Eu sou o que quero ser

Ivete Rosa de Souza: ‘Eu sou o que quero ser’

Ivete Rosa de Souza
Ivete Rosa de Souza
Uma mulher que o tempo a convenceu a ser como ela é
Imagem criada pela IA do Bing

Eu sou

Eu sou o que quero ser

No mundo não me encaixo

Não me acho

Prepotente ou incompetente

Simplesmente sou só eu

Que o tempo convenceu

A ser como sou

Não me comparo a outros

Faço o que gosto

E quando mostro incomoda

Tem aqueles que criticam

Tem alguns que gostam

Mas ainda mostram

Que pode ser de outro jeito

No perfeito em que se encaixam

Então acham que devo mudar

De outro jeito me encaixar

Não quero não espero

Também não vou mudar

Se nem Cristo ressuscitado

Foi amado por alguns

Como posso ser perfeita?

Ser eleita e agradar?

Aos tolos incompetentes

Minha ausência posso dar

Quem critica nem explica

Acho que nem sabe o que dizer

Ou fazer, não mudo, já estou velha

Faço o que me der na telha

Os incomodados, passem folgados

Bem longe

Para não nublar meu caminho

Quando eu passar

Se não gostam, não se importam

De nem mesmo os enxergar.

Ivete Rosa de Souza

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Você foi

Verônica Moreira: Poema ‘Você foi’

Verônica Moreira
Verônica Moreira
"Hoje consigo aceitar que você simplesmente foi e agora não passa de uma memória vaga e sem futuro."
“Hoje consigo aceitar que você simplesmente foi e agora não passa de uma memória vaga e sem futuro.”
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Você representou o mais belo amor, porém o mais angustiante.

O mistério mais fascinante, porém o mais desafiador de desvendar.

Você foi a loucura mais intensa, o doce mais puro, provei de seus lábios.

Conheci a nudez crua ao despir sua roupa.

Você me inspirou e me deu a coragem de ser autêntica, entregando-me de todo coração ao prazer da sedução.

Você foi a ausência mais presente, mas ao mesmo tempo o presente mais ausente que a vida me deu.

Mas afirmo, sem receio do futuro, que você foi tudo o que meu coração precisava para compreender que, muito além de você, outro alguém me amava.

Hoje consigo aceitar que você simplesmente foi e agora não passa de uma memória vaga e sem futuro.

Verônica Moreira.

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Ouço…

Clayton Alexandre Zocarato: Poema ‘Ouço…’

Clayton Alexandre Zocarato
Clayton A. Zocarato
"Ouço, seu silêncio, sinto sua ausência, percebo sua solidão"
“Ouço, seu silêncio, sinto sua ausência, percebo sua solidão”
Microsoft Bing – Imagem do designer 

Ouço  seu silêncio…

Sinto sua ausência…

Percebo sua solidão…

Meu coração…

É a marca da sua solidão…

Na consciência…

A frequência de carência…

Seu corpo…

Seu abraço…

Seu sim…

Seu não…

Virou devassidão…

No equilíbrio da minha razão…

A esperança de sua volta…

É o que me mantém vivo…

Até sigo…

Consigo…

Em meu abrigo mental…

Rezando por voltar…

A ter o seu lado fraternal…

Clayton Alexandre Zocarato

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Voltar: http://www.jornalrol.com.br

Facebook: https://facebook.com/JCulturalRol/




Claudia Lundgren: 'Ausência'

Claudia Lundgren

Ausência

Ausentei-me de mim…

Por muitos lugares andei

Uma procura sem fim

A me buscar

Onde eu estava? Não sei!

Tentei me achar

Em meio a multidão

Em cada rosto me encontrar

Mas foi em vão

Meu eu, a se dissipar

 

Assustador é estar ali

E não se reconhecer

Desapareci!

“Onde está você?”

Olhar no espelho, e não se ver

Onde eu estou?

Você me viu por aí?

Preciso urgentemente me achar

Perguntar como estou, me abraçar

E entender o porquê dessa ausência de mim.

 

Claudia Lundgren

tiaclaudia05@hotmail.com

 

Vídeo contendo o poema ‘Ausência, de minha autoria,  lido por mim:

 

 




Carlos Carvalho Cavalheiro: 'Sociedade indolor'

Carlos Cavalheiro

Sociedade indolor

Vivemos um momento em que os seres humanos desenvolveram a ojeriza ao sentimento de dor. Provavelmente esta constatação não seja original. É possível que alguém já a tenha feito com maior erudição argumentativa. No entanto, é uma reflexão útil para os tempos em que vivemos e que, por isso, se justifica a sua repetição: é uma lição a ser ensinada e aprendida, uma espécie de guia de sobrevivência.

