Resistência

Loide Afonso: Poema ‘Resistência’

Loid Portugal
Loid Portugal
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Tum tum
Tum tum
Dois batimentos por vez
Foi assim que
Eu senti
Meu coração bater

Sabes quantos segundos tem um milésimo?

Não.
Ou talvez saibas
Será que Pitágoras sabia?

Pode ser que sim
Pode ser que sim
Que não
Ou meio sim
Meio não

Só lembro das batidas
Como se eu fosse
Ter um ataque
Ataque de realidade
Isto existe?

Tabom, vou ser mais prática
Talvez foi
De pânico
Mais não senti medo
Dor
Nem angústia

Foi seco
Sem cheiro
Cor
Ou sistemático

Alguém aquí já esteve num terramoto?

Se nunca esteve, nunca saberá
Bem, não vou me revelar contra
O sistema.

Já passou.

Loid Portugal

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Vitamina D

Loide Afonso: Poema ‘Vitamina D’

Loid Portugal
Loid Portugal
Imagem criada por IA no Bing - 19 de março de 2025, às 15:58 PM
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às 15:58 PM

Olhar distante
Cabeça pra baixo
Corpo doce
Alma vazia

Você já comeu
Pó?
Arranhou seu rosto
Chorando?
Sentiu angústia
E olhou de lado
E estava sozinho?
Calma.
Vá dar uma volta
Corra
Leia um livro
Saia
Espera, você já dançou na frente do Sol, logo de manhã?
Sentiu o cheiro das plantas da sua casa?
Se abraçou e se pediu desculpas hoje?
Se olhou na alma e disse: você é um amor?
Olhou o céu hoje e viu os pássaros?
Você sabe mesmo, qual é a sensação de respirar conscientemente?
Ufh!

Loid Portugal

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O toque divino

José Antonio Torres: Poema ‘O toque divino’

José Antonio Torres
José Antonio Torres
Imagem gerada por IA do Bing - 12 de novembro de 2024 
às 7:18 AM
Imagem gerada por IA do Bing – 12 de novembro de 2024
às 7:18 AM

Caminhava olhando para baixo…
Vez por outra, olhava para os lados e para a frente,
Mas não importavam as paisagens, as pessoas…
Vivia ensimesmado…
Uma angústia fria e torturante habitava em mim;
Perdido, não conseguia divisar uma saída…
Esticava meus braços para baixo
E só havia a terra fria e árida…
Estendia-os para os lados e não encontrava amparo…
Ao estende-los para a frente,
Via o futuro fugir e se distanciar de mim.
Quando o desespero e o desânimo já tomavam conta do meu ser,
E com o espírito destroçado pelo vazio da minha existência,
Em uma súplica final,
Ergui os braços para o alto e,
Como um raio quente e revigorante percorrendo meu corpo,
Senti o toque suave e acolhedor da mão de Deus.

José Antonio Divino

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O vazio

COLUNA PSICANÁLISE E COTIDIANO

Bruna Rosalem: ‘O vazio’

Bruna Rosalem
Bruna Rosalem
O vazio
Imagem criada pela IA do Bing

Vazio. Na definição do dicionário Houaiss: “Que não contém nada, apenar ar”. “Que falta fundamento, valor, substância, realidade.”. “Ausência de conteúdo, oco, vão.”. “Falta de saciedade, sentimento de insatisfação.”. Curiosamente, vazio também nomeia uma parte do boi, muito utilizada em churrascos, “o vazio da carne”.

Numa outra ótica bem diferente, temos o lugar de vazio do analista numa sessão de manejo psicanalítico. Aquele que faz semblante do morto, o que permite ao sujeito escutar-se em sua própria história.

Várias definições tentam significar esta palavra e trazer algum sentido. Nas ciências exatas, por exemplo, na Matemática, temos o conjunto vazio. Na Física, a ideia de vácuo, ou ainda, o espaço não ocupado por matéria.

Se utilizarmos vazio enquanto metáfora, teremos uma série de possibilidades em que esta palavra pode ser aplicada: “Estou me sentido vazia, oca por dentro, uma tristeza sem fim.”, “Meu estômago está vazio, sinto fome!”; “Acho que minha vida está vazia, não tenho sonhos, desejos, nem propósitos…”.

Paradoxalmente, a palavra vazio sugere ausência, mas ao colocá-la em cena, ela se presentifica. Anne Frank, adolescente alemã de origem judaica, vítima do Holocausto que ficou famosa pela publicação póstuma de seu diário, dizia: “Aquele vazio, aquele vazio enorme está sempre presente.”. Isso demonstra que não há como escapar desta sensação, certamente em algum momento de nossas vidas sentiremos este tal vazio que, para cada sujeito, se inscreve e se expressa de maneira singular.

Há ainda aquele sentimento de angústia que nos toma, entrecorta a carne, deixa o coração apertado, como uma espécie de ‘rombo’ no peito, um vazio na alma.

No luto, é muito comum sentir a sensação do nada, de oco. Perder alguém muito querido e amado deixa essa sensação, como se algum conteúdo fosse arrancado do corpo. É como ter a carne dilacerada, destruída, restando apenas buracos, lacunas.

A sensação de vazio muitas vezes pode tornar a existência insuportável. E por   mais que lutemos para ocupar este espaço em que ‘o nada’ existe (soa até contraditório), não há o que ser preenchido, já que o vazio enquanto metáfora, é uma tentativa de apalavrar a dor de sentir que algo perdeu o sentido, o brilho, o fervor, a excitação.

