Formando cidadãos emocionalmente saudáveis

Paty Fonte e Victor Meirelles:

‘Formando cidadãos emocionalmente saudáveis’

Logo da seção O Leitor Participa'
Logo da seção O Leitor Participa’

Será que nós, adultos, pais, educadores, cuidadores, percebemos a importância das emoções no processo de desenvolvimento do ser humano?

Nosso século é marcado pelas tecnologias digitais e por transtornos emocionais.

Um fato inédito na história preocupa e entristece: pela primeira vez os registros de ansiedade entre crianças e jovens superam os de adultos.

Assustadoramente aumentam os índices de problemas psíquicos entre crianças e jovens. Cresce a cada dia o número de jovens que se mutilam. A automutilação atinge adolescentes no Brasil e no mundo. Pesquisas indicam que 20% dos jovens sofrem desse mal. Além disso, em nosso país, as taxas de suicídio cresceram na população em geral. O suicídio é, hoje, a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil.

Uma das causas desta triste realidade é o bullying.

Bullying não é brincadeira

Bullying é um termo em inglês que se refere a um tipo de agressão intencional, repetida e sistemática, praticada por um indivíduo ou grupo contra outro, causando sofrimento e angústia à vítima. Essa violência pode se manifestar de diversas formas, como:

  • Física: agressões físicas, como socos, chutes, empurrões, roubos e danos a propriedades.
  • Verbal: insultos, apelidos, ameaças, humilhações, fofocas e disseminação de rumores.
  • Relacional / Psicológico: exclusão social, isolamento, manipulação de relacionamentos, boatos e disseminação de informações falsas.
  • Ciberviolência / Ciberbullying: bullying praticado por meio de tecnologias digitais, como redes sociais, e-mails e mensagens de texto.

É importante ressaltar que o bullying não é uma simples briga ou desentendimento ocasional. Ele se caracteriza pela repetição das agressões, pelo desequilíbrio de poder entre agressor e vítima, e pela intenção de causar sofrimento psicológico e emocional.

Na lei federal 13185/2015 – Programa de Combate à Intimidação Sistemática / Bullying, os seus artigos e parágrafos classificam e descrevem o bullying e abordam o dever e as obrigações das instituições de ensino ou relacionadas à educação. Para o combate, conscientização e prevenção do bullying, intimidação sistemática e violência na comunidade escolar .

Quais as principais consequências do bullying?

As consequências do bullying podem ser devastadoras para as vítimas, afetando sua saúde física, emocional e social. Algumas das principais consequências incluem:

  • Problemas emocionais: depressão, ansiedade, baixa autoestima, medo, insegurança, isolamento social, dificuldade em confiar nas pessoas.
  • Problemas comportamentais: agressividade, retraimento, dificuldades de aprendizagem, baixo rendimento escolar, problemas de sono, mudanças no apetite.
  • Problemas físicos: dores de cabeça, dores de barriga, problemas estomacais, enurese (xixi na cama), dificuldades respiratórias.
  • Pensamentos suicidas: em casos mais graves, o bullying pode levar a pensamentos suicidas e, em alguns casos, ao suicídio.

É fundamental que a sociedade como um todo esteja atenta ao problema do bullying e trabalhe para prevenir e combater essa prática. Escolas, famílias, comunidades e profissionais de saúde devem atuar em conjunto para oferecer suporte às vítimas, produzir atividades de conscientização da violência para os agressores e promover um ambiente escolar e social mais seguro e acolhedor para todos.

Além de fundamental e necessário é dever e obrigação as práticas, atividades e programas de combate, conscientização e prevenção do bullying e da violência na comunidade educacional, cunhado pela lei federal 13185/2015, além de desde 2024 o bullying e o Cyberbullying se tornar crime, com pena de prisão e multa pela lei 14811/2024.

Ensinar habilidades socioemocionais

A família desempenha um papel fundamental na prevenção e combate ao bullying. Ao cultivar um ambiente seguro, aberto ao diálogo e baseado no respeito, os pais podem ajudar seus filhos a desenvolverem habilidades sociais importantes e a lidarem com situações de conflito de forma saudável.

Ajude seus filhos a desenvolverem habilidades socioemocionais importantes, como a assertividade, a resolução de conflitos e a comunicação eficaz.

