SOBRE A AUTORA

Foto da autora Thaís Carolina Silva, autora de "Quando nada me vê", pela Editora Hope

Thais Carolina Silva, tem 39 anos, nascida em Campinas mas se considera Indaiatubana de coração.

Divorciada, mãe de três meninas.

Formada em Rádio e Televisão e pós-graduada em marketing, tudo pela Seusp de Salto, onde mora.

Trabalha como radialista na FM 90, rádio cidade de Itu, Grupo Periscópio de Comunicação e no Jornal Periscópio.

Escreve desde os 10 anos de idade.

As primeiras cenas que escreveu foram de Imprecisos estilhaços, mas não tinha este nome na época.

Tem Tdha e Dislexia, porém isso não a impediu de ascender na carreira de radialista e de escritora, sua profissão e ofício que desenvolve com maestria.

Como mãe, profissional e escritora se sente feliz, privilegiada e um pouco sobrecarregada.

Uma pessoa que ama ler, estudar e se aprimorar em tudo que lhe causa curiosidade e inconformismo.

Seu maior orgulho é ser do interior, onde se sente em paz e pode transformar toda sua paz em escrita e boas mensagens.

OBRAS DA AUTORA

Capa do livro "Quando nada me vê" de Thais Carolina Silva pela Editora Hope

Capa do livro "Imprecisos estilhaços" de Thaís Carolina Silva, pela Editora Hope

ONDE ENCONTRAR O LIVRO




Quando as cordas vibram

Resenha do livro “Quando as cordas vibram” de Renan Barros, pela Editora Frutificando.

Livro "Quando as cordas vibram" de Renan Barros, pela Editora Frutificando

RESENHA

O livro conta a história de um violoncelista que faz parte de um quarteto de cordas.
Vê seus ensaios em casa arruinados por Fátima, sua vizinha do andar de cima.

De lá vinham barulhos horríveis, sons altos e ruídos perturbadores, inclusive pedidos de socorro.

À medida que os dias foram passando, cada vez mais Roberto se preocupava com o que estava acontecendo, e resolve confrontar a vizinha.

Mas aí a história toma outros rumos

Uma trama de mistério e desencontros, que aguça a curiosidade de quem lê.

Uma narrativa surpreendente numa escrita muito bem elaborada.

Um livro ótimo! Super recomendo!!

Leiam!

Assista à resenha do canal @oqueli no Youtube

SOBRE A OBRA

Renan Barros, sempre quis escrever alguma história que estivesse relacionada à música.

Houve um período em que fez uma tentativa de aprender, ainda na pré-adolescência, a tocar violoncelo, na Guri Santa Marcelina, instituição que ensina música aos jovens de forma gratuita.

Mas acaba percebendo que precisaria de mais dedicação do que imaginou para ser um violoncelista digno.

Afinal, um instrumentista de verdade encara a música como um amor que leva para a vida toda, o que ele realmente sentia era uma paixão, que logo esfriou.

Porém, o amor à música clássica, principalmente por instrumentos de corda, perdura até hoje.

Além disso, há outras coisas que serviram de inspiração para “Quando as Cordas Vibram”, como por exemplos filmes “Whiplash: Em busca da perfeição” e “A perfeição”.

Ambos falam do sucesso e das infelicidades que a dedicação excessiva às partituras pode trazer para um músico. Esse contexto ajudou a criar o clima para a história.

Outras obras também serviram de inspiração, tais como “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz, e de “Laços de família”, de Clarice Lispector. Especialmente o conto “Amor” (da antologia de Clarice) serviram de auxílio.

Lidas e apreciadas pelo autor, alguns personagens destas obras foram nortes e base para que fossem desenvolvidos os personagens de sua obra.

Renan traz em sua obra a singularidade de um mistério cheio de leveza, uma história de família dramática apresentada aos poucos, trazendo a narrativa um desenrolar contínuo e tranquilo.

SINOPSE DO LIVRO

Roberto é um violoncelista que precisa de dedicação, mas os ruídos de Fátima — vizinha que mora no apartamento acima — acabam desconcentrando-o.

