Flua, ó minha alma, ouse pensar diferente! Derrame essências na própria compostura reluzente! Siga assertiva em cada resposta! Um espírito autêntico nunca sobra! É indispensável realmente!
Siga exalando intelectualidade! Num mundo farto de mediocridade! Tua Arte não é para as massas, na verdade! É pr’os seletos, qualitativamente! C’a compostura fiz convênio… Imponho-me até c’o meu silêncio! Flua, ó minha alma! Como o voo dos gênios! Tens um espírito antigo como os milênios! Viventemente!
A poesia te escolheu de modo formidável! Flua como o voo d’um gênio insondável! Prefira a liberdade dos pássaros a um ninho ‘confortável’… Flua livremente!
Soberania interior, com certeza! Movo-me com domínio de mim mesma! Senhora de minha inteireza! Irrevogavelmente.
Ó poesia…que eu sempre a componha! A Arte de dominar o verbo com o espírito terno dos que sonham… Que os montes da inconsciência eu transponha! Sempre e persistentemente.
Rótulos ideológicos são irrespiráveis! E a insensibilidade moderna e seu empobrecer são inegáveis! Não busco eco nas multidões manipuláveis… Busco a raridade sempre! Não busco validação nas massas numéricas… Busco as almas despertas em dialética! Que transbordam autossoberania e ética… Cavalcantemente!
Toda a Arte é expressão, mas nem toda a expressão é Arte, porque, efetivamente, não há Arte no deficiente que é mudo, como não há Arte naquele que, emotivamente, se exprime de forma inarticulada. A Retórica no sentido depreciativo, deturpando a palavra, simulando expressão, também não é arte.
A expressão artística não pode ser deficiente, nem transcendente, nem insuficiente, nem excessiva, mas pode haver arte na introdução intencional do teatro, da pintura, da escultura, da arquitetura. No estudo sobre a arte, o autor destas três situações, José RÉGIO, destaca igual número de aspetos eliminatórios de arte.
Uma expressão existe que não chega a ser Arte, pela qual se pode imaginar uma pessoa que, visivelmente emocionada, não consegue exprimir-se com clareza e rigor, por mais compreensível que seja a mímica, por mais profunda que seja a sua dor, no entanto, tais manifestações são uma forma de expressão.
Toda e qualquer expressão vital: desde o silêncio ao grito angustiado; da tristeza à alegria; da alteração da fisionomia à descompostura do corpo; exprime, a cada instante, a infinita complexidade da vida psíquica do ser humano, mas tais expressões vitais não são expressão artística, porque lhes faltam a intencionalidade, porque revelam sinceridade, porque denotam espontaneidade, porque não há o compromisso de suscitar a admiração, nem a preocupação do receio da crítica.
A expressão artística é uma representação mediata, indireta, em relação à expressão vital, tendo, apesar disso, de comum o ser humano, daí que a reciprocidade entre as duas expressões seja uma realidade, na medida em que o artista precisa de ser uma pessoa superiormente dotada, em experiência humana, isto é, rica em sentimentos, emoções e ideias.
A arte vai beber à expressão vital, quando um simples gesto humano é captado, descrito ou interpretado por um pintor, romancista ou ator, ela até complementa a expressão vital, tornando-se, por vezes, uma substituta da vida.
Com efeito: «muitas vezes a expressão artística se afirma suplente duma expressão vital frustrada ou incompleta (…) ganhando mais força e realidade, atingirem superior profundeza e superior subtileza (…) aqueles instintos, tendências, impressões, emoções, sentimentos, ideias a que o artista não soube, não pôde ou não quis dar expressão vital.» (RÉGIO, 1980:25). Apesar de tudo, a expressão artística não substitui a expressão vital, nem tão pouco uma se reduz à outra.
A expressão artística é interessada, intencional, dirigida, ao contrário da expressão vital, que é espontânea, reflexiva e imprevidente, todavia, certas atitudes da expressão vital, como o rir, o chorar e o gritar, podem transformar-se em expressão artística, se a intenção é, efetivamente, fixar e comunicar, dentro dos mais amplos limites, no espaço e no tempo, porém, a pura expressão vital, no seu aspeto mais rudimentar, espontâneo, não chega a ser expressão artística, precisamente por lhe faltar intencionalidade, premeditação, fixação e comunicação.
Naturalmente que tais limites definidores, são-no dentro de um relativismo mais ou menos dilatado e subjetivista.
