A poesia de Brenda Beauvoir
Marta Oliveri
A poesia de Brenda Beauvoir – Uma poética além da palavra


Como uma epopeia íntima e existencial, é a obra de Brenda Beauvoir notável estatura poética que surge em um universo desbordante, atravessando territórios de imensa beleza. A autora entelaça mitos e imagens oníricas em uma saga pessoal. Seu mundo percorre as metáforas de Prometeu, os grandes mitos de todos os tempos, os ausentes, as dores dos tempos presentes e os passos de fluir com a oscilação do rio de Heráclito. Utopias que afloram e se eclipsam, sonhos, sombras, fantasmas que nascem e se prefiguram como parte de uma história que trascende à poeta.
Brenda Beauvoir escreve em seu poema ‘Portas do labirinto’: “Não permitas que o esquecimento construa na humanidade uma nave de perenes ocasos e sombras nos infinitos crepúsculos sombrios, onde as horas morrem numa letargia.” Aqui a autora expressa a dor do esquecimento que assola a humanidade e determina de alguma maneira o estado de coisas que nos emergem no apocalipse que atravessamos nestes tempos escuros.
Outra figura notavelmente significativa em sua poética é a de Prometeo. Aqui estão as citações neste texto particularmente paradigmático em sua obra: “Prometeu se aproxima sem ladainhas, e nesses silêncios de partir o coração não consigo ver o destino ou a luz sagrada que os antigos celtas proclamaram”. O mundo se acumula nos pés de uma humanidade de sangue. E vazio de sombras e um presságio que não se dissipa e que não deixa ver a luz, me envolve como uma serpente que destruiu o universo da humanidade das tempestades fulminantes em que o próprio ser humano destruiu alevosamente seus sonhos.
Em síntese, Brenda Beauvoir se manifesta com dolorosa beleza em um registro épico e melancólico. A expressão clara de seu compromisso com a realidade que o acecha e nós aceitamos a todos, uma realidade que travemos ao poeta de maneira profunda e dolorosa. Sua expressão é a clara determinação de uma rebeldia, sua potência de verbo que se eleva por cima de todas as contingências na eternidade da palavra.
Trajetória de Brenda Beauvoir

Brenda Beauvoir é uma escritora argentina reconhecida em Buenos Aires. Foi criada como professora de língua e literatura em ensino secundário. Publicou uma ampla variedade de obras literárias, entre as quais se destacam títulos como ‘Cecilia. O rosto das sombras’, ‘As cartas’, ‘Assassinatos na noite’, ‘Nahla’, ‘Voz da Ausência’ e ‘Exegese do Esquecimento’, prologado pela candidata argentina ao Prêmio Nobel de Literatura Martha Oliveri. Sua obra foi reconhecida com vários prêmios e distinções, como a Menção de Honra da Sociedade Argentina de Escritores e o Prêmio Atrezo, entre outros.
Conversa com Brenda Beauvoir
MO: Como você descobriu sua paixão pela poesia e por que você se dedicou a ela?
BB: Desde a menina descobriu que a poesia é parte de minha misma e como decía Jorge Luis Borges à medida que um va transitando o labirinto da vida em qualquer surgimento de dores, instantes felizes, alegrias e todas as misérias que vemos neste remetente que transitamos sem argila para moldar a obra literária.
MO: Qual foi o momento ou experiência que a inspirou a começar a escrever poesia?
BB: Talvez o próprio labirinto. Talvez a felicidade e as sombras…
MO: Como você descreve seu processo criativo e como trouxe as ideias e temas que tratam em seus poemas?
BB: Eu descreveria isso como uma evolução constante do ser, sempre apoiada por filósofos, como foi o caso da minha última coletânea de poemas, “Exegese do Esquecimento”, mas uma única palavra basta para que um poema surja.
MO: Que influências literárias ou pessoais tiveram um impacto significativo em sua obra poética?
BB: Ter estudado literatura como professora me conectou com muitos autores; a princípio, parecia apropriado brincar com metáforas e recursos estilísticos. No entanto, como filha de imigrantes, acredito que a dor e o deslocamento podem ser ferramentas tão valiosas quanto o conhecimento.
MO: Como você vê o papel da poesia na sociedade atual?
BB: A poesia é um reflexo da sociedade, um espelho que mostra a realidade e a complexidade da condição humana.
MO: Como você vê seu lugar no mundo da literatura e o que a motiva a continuar criando?
BB: Eu vejo como um lugar abstrato em todos os sons e melodias fluentes que se elevam até o infinito no qual a obscuridade se converte em luz e em todo o mágico que pode dar ao universo da poesia e da palavra.
MO: Que influências literárias ou pessoais tiveram um impacto significativo em sua obra poética?.
BB: Ter estudado como professora de Literatura me conectou com muitos autores. No início, certamente parecia brincar com metáforas e recursos estilísticos, porém, e sendo filha de imigrantes, acredito que através do desenraizamento podemos ser uma ferramenta valiosa como o conhecimento que nos elevará, sempre foi usado para nos reconstruir e dar uma mensagem de resiliência e esperança à humanidade que
M.O.: Qual o papel que você acha que a poesia desempenha na sociedade atual e como ela pode influenciar a consciência coletiva?
B.B.: Não acho que ela desempenhe um papel tão preponderante quanto no século passado, mas desempenha. E é nossa tarefa, como trabalhadores culturais, reacender a chama eterna da poesia neste mundo tão desumanizado e carente de valores espirituais.
MO: Algum projeto ou tema específico que você está trabalhando para compartilhar com seus leitores?.
BB: Claro. Me angustiei profundamente as guerras no mundo inteiro e revivei o horror do holocausto na Segunda Guerra Mundial… Meu trabalho como fazedor da cultura é sempre pedir pela paz e pela união dos povos e que ninguém seja humano na parte da terra, cause sofrimento a outro mar da razão que fuere.
Meu último trabalho é uma novela titulada PALESTINA. Ruínas de um espanto anunciado e espero que através de todos eles tomemos consciência porque a este passo o ser humano será destruído por completo.
Epílogo
As palavras estão aqui
Queda da sombra de uma pergunta… É possível que a poética possa resgatar a obscuridade destes tempos, a esperança de uma nova humanidade? Se fizer à noite um raio de luz irradiar sua metáfora através da janela
A aurora é agora uma ideia que a alma do poeta abriga na luz do verbo Próximo.