Uma conversa com o padre

Tomás Eugénio Tomás: ‘Uma conversa com o padre’

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Um crente decidiu ter uma conversa com o padre da sua paróquia. Ele alegava que queria sair da igreja, porque as pessoas de lá se apresentavam como queriam e faziam e desfaziam.

− Eu acho que vou sair da igreja, padre.

− Por quê, meu filho?

− As pessoas que actualmente têm vindo à igreja fazem e desfazem.

− Como assim? Questionou o padre com ar de preocupação. 

− No domingo passado, quando cheguei à igreja, sentei-me próximo duma irmã. Ela não parava de mexer o telefone do princípio da missa até ao fim.

− Mas isto não é motivo para sair da igreja.

− Senhor padre, noutro domingo, uma jovem ia comungar de saia curta, ao menos usava um pano e enquanto o outro, após comungar, não terminou mais a missa, foi ficar fora com os seus amigos, tirando e postando fotos. O padre acha essas atitudes justas?

 − Não, meu filho.

O homem estava muito decidido que nem deixou o padre terminar de falar.

− Hoje eu vou conversar com o meu grupo e vou dizer a eles que já não serei mais o coordenador.

Naquele instante o padre olhou para o homem e disse-lhe: − Meu filho, Deus nos deu a liberdade de escolha e quanto a sua decisão não serei contra e nem a favor, mas antes de você sair da igreja, quero que pegue esta vela e dê duas voltas à igreja, mas a vela não pode apagar.

O homem achou aquilo muito fácil e aceitou o desafio. Naquele dia o clima estava frioso e soprava bastante, talvez seria uma causa para a vela apagar, mas o homem fez o que o padre pediu-lhe… Minutos passaram e o homem chegou ao padre:

− Já fiz.

− Uau, estou feliz por você, não deixou cair nenhuma gotinha de vela e nem sequer apagou.

− Sim, eu disse que seria fácil. Agora já posso sair da igreja?

− Não. Permita-me dizer o seguinte: você sabe o porquê que conseguiu?

− Sim, porque estava concentrado na vela.

− Meu filho, é isto mesmo ‘concentração’ é o foco de tudo, se você estar concentrado em si e em Deus, não verá os que demais fazem. “Deus é a sua vela”, concentre-se e conecte-se apenas Nele. Saiba que cada um tem o seu objectivo cá na igreja; a igreja aceita todo mundo, mas não aceitamos toda prática, por esta razão que existe cristão (que segue a Cristo Jesus) e não cristão (que diz seguir, mas não segue). 

Tudo foi possível porque se concentrou apenas na vela, se estivesse distraído ela apagaria, isso se chama ‘Fé’, e ela diminui sempre que deixamos de acreditar e confiar. A fé aumenta com as nossas acções, atitudes etc. Nós não podemos ir à igreja simplesmente porque tem pessoas que vão nos olhar, nós devemos e temos que ir para adorar o nosso Deus (principal) e as pessoas são secundárias, tenho dito, meu filho que “a igreja é nosso coração e as pessoas só a compõem”.

Os dizeres do padre deixaram-no entre a espada e a parede.

E você vai mudar de igreja por isso? Por que o padre, pastor, ancião, coordenador, diácono e a diaconisa ou qualquer outro irmão da igreja dizem alguma coisa e não fazem? A irmã que diz sobre a fornicação namora muito? O pastor comprou carro com o dinheiro da oferta? A diaconisa falou mal da irmã do coral? O pianista e o guitarrista não pagam as ofertas? O líder do grupo coral falta com respeito aos outros membros do grupo? O diácono engravidou uma irmã e mandou abortar? O pregador e o profeta pregaram sobre o amor ao próximo, mas não amam? O ancião cometeu e foi destituído da congregação?

Sobre o autor

Tomás Eugénio Tomás
Tomás Eugénio Tomás

Tomás Eugénio Tomás, natural de Luanda (Angola), é licenciado no curso de Ensino de Língua Portuguesa e professor.

Na área literocultural, compositor, palestrante e revisor.

Autor das obras A Regra do jogo, Esperança, Rascunho, Kampôdia e a crónica O Infeliz.

Organizou a antologia Tudo e Nada e participou da antologia A voz do poeta.