Aqui estão algumas dicas práticas para te ajudar nessa tarefa:

1.   Seja um modelo:

  • Demonstre as habilidades que você deseja que seu filho desenvolva: Seja gentil, respeitoso, colaborativo e empático em suas interações com outras pessoas.

    • Comunique-se de forma clara e assertiva: Mostre como expressar seus sentimentos e necessidades de maneira respeitosa.

2.   Incentive a interação social:

  • Organize brincadeiras e atividades em grupo: Estimule a interação com outras crianças, como festas de aniversário, piqueniques ou jogos em parques.

    • Inscreva seu filho em atividades extracurriculares: Esportes, aulas de música ou dança são ótimas oportunidades para desenvolver habilidades sociais.

3.   Ensine a importância da empatia:

  • Converse sobre os sentimentos dos outros: Ajude seu filho a entender como as outras pessoas se sentem em diferentes situações.

    • Incentive a ajudar os outros: Mostre que pequenas ações de gentileza podem fazer uma grande diferença.

4.   Promova a resolução de conflitos:

  • Ajude seu filho a identificar seus sentimentos: Incentive-o a nomear o que está sentindo quando está bravo, triste ou frustrado.

    • Ensine estratégias para resolver conflitos: Explique que é possível resolver problemas de forma pacífica, através do diálogo e da negociação.

5.   Elogie os comportamentos positivos:

  • Reconheça e elogie as atitudes positivas do seu filho: Isso o motivará a repetir esses comportamentos.

    • Seja específico: Ao elogiar, destaque o comportamento específico que você gostou.

6.   Leia livros e conte histórias sobre amizade e cooperação:

  • Escolha livros com personagens que demonstram habilidades sociais positivas: Isso ajudará seu filho a identificar e imitar esses comportamentos.

    • Converse sobre as histórias: Faça perguntas abertas  para estimular a reflexão e a compreensão.

7.   Incentive a participação em atividades familiares:

  • Cozinhem juntos: Essa atividade promove a cooperação e a comunicação.

    • Joguem jogos de tabuleiro: Jogos como “Detetive”, “Imagem e Ação” e “Monopoly” estimulam o raciocínio lógico, a estratégia e a interação social.

8.   Estabeleça limites claros e consistentes:

  • Explique as regras da casa: Seja claro sobre o que é esperado do seu filho.

    • Seja consistente ao aplicar as regras: Isso ajuda a criança a entender o que é certo e o que é errado.

9.   Seja paciente e persistente:

  • Desenvolver habilidades sociais leva tempo: Não espere que seu filho aprenda tudo de uma vez.

    • Celebre as pequenas conquistas: Reconheça o progresso do seu filho e incentive-o a continuar tentando.

Lembre-se: O exemplo é a melhor forma de ensinar. Ao demonstrar as habilidades sociais que você deseja que seu filho desenvolva, você estará mostrando a ele o caminho a seguir.

Referência:

Capa do livro ' Práticas fundamentais de prevenção ao Bullying para as famílias', 
de Patty Fonte e Victor Meirelles
Capa do livro ‘ Práticas fundamentais de prevenção ao Bullying para as famílias’,
de Patty Fonte e Victor Meirelles

Para adquirir o e-book 7 Práticas Fundamentais de Prevenção ao Bullying, de Paty Fotny e Victor Meirelles, acesse:

https://artefazpartearteeducao.sualojaonline.app/item/14414294/ebook-7-praticas- fundamentais-de-preven-cao-ao-bullying-para-familias-paty-fonte-e-victor-meirelles

Sobre os autores

Paty Fonte
Paty Fonte

Paty Fonte – consultora educacional, filósofa, palestrante.

Especialista em Pedagogia de Projetos e Educação Infantil; escritora com vários livros, publicados, dentre eles ‘‘Competências Socioemocionais na Escola e Práticas Socioemocionais para Dinamizar o Ambiente Escolar’, ambos publicados pela WAK Editora.

@patyfonte_ppd

Victor Meirelles
Victor Meirelles

Victor Meirelles – artista, palestrante, Arte Educador, escritor, filósofo, quase Doutor, teve como orientadora no PACC UFRJ a imortal Heloisa Buarque de Holanda; é Mestre em Psicossociologia da Saúde e Comunidade EICOS UFRJ e pesquisador    dos     Institutos     de     Psicologia e Psiquiatria na UFRJ. Pós-Graduado em Filosofia e Direitos Humanos.

