A beleza dos sentimentos; Os relacionamentos intensos e vividos; Os rios que tocam as margens; A chuva que toca o solo Para irrigá-lo e fazer germinar as flores; Os olhares que se tocam; Mãos que se tocam e entrelaçam; Lábios que se tocam, Suave ou ardentemente; Enamorados que se tocam através do sentimento; Música que toca a alma. Assim como o céu toca o mar no horizonte, Você me tocou com o seu amor.
De onde vem essa força Que a tudo transforma E semeia? Essa luz que transpassa os olhos, Expande, transborda E derrama pelo chão!?
De onde verte essa emoção Feita água em cachoeira, Borbulhante e ligeira, Molhando as palmas das mãos? Essa ânsia de agir feito criança, Correr descalça na chuva E dormir por entre as nuvens?
De onde brota tantas palavras Carregadas de saudade, Se encadeando em frases, Se transformando em poesia… Esse avesso da alma, Que se entrega à fantasia?
De onde nasce essa coragem, Que já foi medo um dia, Mas hoje quer ser o mundo… Segundos de abstração, Que faz da gente um corcel?
De onde surge esse céu Que abre caminhos por dentro, Emerge como nascente, Trazendo à tona lembranças Esquecidas para sempre… Mas somente enquanto O ‘sempre’ Não nos devore loucamente!
Sergio Diniz da Costa: “Chove chuva chove sem parar…”
Final de tarde e o tempo já estava fechado, ameaçando cair outro toró, como já ocorrera no dia anterior. No entanto, sair com guarda-chuva na rua, enquanto ainda não está chovendo, é esquecê-lo no primeiro momento em que ambas as mãos estiverem vazias. Pelo menos para mim!
Eu estava, portanto, desguardachuvado quando o céu resolveu cair sobre toda a cidade.
Relativamente longe do meu carro ─ onde o ‘tal’ se encontrava, ali inútil, tanto quanto uma roupa de mergulho num deserto ─, não me restou alternativa, senão me abrigar embaixo de uma marquise. E, comigo, aos poucos, mais a cidade inteira…
E, também aos poucos, as muitas reclamações sobre as chuvas em excesso.
Sem muitas opções, enquanto esperava o tempo se recompor ─ e as pessoas, também! ─, detive-me a ouvir, discretamente, alguns comentários. Um em especial: um jovem, visivelmente apaixonado, cheio de cuidados com a bela e delicada namorada.
Pelo que deu para perceber, logo mais eles iriam a uma grande festa e ela tinha acabado de sair de um salão de beleza, onde passara horas ‘dando um trato’ no cabelo e, em contrapartida, tendo um maltrato nos bolsos.
Aquela chuva, digna de um novo Dilúvio, por conseguinte, se mostrava o suprassumo, a apoteose de todos os azares.
Enquanto chovia torrencialmente fora da marquise, sob ela a moça também começou a molhar, agora, os ombros do namorado que, visivelmente aflito, não sabia o que fazer, a fim de mitigar aquele sofrimento feminino.
Confesso que me compadeci da situação. E, dando asas à imaginação, vi naquele jovem um outro, um carioca de 18 anos, de nome Jorge Duílio Lima Meneses que, naquela situação, apelaria à chuva e a Deus: ‘Chove Chuva/ Chove sem parar…/ Pois eu vou fazer uma prece/ Prá Deus, nosso Senhor/ Prá chuva parar/ De molhar o meu divino amor…/ Que é muito lindo/ É mais que o infinito/ É puro e belo/ Inocente como a flor…/ Por favor, chuva ruim/ Não molhe mais/ O meu amor assim…’
Infelizmente, porém, sob aquela marquise, não estava ali o nosso querido Jorge Duílio, ou melhor, para o grande público, Jorge Ben* (posteriormente, Jorge Bem Jor), um guitarrista, cantor e compositor que, antes de enveredar pela música, queria ser jogador de futebol e chegou a integrar o time infanto-juvenil do Flamengo, mas, em tendo a música no sangue, seguiu a carreira e vem caminhando pelas trilhas do rock and roll, samba, samba rock, bossa nova, jazz, maracatu, funk, ska e até mesmo hip hop, com letras que misturam humor e sátira, além de temas esotéricos e de trazer influências árabes e africanas, oriundas de sua mãe, nascida na Etiópia.