Consciente disso, é possível que o vazio se torne objeto de investigação para o sujeito abrir-se para o desconhecido, para o enigmático inconsciente com vistas a possíveis elaborações.

O vazio é um sentimento inevitável em nossa história, a questão é como lidaremos com algo tão presente e tão visceral. Precisaremos mergulhar pelas profundezas de suas raízes… quem sabe.

Bruna Rosalem

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Desabafo poético

Verônica Moreira: ‘Desabafo poético’

Verônica Moreira
Verônica Moreira
Poetisa, um ser que se atreve a tocar o sol sem medo de se queimar por completo
Poetisa, um ser que se atreve a tocar o sol sem medo de se queimar por completo
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Meu sentimento por ele é profundo, é como amar a morte, pois somente ela nos liberta da angústia de desejar sem poder alcançar.

Talvez eu pareça tola, ou talvez carente, ansiando por viver um amor intenso, carnal e voraz.

Eu gostaria de ser como os outros, mas o destino decidiu que eu seria uma poetisa. Um ser que se atreve a tocar o Sol sem medo de se queimar por completo.

Por que escolher ser poeta? Havia opções mais discretas! Por que me tornei poetisa? Tive que abrir mão de tantas coisas!

Oh, meu Deus, por que tantas divagações, tantos conflitos e desejos? Não poderias afastar de mim este sofrimento?

Estou perdida, transbordando de emoções. Não sei se consigo ser feliz com tantos desabafos poéticos sufocados.

Não posso provocar ciúmes, não posso ser genuína, não é possível ser feliz sem ser um pouco louca.

Eu o amo, o amo como quem espera a sorte, como quem ama a morte.

Verônica Moreira

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Uma voz chorosa

Verônica Moreira: ‘Uma voz chorosa’

Verônica Moreira
"Como não sentir, se tudo em mim são emoções transcendentais, sentimentos que nem eu mesma sei decifrar..."
Como não sentir, se tudo em mim são emoções transcendentais, sentimentos que nem eu mesma sei decifrar…”
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Dentro de mim, uma voz chorosa ecoa.

Sinto o coração queimar no peito, urge expor o que vai na alma!

Lá no íntimo, essa voz lacrimosa clama por alívio.

Permita-me entoar meus versos, dissimular minha angústia nas entrelinhas.

Mesmo que minha poesia pareça assombrosa…

É preciso escrever com rapidez, pois minha aflição corre como água de cachoeira e devo levá-la até a margem, onde certamente encontrarei refúgio.

Como não sentir, se tudo em mim são emoções transcendentais, sentimentos que nem eu mesma sei decifrar, um emaranhado de sensações!

Eruptivas explosões, terremotos poéticos, chama ardente no coração que me consome por inteira, deixando-me em cinzas, à beira de um rio plácido e sereno.

Afinal, afogar-me em amor é a única maneira de prolongar a existência por mais um instante?

Deixe-me afogar meus sentimentos. Talvez não seja amor.

Verônica Moreira.

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A porta

Sergio Diniz da Costa: Conto ‘A porta’

(Contos da adolescência)

Sergio Diniz
Sergio Diniz
Uma porta misteriosa, semiaberta
Uma porta misteriosa, semiaberta
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Todos corriam em direção à porta semiaberta. Dia e noite era sempre a mesma coisa, a mesma correria frenética, incontrolável.

Era gente que perguntava, gritava, implorava para ter sua passagem livre àquele lugar de procura, de angústia e de incerteza.

O que haveria atrás dela? Ninguém sabia, mas todos a procuravam. E a cada dia, mais pessoas chegavam àquela passagem enigmática.

Loucas correrias. Pessoas que caiam e não mais se levantavam. Os mais fortes subjugavam os mais fracos; os mais ricos esmagavam os mais pobres. E tudo, para ter o privilégio de ser o primeiro a transpor o enigma indecifrável. Diante desses fatos, os fracos e os pobres ficavam sempre por último.

Uma multidão acabou se prostrando diante da porta. Em seus rostos via-se o estigma deixado pelo supremo esforço. Rostos encarquilhados, faces emaciadas pela energia gasta na terrível batalha competitiva.

Alguém, do meio da turba, reunindo suas últimas forças, sobressaiu-se e, caminhando em direção à porta, abriu-a. A multidão, arrefecida pelo cansaço, adquiriu novo alento e arremessou-se pelo portal adentro.

Todos cometeram, porém, o mesmo engano: na pressa, ninguém se lembrou de levar alguma coisa consigo, e no interior da porta não havia luz, somente o silêncio de um sepulcro violado.

O terror começou tomar conta daquela gente. Um frio seco se infiltrou no sangue de todos, que passaram a procurar agasalhos e, como nesse local não os havia, os mais fortes atacaram os mais fracos e os mais ricos compraram dos mais pobres.

Ao fim de algum tempo, os mais fracos e os mais pobres pereceram. O frio, no entanto, continuava intenso. E manifestou-se a fome. E não havia alimentos.

Pressionados pela fome, os que restaram começaram a negociar. Entretanto, por mais soluções que tentaram encontrar, nada apagou a lembrança do alimento. Desta forma, como por um acordo tácito, os sobreviventes começaram a se devorar. E, no final, não restou ninguém, pois o último homem se autodevorou.


Sergio Diniz da Costa

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