É CEO do projecto Ensinar e Aprender e apresentador do programa 10 Minutos de Aprendizagem

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O respeito na mitigação da crise

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Artigo

‘O respeito na mitigação da crise’

Diamantino Bártolo
Diamantino Bártolo
“O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a Lei da justiça, de amor e de caridade na sua maior pureza”
Microsoft Bing – Imagens criadas pelo designer

RESPEITO é a segunda letra da sigla CRISE e, dia após dia, este superior valor que remete para um comportamento próprio das pessoas bem-formadas, tudo indica que está a diluir-se nos interesses individuais de quem tem poder para tomar e aplicar, unilateralmente, as mais violentas decisões, porque não respeita a dignidade dos seus semelhantes, e que deve caraterizar toda a pessoa humana, isto é: todos os cidadãos nascem livres e são iguais em dignidade e direitos.

Quem governa, seja o que for, é porque detém poder e vice-versa: quem detém poder, pode governar, seja o que for. O Respeito é um valor, um comportamento, uma deferência, que deverá ser pluridirecional, recíproco, mas, eventualmente, deve partir de quem está melhor preparado, e ocupa posições de maior responsabilidade, de resto, como aconselham as boas normas de conduta social, ou seja: “os bons exemplos devem partir de cima”.

É inaceitável que pessoas com formação superior, em especial, mas também quem não possui tal preparação, ocupando cargos importantes, não tenham respeito pelos seus semelhantes em geral, e por aqueles que, em parte, lhes proporcionaram educação, formação e estatuto.

É bom não ignorar que grande parte das pessoas, se tem formado à custa do erário, para o qual todos contribuem, através de enormes cargas fiscais, incluindo os que durante toda a vida foram tributados e, agora, extemporaneamente, depois de terem cumprido com todas as suas obrigações fiscais, para auferirem um rendimento que lhes permita um fim de vida digno, continuam sufocados com tantos impostos.

Os Seniores são, mais uma vez, convocados, coerciva e injustamente, para colaborarem no seu próprio empobrecimento, precisamente pelos detentores do poder que, tendo beneficiado dos contributos daqueles, os maltratam agora e humilham, porque os encontram fragilizados e depauperados. Haja respeito pelas pessoas, por aquelas que tudo deram na vida, para proporcionarem o melhor às novas gerações, mas também para terem um final tranquilo, confortável e digno, porque é justo, legítimo e legal que assim seja.

O Respeito, que é devido às gerações que agora se aproximam do fim do seu ciclo de vida terrena, não é compatível com processos e procedimentos ofensivos da dignidade destas pessoas. É claro que para além de outros interesses, o Respeito encontra-se sempre, nas pessoas humanas de bem, com boa formação e estas assertivas confirmam-se, claramente.

Na verdade, tudo indica que: «O verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a Lei da justiça, de amor e de caridade na sua maior pureza (…). O homem de bem é humano, é bom e benevolente para todo o mundo, sem distinção de raças, nem de crenças, porque vê irmãos em todos os homens (…). O homem de bem, enfim, respeita nos seus semelhantes todos os direitos …» (KARDEC:332-34).

Bibliografia

KARDEC, Allan, (2010). O Evangelho Segundo o Espiritismo: contendo a explicação das máximas morais do Cristo, sua concordância com o Espiritismo e sua aplicação nas diversas situações da vida. Tradução, de Albertina Escudeiro Sêco. 4ª Edição. Algés/Portugal: Verdade e Luz – Editora e Distribuidora Espírita.

Venade/Caminha – Portugal, 2024

Diamantino Lourenço Rodrigues de Bártolo

Presidente Vitalício (Não Executivo) do Núcleo Académico de Letras e Artes de Portugal

Contatos com o autor

Voltar: http://www.jornalrol.com.br

Facebook: https://facebook.com/JCulturalRol/




Paulo Roberto Costa: 'Esporte: participação ou alienação?'

Paulo Roberto Costa

‘Esporte: participação ou alienação?’

O homem tem demonstrado, ao longo do desenvolvimento da humanidade, uma capacidade fantástica de autossuperação, de união de esforços na consecução de objetivos comuns e de dedicação e disciplina nas mais diversas atividades. Porém, em nenhuma delas isso se evidencia tanto quanto nos esportes.

