Rompeu tardia e chuvosa alvorada

Ella Dominici: ‘Rompeu tardia e chuvosa alvorada’

Ella Dominici
Ella Dominici
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer
Microsoft Bing. Imagem criada pelo Designer

Dentro do alto corpo destelhado como num estábulo, iam eretos como fósforos numa caixa; no transporte enxergavam a inundação que ia pela estrada do Sul. Os terrenos eram baldios, compondo uma área onde retinha as chuvas de outono, as águas de um maio colossal.

     Tudo desaparecera retumbantemente, dando lugar a um lençol horizontal e imóvel de águas marrons, que se estendiam aos campos de um além vivos. Emaranhado em compridos farrapos inertes no fundo do sulco dos arados e brilhando tenuamente sob a luz cinzenta.

     Via-se a água da inundação perfeitamente imóvel e plana. Não se iluda com inocência e suavidade, não, creia nas forças de um rio em perversão!

     Tão quieto agora, que se podia caminhar sobre ele, via-se uma colcha como de cetim perfeitamente lisa e imóvel, cobrindo as feridas humanas; um aceirado onde se fixavam os postes em retas fileiras como cercas que demarcavam os terrenos. Agora frouxos. Tudo bambeando molemente.

     Havia uma vala sob a ponte e um pequeno riacho que escondia a “Lagoa dos Patos”, invisíveis, de patos submersos e penas flutuantes.

     Ouviu- se um vago estrondo subaquático que soava como um trem destroçado que, num descarrilamento ao longe, sugeria uma velocidade espantosa e secreta.

     Na superfície corriam dejetos espumosos, animais, idosos, roupas, objetos, telhas de vinil e plásticos enquanto afundaram-se latas, ferros, pedras e concretos. A extrapolação das águas em excesso cobiça calçadas, ruas, praças, passarelas e para passá-las em avalanches pelas vulneráveis cidades, dificuldades e impossibilidades.

     Por que, água, não escoa e liberta a terra e as gentes, por que acumulada resta como mortalha? Enchentes e mais enchentes, mortes, epidemias, males por crises hídricas se avolumam nos anos e meses de impactos ambientais. E a correria, a fuga destes mortais, banais? 

     O prejuízo econômico pesa nas vidas e nas realidades convulsionadas por perdas residenciais, comerciais, industriais; morre a semente, o campo, o sementeiro, o gado, suínos, equinos, ovíparos, os lúcidos, infantes, gestantes, cadeirantes e caducos. Importam-nos plátanos, as parreiras e roseiras.

    Sucesso absoluto aos peçonhentos e aos ladrões, usurpadores em vulneráveis momentos.

     Correntezas frias e insensíveis, fortes avalanches despidas de compaixão levam móveis, comidas e vidas, mergulham alguns e “nenhuns” para não voltar, e os que restam a que prestam, nestes rostos empalidecidos pelas lágrimas do luar. 

     Sinistra e lamentosa chuva, espessou os rios e, agora,  contundente, comove e consterna os povos a socorrer e amar estas gentes, sobreviventes, heroínas das enchentes.

     Há um rio que atravessou a nossa casa, esse rio rebelou-se pelo tempo;  as lembranças são peixes que restaram das correntes nadando nos contratempos. E ao olhar nos céus de hoje vejo inundações de aves, refração de estrelas que, nadando, se movimentam no lumiar de minha esperança.

     Vem me guiando desde menino o rastro celeste de invisíveis enxurradas, em uma constelação que guardou meu diário em segredo, Cruzeiro do Sul.

Ella Dominici

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CAIXA CULTURAL SÃO PAULO EXIBE A ARTE ABORÍGENE CONTEMPORÂNEA DA AUSTRÁLIA

Obras exaltam a força da natureza e celebram uma linguagem visual singular, que inova e perpetua a tradição e a cultura dos aborígenes australianos

Obra de Rover Thomas – Crédito: Coo-ee Aboriginal Art Gallery – Australia

CAIXA Cultural São Paulo traz pela primeira vez ao Brasil e à América Latina a exposição “O Tempo Dos Sonhos: Arte Aborígene Contemporânea da Austrália”, uma seleção vigorosa, significativa e diversificada de obras dos artistas aborígenes contemporâneos daquele país-continente.  A mostra, que será inaugurada no sábado, dia 19 de março, faz parte do “Australia Now” (Austrália Agora), o festival organizado pelo governo Australiano celebrando o ano da Austrália no Brasil.

 

Os visitantes poderão conhecer mais de setenta obras de arte de artistas aborígenes de regiões variadas da Austrália, entre pinturas, esculturas e impressões, que englobam um período de 45 anos, desde o despertar da comercialização da arte aborígene contemporânea na década de 70 até o presente.

 

Os trabalhos expostos na Caixa Cultural de São Paulo foram selecionados pelos curadores Adrian Newstead, Clay D´Paula e Djon Mundine dentre uma extensa coleção de mais de duas mil obras da mais antiga galeria de arte aborígene da Austrália, a Galeria de Arte Coo-ee. Peças de coleções privadas também atravessaram o oceano exclusivamente para esta exposição.

No sábado, 19/3, e domingo, 20/3, o curador Clay D´Paula e a professora e doutora em Antropologia Ilana Seltzer farão visitas-guiadas.

 

Segundo o curador Clay D´Paula, “os brasileiros tiveram, até hoje, poucas oportunidades de conhecer todo esse universo –  o que pode, inclusive, levá-los a refletir sobre os povos indígenas que vivem em seu próprio país.  Brasil e Austrália possuem muitas coisas em comum. Contribuir para aproximá-los e convidar ao diálogo é um dos objetivos dessa exposição”, afirmou.

 

Obra de Lorna Fencer – Crédito: Coo-ee Aboriginal Art Gallery – Australia

Artistas participantes

 

A mostra reúne os artistas aborígenes de maior projeção internacional e com uma paleta refinada e repleta de cores, como a do celebrado artista Rover Thomas (1926-1998) com suas paisagens de cor ocre que mudaram, com sua visão, a percepção paisagística australiana. Suas pinturas podem ser apreciadas da mesma forma que as criadas pelos impressionistas no século XIX, mas, na sua maioria, sem horizontes.

 

Outra artista de destaque, considerada pela crítica como uma das maiores pintoras da abstração do século XX, é Emily Kame Kngwarray (1910-1996), que estará representada na mostra pela pintura “Sem título (Alargura I)”. Nela, a aplicação de cores vermelhas e amarelas destaca os tons variados e de mudança no ciclo de vida do Anooralya Yam, uma planta utilizada como forma de alimento pelos povos aborígenes do deserto australiano.

 

 

 

SERVIÇO

Exposição“O TEMPO DOS SONHOS: ARTE ABORÍGENE CONTEMPORÂNEA DA AUSTRÁLIA”

Local: CAIXA Cultural São Paulo (Praça da Sé, 111 – Centro – Metrô Sé)

Abertura: 19 de março de 2016 (sábado), às 11h

Visitação: 19 de março a 15 de maio de 2016 (terça-feira a domingo)

Horário: 9h às 19h

Informações(11) 3321-4400

Classificação indicativa: livre

Entrada franca

Acesso para pessoas com deficiência

Patrocínio: Caixa Econômica Federal

 

Visitas guiadas com o curador Clay de Paula e a professora e doutora em Antropologia Ilana Seltzer

Local: CAIXA Cultural São Paulo (Praça da Sé, 111 – Centro – Metrô Sé)

Galerias Dom Pedro II e Florisbela

Visitação. 19 e 20 de março

Horários: 11h no dia 19/3 e às 15h no dia 20/3.

Duração: de 30 minutos a 1 hora

Público alvo: todas as idades

Quantidade de pessoas: 60 pessoas

Forma de inscrição: por ordem de chegada, no local da exposição