BIBLIOGRAFIA
RÉGIO, José, (1980). Três Ensaios sobre a Arte. Em Torno da Expressão Artística. 2ª Ed. Porto: Brasília Editora.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
A relação entre a Arte e a Ética apresenta, pelo menos, duas correntes, segundo as quais: a Arte tem o direito de ser imoral; a Ética deve ser moral. Entretanto, e numa perspetiva eclética, há os que defendem que a Arte é amoral.
Afirmar a amoralidade da Arte, provavelmente, comporta dois aspetos que são: negar, pura e simplesmente a possibilidade de uma relação ético-estética e afirmar que a imoralidade se dissolve no cadinho da Arte.
No primeiro aspeto: nega-se, implicitamente, a ação formativa da Arte no sentido vivo, amplo, de formação de gerações inteiras, pelo contato direto com as grandes manifestações artísticas; no segundo aspeto, a Arte transformaria tudo em que toca, e então o mais fétido lodo surgiria transformado em oiro.
Tratar o elemento estético à maneira de realidade de coisa, é tratá-lo como matéria de que o artista se serve. O artista, como tal, escolhe o que exprime, exprime o que pensa. Mas o artista pode ser moral ou imoral, mas desta situação nada se conclui para a Arte.
O preceito dado ao artista, numa perspetiva de amoralidade da Arte, destina-se a dar-lhe plena liberdade de ação ou é desnecessário? A amoralidade só pode ser preceito negativo se condicionar o passo do artista, de contrário só o liberta de uma condição prévia, ou seja, de um preceito.
A Arte jamais pode ser vista, exclusivamente, pela perspetiva da eticidade, na medida em que se pode encontrar o belo numa qualquer manifestação de Arte, seja ela moralmente condenável ou não. A Beleza abstrai-se, distingue-se e aprecia-se naquilo que ela nos toca de mais profundo, no nosso juízo de gosto, pois quem não admira um nu do Éden, quem não se maravilha com um óleo da maternidade?
A Arte e a Ética jamais se confundem, ou se condicionam, muito embora se entenda como bela uma boa ação moral, no entanto, tal beleza é de natureza abstrata, inefável e, nesse campo, poderemos relacionar a Arte e a Ética defendendo, então, que toda a atividade humana, logo e também a atividade artística, se deve conformar às leis da moral e deve ser orientada no sentido do fim último do homem, que é Deus.
Daqui não será líquido concluir que o artista tenha sempre em vista a glorificação de uma virtude, porque na alma dos espetadores a emoção estética, que o artista sentiu pela produção de tal obra, é manifestamente patente, sendo por meio desta emoção estética que a Arte se realiza, e inspira virtude, porque na verdade a emoção estética desapega a alma de tudo o que é pequeno e mesquinho, elevando-se à contemplação de Deus, fonte de toda a Beleza.
Obviamente que a Arte é um refúgio, onde o homem encontra repouso das suas preocupações vitais, porque faz nascer nele o sentimento de admiração, desenvolve a simpatia, produz o respeito, contribui para uma melhor educação individual e coletiva e, nesse sentido, se pode afirmar que um país sem Arte, é um país sem cultura, porque as obras de Arte mostram-nos o que de mais perfeito foi feito, num determinado país, durante uma época bem definida.
Naturalmente que na Arte, a que me venho referindo, tem pleno cabimento e justificação uma breve alusão à literatura, porque pela expressão escrita, o seu autor, coloca a sua sensibilidade, os seus sentimentos, a sua análise acerca do tema que aborda, deixando para os leitores a interpretação que entendem e que, em certas matérias, poderá ser muito subjetiva, tal como o autor, quantas vezes, também não consegue fugir a essa inevitabilidade.
BIBLIOGRAFIA
DUCASSÉ, P., (s.d.). As Grandes Correntes da Filosofia. 5ª Ed. Lisboa: Publicações Europa-América
HADJINICOLAOO, N., (1978). História das Artes e Movimentos Sociais. Lisboa: Edições 70
MARCUSE, H., (s.d.). A Dimensão Estética. Lisboa: Edições 70
PLAZAOLA, Juan, (1973). Introdución a la Estética. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos
SCHILLER, Johann Christoph Friedrich von, (s.d.). Cartas Sobre a Educação Estética da Humanidade. Buenos Aires: Ed. Aguilar.