O que há no esporte que tanto fascina o homem? O que torna um atleta um ser tão diferente dos demais, especial em muitos aspectos e único em alguns casos particulares? Que fatores concorrem para a alteração das atitudes e do comportamento humano, conduzindo a sociedade, convulsionando-a, alegrando-a em alguns momentos, entristecendo-a em outros?

Embora a humanidade tenha se modificado radicalmente ao longo de sua história, seus costumes, suas crenças; povos tenham surgidos e desaparecidos, seu apego pelo esporte manteve-se quase inalterado, inabalável.

Desde a antiguidade, principalmente no Império Romano, com suas famosas arenas e coliseus, onde o esporte nada mais era que um extrato caricaturado das guerras, o fascínio pelas disputas vem acompanhando os povos. Posteriormente, na Grécia, surgiram os jogos olímpicos, cujos ideais, de certa forma, desvincularam-se um pouco dos objetivos meramente belicosos, sem diminuir, entretanto, a emotividade e a constante ambição atlética de superação, vitória e glória.

Ano após ano os recordes foram sendo quebrados, elevando sistematicamente as dificuldades e os limites, tornando seus vencedores verdadeiros heróis, quando não mitos inesquecíveis. Entretanto, essa evolução constante dos esportes acabou por criar um novo negócio, desvirtuando, com isso, o espírito e o caráter meramente esportivo. Fatores sócio-econômicos passaram a influenciar sobremaneira as competições, criando o binômio poder econômico-poder esportivo, desequilibrando as disputas.

Os campeonatos, globalizados, tornaram-se verdadeiros campos de batalha nos quais os países passaram a demonstrar sua superioridade racial através de seus atletas, muitas vezes a qualquer custo. Os atletas começaram a se tornar verdadeiras máquinas anabolizadas de produzir resultados sobre-humanos em ritmos cada vez mais frenéticos, tornando a relatividade Einsteiniana um paradigma, onde os milissegundos adquiriram tanta importância quanto os anos luzes. O esporte passou a significar o estrelato, a riqueza, o poder.

Em contraponto a toda essa convulsão, permaneceu o esporte simples sobrevivendo apenas como uma arte quase esquecida, na qual o importante é a beleza, o virtuosismo, o estilo, a técnica e a habilidade simplesmente humana. Mais do que isso, como uma alternativa aos jovens para o desenvolvimento do caráter e da personalidade.

Os verdadeiros esportistas labutam para superar as pressões contrárias aos seus espíritos idealistas e demonstrar, com seu comportamento, dedicação e disciplina, o lado verdadeiro e fascinante das competições, da lealdade e respeito aos adversários e da integração entre parceiros, técnicos e equipes, no afã de trazer o esporte para as suas verdadeiras origens.




Paulo Roberto Costa:: 'O médico e o monstro'

Paulo Roberto Costa: ‘O médico e o monstro’

Ainda guardo na lembrança muitas das histórias infantis dos desenhos animados e das revistas em quadrinhos que devorava avidamente na minha infância. Mas uma história em especial, de um desenho animado da Walt Disney, sempre me vem à mente, pela sua mensagem que perdura através dos tempos. Nela, o personagem Pateta aparece como um pacato trabalhador saindo de manhã para o trabalho, despedindo-se de sua família em um clima de afetuosidade e harmonia, seguindo para seu carro cantarolando e cumprimentando seus vizinhos com um sorriso e uma palavra de bom dia.

Entra em seu veículo e dirige tranquilamente em direção à autoestrada. Nesse momento, uma transformação assustadora! Enfrentando uma certa dificuldade para ingressar no intenso trânsito, inesperadamente o amistoso ser se transforma em um raivoso motorista, berrando impropérios pela janela do veículo contra outros motoristas, dirigindo alucinadamente, gesticulando e xingando a tudo e a todos.

Qualquer semelhança com o que vemos nas ruas das grandes cidades hoje em dia não é mera coincidência. Essa dicotomia da personalidade humana sempre causou uma certa perplexidade. Vivemos sempre equilibrados em uma tênue linha entre o Bem e o Mal. Um verdadeiro diafragma emocional. Inspiramos bondade e expiramos, muitas vezes, o que temos de pior em nós. O retrato real da ficção “O médico e o monstro” de Roberto Louis Stevenson, que retratava um respeitado médico escocês – Dr Jeckill, que durante as pesquisas para entender os impulsos e sentimentos humanos acaba por criar uma droga que lhe despertava os mais primitivos instintos, transformando-o no terrível Dr. Hyde, um abominável ser violento e sem escrúpulos.