As sociedades mais antigas reconheciam o valor do sentimento da dor como pré-requisito para as passagens das diversas fases da vida, o que hoje poderíamos chamar de alcance do sucesso. Os meninos espartanos, por exemplo, eram retirados de suas casas aos sete anos de idade para se prepararem ao exercício da defesa de sua pátria. A partir de um rigoroso programa de educação, cujo objetivo era formar o soldado perfeito, essas crianças sofriam terríveis provações. Muitas delas não aguentavam os exercícios e morriam. Os que sobravam se convertiam em combatentes temidos.

Obviamente que não é objetivo aqui querer louvar um programa educacional como esse. Seria um anacronismo sem limites. Cada situação a seu respectivo tempo, mas é um exemplo, dentro da argumentação, do quanto as sociedades antigas não temiam a dor. Ao contrário, sabiam que toda mudança exige a superação do medo, da dor e do medo da dor.

As propagandas da televisão nos vendem a não-dor. Analgésicos disputam o mercado a partir da rapidez da solução do problema. Não temos mais dor de cabeça, dores musculares, dor no dente, febre, dores abdominais. Em segundos, o alívio imediato. Bom, dor é também um sinal de que algo não está bem. Imagine a seguinte situação: seu carro apresenta um barulho estranho aos seus ouvidos. Provavelmente, algo na mecânica do automóvel não vai bem. Então, como solução, você compra um protetor auricular. Pronto! Não se ouve mais o barulho. É fato. Mas o problema continua, mascarado por sua pseudo-surdez.

Outro dia um casal reclamava num programa de TV, desses que desnudam a intimidade alheia, do filho de dez anos de idade que ainda dormia na mesma cama que os pais. Eram praticamente três corpos desenvolvidos, um deles em acelerada fase de crescimento, disputando um espaço planejado para dois adultos. A mãe confessou que a ideia se originou a partir da “consulta” a um “psicólogo” do Youtube. Ele vendeu a análise de que a criança – enquanto bebê recém-nascido – se sentiria acolhida com a presença dos pais no leito. Assim, a criança foi crescendo e se mantendo ao lado dos pais durante as noites de sono. Porém, agora, aos dez anos, não conseguia mais dormir sozinha.

A mãe já tentara fazer a criança dormir em sua própria cama, o pai também, mas a criança chorava, se deprimia, e os pais cediam. Não queriam sofrer novamente a dor do parto. A Língua Portuguesa tem lá os seus caprichos e permite, desse modo, construções imagéticas interessantes. Apesar da improvável correspondência etimológica, o substantivo parto (no sentido de dar à luz) e o verbo partir (quebrar em partes ou deslocar-se), em português nos permite a relação de ambas as palavras com a dor.

O nascimento exige dor. O bebê vive confortavelmente dentro da placenta. Não sente frio, nem fome, praticamente nada o incomoda. De repente, tudo se transforma: perde aquele líquido confortável que o envolvia, é obrigado a respirar de outra forma, ouve barulhos ensurdecedores, uma luz intensa fere seus olhos. A dor do parto não é só da mãe. Mas foi isso que permitiu o crescimento do bebê.

Evitar esse crescimento por não querer passar pela dor é como imaginar a situação absurda da criança que se recusa a nascer! Agarra-se, como pode, dentro do ventre da mãe e não se permite à experiência do nascimento. Por analogia, ao não permitir que a criança “partisse” (abandonasse o leito dos pais), os genitores evitavam a dor do “parto” (nascimento), mas não permitiam o amadurecimento do filho.

Estudar exige sacrifícios, ter um corpo saudável requer exercícios, a aquisição de erudição exige tempo e dedicação. Tudo isso nos impede do prazer imediato e, por isso, nos causa dor. Mas é necessário que sintamos dor para atingirmos nossos objetivos maiores.

Em tempos de pandemia, sentimos a dor da perda daquilo que estávamos acostumados a fazer. Não podemos mais caminhar pelas ruas sem respeitar o distanciamento social e sem usarmos máscaras. Não podemos mais visitar entes queridos, nem externar nosso afeto por meio de beijos e abraços. Não podemos participar de aglomerações, tomar um chopp ao final da tarde, assistirmos a um jogo de futebol no estádio… Não podemos e isso nos causa dor. Mas é o que, também, nos têm mantido vivos.

 

Carlos Carvalho Cavalheiro

25.08.2020