Atualmente está realizando um projeto na Universidade de Barcelona. Artista, o qual desenvolve trabalhos de Arte educação, palestras, teatro, cinema e televisão no Brasil e exterior.

@victormeirellesator

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Mãe contra racismo estrutural: da história vivida por filha surge um livro infantil sobre negritude

Em ‘Menina bonita, que cor você tem?’, Aline Carvalho trabalha a autoestima de crianças negras em uma história ancestral com reis, rainhas e guerreiros pretos

Capa do livro 'Menina bonita, que cor você tem', de Aline Carvalho
Capa do livro ‘Menina bonita, que cor você tem’, de Aline Carvalho

Menina bonita, que cor você tem? é um livro infantil inspirado em uma história real, vivida pela filha da autora, Aline Carvalho. Quando a menina passou por uma situação em que se sentiu inferiorizada devido à sua cor, a mãe recorreu à contação de histórias para dialogar sobre a negritude, a importância da diversidade e o respeito às diferenças. 

Na narrativa, Giovana é uma garota alegre, extrovertida e inteligente que, depois de um dia comum no colégio, retorna entristecida por causa do comentário de uma professora. Durante uma aula, a educadora afirmou que todas as crianças na sala tinham uma “cor natural”, menos Gi, porque ela tinha cor marrom. 

A partir disso, a mãe da protagonista busca reconstruir a autoestima da menina ao narrar a trajetória de seus ancestrais africanos, compostos por reis, rainhas e guerreiros pretos. Ainda explica a importância da diversidade nas pessoas, além de mostrar como essas diferenças são comuns na vida. 

Então a mamãe explicou que cada um é de uma cor. Mamãe contou para Gi que seus ancestrais vieram da África e que lá, na África, tinham muitos reis, rainhas e guerreiros, todos de pele pretinha (Menina bonita, que cor você tem?, pg. 21) 

Com ilustrações de personagens racialmente diversos, produzidas por Xande Pimenta, a obra utiliza diálogos coloquiais e linguagem simples para o público da primeira infância e as crianças em fase de letramento compreenderem a narrativa.  

O intuito da autora é tornar Menina bonita, que cor você tem? uma ferramenta de conversa entre pais e filhos sobre o enfrentamento de preconceitos e a defesa da pluralidade. O livro também tem sido utilizado por psicólogos para dialogar com crianças que sofreram algum tipo de discriminação. 

FICHA TÉCNICA 

Título: Menina bonita, que cor você tem? 

Autora: Aline Carvalho 

Editora: Multifoco 

ISBN: 978-65-998622-5-0 

Páginas: 33  

Preço: R$ 55 (físico) | R$ 15 (e-book) 

Onde comprar: Amazon | Multifoco 

Sobre a autora

Aline Carvalho Santos Gonçalves é engenheira de produção, com pós-graduação em Finanças e Gestão Corporativa, além de ter MBA em Arquitetura de Soluções.

Há muitos anos no mercado financeiro, atualmente trabalha como gerente de monitoramento na área de tecnologia da informação de um banco.

Após se tornar mãe, começou a produzir histórias para contar aos filhos e publicá-las. É autora das obras infantis: “A Ovelha, O Cachorro, O Gato Preto e o Coelho” e “Menina bonita, que cor você tem?”. 

Redes sociais: Instagram | Facebook | Site 

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Língua, manifestação da existência humana: uma reflexão em torno da intolerância e preconceito linguísticos

Tomé Francisco Ângelo: Artigo ‘Língua, manifestação da existência humana: uma reflexão em torno da intolerância e preconceito linguísticos’

Foto do colunista Tomé Ângelo
Tomé Ângelo

Este texto surge na sequência de se ter verificado que muita gente, em Angola, reclama o facto de ter sofrido bullying por conta da sua maneira de realização do Português que é influenciada pela sua língua autóctene. Um caso mais recente foi a publicação, na rede social face book, da poetiza Joice Zau, muita conhecida nas lides do activismo angolano, que conta que, há um tempo para cá, uma sua conterrânea (de Cabinda, província mais a norte de Angola) sofria bullying na escola, na Universidade Agostinho Neto.