Sua biografia aponta, ainda, que ele ganhou seu primeiro pandeiro aos treze anos de idade e, dois anos depois, já cantava no coro de igreja. Também participava como tocador de pandeiro em blocos de carnaval. Aos dezoito, ganhou um violão de sua mãe e começou a se apresentar em festas e boates, tocando bossa nova e rock and roll.
No início dos anos 60 apresentou-se no Beco das Garrafas, que se tornou um dos redutos da bossa nova. Em 1963, ele subiu no palco e cantou ‘Mas que Nada’, uma das canções em língua portuguesa mais executadas nos Estados Unidos até hoje, na versão do pianista brasileiro Sérgio Mendes com o grupo de hip hop norte-americano Black Eyed Peas.
Em 1968, foi convidado para o programa Divino, Maravilhoso que Caetano Veloso e Gilberto Gil faziam na Tupi. Participou, também, de O Fino da Bossa (comandado por Elis Regina e Jair Rodrigues) e da Jovem Guarda (de Roberto Carlos). Nessa época, obteve enorme sucesso com ‘Cadê Tereza?’, ‘País Tropical’, ‘Que Pena’ e ‘Que Maravilha’, além de concorrer com ‘Charles, Anjo 45’ no festival Internacional da Canção, da TV Globo, em 1969.
Na década de 1970, venceria este festival com ‘Fio Maravilha’, interpretado por Maria Alcina. ‘País Tropical’ também teve êxito, na voz de Wilson Simonal. Ainda nos anos 70, Jorge Ben lançou álbuns mais esotéricos e experimentais, como ‘A Tábua de Esmeralda’ (1974), ‘Solta o Pavão’ (1975) e ‘África Brasil’ (1976). Embora não tenham obtido sucesso comercial, estes álbuns são considerados clássicos da música brasileira.
Não, debaixo daquela marquise não estava o inspirado Jorge Ben, mas tão somente um desconsolado jovem apaixonado, para o qual aquela chuva ruim, repentina e solidariamente, deu trégua e, assim como para a namorada, parou de molhar a todos nós.
o banho que molha tem algo de peculiar não é banho à toa entoa na acústica chuva que escorrega a alisar corpo de cima abaixo parte por parte pedaço por pedaço de um inteiro tudo
água desliza devagar entre todo o universo de um corpo trêmulo onde há tanto cansaço o medo se esquiva afoga-se mágoas dúvida se dissipa no ar das bolhas que dão pulos
e que voam de fato na insustentável leveza e a liquidez do tudo rola pelo buraco do ralo resquícios do antigo excessos do moderno reforma na água sutileza e a solidão deságua afoga as fósseis frustrações,
Kathársis humoral
se o castigo das pressões na ducha faz pele rosada contrasta com carinho luxo do líquido que ensaboa flui facilmente na face feição torna-se terna na eterna maçã visage rubra de calor da água
quente caliente aproveita faz foto de fantasmas felizes de aparecer pois eram figuras falidas sempre tidos por falácias
figurar no fundo de um ser é tarefa feita não para os fracos mas ao que é profundo caçador que extirpa miasmas
em seu banho peculiar ensaboa pensamentos quiasmas no enxágue preconceitos se soltam na kathársis a jorrar como a água que levou seu tudo errado lavou seus mais que humanos defeitos perfeitos
Escrevo quem significo deixando versos livres sentirem meu existir.
Sem olhares descrevo meu sentir; choro chuva de adequadas lágrimas vivendo na primavera sem ressentir. Vejo flores, recebo amores, inspiro-me; minha esperança adapta-se sem mentir.
estrada se abre desvios à frente vento sopra levemente às costas Sol brilha, cintila morno suave à face nos seus campos encontras ais salientes caem de mansinho chuvas adocicadas
enquanto o guiso das ovelhas meigos sinus presos em aselhas acorda o vale deitado verde do gramado que alonga-se sede
eu, coração desritmado vou dilatando além da conta dos vermelhos sábios eu recitando de molhados lábios no ritmo destes batimentos francos
descontrolados pois não caibo na pequena casa de meu corpo rola coração ladeira abaixo roda coração no tempo em furacão
vai desencanto te impera cachoeira esta paixão te ampara a queda more em gotas juntas lado a lado moro-me, habito-te e me encaixo onde nasce a nós foz de azulado veio de seu corpo em meu coração