Esse comportamento egoísta e belicista assumido por muitos motoristas não deixa de ser um mero reflexo resultante da formação da personalidade baseada sempre na dualidade do forte -fraco, sucesso-fracasso, certo-errado, bem-mal, feio-bonito e toda a miríade de comparativos que acabam por nos dividirem, em menor ou maior grau, em Jeckill e Hydes, em médicos e monstros.

Somos treinados desde a primeira infância a sermos competitivos e a lutarmos pelo que queremos, muitas vezes sem os devidos limites e, não muito raramente, desconsiderando totalmente as regras do bom viver em coletividade. Em algumas ocasiões, corremos abraçar nosso próximo quando das catástrofes naturais, muitas vezes arriscando nossas próprias vidas, não poupando esforços para apoiá-lo e resgatá-lo. Em outras, nós o atacamos em sua individualidade, sua privacidade, sua dignidade ou simplesmente o ignoramos em sua profunda solidão e miséria. As mesmas pessoas que divulgam correntes religiosas e mensagens de paz e esperança nas mídias sociais, muitas vezes extravasam toda sua energia negativa e frustrações existenciais em brigas nos estádios de futebol, filas de ônibus ou bancos, pelos motivos mais banais, ou simplesmente sem saberem exatamente o porquê.

Saber qual é o gatilho que desperta o monstro que habita em todos nós, conhecê-lo e entender como controlá-lo talvez seja um dos maiores desafios da humanidade e a chave para uma convivência pacífica e harmoniosa entre os seres humanos ditos civilizados.




Outubro Rosa terá programação especial em Itapetininga

Ações de conscientização e prevenção ao câncer de mama serão reforçadas em rodas de conversas nos CRAS

A campanha ‘Outubro Rosa’, que alerta sobre os riscos do câncer de mama, começa sua programação em Itapetininga no próximo dia 1 de outubro (quinta-feira) das 8h30 às 11h no Paço Municipal, com a presença de um palestrante falando sobre o assunto. Haverá distribuição dos lacinhos e a presença da Banda Municipal.

Além disso, várias palestras serão ministradas no CRAS de Itapetininga: 07 de Outubro CRAS Maria Carron às 14h30; 15 de Outubro CRAS Rio Branco às 9h; 21 de Outubro CRAS Bela Vista às 14h30; 27 de Outubro CRAS Paulo Ayres às 14h.

Por fim, haverá um evento de encerramento no dia 31 de Outubro, na Avenida Peixoto Gomide, das 9h às 13h, com a presença de profissionais da área de enfermagem para fazer exames de diabetes e aferição de pressão e um médico para proferir palestra sobre o mesmo tema.

 




Artigo de Pedro Novaes fala sobre o Poder.

PODER  PESSOAL

Há séculos estamos construindo uma estrutura de poder centrada e ambientada na pessoa do governante, como se fossem deuses os eleitos.

Pedro Israel Novaes de Almeida

 

Sedes de governo são estruturadas como cortes, crescentemente luxuosas e repletas de séquitos de nomeados, sempre dispostos a rolarem de rir antes mesmo do chefe terminar a piada. A sede do poder é, constantemente, confundida com a residência pessoal do governante.

Jornais noticiam, diariamente, reuniões entre prefeitos, governadores e presidente, com vereadores, deputados e senadores que os apoiam, na sede administrativa. Nada mais ridículo.

Reuniões com aliados devem ser realizadas em recintos privados, pois os recintos públicos não podem ser utilizados para conchavos e acertos partidários, ainda que tratem tão somente de expor argumentos e definir estratégias parlamentares.

Governantes, no expediente dos gabinetes, deveriam ser forçados à divulgação de agenda, com explicitação dos assuntos tratados, que devem ser exclusivamente de interesse público. Não convém transformar a sede administrativa em local de venda de imóveis, acertos de aluguéis, atendimento de clientes, etc.

Entrevistas em recintos públicos devem, necessariamente, ser coletivas, nada havendo de republicano em prestar esclarecimentos e informações a apenas parte da mídia. As tais entrevistas exclusivas devem ser realizadas em espaços particulares.

