Minguar de víveres: A luta de uma mulher
Osvaldo Manuel Alberto:
‘Minguar de víveres: A luta de uma mulher’
De tanta fome confundimos o prato com o parto. Até o mais velho que sempre diz: parto os cornos, fica sem forças para demonstrar a sua arte.
Não se trata apenas da alteração de algumas letras, é o mais profundo que um ser humano pode sentir.
Tenho tanta fome que a esta hora preferiria dar tantos partos simultâneos, a faltar ou ver flutuar um prato.
Nem que fosse um prato de arroz com cheiro de nada.
Está difícil ter um prato à mesa.
Dê-me um pão, por favor!
Ainda que não queiras colocar no prato, ponha-o no chão.
Na ausência de pão, permitam-me partilhar o osso com o vosso cão.
Já vi partir para eternidade filhos meus, pela ausência de comida.
Já não me interessa o valor nutricional, pouco me importo se me alimento, desde que consiga comer.
Não tenho culpa de ser tão fértil.
Aos meus filhos apelidam de cassua, quando na verdade é má nutrição.
Em nossa cubata não há conta que bata certo.
Os meus filhos não usam bata, nem comem batata. Não é por desgosto, mas pela ausência.
Não posso rir, prefiro parir a ver meu filho partir. A dor de perder alguém por fome é maior do que parir 10 vezes no mesmo dia.
Aos prantos eu te peço:
Permita-me lavar todos os pratos de sua casa, até aqueles que servem de esconderijos dos ratos.
Os ratos, há muito que fugiram do meu casebre, pois não há pão para repartir.
É desta forma que vejo os meus sonhos partirem para lugar incerto, tal como os ratos que nos abandonam mesmo sem insecticida.
O brilho das panelas incomodam, parece bate chapa em bairros novos.
Ouvi falar em branqueamento e repatriamento de capitais, podem aldrabar-nos mais,
Mas não falte o pão, porque o nzala yeya.
Não sou mulher do Mingo, mas a cada dia que passa eu mínguo de víveres.
Osvaldo Manuel Alberto
18.11.2024