Os bichos que destruíram o reino
Osvaldo Manuel Alberto:
‘Os bichos que destruíram o reino’
Havia um reino onde todos eram poderosos e a sobrevivência de um estava implicitamente ligada ao infortúnio de outro. As acções ou omissões dos bichos contribuíram grandemente para o desequilíbrio do ecossistema.
O mosquito, o lagarto, o papagaio, o cabrito, o camaleão, o marimbondo, o cágado e a mosca destruíram o reino sob o silêncio tumular do bicho grande, mas no final o salalé, sem sal, tomou conta deles.
O mosquito, parecendo inofensivo, fazia perecer muita gente. Ele era o responsável pela mortandade gritante, enquanto GPP (Grande Produtor de Paludismo). As quantidades enormíssimas desta produção eram exportadas em forma de malária, zica e xikungunya, também conhecida por katolotolo, e em grande escala consumida internamente. Este consumo contribuiu para a piora das condições de vida daquela população, pois muitos nem aos cinco anos chegavam.
O lagarto, que andava de parede em parede, de meio em meio metro acenava positivamente com a cabeça a tudo quanto lhe chegava aos ouvidos, mesmo àquilo que não lhe chegava. Era o yes man.
O papagaio só reproduzia teorias, mesmo aquelas cujo domínio era inferior a medíocre. Ele estava pouco se borrifando pela compreensão do que falava, para além de nunca dizer nada. Os seus discursos eram eloquentes, cozinhados à luz dos mais modernos dicionários que dariam inveja ao Camões. Este, se estivesse vivo, duvidaria das suas capacidades.
Por distracção do pastor, que sempre pensou que “o cabrito come onde está amarrado”, o cabrito comeu todo o pasto dele e dos outros, pois a corda era tão grande. Daí, o cabrito passou a comer em função do tamanho da sua corda.
O camaleão se tornava leão sempre que visse uma cama.
O marimbondo fez das suas e aliou-se ao cágado que só fazia cagada. As cagadas eram enormes, porque o cágado estava mais preocupado com quem o colocou no topo da árvore do que com a árvore em si.
A mosca perdeu toda a honra e dignidade, porque pousava, publicamente, no excreto, fingindo ser agradável.
Os mais curiosos aperceberam-se que todos passarão pelo salalé. O salalé trabalha no silêncio e fora dos holofotes!
Osvaldo Manuel Alberto