Os barulhos aumentam a cada dia e tudo se acentua quando o músico pensa ouvir um pedido de socorro vindo da moradia da mulher…

SOBRE O AUTOR

Foto do escritor Renan Barros

Renan Barros da Silva, paulistano do Grajaú, (zona Sul de São Paulo),nasceu em 2002.

Tomou gosto maior pelos livros no último ano do Ensino Médio, após a leitura de “Dom Casmurro”.

Daí em diante, o interesse pelos Clássicos Nacionais aumentou, e a vontade de aprender mais sobre o próprio idioma.

Influenciado por tudo isso e com todo apoio da sua professora de Língua Portuguesa, hoje é graduando em Letras.

OBRAS DO AUTOR

Capa do livro "Quando as cordas vibram" de Renan Barros, oela Editora Frutificando

ONDE ENCONTRAR O LIVRO


Resenhas da colunista Lee Oliveira




Fernando Matos: 'Amigos das Letras'

Fernando Matos

Amigos das Letras

Para comemorar os 28 anos de existência e resistência cultural do Jornal Cultural ROL, ofereço este singelo conto poético para lembrar a todos nós que somos “Amigos das Letras” que se perpetuam na essência humana.

Parabéns a todos do Jornal Cultural ROL e vida longa aos nossos escritos infinitos.

Amigos das Letras

Numa cidadezinha longínqua e esquecida pela humanidade moravam dois jovens que eram amigos ainda quando crianças, a vida continuou seu curso e eles cresceram cada um com sua beleza ímpar além de uma forte corrente literária e romântica… A primeira carta entre eles surgiu:

Estou aqui só

Mas em boa companhia

Troco um beijo pela poesia

Na bela manhã de sol…

Todo caminho não é uma reta e qualquer surpresa na próxima esquina nos espreita. Emily e Felício além de ótimos filhos e bons amigos gostavam de construir juntos belos trabalhos poéticos. Naquela linda e pacata cidade a comunicação ainda era olho no olho, as horas tinha asas nos minutos próximos quando os dois estavam juntos. No entanto, uma linda tarde de um dia perdido na história o Felício recebeu um telegrama convidando-o para um recital na capital junto aos nobres e ilustres mestres da poesia regional. A alegria não precisa dizer que foi geral nas duas famílias, enfim um jovem de uma pequena cidade estaria pisando em solo de grande prestígio. Logicamente a ida de Emily estava confirmada também, sua fiel e amada companheira de versos compartilhando esse momento inesquecível. O mais belo de todos os dias havia chegado na hora exata do tempo e as malas há muito prontas com vestimentas e uma cabeça cheia de estrofes. Toda cidade participou da despedida dos jovens que prometeram as suas famílias na volta outro memorável acontecimento, o enlace matrimonial.

O trem partiu para capital ao som da banda municipal, lenços acenavam até a locomotiva dos sonhos sumir na longa curva. Algumas horas depois a rádio local anunciava em noticiário extraordinário o descarrilamento de um sonho partido por obra do destino… O município parou, o silêncio tomou conta de toda esquina e lágrimas inundaram corações partidos. No dia do sepultamento até o sol amanheceu frio e a vida parecia não querer continuar com saudade do casal e suas poesias. Todavia sentimento gerado no conforto do amor verdadeiro não se perde no cair da noite infinita. A alma pura cria caminhos alternativos e toda lembrança se alcança na estrada da memória eterna. Emily e Felício não conseguiram concluir a passagem devido à forte saudade que a cidade natalícia emanava e preocupados com o novo destino inevitável, pensaram que poderiam transformar aquelas lágrimas em flores e a saudade em reminiscências presentes em cada coração nostálgico sem perder o brilho mágico da partida e escolheram um poeta como mediador de suas palavras rimadas, as quais seriam perpetuadas em livros de contos de amor incondicional.