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal
Ella DominiciCriador de imagem do Bing – 1º de maio de 2025, às 16:06 PM
Para que serve a Arte? Nos dar breve, mas fulgurante Ilusão de camélia Na brecha emocional Irredutível à lógica animal
Como então nasce a Arte? Da alegria em flor do espírito De esculpir lamelas da alma Em campo infinito do sensorial
O que faz por nós a Arte? Dá forma e torna visíveis Metamorfose aos tumultos E tédios da vida Sossego a esta corrida vã e Incessante e aos passos insensíveis
Onde se acha a Arte? Debruçada nas letras liter-artes Em cores e tintas das obras Encarnando a universalidade Dos afetos humanos e no momento suspenso arrancado do tempo: na eternidade
José Bembo Manuel: ‘Quando a morte a mim vier me visitar’
José Bembo ManuelImagem criada por IA do Bing – 17 de janeiro de 2025 às 9:46 AM
Quando a morte a mim vier visitar Intrusa e arruaceira Sedutora Estrondosa mente deixará Corações divididos estarão.
Substitua-se o amargo pelo doce da poesia Que nela estarei vívido Que sejam rasgados os engana dores Que línguas e bocas mudarão o curso do rio noticioso Que presenças não sejam colhidas Que o mundo é mundo apenas Enquanto o universo num verso se resume.
A religião onde Nzambi é aprendiz O karma da arte-mãe Karma de inquietas almas Anestesia de tensões Onde bocas se calam É a estrofe proferida do olimpo.
Se um poema for lido Um poema e mais nada Se uma música for sentida Que seja uma 10arranjada Um drama de qualquer pedaço do mundo for exibido O folclore continuará profundo Calem-se as vozes sonoras Que eu terei vivido o suficiente E minha viajem é ritmo d’arte banhada E por ela sou ente arte em transmutação.
Quando a morte a mim vier visitar EU, o único culpado Publicidades, not! Yes, mostra de artes Com presentes E se a solidão me acobertar Que se enunciem os versos mais sublimes Qualquer que seja Poetas não têm pátrias Poetas são do universo E eu no verso quero estar embalado.
Soldado Wandalika Imagem gerada por IA do Bing – 13 de dezembro de 2024 às 2:49 PM
A vida nasce Em casa esquina cruzada Deus ilumina a jornada Busca-se esperança entre véu Que inala a palma de cada ser Entre decidir a trilha junta-se a partida.
É assim que se deu abertura Cantaram as letras nas alturas A arte nasceu suas tempestades Dia de tristeza a lágrimas cinzentas A Lua aplaudiu aquela alma pura Dia de água entre o pumar de vidas.
Osvaldo Manuel AlbertoImagem gerada por IA do Bing – 18 de novembro de 2024 às 3:05 PM
De tanta fome confundimos o prato com o parto. Até o mais velho que sempre diz: parto os cornos, fica sem forças para demonstrar a sua arte.
Não se trata apenas da alteração de algumas letras, é o mais profundo que um ser humano pode sentir.
Tenho tanta fome que a esta hora preferiria dar tantos partos simultâneos, a faltar ou ver flutuar um prato.
Nem que fosse um prato de arroz com cheiro de nada. Está difícil ter um prato à mesa.
Dê-me um pão, por favor! Ainda que não queiras colocar no prato, ponha-o no chão.
Na ausência de pão, permitam-me partilhar o osso com o vosso cão.
Já vi partir para eternidade filhos meus, pela ausência de comida. Já não me interessa o valor nutricional, pouco me importo se me alimento, desde que consiga comer.
Não tenho culpa de ser tão fértil. Aos meus filhos apelidam de cassua, quando na verdade é má nutrição.
Em nossa cubata não há conta que bata certo. Os meus filhos não usam bata, nem comem batata. Não é por desgosto, mas pela ausência.
Não posso rir, prefiro parir a ver meu filho partir. A dor de perder alguém por fome é maior do que parir 10 vezes no mesmo dia.
Aos prantos eu te peço: Permita-me lavar todos os pratos de sua casa, até aqueles que servem de esconderijos dos ratos.
Os ratos, há muito que fugiram do meu casebre, pois não há pão para repartir. É desta forma que vejo os meus sonhos partirem para lugar incerto, tal como os ratos que nos abandonam mesmo sem insecticida.
O brilho das panelas incomodam, parece bate chapa em bairros novos.
Ouvi falar em branqueamento e repatriamento de capitais, podem aldrabar-nos mais, Mas não falte o pão, porque o nzala yeya.
Não sou mulher do Mingo, mas a cada dia que passa eu mínguo de víveres.