Pronunciamentos oficiais, inclusive em inaugurações, devem, forçosamente, ser apartidários, literalmente executivos. Na prática, servem para enaltecer pequenos feitos, obrigatórios, e contrariar as falas oposicionistas.

É comum, em nossas administrações, a referência a obras e providências públicas, como um favor pessoal, buscando a fácil popularidade e gratidão.

Mandatários personalistas não nutrem grande apreço por instituições sólidas, capazes do cumprimento de suas funções constitucionais, mesmo contrariando a vontade pessoal do governante. A carência de instituições faz com que a estrutura oficial assuma a feição pessoal do administrador, e todo o país acaba sujeito a mudança de rumo, mandos e desmandos, a cada eleição.

O elevado número de comissionados facilita a ocupação partidária dos órgãos oficiais, demolindo e desfigurando instituições. Aliás, o livre provimento de cargos necessita de freios e limitações legais, para que o cantor preferido não acabe ministro da Fazenda, e um suplente aliado não  assuma o mandato graças a alguma nomeação do titular.

O livre provimento deve vir acompanhado das razões técnicas da nomeação, apontando as virtudes e capacitação dos escolhidos. O trato atual da nomeação do absurdo número de comissionados é, a um só tempo, trágico e risível. É a expressão maior da pessoalidade e fisiologismo, no trato da coisa pública.

Nossos administradores, muitos, parecem não assumir um múnus, mas ganhar um reino. Um pouco de humildade seria benvinda, ao eleito, e menos vassalagem seria útil, aos administrados.

pedroinovaes@uol.com.br

O autor é engenheiro agrônomo e advogado, aposentado.

 




Artigo de Celio Pezza: 'SÓ MORRE GENTE BOA?'

Crônica # 261 Só morre gente boa?

Foto closeSe observarmos os velórios dos artistas, políticos e celebridades de todo o mundo, vamos constatar que todos eram pessoas amáveis, prestativas, bondosas ótimos pais ou filhos e exemplos a serem seguidos. O mundo sentirá muita falta, não será mais o mesmo e assim por diante. Pessoas que muitas vezes nem se falavam na vida real, correm aos velórios com cara de tristeza lamentando a perda do grande amigo. Nunca vi alguém falando que o falecido não prestava, era um mau caráter, falso, enfim, que o mundo vai ficar melhor sem ele. Se isso fosse uma verdade, chegaríamos à conclusão que só morre gente boa e os pilantras vão ficando para semente. Mas fica a questão de porque transformar em gente boa os que morrem. Será que é medo de que o morto volte para se vingar de quem falou a verdade sobre ele? Será que é para aparecer ao lado da celebridade morta?

A História muitas vezes se encarregou de transformar pilantras em heróis e temos inúmeros casos de gente que não valia nada, mas que virou quase um herói depois de morto. Se a morte foi com muito sofrimento, pode até virar santo, mesmo que tenha tido uma vida de bandidagem.

Temos exemplos no mundo do cinema, nos EUA, onde um grande empresário de sucesso na verdade explorava seus funcionários, plagiava personagens de seus filmes, era um agente do FBI, delator dos seus amigos, e a História o transformou em um ícone do cinema e filantropo. Aqui no Brasil, tivemos o caso recente de um MC funkeiro que enaltecia a bandidagem e, após sua morte trágica, virou um mártir da música brasileira. Traficantes viram vítimas, e por aí vai. De acordo com a lei brasileira, ofender a memória dos mortos não é crime, mas pode constituir um dano moral, contra a honra da pessoa. Os crimes contra a honra são a calúnia, a injúria e a difamação. Calúnia, quando imputa a alguém um fato definido como crime; difamação, quando é contra a sua reputação e injúria contra a sua dignidade. Somente a calúnia está prevista, quando praticada contra os mortos. Se um morto sofre uma calúnia, os seus herdeiros podem exigir uma reparação, pois esse direito é transmitido por herança aos herdeiros. Talvez por essa razão, ninguém fala mal de uma personalidade morta, por mais que ela mereça. Seja por medo do fantasma do morto, seja por medo das leis dos Homens, o fato é que basta morrer para virar gente boa ou então, só morre gente boa.

 

Célio Pezza

Abril, 2015