Assim no caminho da Verdadeira Vida escolheram um amigo das letras e dele o fez mensageiro da vida invisível…

Amigos das Letras

Somos voláteis até mesmo a própria essência

Partimos com alegria e afago no coração

Não existe canção que defina a frequência

Da comunicação… O Adeus jamais será prisão.

 

Estaremos nesse ar que se respira

A vida não se perde na luz ponte

O dolente sentimento mudará

Novos versos no insistente presente

Que no amanhã surgirá…

 

Agora iremos partir rumo ao desconhecido

Deixando aqui na alegria desses versos

Um abraço fraterno no coração amigo

Na certeza do reencontro no imensurável

Universo.

Novamente a cidade parou para ouvir e reconhecer aquele conjunto de composições poéticas. Então cada tristeza se transformou em louvor ao incomensurável amor incondicional. Novas alvoradas apareceram e a cidade que antes era tão longe do coração da capital tornou-se arquétipo vivo da eterna união.

 

Fernando Matos

Poeta Pernambucano

Dr h.c em Arte e Poesia

Dr h.c em Comunicação Social

(Direitos Reservados ao Autor da Obra)

http://poetafernandomatos.blogspot.com.br/




Cláudia Lundgren: 'Aos amigos de longe'

Cláudia Lundgren

Aos amigos de longe

  Estive em busca de amigos. Procurei-os nos lugares mais próximos: na parede-meia, na casa ao lado, dentro do meu quarteirão. Via muitos rostos na rua, sempre os mesmos, e procurei neles encontrar a amizade. Mas, na verdade, o que encontrei, na sua maioria, foram tão somente cumprimentos de “bom dia”.
Talvez pelo meu jeito tímido de ser e aparentemente seco, a culpa seja totalmente minha por não ter a arte de cultivar amizades, principalmente nos pontos de ônibus da vida ou nas esquinas do meu bairro. Não são poucas as vezes em que saio e volto calada. Eu sei: amizade tem relação direta com a comunicação.
Sinto-me bem mais confortável escrevendo. Sabe aquela história, “Meu querido diário…’? Pois é. Sempre foi assim. Para mim é muito mais fácil expressar através da caneta, ou do teclado do celular, minhas ideias e sentimentos.
Claro, tenho amigos de perto. Como diz a frase clichê: “Poucos, mas verdadeiros.”. E como eu disse, talvez por minha culpa mesmo.
Mas, voltando ao assunto da escrita: quando ingressei nesse mundo encantado e comecei a postar meus primeiros rabiscos, mal sabia eu que, ali onde eu nem sequer procurava, e nem ao menos imaginava, encontraria muitos deles: os amigos.
Fui adicionando pessoas do meio literário, em minha rede, e mal sabia eu que pescaria amigos.
Confesso que meu pensamento é um pouco rígido e que custei para me acostumar com a ideia de enviar áudios. O meu “eu artístico” grava vídeos, já participou de algumas lives, mas o meu “eu pessoa” jamais conversou com alguém por chamada de vídeo. Minto! Já fiz com meu neto e minha filha.
Eu preferia apenas digitar. Era um misto de timidez com “o não querer”,  simplesmente. Com o passar do tempo, e também pelo tempo cada vez mais curto, fui aderindo às mensagens faladas.
Encontrei aqueles que falavam pouco, e também, os que falavam por horas; quem falava diariamente, e os que somente no momento necessário. Entre eles, fiz colegas e amigos.
São muitas as formas de se expressar amizade. São amigos os que nos emprestam dinheiro, e são amigos igualmente aqueles que oram pela sua vida ou emprestam seus ouvidos. Amigo é todo aquele que te levanta quando você cai. Eles nos amam na riqueza ou na pobreza; na saúde ou na doença; magros ou gordos; na velhice. Amizade é, de certa forma, um matrimônio. Amigos te amam pela sua essência, por aquilo que você representa. E cada um tem seu próprio jeito de demonstrar amizade, através de gestos, falas, ou até mesmo de silêncios. Eles nos aceitam como somos. Com eles já dei boas gargalhadas, já chorei junto, e também me emocionei. Cada um deles são anjos que todo dia batem a minha porta.
Encontrei amigos que nunca nem ao menos vi. Encontrei mãos que jamais toquei. E para mim não tem esse negócio de amizade virtual. Amigo que é amigo é carne, é osso, é sentimento é real. São pessoas como eu, no outro lado da tela.
Existem aqueles que dormem ao seu lado e te traem, e em contrapartida, os que te estendem a mão do outro lado do mundo.

Claudia Lundgren tiaclaudia05@gmail.com

 

 

 

 

 

 




Leandro Campos Alves: 'O canto de um bêbado'

Leandro Campos Alves

O canto de um bêbado

Foto: freepik – Homem Louco e Bêbado. Autor: luis_molinero – br.freepik.com

Olá, me chamo Carlos.

Ontem eu estava em uma festa com os amigos, e entre um bebida e outra, a noite foi passando e não percebi que a madrugada estava batendo à nossa porta. Kkkk.

Digo à porta da nossa boemia, afinal, entre amigos não procuramos mulheres, paixões e aventuras, apenas contamos piadas e causos, assim é a noite de encontro entre amigos. E foi exatamente numa destas noites que eu fiz de meu melhor amigo, meu apoio inconsciente de delação.

Já era madrugada beirava quatro horas da manhã, a esta altura já tínhamos tomado todas, era uma piada e um gole a mais. Pensando bem eu estava praticamente lúcido, pelo motivo principal que levava o nome de “Dona Maria” exatamente. Ela provavelmente estava me esperando em casa, e ai de mim se chegasse de madrugada cheirando perfume de mulher ou cambaleando sobre as pernas, por este fato sempre fui um dos mais controlados entre os amigos.

E foi este fato que me levou a maior gafe da minha vida, pois ao ver as horas eu avisei aos companheiros que já estava de partida, pois do bar que estávamos até em casa eu teria que dirigir meu carro por uma rodovia estadual. Até aí normal, pois não seria a primeira vez que eu faria este percurso depois de beber, porém um dos companheiros daquela noite era meu compadre que morava uma quadra abaixo da minha casa, e ele realmente tinha passado um pouco do limite na bebida, por este motivo meu compadre ouvindo que eu estava de saída me pediu um favor.

Ele pediu que eu fosse na frente e se eu visse a polícia na rodovia, era para avisá-lo pois ele iria logo atrás.

Parecia que ele tinha adivinhado que ¨os homens¨ estariam naquela noite à espreita na rodovia, pois logo que eu os vi reconheci o sinal deles me ordenando a parar. Parei como se nada estivesse de errado, foi quando o policial pediu-me para fazer o teste do bafômetro. 

Logo pensei:

“Tranquilo, afinal eu tinha bebido muito pouco e estava praticamente lúcido.”

Triste ilusão! Tão logo soprei aquele troço os policiais avisaram que teriam de prender meu veículo, pois o bafômetro tinha acusado que eu tinha bebido além da conta. 

Comecei a tentar mudar aquela situação tentando convencer os policiais que eu estava bem, mas nada adiantou. Falei mil vezes que era para eles me liberarem e nada. Realmente eu estava numa situação muito ruim, ainda mais lembrando que se eu pedisse socorro para minha esposa seria pior e se não chegasse em casa, estaria frito.

No ato da confusão com os policiais, logo eu soltei a minha gafe.

“__Olha, senhores policiais, se acham que estou bêbado, esperem meu amigo que está vindo logo atrás para ver o que é estar bêbado de verdade.”

Não deu outra. Meu carro ficou detido e meu compadre passou duas noites preso por dirigir embriagado e por desacato a autoridade.  

Ainda somos amigos, mas sempre nas rodinhas entre nós este acontecimento é relatado da boca de meu compadre que é meu amigo, porém… Ele nunca mais pediu minha ajuda para escapar dos homens da lei. 

 

Leandro Campos Alves

Crônica finalista nacional 2014 pela Academia de Letras de Teófilo Ottoni