Trovoadas! Este ar baixo em nuvens paradas como vidas azul do céu, lavado anil em branco transparente manchas de um chumbo surgem engrossando o quadro, tomando o pincel do calmo artista, que se enfurece. Som gélido entrecortado por cubos de vidro, escorregadios, se soltaram das mãos que não suportavam o grito do destino
Tudo era silêncio antes das trevas assustadas pelo rabisco com voz- de- sísmico . Lenda do carvão? encarnada trovoada nos raios-coração Lá, fora da caixa celeste, os sons foram picotados, pendiam pilotados como em nave às cascatas ‘Estridentezinhos’ ou em placas de metálicas gotas
Tudo rápido como um repente das lonjuras não recentes, enquanto num suspender cósmico de respirações um temor como em dias de ares fantasmas, um prolongamento de ondas sonoras enchiam os pulmões e se extinguiam em forma de suspiros, que eram acompanhados de leves gemidos do peitoral do homem
Tudo é silêncio no crespo coração, que dos trovões se arrebentou em molas que imolaram ânimo Somente o sentimento do fomento findando na ansiedade dos momentos, onde enrolados entre si, misturavam voltagens em eletrizante alma
O anúncio do breve é súbito trágico, Que humano apaixonado drasticamente me sinto, quando, Eu, limpo do céu inquieto , dissolvendo o Ser em desafeto Na próxima paisagem me sossego
Quando eu chego a você, minha arte já está pronta. Você enxerga toda a beleza que eu produzo, mas saiba que o produto é somente a ponta do iceberg. Porque tudo é um processo, um parto. Até nascer.
Você me enxerga através daquele quadro que está em sua parede. Me ouve através daquela canção tocada no rádio. Lê meus poemas naquele livro. Me vê na televisão ou no teatro, em minhas atuações.
Sabe, para decorar meu texto fico horas a fio lendo e relendo. Erros e recomeços. Você me assiste nas novelas depois de eu ter passado por processos: ensaios durante o dia, madrugadas a fio a memorizar. Você vê em mim a personagem. Mas você me conhece? Sou como você, de carne e osso.
Compus aquela canção que te fez chorar. Será que chorei ao compô-la? Talvez, eu tenha me inspirado em histórias reais… O que eu tenho passado, você sabe? Claro que não, afinal, você conhece apenas o artista. O que está no palcos. Aliás, tenho compromissos, e se estou bem ou mal, ninguém se importa muito. Eu subo, canto, danço, alegro a plateia. Depois desnudo-me, e volto a vida real.
E aquele quadro colorido que você viu na exposição? Arte moderna, contemporânea. Disse que até seu filho faria um igual. Na verdade, uma tela sentimental, onde expus a bagunça, o tormento da situação que eu vivia. Naquele momento, nem eu mesmo me entendia, e consequentemente, a tela se fez abstrata.
Você comprou meu livro. Leu meu romance, minha crônica, meu poema. Até me conhece das redes sociais, ou das ruas. Me pergunta: “E aí, para quando será o próximo livro?”. “E os poemas? Tem escrito muito? Te acompanho, admiro seu trabalho!”. Mas você jamais me perguntou como eu, a pessoa por trás do pseudônimo, estava. Talvez, você nem saiba meu verdadeiro nome.
Eu desempenho bem o meu papel, mas eu também tenho estafa. Eu fico doente. Também tenho filhos. Vou ao supermercado, o encanamento da minha casa também fura. Levo tombos, e se beliscar dói. Sabe, às vezes choro durante a noite, porque assim como você, tenho mil problemas. Você talvez possa ficar em casa com o rosto inchado, mas eu não. Tenho que aparecer bem na telinha. Ninguém quer saber se estou de mau humor ou se não dormi. Me jogam um quilo de maquiagem no rosto, e apareço em sua tevê, bela como sempre. Você não desconfia. Você conhece o artista, somente.
Me confundo com a personagem e com a capa que visto. Já não sei quem sou, embaralho-me em meio a tantos heterônimos. Ficção ou vida real, o que seria? Perdi o meu amor, escrevi aquela letra; cantei aquela música; escrevi o poema; chorei e você também chorou.
Sou um palhaço circense. Vivo sorrindo. Será mesmo? E será que se eu lavasse meu rosto você me reconheceria ao final do show?
Nem sei como consigo me equilibrar na corda bamba com tantas dívidas para pagar.
Para fazer malabarismos, preciso me concentrar. Separo-me ali da pessoa que sou. Sou artista. Não posso deixar a peteca cair. O público pagou para me assistir, e o espetáculo não pode parar só porque minha esposa me deixou ontem.
Lembra do último capítulo da novela, tão aguardado pelo público? Quanta emoção o desfecho! Saiba que após a gravação, hibernei estafado. Sobrecarregado. Mas o principal eu fiz: correspondi a expectativa de todos. Afinal, sou artista. E sobre a minha pessoa? Quem se importa?