‘Ortografia: tropeços, estigmas e caminhos para acertar o passo’
Fidel FernandoImagem criada por IA do Bing – 14 de fevereiro de 2025, às 16:36 PM
Há quem diga que a ortografia do português é um labirinto sem saída, uma teia de regras e excepções que desafia até os mais experientes. E, de facto, quem nunca hesitou ao escrever palavras como ʻexcepçãoʼ, ʻascensãoʼ ou ʻabsorverʼ? Se para muitos adultos esse é um desafio, o que dizer então dos alunos que, ao tentarem se expressar por escrito, caem em armadilhas linguísticas e acabam sendo corrigidos com o peso do riso ou da reprovação?
Ao analisar um poema colectivo, referente a uma turma das classes iniciais, certa vez, li: “Ele é o mel se desejas charope”. Ainda, noutro texto descritivo, li: “…escola que eu amo muinto”. O primeiro caso ilustra a dificuldade na correspondência entre grafemas e fonemas. Ao escrever ʻcharopeʼ, o aluno associa o som [ʃ] com ʻchʼ (como em ʻacharʼ, ʻchamadaʼ), uma escolha incorrecta dentro das normas.
O segundo caso prova que há uma discrepância entre o modo de falar e de escrever. Não se fala da mesma forma como se escreve (e vice-versa). Reconhecemos um som nasal na palavra ʻmuitoʼ. Entretanto, não podemos nos apoiar na oralidade para a escrever.
Mas, os erros ortográficos não se restringem ao contexto escolar primário. O erro ortográfico está em todos sítios:
Redes sociais (publicações no Facebook, Twitter, Instagram e TikTok. Mensagens no Whatsapp, Telegram e Messenger);
Placas e anúncios públicos (cartazes, outdoors, avisos em lojas, mercados e transportes públicos, menus de restaurantes e bares, panfletos promocionais e propagandas);
Textos académicos (monografias, dissertações, teses, enunciados de provas, materiais didácticos);
Mídia e comunicação (sites de notícias, legendas de Tv, blogs, legendas de vídeos no YouTube e TikTok, legendas em filmes e séries; Documentos institucionais e administrativos (ofícios e circulares empresariais, currículos e cartas de apresentação, contratos e documentos oficiais).
A esse respeito, recordo-me sempre do Pe. António Vieira, para quem “nos grandes, são mais avultados os erros, porque erram com grandeza e ignoram com presunção.” Essa proposição sugere, por exemplo, que, quando um órgão de imprensa (jornais, revistas, portais de notícia, emissoras de tv e rádio) — quer seja privada, quer seja pública — comete erros, esses erros são mais notáveis e têm consequências maiores. Além disso, ele critica a arrogância de quem, por se considerar superior, ignora sua própria ignorância. Em outras palavras, quanto mais alto o status de uma pessoa, mais impacto têm seu erro, e, muitas vezes, a presunção a impede de reconhecê-lo.
Na verdade, uma escrita deficiente pode comprometer a credibilidade de qualquer pessoa, seja num exame, numa entrevista de emprego ou mesmo numa publicação nas redes sociais. Em tempos digitais, um erro pode transformar um argumento sólido em motivo de zombaria.
Escrever correctamente, para além de uma exigência académica, é um factor de inclusão social. Um candidato que apresenta um currículo repleto de erros pode ter sua competência questionada. Uma mensagem formal mal escrita pode gerar constrangimento. E, numa sociedade onde a comunicação escrita tem cada vez mais peso, dominar a ortografia não é apenas um luxo dos eruditos, mas uma necessidade para qualquer um que almeje credibilidade e prestígio.
Em conformidade com os estudos de Tavares (2018), Gomes (2006), Mateus (2002), Pereira (1984), eis algumas razões dos erros ortográficos:
Irregularidades e as especificidades ortográficas que têm fundamento na etimologia;
Falta de correspondência unívoca entre os sons e grafemas;
Interferência linguística;
Influência do meio familiar e social da criança;
Falta de hábito de leitura;
Falta de consulta a dicionários e prontuários;
Falta de revisão atenta dos textos;
Aspectos psicológicos, como a memória e falta de atenção;
Aspectos patológicos como disfasia, dislalia.
Tendo em conta o exposto, surge o questionamento: Será que as estratégias didáctico-metodológicas adoptadas nas escolas ajudam os alunos a desenvolverem a competência ortográfica?
Se a ortografia também se aprende por memória visual, como defende Tavares (2018), é fundamental expor os estudantes a práticas constantes de leitura e reescrita. Não basta apenas corrigir os erros. Não. É preciso criar um ambiente onde a palavra escrita esteja presente de forma natural e estimulante.