A jovem na situação foi muito inteligente, segundo a narrativa, óptima estudante e gostava de tomar intervenção na aula, em relação às várias temáticas abordadas e, claro, com um pendor intelectual. Porém, tudo caía na risada, vexação e outros tipos de insultos só pelo facto de não ter uma realização linguística em conformidade com o padrâo linguístico vigente no país (principalmente pelos aspectos prosódicos). Vale lembrar que ela domina, antes do português, a língua local cabindense ibinda e esta tem interferido, no português da jovem.

Como consequência, ela desistiu da escola, pois não aguentava mais aquilo. E, assim, ela viu-se ‘morta’, em companhia dos seus sonhos e objectivos, pelos seus colegas e, talvez, não só.

Ora, é a partir daqui que entendemos que a sociedade angolana carece, ainda, de muitos tipos de educação, mas, para este caso em particular, a ‘educação linguística’ sobressai. E, quando falamos em educação linguística, estamos a pensar na concepção de língua e seus elementos envolventes.

Nesta linha de ideia, gostavamos de, em gesto de reforço, pois que já há muitas abordagens a respeito, referir que a língua, para além de ser um instrumento de comunicação, é um meio com o qual construímos sonhos e através da qual acedemos à cidadania e atingimos as nossas realizações.

A língua não é uma estrutura rígida, mas, sim, maleável que obedece a circunstâncias e situações individuais e de grupos, situações estas, sobretudo, socioculturais, identitárias e espirituais.

Desta forma, em contextos reais de comunicação, e não só, o falante comunica não apenas as suas mundividênicas e mundividências, mas também a sí próprio, ou seja, espelha também a sua alma. Ele procura firmar-se enquanto humano, enquanto indivíduo enraizado em crenças, ideologias e culturas.

Quer dizer, ele apropria-se da língua para também dar a saber, e porque é uma condição humana, pedaços de si, para informar, embora de forma inconsciente, o seu ‘tear’, ou seja, as substâncias envolvidas na construção do seu ‘eu’: quem ele é, de que, como e onde foi feito, em que acredita, o que e como pensa, seu ser, estar, desejos…

No processo do uso individual da língua, exteriorizam-se os elementos visíveis e invisíveis de um indivíduo que ninguém faria por ele e são esses elementos que tornam a pessoa única (indivíduo), afinal, o ser humano difere do seu congénere não apenas pelos traços físicos, mas também pelos aspectos interiores (e sensíveis), manifestados pela língua, e é isso que faz a vida de cada ser, na face desta terra.

Assim, o falante exercita a sua individualidade que é uma condição vital para ele, é aqui onde está o seu ‘muntu‘ e também a sua manifestação existencial no mundo. Pelo que, sem isso, a existência humana é nula.

Neste sentido, ao debocharmos, zombarmos ou vexarmos alguém pela forma como realiza a língua, estaríamos a incorrer em intolerância e preconceito linguísticos, a sobrepormo-nos ao ‘outro’, a reprimi-lo e a reduzi-lo a qualquer coisa que não seja humana, estaríamos a anular a sua existência.

Entretanto, ninguém tem o direito de o fazer com ninguém, mas temos todos e todas o dever de respeitar e de permitir que ele seja ele mesmo e porque natural e juridicamente ele tem esse esse direito.

Por outro lado, gostaríamos de recordar que tais comportamentos favorecem a desarmonia, exclusão, conflitos e subdesenvolvimento ou desestabilidade sociais.

Então, pensamos que, para dirimir esta situação, seja necessário repensar as políticas educacionais, redefinir a glotopolítica e repensar o ensino do português em Angola.

É preciso que as políticas educacionais atendam realmenete às necessidades educativas da sociedade, é preciso pensar numa educação que tranforme de facto o codadão de formas a corresponder os anseios da sociedade em que está inserido, é preciso uma educação capaz de levar o indivíduo a compreender as diferenças, de formas a conviver unido na diversidade.

A política linguística angolana é excludente e, neste sentido, não atende às reais necessidades linguístico-comunicativas da nação, sendo que privilegia o português europeu, que não é uma realidade nos contextos de comunicação do dia a dia do do povo angolano, e deixa as línguas locais, também tidas como nacionais, em desprestígio, pois que não são tidas, nem achadas.