Nesta hora, lembro-me de algumas soluções que funcionam:
No Colégio Criança Feliz, em Angola, sem desejar fazer publicidade, algumas iniciativas mostram que o ensino da ortografia pode ser mais envolvente do que apenas decorar regras:
ʻTarde de autógrafosʼ – Os alunos escrevem textos durante as aulas. Esses são coleccionados em livro. Organiza-se um evento onde autografam seus escritos, reforçando a importância da escrita correcta.
ʻ15 minutos de leituraʼ – Um momento semanal dedicado à leitura, para que os alunos (e os funcionários) se familiarizem com a grafia correcta das palavras.
ʻTexto na paradaʼ – Um momento diário, que é destinado à declamação, leitura, ou recital de poesia, incentivando o contacto frequente com a escrita padrão.
Essas estratégias não apenas estimulam a aprendizagem ortográfica, mas também ajudam a tornar o hábito da leitura e da escrita mais prazeroso e significativo.
À guisa de conclusão, a ortografia do português pode ser traiçoeira, cheia de armadilhas e excepções, mas não precisa de ser um pesadelo. Com metodologias adequadas, incentivo à leitura e uma abordagem menos punitiva e mais pedagógica, os alunos podem desenvolver segurança na escrita e, assim, evitar os tropeços que podem custar oportunidades e reconhecimento. Afinal, um bom texto abre portas. Um erro fecha-as.
José Antonio TorresImagem criada por IA do Bing – 04 de janeiro de 2025 às 07:27 PM
É angustiante trilhar caminhos, Onde não vemos o nosso objetivo definido… Ficamos rodando, interminavelmente, no mesmo lugar. Caminhamos longas jornadas, Mas, irremediavelmente, retornamos aos lugares por onde já passamos. Angústia… Frustração… Não vemos progresso em nosso caminhar. Nossa vida encontra-se em um verdadeiro labirinto. A saída, onde está? Ouço uma voz interior que me alerta e orienta. Depois de tantas expectativas quebradas, Vislumbro uma meta. Imbuído de determinação e coragem, Sigo essa voz interior. Com o tempo, aprendi a dar-lhe atenção. O que era escuridão nesse labirinto sufocante vivido até então, Começa a ter um leve bruxulear de claridade. A medida que avanço, Percebo que tomei um rumo diferente dos anteriores… A claridade vai aumentando, e passo a vislumbrar a saída. Meu espírito se regozija e se vê livre Do labirinto atordoante que me oprimia. Novas experiências e novas realizações me aguardam. Mais do que encontrar a saída do labirinto, Acabei encontrando a mim mesmo.
Nilton da RochaSer! Imagem gerada por IA do Bing de novembro de 2024 às 11:11 AM
Permito-me ser livre na vastidão, Saio da zona de conforto, na imensidão. Navego na simplicidade do querer, E mergulho na liberdade de viver.
Nos desafios do dia a dia me encontro, Pauso para apreciar os caminhos prontos. Não existe forma ou fórmula a seguir, Equilibrar coração e razão, é o porvir.
Busco pelo autoconhecimento profundo, Nem mais, nem menos, assim é meu mundo. Tudo no seu tempo, quieto e sedento, E vivo cada instante, pleno no momento.
No silêncio da noite, no brilho da estrada, O passado é luz que me faz recordar. E em cada passo, a lição conquistada, Sigo o caminho que ainda vou trilhar. Permito-me simplesmente ser.
Diamantino Bártolo“O progresso. Um dos caminhos para a paz” Imagem criada pela IA do Bing
O progresso, que todo o responsável, seja ele: dirigente político, religioso, empresarial e institucional deve querer para si, igualmente, o deve desejar para os que dele dependem e para o todo coletivo. Um progresso em permanente e sustentável ascensão para o bom, para o bem e para a perfeição, em todos os domínios: material e espiritual.
O caminho para um progresso ascensional, consolidado em cada fase do seu percurso, postula uma sociedade: de princípios, de valores, de sentimentos; de convicções, atitudes, procedimentos corretos e boas-práticas, em todos os atos. Uma sociedade à frente da qual estejam pessoas competentes, com espírito de serviço público, de verdadeiro apostolado missionário. Pessoas habilitadas nas áreas pelas quais são responsáveis.
A competência dos que governam, como a dos que executam as decisões dos primeiros, é exigível a todos os níveis, e em todas as atividades, incluindo a dimensão axiológica. O progresso, no sentido que aqui lhe é dado, deve ser global, sem desigualdades, sem injustiças.