Em relação ao ensino da Língua Portuguesa, em Angola, é necessário, ao nosso ver, um equilíbrio entre o ensino da língua como estrutura e o ensino desta como instrumento de comunicação e este último implica colocar o sujeito-falante no centro, sendo ele que faz o uso da própria língua e não o contrário, e, ao fazê-lo, acciona todos os mecanismos intrapessoais e socioculturais.

É o sujeito que tem o poder sobre a língua, daí a razão de, na relação binóminal ‘sujeito-língua’, o sujeito poder ser prioridade. Aliás, pensamos que estes elementos existem com finalidades previamente bem definidas: a língua existe para atender ao falante em todas as suas necessidades comunicativas e o sujeito, para gozar da prerrogativa de ter uma servidora para os fins já aludidos.

Ou, ainda, o sujeito manda e a língua obedece. Portanto, é preciso um ensino da língua que não empurre os falantes para o cárcere da cegueira gramatical, pois isto é perigoso!

Assim, a política linguística que marginaliza a variedade do português angolano e afasta as outras linguas igualmente angolanas, a política educacional que cubiça as realidades ocidentais e o ensino do português centrado na gramática fazem, no nosso entender, com que os cidadãos tenham uma paixão ardente pelo que é estrangeiro e que, sobretudo, tenham uma realização linguística colonizadora e fiquem em ‘prontidão combativa’ para todo tipo de realização linguística que tenha algum cheiro das realidades étnica, social e cultural angolana.

Portanto, a democracia linguística é também uma das formas de aceitação das diferenças e promove a harmonia e coesão social.   

Tomé Francisco Ângelo

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Autista e artista: Letícia Mariana, a mais jovem colunista do ROL numa entrevista reveladora!

De colunista para colunista, Sandra Albuquerque apresenta aos leitores do ROL o universo interior de Letícia Mariana



Jornal Cultural ROL reúne atualmente um selecionadíssimo grupo de 35 colunistas de várias partes do Brasil e até do exterior (Portugal).

Um grupo formado por colaboradores de diversas áreas e profissões: advogados, artesãs, artistas plásticas, administradora de empresa, arquiteto, inspetora de alunos, escritores/escritoras, fomentadora cultural, genealogista, historiador, jornalista, pedagoga, psicopedagogo, poetas/poetisas, professor, educadora infantil, pesquisadora e tradutora.

Um grupo heterogêneo em profissões e áreas de atuação, porém homogêneo em sensibilidade, espírito de coletividade e, voluntariamente, uma mega vontade de disseminar as Letras e as Artes!

A esse grupo de seres humanos especiais o Jornal ROL denomina, carinhosamente, de  Família ROLiana!

E, como toda Família, os colunistas do ROL trocam ‘figurinhas (carimbadas!) culturais’ e tecem comentários sobre toda ordem de coisas diariamente por meio do grupo dos Colunistas e Correspondentes no WhatsApp.

Um desses comentários sugeriu que um determinado veículo de comunicação parece ser autista, uma vez que repete sempre a mesma coisa. E a palavra ‘autista’ atraiu a atenção da mais jovem colunista do ROL, a escritora e poetisa Letícia Mariana, de apenas 20 anos de idade, que é portadora de autismo leve.

Da intercessão de Letícia na conversa, a poetisa Sandra Albuquerque sentiu uma irresistível vontade de abordar o tema ‘autismo’, sob a ótica de Letícia, por meio da entrevista abaixo.

Sandra introduz a entrevista com considerações pessoais:

“Hoje, 09 de dezembro é o Dia da Criança Especial.

Segundo os especialistas uma criança especial é aquela com alguma deficiência auditiva, mental e visual.

Ontem à noite, em conversa com alguns amigos colunistas do Jornal Cultural Rol, tocando no assunto do autismo a nossa querida jornalista poetisa e escritora Leticia Mariana entrou na conversa e, como vocês sabem, a Leticia Mariana não esconde de ninguém que ela é Autista. Leticia Mariana é uma jovem sensacional, dinâmica ,inteligente e autora de alguns trabalhos literários, dos quais destaco o Livro ‘Entre Barbantes’. Eu resolvi entrevistá-la e, nessa conversa, estavam presentes a nossas queridas escritoras Cláudia Lundgren, Verônica Moreira e a Alcina Maria.

A seguir, trago para você, leitor, a importante conversa que tivemos, a qual tenho a certeza que vai esclarecer  dúvidas de muitas pessoas sobre o Autismo.”

SA. Letícia Mariana, você sabe da minha admiração por você e pelo seu trabalho. Gostaria que você nos dissesse agora o que é realmente o autismo?

LM. Autismo é uma síndrome que muitos chamam de deficiência, principalmente pela lei. Nós precisamos dessa lei, assim temos os nossos direitos, mas muitos consideram o termo ‘deficiência’ pejorativo, pois algumas pessoas o utilizam de forma pejorativa.

Existem vários ‘tipos de autismo’ no espectro (TEA: Transtorno do Espectro Autista), e também vários graus. Eu sou Asperger, que é uma autista com habilidades incríveis, como se fosse um ‘super inteligente’. Entretanto, o peso de ser diferente é doloroso e tenho crises nervosas, sendo assim, preciso ter pausas durante o dia, assim me controlo. Muitas vezes, tenho movimentos repetitivos, como balançar os braços e andar pela casa, mas evito agir assim no trabalho.
Como sou palestrante, troco os balanços pelos gestos, e me comunico muito bem, faço bons discursos, coisa que nem todo autista faz.
É um tema complexo.

SA. Ouço relato de pessoas que dizem que as pessoas autistas são muito inteligentes. Essa afirmação procede?

LM. São altamente inteligentes.

SA. O que os pais ou os responsáveis das crianças autistas devem fazer quando percebem que seu filho pode ter autismo?

LM. Devem buscar profissionais e os psicólogos e psiquiatras são os profissionais indicados .

SA. Como você, na condição de autista vê o termo “criança diferente de criança normal” ?

LM. Eu não vejo a criança autista como uma criança anormal, uma criança que tem um QI diferente.

SA. Para você a criança autista precisa de uma escola especial?

LM. Não, Não! Sem escola especial , por favor! Se eu estivesse estudado numa ‘Escola Especial’, talvez não estivesse aqui com vocês. Por exemplo, não saberia viver em diversidade, tampouco contribuiria para que outras pessoas lidassem com as diferenças.

SA. Você sofreu bullying na escola porque, infelizmente, as crianças que têm autismo, Síndrome de Down, deficientes físicas ou visuais, negras , obesas e sem opção sexual definida passam por isto. Cite suas experiências.

LM. Sim, muito! A minha maior dificuldade foi a escola! Compreendo. Eu ficava assim quando faziam bullying comigo! Corria para o banheiro, chorava, e me batia muito! Minha mãe se assustava e eu dizia pra ela que eu é que me batia escondida, nunca menti! Só que, por eu ter hiper foco em estudar, não saía da carteira, ficava focada, literalmente. Cada autista tem o seu hiper foco, o meu é a Literatura ou qualquer coisa que eu queira estudar, que eu ache que é conhecimento.

E as minhas primeiras professoras me odiavam, e achavam que eu jamais aprenderia a ler, escrever etc.

Eu vivia olhando os livros, doida para aprender, mas era difícil. Minha avó lia as histórias, eu decorava para as provas e minhas professoras não entendiam, pois eu não sabia ler, mas conseguia decorar palavras difíceis e os colegas não, mesmo lendo. Mudei de rua e encontrei uma escola maravilhosa! A professora que me alfabetizou é minha amiga até hoje e tem uma dedicatória especial no livro ‘Entre Barbantes’.

Quando cresci, sofri muito bullying, chorava escondida. Eu era a nerd, tanto na infância quanto na adolescência. Tinha dificuldade de lavar o cabelo, então eu era feia. Quando comecei a namorar, fui aprendendo a ser vaidosa, descobri que meu estilo é clássico, recatado e me tornei bonita, como sempre fui. Eu já sou bonita sem me produzir, mas me tornei mais!

Também era muito zoada pelo meu sonho de ser escritora. Pelos familiares, colegas de colégio, poucos professores e amigas da minha mãe, amigas que achavam que eu queria copiar a minha mãe, porque ela escreve para a área da educação. Nunca entendi, pois os meus livros são romances/suspenses entremeados de poemas!

SA- Quando você descobriu seu Autismo?

LM.  Eu só descobri o meu autismo aos 19 anos, pois tive uma espécie de ‘surto’ que ocorreu numa livraria, em janeiro de 2019, na qual um escritor que era meu grande amigo, por quem eu tinha muito carinho me humilhou publicamente e colocou uma substância em minha bebida. Ele gritava comigo na livraria, com todos, dizia que eu só vendia porque tinha um rostinho bonito etc. Aquilo pode ter gerado uma crise, mas acho ‘surto’ uma palavra forte.

Meus familiares chamaram de surto e isso me dói o coração. Não acho que eu estivesse ‘surtada’, apenas confusa.  Decorrente dessa situação, fui parar na UPA e quase morri! Meu noivo me salvou. Mas acontece que, bem, fiquei traumatizada. Fui tomar injeção várias vezes no PINEL e meu noivo me acalmava para não doer. Eu tinha medo de ficar lá, meu médico queria que eu ficasse e quase me internou, mas agora ele percebeu o erro que quase cometeu.

SA. Querida, eu aprendi com os pesquisadores que nós nunca devemos abandonar os medicamentos de ordem médica ainda que tomemos algum remédio da homeopatia, tipo alguns chás porque os efeitos colaterais são irreversíveis. Essa orientação procede?

LM. Sim, pois somente os profissionais podem tratar o nosso problema, tendo em vista que cada caso é um caso.

SA. Quero agradecer a você, poetisa Letícia Mariana, que se disponibilizou a tirar dúvidas na presença das nossas amigas e colunistas e que, agora, também servirá de subsídio aos leitores do ROL. E, para terminar deixe uma mensagem para nós sobre Ser Autista.

LM. Eu tenho orgulho em ser autista! Muitos não tem, pois se consideram incapazes. Eu? Não! Eu tinha pavor de água, piscina e até isso estou superando! Não sabia me arrumar e agora sei montar looks! Não conseguia me maquiar, agora descobri o meu estilo de maquiagem e adoro as sutis! Tudo questão de ter orgulho do que é!”

Rio de Janeiro,09 de dezembro de 2020.
Poetisa e Escritora Sandra Albuquerque

sandralennen@gmail.com

WhatsAPP: 21/97648-9057




Letícia Mariana: 'O peso do mundo'

Letícia Mariana

O peso do mundo

O que é estar só? Não saberia ao certo, mas sempre estava. Quando eu era uma moleca, por exemplo, me derrubavam na escada do colégio, e eu achava que era por acidente. Acontece que era o mesmo acidente do raio que caíra duas vezes no mesmo lugar, recordam?

Eu sempre gostei dos livros e isso todos sabem! Era a minha maior companhia, e largar tal passado de solidão é um fardo. Sempre tive em mente que, se largássemos o passado, apagaríamos parte de nossa história. Mas, e agora?

Deus. Óbvio que eu acredito em Deus! Creio em orações, meu pranto se faz presente em cada momento de prece e, claro, ainda consigo me descabelar um pouco. Parece cena de novela mexicana? Talvez, mas sou a eterna exagerada dos sentimentos, e prefiro tê-los.

Fui enganada uma, duas e três vezes. Talvez mais. Fui passada para trás, cuspida e pisada, mesmo com pouca idade. Às vezes me pego devaneando se me enganarão novamente, ainda mais agora na vida adulta. Não caio mais em meras palavras adocicadas, e prefiro uma cebola caramelizada real do que um caramelo repleto de sordidez!

— Chega! – gritava comigo e com Ele. – Não suportarei mais, e ninguém mais vai me enganar!

— Consegues escutar, Letícia? – ouvia um ruído.

— Será que é meu anjo? – Insisti com meu ser.

— Eu sei que és maior do que podes imaginar! – ouvia mais um sentido para viver.

— Então eu não preciso me jogar?

O anjo riu.

— Tudo bem, claro que eu não ia me matar! – respondi. – Todos só sabem rir de mim, até o senhor anjo!

— Mariana, escutes, sabes escutar!

— Já escutei demais a todos, e agora preciso escutar a mim!

— E o que dizes? – o anjo não queria aparecer.

— Digo que amo a vida!

E que preciso viver. Preciso viver pois, apesar de tudo, escrevo, falo, danço só, mas danço! Gosto da companhia de quem me ama de verdade, e vivo por um propósito: encantar! Encantar com meus livros, conquistar meus leitores, lançar obras e mais obras até o suposto fim.

— Quando voltará, anjinho?

— Sempre que chamares, Letícia Mariana.

 

Letícia Mariana

leticiamariana2017@gmail.com