Este progresso tem de envolver pessoas idóneas e, mesmo nestas condições, ainda se verifica que: «A injustiça é encontrada em todas as partes, algumas vezes consequência de acções conscientes de pessoas de má índole ou mal-intencionadas, algumas vezes consequência de julgamentos ou decisões parciais ou proteccionistas, algumas vezes resultantes de preconceitos e outras vezes de erros involuntários, deficiência ou ausência de critérios de conceder ou repartir alguma coisa.» (RESENDE, 2000:186).
Dificilmente se iniciará, e se consolidará, um progresso coletivo, enquanto se mantiverem as desigualdades, as injustiças, a insegurança, as guerras e a impreparação dos cidadãos e, sobretudo, enquanto a dimensão axiológica da pessoa, verdadeiramente humana, não passar a primeiro plano, das preocupações permanentes mundiais.
Possivelmente, não haverá progresso sem ordem, sem disciplina, sem respeito e sem observância integral dos normativos jurídico-sociais, ético-morais e religiosos. Ordem e Progresso são os pilares essenciais na construção da Paz, num ambiente de liberdade, responsavelmente assumida, de aceitação do outro, tal como se apresenta, sem prejuízo da crítica construtiva, quando e sempre que necessária, que se lhe pode dirigir, no sentido da sua adequação à ordem estabelecida, em vista de um progresso equitativo. Progresso no seu conceito mais nobre de desenvolvimento pessoal e social, sempre apontado para o bem-comum da humanidade, em liberdade, com justiça e em paz.
Ordem, Progresso e Paz, uma trilogia que bem poderia ser um lema universal e não apenas do Brasil, relativamente aos dois valores já descritos: Ordem e Progresso. Tendo-se verificado a importância da Ordem e do Progresso, para a dignidade da pessoa humana, do desenvolvimento pessoal, social e coletivo, a sua concretização plena seria insuficiente, num ambiente contrário à paz, esta concetualizada em todas as vertentes da atividade humana e não como, tradicional e hipocritamente, se define, em muitos círculos, que consideram a paz como a “ausência da guerra”.
A paz tem conotações mais profundas, desde logo, a paz de espírito, a paz social, a paz religiosa, a paz universal. Numa perspetiva prática, pode-se afirmar que um bom caminho para a paz, entre outros possíveis, e obviamente bons, reside na atitude individual de não se prejudicar a si próprio, nem aos outros.
Quem age com dolo, para prejudicar alguém, seja pessoa física, comunidade ou nação, certamente, não está a contribuir para a promoção da paz. Com efeito: «Não prejudicar implica, evidentemente, não matar nem roubar ou mentir às pessoas. Implica igualmente não sermos agressivos – não sermos agressivos nos nossos actos, na nossa linguagem ou na nossa mente.» (CHODRON, 2007:51).
A paz constrói-se paulatinamente, no dia-a-dia, com pequenos gestos, pequenas frases, pequenas intervenções públicas, e/ou privadas, sem intencionalidades egoístas de proveitos próprios, protagonismos exacerbados, com pequenos passos em benefício de todos, na medida em que: «Quando estamos a treinar-nos na arte da paz, não nos são feitas quaisquer promessas de que, devido às nossas nobres intenções tudo vá correr bem. Aliás, não há quaisquer promessas de fruição. Em vez disso, somos encorajados a olhar simplesmente de um modo profundo para a alegria e a tristeza, para o riso e para o choro, para a esperança e o medo, para tudo o que vive e morre. Aprendemos que o que cura verdadeiramente é a gratidão e a ternura.» (Ibid.:130).
A preparação de quem dirige deveria ser, tal como foi descrita, e enquanto assim não acontecer, a paz continua a ser uma miragem, ou, se se preferir, uma verdade em permanente adiamento, porém, possível de se transformar em realidade, a partir do momento em que os responsáveis políticos, religiosos, empresariais, militares, estrategas, cientistas e técnicos, assim o queiram.
Bibliografia
CHODRON, Pema, (2007). Quando Tudo se Desfaz. Palavras de coragem para tempos difíceis. Tradução, Maria Augusta Júdice. Porto: ASA editores.
RESENDE, Enio, (2000). O Livro das Competências. Desenvolvimento das Competências: A melhor Autoajuda para Pessoas, Organizações e Sociedade. Rio de Janeiro: Qualitymark
Venade/Caminha – Portugal, 2024
Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo
Presidente HONORÁRIO do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal